30 de setembro de 2018

Os lugares altos


   A beleza da nossa paisagem deve muito às suas características orográficas. O relevo do território de Arouca é tudo menos monótono. Porém, torna a vida difícil aos que estão, faz rebolar muitos deles para longe e não facilita aos que querem chegar.  É um relevo com muitos altos e baixos… tal como a vida.
   Fiquemo-nos pelos lugares altos de Arouca. Não só a serra da Freita e o seu prolongamento pelo maciço da Gralheira. Também o monte da Senhora da Mó, o Gamarão, os muitos outros montes e cabeços. A maioria, não lhes sei os nomes e muitos não os sabem meus pés. Conheço na minha freguesia, Mansores, a chamada “Serra Grande” (ou “serra da Ribeira”), o monte do Castêlo e o cabeço do côto do Crasto.
   Sendo lugares altos, a maioria são sítios ermos. Em tempos foram palmilhados por pastores e gados. Hoje, rareiam neles pastores e gados, em muitos deles abundam eucaliptos.
   Sendo lugares altos, foram procurados como refúgio contra ataques de inimigos. Daí neles se terem construído em tempos fortificações defensivas.
   Sendo lugares altos, estão mais perto do céu, e por isso convidam ao encontro com Deus. Sinal disso, muitos deles receberam ermidas: Senhora da Mó, Senhora da Lage, Senhora do Monte, Senhora da Abelheira…
   Sendo lugares altos, alguns receberam vértices geodésicos; três (Cerro do Cão, São Pedro Velho, Serra Grande) integram a Rede Geodésica Nacional.
   Percorramos os lugares altos de Arouca. Um dia serão ligados por um percurso pedestre de longa rota. Um dia serão pontos de passagem de uma ultramaratona.

29 de setembro de 2018

Grupos Folclóricos e Etnográficos Arouquenses

Há 74 anos, «um dos números que mais foi apreciado e despertou a curiosidade do público que, em grande número, assistiu à festa que se realizou conjuntamente com a «Feira das Colheitas» foi, sem dúvida, a exibição dos ranchos regionais», como então noticiou a Defesa de Arouca.

Foi aí, sobre o improvisado estrado levantado na vila, que os, não menos improvisados, primeiros grupos folclóricos de Arouca deram os primeiros passos e nestes se inspiraram as formações que se lhe haveriam de juntar e suceder nas edições seguintes. Santa Eulália, Chave, Rossas, Moldes e Canelas foram as freguesias que organizaram os primeiros grupos. O mais genuíno e inspirador, no entanto, terá sido o grupo do Merujal, pequeno lugar da freguesia de Urrô, então isolado lá no alto da serra da Freita.

Hoje, pese embora já não com a vitalidade de há pelo menos trinta anos, quando a juventude núbil aí tinha uma das poucas oportunidades para os seus devaneios, encontros e divertimentos, de que a dança lúdica era a primeira e mais apropriada aproximação dos corpos, mas também ainda longe do fim há muito vaticinado, a tradição folclórica está ainda muito viva em todo o concelho de Arouca.

Elementos do Conjunto Etnográfico de Moldes, por Carlos Belém
Há 15 anos, quando elaborei o pequeno Catálogo de Folclore Arouquense, eram doze as formações existentes e estava a surgir o Rancho Folclórico Infantil e Juvenil de Mansores. Entretanto, são já casadoiros, mas persistentes, os rapazes e raparigas de Mansores que inauguram o palco desta edição da Feira das Colheitas, seguindo-se-lhe o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Santa Cruz de Alvarenga, o Rancho Folclórico de Provesende, o Rancho Folclórico “As Lavradeiras de Canelas”, o Rancho Folclórico “As Lavradeiras de Mosteirô”, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca, o Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Cantares Arouquenses, o Rancho Folclórico Juvenil de Lourosa de Matos e o Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Fermêdo e Mato. Um total de nove Grupos, volvidas mais de sete décadas sobre a constituição das primeiras formações. Todos eles, muito mais que folclore, muito mais que meros Ranchos. Muita etnografia, muito traje e adorno, muita ruralidade, muita riqueza, muito de nós, dos nossos antepassados e da nossa terra.

