30 de outubro de 2018

A estrada para o Porto.

A Pensar Alto...

Vamos ter finalmente alguns kms. mais de nova estrada que vai cumprir promessas velhas, e aproximar nos do Porto e do litoral. Aos poucos e contrariando a velha tradição de não reclamar porque há outros pior, o poder central  lá vai ouvindo os antigos queixumes e vai daí lá vem mais um bocadinho porque tudo ao mesmo tempo podia levar nos a empanturrar com tantas viagens e tanta rapidez e ser pior a cura que a doença. Estou a levar a promessa a sério e comecei já a despedir me da velhinha estrada e das recordações das muitas voltas que por lá fui dando e que felizmente sempre me devolveram a casa com satisfação. Fiz estas voltas milhares de vezes, é natural que sinta saudades. Repetindo agora aquele chavão que fica bem em qualquer lado... eu sou do tempo, tinha para aí 12,13 anos, em que ir ao Porto ou vir  de lá não era só uma viagem incómoda, lenta e atribulada, era uma espécie de ritual prazeiroso com paragens, intervalos e muitas memórias para ir juntando ao nosso álbum de vida. Antes de sair de casa, a roupa era a domingueira, os sapatos a brilhar, não se podiam fazer má figuras, e discretos e calados sentiam se aqueles momentos antes da partida com um espirito o mais solene possível. Daqui para lá era mais concentração, menos conversa e algum treino de preparação pois íamos ao encontro ou dos médicos especialistas, ou dos professores mais conceituados, ou fazer uma compra que nos fazia rivalizar com o pessoal de Paris ou Nova Iorque ou ver uma coisa qualquer  que se trazia debaixo de olho, ou levar umas lembranças a amigos, sempre com sabor a terra e cheiros de que guardávamos os segredos, tudo tão bom.  Em resumo, íamos quase para um mundo novo, daí a preparação atempada. Já nem me recordo se até metia orações mas se as houve foi para aconchegar melhor aquele nervoso miudinho pois sempre se iam enfrentar caminhos repletos de perigos, e a emoção de novas descobertas. Lá chegados, era despachar rápido, porque no regresso anoitecia cedo fosse verão ou inverno, e ainda tínhamos pela frente  as voltas da Abelheira e os seus perigos que cabiam na imaginação de cada um. Para cá e como sabíamos de cor o que nos esperava, havia uma paragem ali por Grijó, para arrefecer a viatura daquele enorme esforço, pois era sempre a subir desde o rio Douro, metia se gasolina no Silva de Lourosa, na Laurita da Corga escolhia se a regueifa mais brilhante para nos adoçar a chegada, em S. Vicente, tanto para trás como para a frente, em Mansores só um abracinho á família e depois carro desligado até à ponte da Ribeira que a gasolina nunca foi barata e os carros de então permitiam. Por fim sentia se aos poucos a chegada, o meu pai por muito que tentasse eramos sempre apanhados pela noite, umas vezes quase de repente, outras aos bocadinhos, mas dava para chegar quase sem ligar os faróis. E cá estávamos. A nossa terra de novo, a alma começava a inquietar se, agora ainda é igual, os nervos fugiam de vez e era usufruir de tudo que parecia termos abandonado há muito tempo e só horas tinham decorrido, estávamos na nossa terra. Tudo feito com calma. Os dias eram longos e tempo era coisa que por vezes até apetecia vender. Gostava destas viagens. Aos poucos tudo se foi modificando, as distâncias começaram a ser intermináveis, as curvas até pareciam desabrochar a cada passagem, o relógio voava, os carros eram muito mais rápidos mas ficava sempre a sensação que o litoral e o Porto andavam a aproveitar para se distanciarem de nós. E no fundo dessa estrada interminável estavam os locais de estudo, os empregos, as oportunidades, e foram se acumulando os amigos. Agora tanto  tempo depois vamos dar mais um passo, nem grande nem pequeno, mais um. Estou feliz com isso e sei que havemos de conseguir, acabaremos por esquecer a velha estrada e quando circularmos num instante até ao Porto nem tempo teremos para aquelas lembranças que nessa altura até se vão querer esconder envergonhadas. Aproveitei para não as deixar esquecer todas. Esperemos por esses tempos novos. Venha a estrada e tudo de bom que nos trará, já não é sem tempo.

29 de outubro de 2018

Arouca

Arouca, terra dos pais, conheci-te nas minhas várias férias de verão.

Ruas em terra, nas quais adorava brincar descalça, porque não as tinha, onde nasci e cresci.

O teu cheiro era diferente, era pura, "era"? Não! É!

Uma terra que se tornou minha também,

Cá, finalmente, encontrei o meu lugar, de uma tranquilidade eterna

Arouca, por ti me apaixonei, em ti me encontrei.


Ana Almeida
(texto recebido em defesadearoucablog@gmail.com)

Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu

A Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu é um pequeno insecto que ataca os castanheiros. Ataca os gomos foliculares de crescimento da árvore evitando que este se desenvolva naturalmente e inibindo desta forma a sua frutificação ou levando mesmo à sua morte.
É uma praga com uma disseminação quase mundial e que em Portugal está a atacar e a dizimar milhares de castanheiros e soutos.
O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) é a entidade nacional responsável pela coordenação do combate a esta praga que se pode fazer de forma cultural (abatendo as árvores infectadas), biológica (a mais usual e que consiste na libertação de um parasitoide que irá parasitar e destruir o insecto, pese embora os resultados não sejam imediatos) e química (através da aplicação de fitofarmacêuticos).
O concelho de Arouca está, na sua totalidade, identificado como uma zona demarcada para o insecto, o mesmo será dizer que este tem provocado enormíssimos estragos na produção da castanha.


Este fim de semana decorreu o festival da castanha e foi possível, conversando com técnicos, produtores e vendedores de castanhas, verificar que Arouca já no presente ano teve uma quebra muito acentuada na produção deste fruto, podendo a mesma chegar a apenas 2/3 da produção habitual. Por esta mesma razão, a castanha de Arouca foi e será escassa ao longo do presente ano produtivo.
Vêm já sendo implementadas no concelho as medidas de controlo da praga que deverão ser fortalecidas no presente ano.
É importante que a população geral, a autarquia, entidades públicas e privadas, acompanhem a gravidade desta situação, como de outras (ex: vespa asiática) para que Arouca possa continuar a ser também a terra das castanhas... quentes e BOAS.