Por isso, e em face das muitas e diferentes oportunidades, do leque de distracções, ocupações de ócio e labor, e alegadas faltas de tempo que caracterizam os nossos dias, esta realidade é digna de destaque e homenagem. Tanto mais quando, diz e desdiz bem do que há muito ficou escrito pelo autorizado etnomusicólogo Virgílio Pereira: «O cancioneiro de Arouca é o mais significativo do país. Vocês, arouquenses, não sabeis a riqueza folclórica que tendes nos cantos populares da vossa gente rural, espécies raras dos velhos «fabordões» e «gymeis»».

Pois, pelo menos estes Arouquenses, resilientes, dedicados e apaixonados, sabem! Bem hajam, por isso!

28 de setembro de 2018

Nascido na Rua D´arca. Criado no Calvário. Feito no Espingardeiro.


Rua antiga. Calçada gasta pelo andarilhar do tempo. Casa gémea da rua. Poucos luxos que há coisas que mesmo só para os ricos. Quartos estreitos e de porta aberta para desfrute da uma sala em alcatifa enrugada. Cozinha antiga, exígua. Fogão de lenha em cozedura branda e lenta. Latrina de madeira, amiúde visitada pela Guida do Zacarias, de regador na mão, para limpar a fossa e de lá sair com a gorjeta que lhe deixavam na mão. Banhos de bacia, em água trazida em baldes pelos braços do “Larai”, lá do fundo, do tanque onde lavava a roupa a Alcina. Na casa ao lado, a visavó que cedo foi visitar um Senhor e não voltou. Mais abaixo a São da Laura que tantas vezes me recebia e pacientemente atendia.

Lá em cima, no Calvário, pedras grandes, cruzes altas e o sobreiro que nos dava a sua guarita. O escorrega era ali. Bendita cera daquelas velas daquela procissão que vinha à noite com muita gente de círio pascal na mão. Rabo esfarrapado. Sermão da Natália em preparação para o chinelo “quando a mãe chegasse da escola de São João” (da Madeira). Casa dos avós ao lado da capela que, rodeada por terra, era ideal para a bicicleta. Joelhos esfarrapados. Sermão da Natália em preparação para o chinelo “quando a mãe chegasse da escola de São João”. Vinha de manhã, a correr com o “Larai”, porque queria ir às olimpíadas. Saía à noite, embalado pelas histórias da Natália e no aconchego dos braços da Alcina.

Lá no Espingardeiro, cresci. Sair da casa nova, de manha, e andar na rua ate o sol se ir. Os primeiros palavrões começaram a sair. Correr nos campos feitos pelo Mota, para não nos apanhar com a fruta que levávamos dali. Responder aos “Joãoooooo” da Maria da Bigoda, que o Binqueca estava na vila e nem a ouvia. Descobrir novos caminhos, novos campos e novos montes. Descobrir novas liberdades e novas responsabilidades. A minha história vincou-se aqui: cresci, sorri, chorei, sofri.

Sei-me nascido em Arouca, criado em Arouca, feito em Arouca.

26 de setembro de 2018

“Carreiras” de Arouca

   Os transportes públicos regulares de passageiros de Arouca para outros municípios e vice-versa deixam muito a desejar no que toca ao standard mínimo de qualidade que se exige em pleno século XXI.
   Hoje em dia a oferta dos percursos inter-municipais resume-se a três destinos: S. João da Madeira, Santa Maria da Feira (Lourosa) e Castelo de Paiva. Além da parca oferta, a que existe é de paupérrima qualidade e pouco aliciante para que a população a ela recorra de forma rotineira. Todos estes serviços têm vindo, em minha opinião, a decrescer tanto quantitativa como qualitativamente ao longo das últimas décadas.
   Não existe uma única carreia regular direta para a cidade do Porto durante a semana e, como seria de esperar, as frequências das carreiras, mesmo as não directas, sofrem fortes reduções aos fins-de-semana. Não será alheio a isto a extinção de algumas empresas que providenciavam no passado estes serviços bem como a globalização de outras que têm em conta unicamente o carácter economicista do percurso, tendo o cariz social das mesmas nenhuma importância na decisão de permanecerem ou se extinguirem.
   Presentemente, a mobilidade urbana, e também a rural, é um dos principais enfoques dos novos apoios comunitários. Não deveria Arouca fazer e exigir um pouco mais? 