28 de outubro de 2018

Desenterrar os mortos. Parte 1 de 2

Retrato atribuído a Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha
Fonte: geneall
   Sepultar os mortos é uma obra de misericórdia. Desenterrá-los – no sentido figurado de resgatá-los do esquecimento –  pode sê-lo também. Há múltiplas formas de fazermos memória daqueles que partiram, que nos dizem, e que não queremos que sejam esquecidos. Uma dessas formas passa pela celebração da Solenidade de Todos os Santos e pela comemoração de Todos os Fiéis Defuntos que, embora distintas, não por acaso são sequenciais.
   Em janeiro deste ano passaram 100 anos da morte de um arouquense que, embora tenha tido um percurso político e cívico que faz dele um protagonista, está entre nós, como tantos da mesma estatura, esquecido. Venho simplesmente lembrá-lo. Seu nome: Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha.
   Nasceu em Mansores, na casa da Terça, a 24-06-1834, filho primogénito de José António Nunes Saldanha e de Ana de Oliveira Camossa [Nunes Saldanha]. Formou-se em Leis na Universidade de Coimbra em 1860. Foi: vogal da Junta de Freguesia de Mansores de 1864 a 1866, vereador da Câmara Municipal de Arouca de 1866 a 1870; presidente da Câmara Municipal de Arouca de 1870 a 1885; presidente da Junta de Freguesia de Mansores de 1886 até data que ainda não apurámos; vereador da Câmara Municipal da Feira em 1890 e presidente dessa câmara de 1893 a 1897; administrador do Concelho de Arouca de 1897 a 1902. Foi chefe do Partido Regenerador de Arouca e cofundador do jornal Correio da Feira. Em 1890 o rei D. Carlos criou o título nobiliárquico de Visconde de Albergaria de Souto Redondo a seu favor, tornando-o 1º visconde de Albergaria de Souto Redondo. Casou no Porto em 1871 com Margarida Augusta Pais dos Santos. Teve quatro filhos: Alfredo António Camossa Nunes Saldanha, Maria da Conceição Camossa Nunes Saldanha, Ana Maria Camossa Nunes Saldanha e Augusto Camossa Nunes Saldanha, todos nascidos em Lamas, donde era natural a esposa de Manuel Baptista. Faleceu em Espinho, a 11-01-1918.
   Desde que em 1835 se começaram a eleger as Câmaras por voto, julgo que foi a pessoa que mais tempo exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Arouca. Não há uma rua ou travessa em qualquer parte do concelho que tenha o seu nome e assim lhe faça memória. Isto, apesar de ter sido, na prática, o grande promotor da via estruturante de ligação de Arouca ao litoral. Não me refiro à variante à Estrada Nacional 326. Refiro-me “apenas” à Estrada Nacional 326, a histórica ligação entre Arouca e Lourosa. O traçado desta estrada tem o cunho e o interesse de Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha: iniciado em Arouca, a cuja Câmara presidia, atravessa Mansores, sua terra (e, aqui, atravessa o monte do Borralheiro, grande parte do qual lhe pertencia, e passa à porta da casa da Terça, a sua casa), e termina em Lourosa, localidade próxima de Lamas, donde era sua mulher e onde também tinha propriedades. A estrada, creio, previa-se na altura que terminasse o seu traçado em Espinho. Manuel Baptista terminou a sua vida em Espinho. Soube fazê-la.

27 de outubro de 2018

Um roteiro pelos brasões de Arouca

Antes de mais, quando para este efeito me refiro a brasões, reporto-me exclusivamente aos resultantes dos títulos e cartas de brasão d'armas concedidas a pessoas singulares; das quais, na maior parte dos casos, resultaram as denominadas pedras d'armas, de brasão ou, simplesmente, brasões, que vemos ainda hoje nos portais, tectos, fachadas ou cunhais de alguns templos e casas de Arouca. Por isso, a forma como a eles me vou referir (por referência às casas onde estão) não é correta - pois o brasão deve ser sempre reportado ao seu titular e as armas à respetiva família. Porém, o propósito é apenas o de sugerir e facilitar, sem grandes delongas ou apreciações técnicas, um pequeno roteiro de simples observação.

Perspetiva da Casa e Brasão de Eiriz, na freguesia do Burgo

Os brasões mais conhecidos da maior parte dos arouquenses são os existentes no cunhal da Casa do Burgo, no cunhal da Casa dos Malafaias e os que encimam o portal do Terreiro ou a entrada dos Claustros do Mosteiro. É indesmentível que esses brasões, apesar do seu cunho e atributos pessoais e particulares, conferem maior valor aos imóveis em que estão colocados, imprimem maior nobreza ao meio e suscitam a atenção e curiosidade de quem com eles se depara. Não é para menos, pois antevê-se encerrarem muita história para nos contar.

No entanto, nem sempre aqueles brasões que temos como mais importantes ou historicamente relevantes, o são. Os brasões do cunhal da Casa dos Malafaias, na rua Dr. Figueiredo Sobrinho, do cunhal da Casa do Aro, no largo de Santo António, ou o do portal da Quinta da Lameira, na freguesia de Urrô, apesar de ricos do ponto de vista heráldico, são dos mais insignificantes do ponto de vista da importância que os seus respetivos titulares tiveram para a história de Arouca. O que não quer dizer que as Casas em questão e até outros parentes dos nobilitados o não tenham tido também. A dos Malafaias, por exemplo, foi muito importante. 

Desse ponto de vista, da importância para a história de Arouca, e por ordem de antiguidade, podemos reputar como mais significativos os do portal do Terreiro e da entrada dos Claustros, como é óbvio, o do portal da Quinta de São Pedro, o do cunhal da Casa de Eiriz, o da fachada da capela da Casa Nobre de Cela, e o do cunhal da Casa do Burgo. Mais antigos ainda, paredes-meias com o período medieval, são os dos Pintos, na padieira da capela de Santo António, em Santa Eulália, e dos Tavares, na base do cruzeiro à entrada da matriz de Urrô. Este último mais difícil de descortinar...

E ainda o de Dona Melícia de Melo, que estava na padieira do antigo lagar do Mosteiro e está hoje visível, ainda que invertido, numa moradia particular, no centro da vila. Entretanto, também de Dona Melícia de Melo se recolheram recentemente no Mosteiro partes de um outro, que estaria sobre o portal da antiga matriz de São Bartolomeu. Dos recuperados aos perigos de levarem rumo incerto, ficou também o de um comendador de Malta, no adro da matriz de Rossas, que melhor se lê pela comparação com o que fecha o altar-mor da referida igreja.

Houve outros, - pelo menos quatro -, que entretanto tomaram outro paradeiro nos últimos anos. Desses, os mais importantes e mais antigos eram os que se encontravam na fachada da Casa de São Pedro, em frente à capela desse orago, na vila, e a encimar o portal da Casa de Romariz, no Burgo. Os outros dois, eram réplicas do da Casa do Burgo e estavam colocados, por descendentes, na fachada da Casa dos Magalhães, do outro lado da estrada, e na entrada da Quinta do Boco, sobranceira à vila. Esses, ainda os vi e reconheço. Curiosamente, são essas as armas que estão na Casa da Terça, em Mansores, onde seriam esperadas as do Visconde de Albergaria de Souto Redondo. Já sobre o brasão da Casa do Castelo, em Fermedo, apenas obtive noticia.

Foram ainda outorgadas cartas de mercê e brasão d'armas a alguns outros ilustres arouquenses, que, no entanto, não deixaram por cá brasão. Foi o caso de dois capitães de ordenanças da Cavada de Rossas, aos quais foram concedidas duas belíssimas cartas, de que o mais velho fez pedra, mas colocou-a na casa onde foi casar, às portas de Oliveira de Azeméis e, depois, na casa onde foi viver, em Bemposta; o mais novo não foi dessas vaidades ou não encontrou canteiro à altura, apesar do mais belo trabalho que com certeza resultaria (é a primeira leitura/reprodução na imagem abaixo).

Outros ainda, apesar de terem obtido merecimento por cá, como foi o caso de um capitão-mor de Arouca, casado na Casa Nobre de Cela, colocaram a pedra d'armas na casa da sua naturalidade: no caso, em São Pedro do Sul. Assim sucedeu, mas ao contrário, com o brasão do cunhal da Casa dos Malafaias. O titular, descendente e herdeiro dali, mas que raramente por ali estanciou, mandou fazer e enviar para cá o brasão. Em situação semelhante, quanto aos brasões da Quinta da Lameira, mandou o titular para cá cópia da carta para que se replicassem duas pedras na respetiva propriedade.

Reprodução de alguns brasões, através de cartas e pedras existentes
(Ressalve-se que na execução apenas há que cumprir regras heráldicas quanto ao escudo, elmo timbre.
T
udo o mais fica ao livre, mas razoável e adequado, critério do executante)

De tudo, realizei um estudo há já alguns anos, com a necessária tentativa de reprodução manual e devidamente iluminada, com as respetivas cores e metais, das cartas e pedras que existem ou de que obtive noticia, mas o qual, apesar das imensas curiosidades históricas, genealógicas e heráldicas que aborda, seria fastidioso desenvolver aqui. Não queria, no entanto, e a propósito, deixar de sugerir este despercebido roteiro e suscitar maior curiosidade sobre este tema, que também enobrece a nossa terra.

Assim, à laia de rally paper, proponho então o seguinte roteiro de visita às principais pedras de brasão ainda hoje existentes em Arouca: i) brasões do portal do Terreiro e entrada dos Claustros do Mosteiro; ii) brasão do cunhal da Casa dos Malafaias, na rua Dr. Figueiredo Sobrinho; iii) brasão do cunhal da Casa do Aro, no largo de Santo António; iv) brasão do portal da Casa da Quinta de São Pedro, no lugar do mesmo nome; v) brasão do cunhal da Casa do Burgo, na freguesia do mesmo nome; vi) brasão do cunhal da Casa de Eiriz, no lugar do mesmo nome, na freguesia do Burgo; vii) brasão dos Pintos, na capela de Santo António, em Santa Eulália; viii) brasão do portal da Quinta da Lameira, na freguesia de Urrô; ix) brasão de Tavares, no cruzeiro do adro da matriz de Urrô; x) brasão da Casa Nobre de Cela, no lugar do mesmo nome, na freguesia de Urrô; xi) brasões da Igreja Matriz e adro de Rossas e; xii) brasão da fachada da Casa da Terça, na freguesia de Mansores. Bom roteiro!

25 de outubro de 2018

A castanha anima Arouca
















Decorria o ano de 2011 quando três amigos arouquenses se juntaram à Associação da Casa do Povo de Arouca e organizaram, com o apoio da Câmara Municipal de Arouca, o primeiro Festival da Castanha mais precisamente nos dias 11 e 12 de Novembro desse mesmo ano. O nome deste festival surge devido ao facto  de Arouca ser conhecida como a “terra da castanha”. A ideia principal desta primeira edição, era associar a gastronomia tradicional à música e danças tradicionais.
Nestes 8 anos de existência o festival evoluiu de um festival direcionado apenas para a música e danças tradicionais para um festival onde além da música e das danças, se pode apreciar mostras gastronómicas, showcookings e onde há uma serie de atividades associadas à castanha, como concursos, feira de produtos agrícolas, magustos, workshops, teatro, etc...
Quanto à cena musical é de salientar a participação de alguns grupos de música folclórica de algumas associações arouquenses e também alguns grupos, com muita qualidade, ligados á música folk e tradicional que passaram por este festival desde o sua primeira edição, como os Andarilhos, Fonte na Pipa, Retimbrar, Pé na Terra, Sebastião Antunes, Diabo na Cruz, Dazkarieh, Uxukalhus, Celina Piedade.

É já neste fim de semana entre 26 e 28 de Outubro, que se vai sentir pela 8ª vez o cheiro de castanhas assadas nas ruas de Arouca com muita animação.

23 de outubro de 2018

A Serra da Freita em imagens: Pastorícia


Naquele final de tarde regressava a casa já com o equipamento arrumado na mochila. Ao contrário do que se possa pensar, fotografia de paisagem é “melhor” com ”mau” tempo (qualidade fotográfica e más condições climatéricas são sempre subjectivas, daí o abuso nas aspas), mas o céu limpo daquele frio dia de Inverno não trouxe grandes resultados fotográficos.

Avisto um rebanho guiado pelo seu pastor regressando a casa. Encosto o carro, que fica com o motor a trabalhar, tiro da mala apenas a máquina fotográfica e reposiciono-me à espera de uma oportunidade de concretizar uma boa imagem.

Não poderia ter tido mais sorte. O céu que lamentavelmente não inspirou grandes resultados durante o dia, brilhava intensamente à medida que o sol se escondia no horizonte. Perante este cenário, tirei umas duas ou três dezenas de fotografias, todas elas representando silhuetas sobre um céu cor de laranja.

Desta série há três ou quatro imagens das quais gosto bastante, mas escolho partilhar esta que para mim melhor representa como as condições antes “imperfeitas” se alinharam numa representação épica de uma das mais importantes actividades da Serra da Freita.

22 de outubro de 2018

DESEMPREGO

A apresentação do projeto de ligação à A32 foi feita numa empresa de Escariz. Uma entre tantas de sucesso comprovado, com uma atividade baseada na inovação e na exportação, detida e gerida por pessoas com determinação e visão.
Arouca tem várias empresas dessas - e com certeza aparecerão mais - que, mesmo confrontadas com as dificuldades nas vias, nunca baixaram braços e tornaram-se empresas de dimensão e de referência.
Mas o que me faz escrever sobre isso é uma das frases usadas pelo Administrador dessa empresa aquando do discurso de "boas-vindas" à comitiva que acompanhou a cerimónia. No seu discurso, a expressão que passou quase despercebida foi quando o mesmo se referiu a Arouca como um "concelho sem desemprego".
Esta frase vinda de um gestor de uma empresa de dimensão, é importantíssima e valida muito do que várias pessoas trouxeram a público, inclusive empresários que davam conta da dificuldade em recrutar.
Aliás, esse mesmo gestor referiu a importância da obra que agora se inícia como sendo critica para atrair mais mão de obra e mais mão de obra especializada.
E esta marca de um concelho com um tal dinamismo empresarial e de serviços que permite que um gestor se refira a ele como "sem desemprego" é um selo que nos deve orgulhar.