25 de setembro de 2018

As Colheitas estão aí.

   Inicio da última semana de setembro, semana de festa para Arouca. A Feira das Colheitas está aí. Os produtos da terra, a raça arouquesa, a gastronomia, os carroçeis, os concertos e as exposições, tudo isto em harmonia com a alegria dos arouquenses.
   Há uns anos atrás era este o espírito com as gaitas de foles os bombos e as batucadas com barricas e recicláveis:

Marcador do Tempo

Quando me falaram deste projeto de recuperar de alguma forma o título Defesa de Arouca, agora sob a forma de blogue, nesta nova era da informação e da partilha digital, houve um misto de sentimentos que me surgiu espontaneamente, e que me proponho partilhar convosco neste primeiro contributo para o nosso fórum.
O que logo me surgiu foi a saudade do tempo em que folheava esse jornal e ficava a par das notícias do nosso Concelho. Nascido em Alvarenga, saí muito cedo da minha querida terra para ir estudar para o Seminário, primeiro em Rio Tinto, depois em Coimbra, Aveiro, Alfragide, Madeira, Missões em África e na América... Nunca fui assinante do Defesa, porque não tinha possibilidades de o ser. Mas, sempre que podia, lia o nosso jornal em casa de familiares ou de amigos que também tinham deixado a terra rumo às grandes cidades. E sabia tão bem! Era uma espécie de marcador do tempo que passava, permitia que não ficássemos à margem dos principais acontecimentos de Arouca e suas freguesias e paróquias. A par de outros títulos de imprensa regional, fazia-nos estar perto, mesmo longe. 
Vale a pena lembrar que falamos dum tempo em que não havia redes sociais nem comunicação digital, em que tudo era sempre muito distante e muito menos acessível. Obrigado a quem teve a teimosia de nesse tempo manter vivo esse importante marcador dos tempos arouquenses. 
Foi com surpresa que recebi o convite para fazer parte deste projeto de “ressuscitar” o Defesa de Arouca, agora em formato digital, fruto dos tempos novos que são os nossos. Foi uma surpresa agradável, naturalmente! O projeto é outro, mas mantém-se o espírito de manter estreitos os laços que unem todos os arouquenses, estejam no território do Concelho ou em terras distantes.
Que espero deste projeto? Que seja um olhar construtivamente crítico sobre aquilo que se faz, se vive e se pensa no nosso Concelho; que seja um espaço de partilha dos valores que verdadeiramente contam e que nos mantêm genuinamente ligados à terra que nos viu nascer, valores que transportamos para onde quer que os caminhos da vida nos levem. No que de mim dependa, esta será uma comunidade de partilha, de confronto, de discussão... em busca do bem comum de quantos connosco partilham as mesmas raízes arouquenses.
P. José Agostinho Sousa

24 de setembro de 2018

O poder evocador da Defesa para um "Abec"

Cá está! Escrevo o primeiro artigo da minha vida em português. 

Para um blog.
Para Arouca.
A combinação de uma certa forma da modernidade com a evocação de raízes profundamente enraizadas em mim.
As minhas contribuições serão de um arouquense de lá que, apesar da distância, permanece ligado a este pequeno canto do mundo, central, que é Arouca. Um arouquense do famoso "Meu querido mês de Agosto".
Estamos reunidos aqui em torno da memória evocadora de um título da imprensa que marcou a nossa história comum: a "Defesa de Arouca". Esse desejo de reinvenção emocionou-me particularmente porque desperta em mim muitas lembranças.
Nascido e criado na França, o meu relacionamento com a língua portuguesa é limitado a conversas com os meus familiares. Tenho, por assim dizer, apenas uma relação distendida com a leitura e, a fortiori, com a literatura portuguesa. Como muitos dos meus congéneres "Abec". A maioria das minhas lembranças de leitura em português tem a ver com a Defesa de Arouca. Não seria exagero dizer que aprendi a ler (decifrar) e a escrever (mal) português através deste jornal. Eu li de ponta a ponta, títulos relacionados com a política local, com obituários ou ainda os relatos de jogos do FC Arouca ainda perdido nos campeonatos regionais.
O mais importante para mim, no entanto, não foi o conteúdo do qual, devo admitir, guardo apenas memórias muito distantes. O mais importante com a Defesa de Arouca é a lembrança dele em casa dos meus avós, eles que são, especialmente o meu avô, a base do meu apego a esta terra e à orgulhosa humildade de seu povo. Lembranças dos jornais amontoados ao lado da lareira antes de acabarem nela. Foi lá, junto à lareira, com os meus avós, ao som do crepitar e do ferver da panela de caldo, que eu folheei o jornal e me confrontei com uma linguagem escrita que era tão estranha para mim. Além disso, era a única leitura da casa. A Defesa de Arouca era o único acesso a uma forma de cultura literária. Sem este jornal, não tenho certeza que o meu avô se comprometeria em manter um vínculo com a leitura e que eu pudesse ler mais de duas palavras por escrito em português.