21 de outubro de 2018

O lobo que atravessou a vila de Arouca



   Vi um lobo em Arouca. Um “Canis lupus signatus” autêntico. Vi-o ao vivo, embora estivesse morto. Explico-me. Não recordo a data precisa, mas terá sido nos dois ou três primeiros anos dos 90’s do século passado, era eu aluno da Escola Secundária de Arouca. Certo dia circulou na escola a notícia de que estava um lobo no posto da GNR, então nas traseiras do complexo escolar. Fomos espreitar e lá o vimos. Estendido no chão, jazia morto, esvaziado da dignidade mítica e da ferocidade que nas nossas terras se reconheceu a esta espécie. Recordo os tons da cor do seu pelo, entre o castanho e o bege e, àquela distância, uma certa semelhança com um cão de raça pastor alemão. 
   Que fazia ele ali? A justificação que correu foi que um homem de uma aldeia serrana de Arouca o matara à paulada e, dando-se aras de Hércules lá do sítio, ao tempo que ignorava a lei que punia quem tirasse a vida a estes animais, o amarrara na sua motorizada, vindo depois exibi-lo pelas ruas da Vila. A GNR viu ou foi avisada e o incauto lobicida, o homem que caçou o lobo, foi também ele “caço” ali mesmo. O homem, detido, terá visto a sua vida a andar para trás. O lobo, cadáver, ficou ali a aguardar ser recolhido pelas autoridades a quem competia recolhê-lo.
   Foi o único lobo que vi na vida. Sempre tive um certo fascínio pelo lobo ibérico, creio que à custa de ter crescido a ouvir lendas e memórias sobre lobos, nalguns casos sem perceber onde é que nessas lendas e memórias começava a realidade e acabava a ficção. Como sucede com a explicação etiológica para a Cruz de Santas Cristinas, em Escariz. A cruz lá está; o lobo, terá existido?
   Ignoro se nos tempos que correm passam lobos por Arouca. Mas, anima-me uma informação que acabo de descobrir no website Arouca Geopark a respeito desta espécie de canídeos. Transcrevo: “Onde encontrar no Arouca Geopark: Serra da Arada e Serra da Freita.” Este “onde encontrar”, assim, sem reservas e no infinitivo, reforçado pela credibilidade da fonte, dá a entender que por ali se “encontram” lobos. Alguém que partilhe fotos dos que for encontrando.

O Parque

A Pensar Alto...

Sem grande pompa, tão discretamente que até é de desconfiar, apesar de não estar ainda finalizado abriu-se à população o novo parque de Vila Nova ali no centro do nosso vale, um pé no Burgo, outro na Vila. E tem sido um sucesso. Arouca tinha já alguns parques e de uma maneira ou outra todos tinham uma função que os distinguia e melhorava a qualidade de vida dos de cá e de quem nos visita. Para se fazer um saboroso pic nic, para jogar aquelas cartas que preenchem os dias mais vazios, para dar duas de conversa com amigos de longa data ou daqueles que um acaso juntou por instantes, para estarmos à sombra sós e tranquilos, para levar mos as crianças às distrações e dar mos conta de como estão tão grandes, para ver mos e ouvir mos um concerto nas Colheitas, para ensinar mos porque aqueles peixinhos tão coloridos escolheram fazer companhia à rainha Santa e não andam perdidos por qualquer rio ou mar, ou para passar e passear tranquilamente por baixo das árvores, ver cair as folhas, e entender que se pode namorar mesmo nos dias de chuva, Já tínhamos isto e mais pois todos os nossos parques gostam de partilhar as razões da sua criação. Mas o novo, que parecia mais um, começou a nascer e a espalhar se ali aos pés de Vilanova e agora que está quase concluído, melhorou já imenso a vida de muita gente, do vale à encosta. Nunca como nos dias de hoje se precisaram tanto de locais amplos, que nos permitam correr, caminhar, brincar, conviver, ver as crianças, e muito mais, sempre em segurança, sem sobressaltos, com pequenos riscos que não façam diminuir o prazer destas e outras atividades. E estes primeiros dias do novo Parque de Vila Nova, comprovam no. Anda pelo ar uma vontade transpirante como nunca tinha visto, pessoas de todas as idades praticam a atividade física que mais os entusiasma e cansam se muito menos, o tempo parece mais comprido, o transporte ali ao lado é um pulinho para casa, a nossa qualidade de vida melhorou muito quase sem dar por isso. E além do mais já está bonito apesar de começar agora uma longa vida, e isso é também fator de agrado. Até o pequeno ribeiro de Gondim que o atravessa, vê com espanto e gargalhadas tanto movimento e esforços, ele que bastam umas chuvadas para ficar forte e em forma, e que tem que correr sempre apressado pois tem ali pertinho das Eiras o rio Arda que lhe vai fazer companhia por muitas distâncias lado a lado, até aonde os mares começam. A Dra. Margarida Belém que encontrei por lá mais que uma vez a acompanhar as obras, deve estar satisfeita. No seu primeiro ano de mandato foi também esta uma obra que vai ficar a atestar que viver em Arouca vai continuar a ser bom e cada vez melhor. Esperemos por mais.
Carlos S. Sousa

Mancha florestal

Após os grandes incêndios de Arouca de 2005 e 2016, do qual resultaram diversos relatórios e dossiers mais generalistas e mais particulares, muito continua por fazer no que toca a todo o reordenamento florestal que o concelho necessita.
Podemos, por exemplo, analisar os números passados e mais recentes, para perceber que o "quadro" global do concelho no que toca à diversidade da floresta não é muito animador.

Dados de 2006
Lendo e conhecendo estes e outros dados conseguimos tomar consciência de alguns números que põem em evidência a realidade da floresta do concelho.
A título exemplificativo temos um concelho que evoluiu, ou regrediu(?), no que à diversidade e ocupação do solo florestal diz respeito.
Os números actuais mostram o seguinte (percentagem por total de zona florestal): 
Zona de florestal de eucalipto: 68%
Zona florestal de eucalipto e Pinheiro Bravo: 22%
Zona florestal de Pinheiro Bravo: 5%
Zona florestal de outras folhosas: 5%

Dados de 2018 (Ec=eucalipto; Of=outras folhosas; Or=outras resinosas; PnB= Pinheiro Bravo)
O reordenamento florestal foi tema de intenso debate principalmente após os devastadores incêndios que assolaram o país e Arouca.  Esta razão seria por si só suficiente para que se avançasse de vez e de forma séria e consciente para um verdadeiro repovoamento das nossas florestas.
Infelizmente, não é isso que está acontecer, aliás, como já foi bem exemplificado aqui neste blog pelo colaborador José António Rocha.
Volto também a um tema que me é grato, e que já expus em diversos fóruns, que seria o de avançar para a criação do Parque Florestal de Arouca. Uma zona projectada e pensada de raiz, onde as árvores e plantas autóctones teriam o devido destaque na ocupação dos solos, e que abrangeria os terrenos florestais baldios da freguesia de Moldes, os terrenos florestais camarários e os terrenos florestais baldios da freguesia de Arouca.
Uma verdadeira mancha verde com pendor didático, turístico, desportivo e, em primeira e última instância, florestal e ambiental.

Missão de vida

Celebra-se este Domingo, 21 de Outubro, o Dia Mundial das Missões na Igreja Católica. Trata-se sobretudo duma tradição cristã, é verdade, mas creio que é ocasião para crentes e não crentes refletirmos acerca do sentido mais profundo da nossa vida.
Acho que faz muito sentido escrever estas linhas a propósito desta celebração, porque ela ultrapassa as fronteiras da fé. Se é verdade que é uma jornada em que somos particularmente convidados a olhar para aqueles que partem para terras distantes para anunciar o Evangelho, também é verdade que não devemos perder a oportunidade de olhar para a nossa própria vida e ver em que estamos a gastar os nossos dias e em que valores estamos a apostar como marca indelével da nossa existência. 
O Concelho de Arouca tem dado muitos missionários ao mundo. Não me refiro apenas a padres, freiras ou pessoas consagradas de qualquer religião, mas também a muitos homens e mulheres, sobretudo jovens, que têm deixado as suas terras – por longos períodos ou em experiências curtas de voluntariado – e têm ido ao encontro de situações de carência e de fragilidade, procurando dar algo de si para que este nosso mundo se torne um pouco mais justo e mais humano. É a todos esses arouquenses espalhados pelo mundo em missões humanitárias ou de transmissão da fé que eu gostaria hoje de manifestar toda a minha gratidão e reiterar toda a minha admiração. 
Mas a celebração dum Dia Mundial das Missões leva-me mais longe, porque me parece um momento oportuno para olhar para a vida, para a minha vida e a vida de cada um de nós e vê-la como missão, uma missão que somos convidados a viver intensamente em cada um dos nossos dias.
É, afinal, olhar para a nossa vida e encontrar nela um sentido, um rumo, um sabor próprio. 
Não podemos fazer da nossa vida uma mera sucessão de dias, dias que quase não contamos, dias que vamos passando como se andássemos por aqui a ver andar os outros. Não, a nossa vida deve ser um esforço quotidiano para deixar marca que conta e que interessa, deve ser a vontade de alguma coisa fazer para deixarmos o mundo que recebemos em herança um bocadinho melhor e mais belo do que o encontrámos. Então sim, podemos dizer que a nossa vida é missão, que nós somos missão, e que a nossa existência é verdadeira missão de vida!
P. José Agostinho Sousa

19 de outubro de 2018

Sobre atribuições toponímicas e numerações de polícia que tardam.

Quase a abeirar-se o fim da segunda década deste século, muitas das nossas estradas, avenidas, ruas, caminhos, largos e calçadas, entre outras vias e vielas, locais e sítios, permanecem sem atribuição toponímica e, por falta desta, também os prédios (urbanos) sem numeração de polícia, ou seja: ruas sem nome e edifícios sem números de porta. Há ainda lugares densamente povoados e freguesias inteiras assim. Onde o "carteiro novo" não encontra quem quer que seja sem bater a três ou quatro portas, apregoar no meio do lugar e, quantas vezes, por fim, deixar a carta ou encomenda na caixa que melhor lhe parecer. Valham-nos as boas relações de vizinhança, quando são boas...

Não é uma falha do “carteiro novo” ou dos vizinhos. É uma falha das autarquias, câmara e freguesias, e um problema para todos e cada um de nós. E não é apenas uma questão de distribuição postal, apesar do problema tender a agudizar-se nestes novos tempos, da contratação e compra de bens e serviços online ou à distância. Com efeito, nunca foram nem são agora apenas o carteiro e o transportador que nos procuram em casa, na nossa morada, residência, domicílio fiscal ou profissional. Nem são apenas esses que, por questões de comodidade e segurança, queremos que nelas nos encontrem.


Em causa está, tão simplesmente, estabelecer os mais básicos elementos de localização, orientação e de identificação no território, contribuindo, assim, para a organização e orientação dos serviços e pessoas no espaço. E, claro está, contribuir para evitar o mais variado tipo de dificuldades, incómodos e inconveniências. Sendo certo que esta situação não pode ser já, nestes nossos dias, um incómodo, prejuízo ou insegurança para nós e, principalmente, para aqueles que quisermos ou nos interesse que saibam o nome da nossa rua e o número da nossa porta.

Há cerca de ano e meio, as freguesias de Arouca e Burgo, no que a esta diz respeito, Albergaria da Serra e Cabreiros, Canelas e Espiunca, Covelo de Paivó e Janarde, Rossas, São Miguel do Mato, Urrô, e Várzea, teriam já dado inicio aos respectivos processos de atribuição toponímica. No entanto, a menos que os dados que se encontram no site da Câmara Municipal estejam desactualizados, a esta data, só há toponímia atribuída e homologada nas ruas da vila, nas freguesias de Mansores, Chave, Escariz e na zona ocidental da freguesia de Fermêdo. Casos como os dos nomes das ruas do lugar de Souto Redondo, na freguesia de Urrô, atribuídos há já muitos anos pelos moradores – justamente para pôr cobro aos mais diversos incómodos e dificuldades -, também não se encontram ainda homologados.

É, pois, muito importante retomar e/ou concluir aqueles processos, dado estar em causa muito mais do que uma mera facilidade à distribuição postal. É até mesmo, como já aludi, uma questão de segurança, para pessoas em situação de perigo ou urgência, neste nosso tempo de, apesar de tudo, também algum isolamento e indiferença.

Para além do que se acaba de referir, e de permitir a categorização das vias ou lugares, a atribuição toponímica é também uma forma excelente de homenagear os maiores e benfeitores de cada freguesia, evocar denominações, acontecimentos e efemérides com relevância local, municipal ou mesmo nacional, ou ainda perpetuar designações ancestrais dos sítios ou lugares, entre outras atribuições com dignidade e merecimento toponímico. O que vale por dizer, não dever ser este um exercício de algibeira - como aqueles que atribuem por nomes “Rua da Estrada”, “Rua Direita” ou “Rua do Caminho de Terra” -, mas sim um rigoroso e criterioso trabalho de identificação e correspondência com os elementos e aspectos naturais, patrimoniais, históricos e sociológicos de cada lugar e cada freguesia. Algo que possa dizer, a nós e aos vindouros, do nosso torrão natal e dos nossos maiores.

17 de outubro de 2018

Pobreza em Arouca - Sim ou Não?

Porque hoje, 17 de outubro, se assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, comemorada oficialmente pela primeira vez em 1992, com o objetivo de alertar a população para a necessidade de defender um direito básico do ser humano, urge refletir sobre o tema.
A erradicação da pobreza continua, nos dias de hoje e apesar de estarmos num século de modernidade e de tecnologia, a ser prioridade mundial. Parece que a pobreza da maioria da população mundial é o reverso da medalha da progressão tecnológica e económica das potências dominantes e talvez por isso é a primeira prioridade da Agenda 2030, proclamada pelas Nações Unidas.
Para que a pobreza deixe efetivamente de existir, todos os estados, países, regiões e localidades devem contribuir com boas práticas.
Arouca, através das políticas locais, de associações humanitárias como as IPSS e da sociedade civil, tem trabalhado em prol do desenvolvimento social e económico da sua população. Isso é incontestável. Veja-se a valorização do património como recurso económico, a criação de projetos que alargam cuidados de saúde primários à população (como a oferta de dentista no Centro de Saúde de Arouca), projetos que tendem a valorizar a agricultura sustentável, entre vários outros.
Mas será suficiente? Sem querer desvalorizar o que tem sido feito, devemos querer sempre mais, ser ambiciosos e auspiciar o ideal de forma a atingirmos o Bom.
Em Arouca há pobreza? Os dados estatísticos existentes numa primeira análise afirmam que não, que há boas condições de vida. Será verdade?
Penso que inserida na AMP, Arouca continua com atraso significativo de desenvolvimento. Tem uma grande mancha territorial, e o rendimento per capita é dos mais baixos da AMP, derivados sobretudo de serviços e construção (censos 2011).
Falta-nos atrair a indústria para que os jovens e as famílias em idade laboral não tenham de emigrar ou deslocar-se para outros municípios.
Falta-nos uma rede eficiente de transportes que garantam à população bons serviços a preços justos.
Falta-nos assegurar às freguesias mais distantes da vila cuidados primários de saúde, médicos de família e serviços de enfermagem de forma continuada e não apenas poucos dias por semana, como acontece.
Faltam-nos serviços de proximidade com a população de aldeias mais distantes que se sentem isolados, esquecidos, longe de tudo e de todos.
Falta-nos passes sociais para os transportes dos idosos e famílias numerosas, como acontece no Porto.
Falta-me perceber como idosos com cerca de 300 a 400 euros mensais, frutos de pensões de invalidez conseguem fazer face a todas as despesas.
Falta-me perceber como os idosos são efetivamente ajudados e como conseguem tarifas sociais na água e na luz, serviços essenciais.
Pobreza extrema, felizmente não creio existir em Arouca, mas que há várias famílias a sobreviver com muito pouco dinheiro ao fim do mês, isso há!
Deixo aqui este tema, porque não podemos pensar que está tudo feito, que está tudo muito bem.
Temos de pensar que temos todos de continuar a trabalhar porque ainda há muito para fazer, tanto à escala local, como regional, como global.
Em Arouca, há pobreza? Sim ou Não?

16 de outubro de 2018

Futebol Clube de Arouca

Faz hoje oito anos que o Futebol Clube de Arouca defrontou pela primeira vez o Sport Lisboa e Benfica, em pleno estádio da Luz. Nesse jogo, perdemos por cinco a zero em jogo a contar para a Taça de Portugal. No entanto, este resultado, pouco lisonjeiro é certo, em nada anunciava o auspicioso futuro que o clube viria a alcançar.
Nos anos seguintes o Arouca subiu à Primeira Divisão Nacional, ganhou muitos jogos (inclusive ao Futebol Clube do Porto, em pleno estádio do Dragão), classificou-se num impensável e inimaginável lugar Europeu, foi jogar à Holanda e no conjunto das duas mãos venceu a primeira eliminatória da Taça UEFA.
Porém, para contrapor este ciclo de sucessos conseguiu também o mais difícil: descer de Divisão quando nada nem ninguém já o esperava com a singular e impensável diferença de um golo a decidir toda uma época e a quebrar um ciclo extraordinário de ascensão no panorama futebolístico nacional.
Estes foram apenas alguns dos momentos mais marcantes dos últimos 8 anos, que, na verdade, são 12, se atendermos ao início deste caminho. E neste caminho a história do clube funde-se muito com a história do seu presidente... para o bem mas também para o mal... mas, isso seria tema para outro artigo...
Hoje, como há oito anos atrás, em altura de menos sucessos continuo apoiar o clube como “arouquista” de alma e coração.

Vamos Arouca!... Orgulho Arouquense!

15 de outubro de 2018

Arouca, um alfobre de felizes

 
   Hoje passa um ano desde um dia muito infeliz para Arouca e seguramente para muitos arouquenses. Faz um ano que um terrível incêndio florestal destruiu parte substancial da floresta da zona ocidental do nosso concelho. Queimou pinheiros, talvez a maior mancha de pinhal do concelho, que não volta (nada que se compare ao Pinhal de Leiria, i.e, do Estado). Queimou vegetação ripícola. Queimou eucaliptos, que agradeceram e no entretanto deram (e foram ajudados a dar) mais um passo para transformar Arouca num alfobre de felizes espécimes desta espécie. Quem ali vive ou por ali passa, basta olhar para o lado para saber do que falo. São mesmo alfobres, como aqueles das couves ou do cebolo que se costumam semear nas hortas, só que neste caso ocupam muitos quilómetros quadrados que não têm intenção de desocupar. Pelo contrário, despejam, sufocam, quem já lá vivia.
   O eucalipto é uma árvore. Não é o advento do diabo. O problema é que tem características próprias e não pode ser plantado como se de couves se tratasse, porque depois não se consegue controlar. Ouvi isto a um especialista há uns dois meses. Nós por cá, por este caminho, e também por isto, não tarda e teremos de reclamar uma versão revista, i.e, abreviada, do relativamente recente “Guia à descoberta da Biodiversidade do Arouca Geopark”.
   Felizmente, podemos declarar que este ano não fomos visitados pela negra sombra dos incêndios do passado. Podemos voltar a celebrar, encher manchetes de jornais só com boas notícias de dias felizes e amealhar mais óscares. Não há que olhar para trás nem para o lado. É em frente. O céu é o limite!

Memórias de muito dinheiro (bem) desperdiçado

Deixem-me falar-vos de uma época que os menores de 40 anos não podem entender.
Uma época em que os videojogos não eram apenas o apanágio de salas de estar ou de quartos individuais.

Estou a falar de uma época em que as salas de arcadas eram lugares de socialização.
Estou a falar de uma época em que desperdicei as minhas parcas poupanças para ver o meu nome registrado no pódio do Trivial Pursuit ou do Pizza Man.
Estou a falar de uma época em que criei amizades inabaláveis
Estou a falar de uma época em que jovens de universos diferentes tiveram a oportunidade de se misturar
Estou a falar de uma época em que o "Abec", que eu sou, se acotovelou com "queques"
Estou a falar de um lugar de socialização emblemático da minha juventude: A STOP!


Até breve neste meu Arouca do relembrar e da saudade !

14 de outubro de 2018

Passadiços

A Pensar Alto...

Há dias e a aproveitar os últimos raios de verão aproveitei e dei um salto aos novos passadiços de Aveiro, Vouga. Dei por mim a experimentar novos caminhos, novas sensações, e numa oportunidade tão diversa, aproveitei, sentei me num dos muitos bancos que por lá nos esperam e escrevi mentalmente este pequeno texto. O tema escolhido já agora foi passadiços. Artur Neves, engenheiro e Presidente da Câmara de Arouca na altura, concretizou o projeto dos passadiços do Paiva e transformou completamente a nossa terra com todo o desenvolvimento que se seguiu e continua diariamente a surpreender nos com as quantidades de turistas que falam várias línguas, mas que se entendem por percorrerem os mesmos caminhos e se espantam com aquelas belezas e sons que muitos só conheciam de livros e imagens antigas. Foi sem duvida um projeto oportuno, num tempo próprio e que serve de exemplo a muitas autarquias do Norte ao Sul para aumentar a riqueza, fixar as populações, e lutar de igual para igual com investimentos muito superiores. Já percorri muitos, mas nenhum é tão bonito como o nosso, em nenhum vi e senti como o selvagem se deixa contemplar, e o rio, os pássaros, as plantas, os animais, fazem os impossíveis para aparecerem sempre belos, exóticos e diferentes. Até as cores querem participar e se num dia tudo é branco névoa, no outro podem ser só tons de vermelho e o anoitecer pode ou não ter tons de cinzento. Quem se cruza com as visitas vê- lhes isso nos olhares cúmplices, surpresos e encantados. E a nossa economia agradece. Foi sem dúvida um grande projeto, uma grande ideia, um grande exemplo. Por isso quando comecei de novo a calcorrear aqueles pisos á beira da ria em Aveiro lembrei me que foi em Arouca que tudo começou, e que desde o dia que numa encosta escondida ao longo de um pequeno rio ali para os lados de Arouca se começaram a cruzar milhares de pessoas com o pretexto que ainda era possível ver um pedaço de natureza, as ideias de o mostrar espalharam se pelo País e no final fomos todos beneficiados. Não me canso de dizer, grande projeto.

13 de outubro de 2018

Arouca, um bom exemplo para a valorização do interior.


No passado dia 6 de Outubro, realizou-se, em Mondim de Basto, a conferência “Despovoamento e Desenvolvimento”, sob a organização, entre outros, da Associação Portuguesa de Geógrafos. Nesta conferência foram discutidas questões relacionadas com a perda de população e o desenvolvimento do interior do país, na convicção de que esta vasta região afastada do litoral não irá conseguir atrair mais habitantes nas próximas décadas.

Teresa Sá Marques, coordenadora científica do Programa Nacional da Política do Ordenamento do Território defendeu que o caminho que os municípios que sofrem da interioridade devem seguir passa por se unirem “para ganharem escala” e haver “mais cooperação entre o urbano e o rural”. Caso tal não aconteça, estes concelhos “dificilmente vão conseguir igualdade de oportunidades”. João Paulo Catarino, coordenador da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, defendeu que as comunidades intermunicipais “são o futuro”.

Arouca, apesar de próxima do litoral e vizinha de uma comunidade urbana com grande dinâmica económica, habituou-se desde há muitos anos a ter que lutar contra o fenómeno da interioridade. E talvez o maior problema da nossa vila seja mesmo a sua localização. Demasiado próxima de uma malha urbana litoral com grande dinamismo industrial, que foi absorvendo, ao longo dos anos, a atenção e o investimento de uma política feita a partir da capital, com foco predominante num setor secundário que teimosamente não se instalava em Arouca. Demasiado distante de um interior, olhado por Lisboa como um recurso para a obtenção de fundos europeus e, por isso, brindado com obras que promoviam o tão falado e eleitoralmente interessante “equilíbrio territorial”.

Ainda assim, os arouquenses, orgulhosos de si mesmos e com a certeza do tanto que a sua terra tinha para dar, nunca desistiram. Acompanhados por uma resiliência extrema, foram lutando e criando dinâmicas internas fortes, transportando-as para territórios vizinhos, e assim fazendo-se notar. Arouca passou a ser vista como um exemplo a seguir.

Os territórios do Arouca Geopark e das Montanhas Mágicas, geridos por duas associações sedeadas em Arouca – Associação Geoparque Arouca e ADRIMAG - que diariamente trabalham no desenvolvimento dinâmico, sustentado e integrado das regiões que promovem, são nos dias que correm dois exemplos paradigmáticos daquilo que foi defendido no dia 6 de Outubro em Mondim de Basto.  É, por isso, importante reconhecer o trabalho que se faz a partir do nosso concelho, desde há cerca de uma década, e reconhecer igualmente o papel de cada uma das pessoas que, trabalhando nestas associações, deram e continuam a dar o melhor de si no sentido de superar os problemas a que uma interioridade forçada obriga. Porque não há organizações dinâmicas sem colaboradores dinâmicos.

Sem este caminho iniciado há cerca de dez anos, muito daquilo que se tem conseguido para o nosso concelho, talvez não tivesse sido possível. Que Arouca continue a ser um bom exemplo.    

12 de outubro de 2018

Pela criação de um Núcleo Museológico do Azeite

Conforme prometido, a propósito da exposição "Azeite - Ouro à Mesa" e da recente colocação à venda do último lagar hidráulico de Arouca, volto a este assunto e à defesa da criação de um Núcleo Museológico do Azeite.

Antes de mais, e ainda relativamente à excelente exposição sobre o Azeite com que fomos presenteados nesta última edição da Feira das Colheitas, defender que, tendo em conta a adequação e disponibilidade do espaço e a provável colaboração da associação responsável pelo mesmo, deveriam as exposições ali montadas (total ou, pelo menos, parcialmente) manter-se todo o ano, abrindo-se sempre que oportuno, funcionando como exposição temporária complementar ao Museu Municipal e à actividade daquela associação.
   
Depois, a propósito da recente colocação à venda do último lagar de azeite hidráulico, sito na freguesia de Rossas, dizer da excelente oportunidade para criação de um Núcleo Museológico do Azeite em Arouca. Aquele local e complexo, para além de adequados e apropriados, beneficiam de um enquadramento natural e paisagístico excelente para o efeito. A que acresce, como já tive oportunidade de defender, o facto desta freguesia necessitar de um investimento diferenciador e com potencial turístico. Não é necessário imitar o quer que seja ou quem quer que seja. Está ali a oportunidade.

Do ponto de vista histórico, está mais do que justificado. Lagares, azenhas ou engenhos de Azeite, existiram um pouco por todo o concelho. Pelo menos três em Alvarenga, dois em Santa Eulália, dois em Canelas, dois na Espiunca, um no Burgo e outro em Fermedo. Porém, quase todos encerrados na década de setenta do século passado, dada a sua rudimentaridade ou falta de sucessão no ofício de lagareiro. Tal como aconteceu com um primeiro e mais primitivo lagar existente no Salgueiro, nos limites de Rossas com Urrô. Do encerramento de todos, acabaram então por beneficiar os dois mais modernos existentes nesta freguesia, ambos na margem do rio Urtigosa. Mas também ali se moeu azeitona dos concelhos vizinhos, de Castelo de Paiva, de Cinfães, de Castro Daire, de Gondomar, de S. Pedro do Sul, de Vale de Cambra e Santa Maria da Feira. Com o encerramento destes, na década de noventa, beneficiou o único lagar (eléctrico) ainda hoje existente e em funcionamento, em Arouca, sito no lugar da Pena, na freguesia de Tropeço.

Quase todos aqueles lagares, no entanto, surgiram apenas após a extinção das Ordens Religiosas e a extinção do Mosteiro que, como se sabe, veio a acontecer mais tardiamente. Até, pelo menos, 1834, os arouquenses estavam obrigados a ir moer a azeitona ao lagar do Mosteiro, sito no lugar da Aborrida; e os rossenses estavam obrigados a ir moer a azeitona ao lagar da Comenda, sito no lugar do Pisão, pouco mais abaixo daquele. Eram, pois, os dois únicos lagares de azeite existentes no vale de Arouca.

Em novembro de 1718, o Visitador Geral da Ordem de Malta, aquando da sua Visita à comenda de Rossas, deslocou-se também ao Lagar, que destacou como uma das melhores propriedades da comenda, referindo, entre outros aspectos, o seguinte: «Tem esta Commenda hum Lagar de Azeite e algus Cazr.os se mostrão tão mal affectos à Commenda que vam moer fora do seu Lagar da sua, digo sua azeitona; e constandolhe q.e o Conv.to de Arouca põem depensao nos prazos q.e renova aos seus Cazeyros, que sempre moerão a azeitona no seu Lagar; e p.a que assim se pratique nesta Comm.da mandamos que nenhum Cazr.o possa moer a sua azeitona senão no Lagar da Religiam, e nos prazos que se renovarem se lhes faça esta advertência, que poderá vir a ser de importância por se plantarem agora na Comm.da muitas oliveyras.».



O complexo agora colocado à venda, fundado pela Casa da Vinha, ainda no século XIX, e passado depois à Casa de Telarda de Baixo, é o resultado de uma renovação profunda feita na década de cinquenta do século passado, altura em que tomou a denominação de «Lagar Moderno», como então se inscreveu na sua fachada, hoje já desgastada pelo tempo.

A Defesa de Arouca dá-nos notícia, em dezembro de 1956, que «se encontrava a laborar a bom ritmo, primando pela higiene e asseio». Em dezembro de 1991, «o lagar encontrava-se devidamente registado com o n.º 711 e devidamente reconhecido para laborar, por reunir todas as condições exigidas por lei». Em 1999, vítima das apertadas políticas agrícolas, fechou as suas portas.

Muito mais se poderá dizer para justificar a criação de um Núcleo Museológico do Azeite em Arouca e, especificamente, ali, em Rossas. Oxalá não se perca a oportunidade e não se suma o acervo!

Post scriptum (19.X.2018) - perdeu-se a oportunidade.

11 de outubro de 2018

Arouquense Maria Lurdes Correia Fernandes homenageada

Porque Arouca é rica pelo seu património, natural, cultural e edificado, mas não menos importante, pelas suas gentes e famílias, é com muito gosto que partilho a notícia de mais uma homenagem justa à arouquense, natural de Chave, Maria de Lurdes Correia Fernandes, de quem tive o privilégio de ser aluna.

Ela foi uma das personalidades distinguidas no passado dia 26 de setembro, pelo Rei Felipe VI de Espanha no âmbito da Homenagem ao Hispanismo Internacional, uma iniciativa promovida pela Fundação Duques de Soria como forma reconhecer o contributo de académicos de todo o mundo para a promoção da língua e da cultura hispânicas.

De destacar que Maria Lurdes Correia Fernandes é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e doutorada em Cultura Portuguesa dos séculos XV a XVIII pela FLUP, foi ainda Presidente do Instituto de Estudos Ibéricos da FLUP e Diretora da revista Península: Revista de Estudos Ibéricos (2002-2008), Presidente do Conselho Diretivo da FLUP (2005-2006) e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Arquitecto José Marques da Silva (2008-2014).

Entre 2006 e 2014, desempenhou funções como Vice-Reitora da Universidade do Porto para a área da Formação e Organização Académica, cargo ao qual regressou este ano de 2018.

Em 2013, foi nomeada pelo Papa Francisco para integrar o Comité Pontifício de Ciências Históricas, tornando-se a primeira portuguesa eleita para este órgão da Cúria Romana que junta um  grupo restrito de especialistas internacionais em História Religiosa.

Recebeu a medalha de mérito municipal - grau ouro, a 2 de maio de 2014, da Câmara Municipal de Arouca e a 29 de abril de 2017, o seu trabalho e mérito profissional foi reconhecido pelo Rotary Club de Arouca.

9 de outubro de 2018

O avô Abel da Diáspora Arouquense

Abel Gomes de Pinho, nascido em Arouca em 1907, decide viajar para o Brasil por volta do ano de 1927, acompanhando muitos conterrâneos que, naquela altura, procuravam na antiga colónia o desafogo financeiro que não encontravam num país exausto, atrofiado e traumatizado por sucessivos eventos políticos e sociais que promoviam um ambiente absolutamente desestabilizador junto da classe trabalhadora, cuja realidade do dia-a-dia consistia, apenas, em lutar para conseguir sobreviver a mais uma jornada de fome.

Tal como em muitos outros casos, seus pais, Manoel Gomes de Pinho e Carolina de Jesus, não concordam com tamanha aventura, pois desde o século anterior eram já inúmeros os relatos de casos mal sucedidos, acabados em maior desgraça do que aquela que os infortunados aventureiros viviam no seu país.

Apesar da discordância e falta de consentimento de seus pais, Abel Gomes de Pinho decide galhardamente avançar e iniciar o caminho que confiava vir a mudar a sua vida.

Da viagem e dos primeiros tempos, não há relatos. Tempos difíceis, por certo, que uma nova vida numa terra tão distante, demora a alicerçar! Sabe-se apenas que cerca de 3/4 anos após a sua chegada, corria o ano de 1930 ou 1931, casa-se em São Paulo com Maria Leopoldina Nunes, que passa então a chamar-se Maria Leopoldina Gomes.

Acaba por morrer cedo, com apenas 36 anos de idade, no dia 12 de Junho de 1943, não resistindo a uma febre tifóide, de acordo com a informação na sua certidão de óbito. Deixa cinco filhos em idade muito tenra: Abel, de 12 anos; Maria de Lourdes, com 9 anos; Ercília, com 7 anos; Alzira, com 4 anos; Maria Estela, de apenas 2 anos.

Em 2017, os seus descendentes realizam o primeiro encontro da família Gomes e dessa reunião nasce o desejo de conhecer a origem da família, onde tudo começou. Este encontro, deixou nos seus filhos, netos e bisnetos a saudade e nostalgia em relação ao avô que nunca conheceram fisicamente.

Por mera casualidade, no passado dia 15 de Agosto de 2018 alguns dos seus descendentes, em visita a Arouca, acabam por contactar comigo. Desse contacto surge a minha disponibilidade em ajudar a encontrar a família arouquense do avô Abel que, muito embora nunca mais tenha regressado a Arouca, foi capaz de deixar nos seus descendentes este sentimento tão nosso de apego à nossa terra.

Que bom seria encontrar a família do avô Abel...

8 de outubro de 2018

O auroque de Arouca ou Arouca do auroque?

Penso ter existido desde sempre uma questão pertinente que ainda hoje não encontra resposta definitiva: foi a toponímia Arouca que originou o nome da raça Arouquesa ou por outro lado terá sido a raça Arouquesa que terá dado origem ao nome de Arouca?

Constatemos:
Foto: Avelino Vieira
Auroque é o nome comum dado ao Bos primigenius que era um animal bovino selvagem hoje extinto e  que habitou a Europa, Ásia e Norte de África e se pensa ser o ancestral de todos os bovinos domésticos. Miranda do Vale (1906) defende que das migrações de povos vindos da Ásia e Europa e do norte de África trazendo consigo animais bovinos domesticados ter-se-ão formado os primeiros três troncos ibéricos de bovinos individualizados derivados do Auroque que dariam origem à maioria das raças autóctones da Península: tronco Aquitânico (Bos taurus Aquitanus), tronco Ibérico (Bos taurus Iberus) e tronco Mauritânico (Bos taurus Mauritanus). Machado et al (1981) defende que a raça Arouquesa poderá resultar de um cruzamento ancestral entre os bovinos dos três troncos já acima descritos, ou seja, teríamos já esta raça individualizada desde os tempos do neolítico.

Fazendo uma análise destes dados podemos constatar que teríamos a presença destes animais por Portugal e particularmente pelas nossas terras desde tempos muito remotos (como atestam achados arqueológicos). Estas seriam portanto também as terras do Auroque.

Almeida Fernandes defende que o nome de Arauca que origina por derivação do latim a toponímia Arouca se mantém imutável desde pelo menos o século VII, ou seja, posterior à presença do Arouque por estas terras.

A fonia das palavras Auroque e Arouca é muito semelhante. Por cá temos hoje e já desde o tempo do neolítico o gado Arouquês. As terras de Arouca são hoje as terras também do Arouquês que foram um dia as terras do Auroque.

Sendo extraordinário o facto de Arouca ser hoje um local onde em teoria o nome e fonia do Arouque permanecem quase imutáveis não podemos deixar de equacionar a hipótese de ter sido o nome da raça bovina a dar origem ao nome da terra.

Esta teoria aqui apresentada de forma não muito extensa e exaustiva, de forma a não se tornar fastidiosa à leitura, é susceptível de ser rebatida, procura no entanto ser só mais um contributo para esta questão de sempre. Não é por não termos a certeza da resposta que não devemos ousar apresentar uma solução.