Por seu poder evocador de recordação e pelo que me trouxe, obrigado à Defesa de Arouca.

Até breve neste meu Arouca do recordar e da saudade!

P.S.: Gostaria de agradecer à Sara Tavares, arouquense de coração, por sua releitura benevolente.

O futebol na formação dos adolescentes e o princípio da resiliência

Este tema tem muita matéria para ser explorada e toda ela converge, indiscutivelmente, para uma forma de vida mais saudável a todos os níveis.
Resumidamente o que importa ressalvar é que o futebol (como outro desporto qualquer) pode e deve ser a “enzima” no processo, muitas vezes complicado, do crescimento dos jovens.
Podemos começar pelas regras da equipa, que na linguagem futebolística corresponde ao que pretendemos que seja a “união do balneário”. Estas regras são o compromisso de entrega, de empenho e consequentemente de realização de um objectivo comum.
Esse objectivo depende de muitos parâmetros, desde o mais simples ao mais complexo, por exemplo, construir uma equipa, vencer um jogo ou vencer um campeonato.
Transportando isso para a escola, teremos como objectivos passar de ano ou obter boas notas para entrar na universidade e no curso que tanto sonhamos.
Transportando isso para o emprego, queremos ser melhores empregados, subir na carreira, obter melhores vencimentos e chegar ao topo da hierarquia. Porque não?
No futebol aprendemos o princípio da “resiliência”, o que nos permite prepararmos-nos melhor para a vida.
No futebol aprendemos a ter capacidade para lidar com problemas.
No futebol adaptámos-nos à mudança.
No futebol superamos obstáculos.
No futebol resistimos à pressão de situações adversas sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico.
No futebol encontramos soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades.
O futebol ajudou-me a crescer como homem e a ser feliz.
No futebol ajudei e fui ajudado.
No futebol respirei melhor…
No futebol ajudei pessoas e fui ajudado…
TODOS me marcaram e ajudaram a compreender melhor a vida.
No futebol continuo a vencer...
… porque o que aprendo de bom é muito, mas muito mais do que o descubro de mau.

Nota: o autor não aplica as regras do novo acordo ortográfico.

23 de setembro de 2018

As bibliotecas de Arouca


    A primeira biblioteca que conheci e usei era móvel, era uma carrinha, um furgão que percorria o concelho. Foi ainda nos anos 80, andaria eu ainda na escola primária, ou talvez já na telescola. Lembro-me vagamente de, num intervalo da escola, ir a essa biblioteca-que-vinha-até-nós e requisitar livros para levar para casa. Quando chegou o tempo de ir para o 7º ano, fui para a Escola Secundária de Arouca e ainda cheguei a frequentar a biblioteca que havia na antiga sede da Misericórdia, onde agora funciona a ADRIMAG. Assisti pouco depois à instalação e abertura da Biblioteca Municipal de Arouca.
    Há dias dei comigo a pensar nas bibliotecas de Arouca e, se bem que pelas suas distintas naturezas sirvam distintos públicos, são várias. Excluindo-se aqui, obviamente, bibliotecas pessoais e familiares, enfim, puramente privadas, há pelo menos estas:
    1. A biblioteca do Mosteiro de Arouca. É a mais antiga de todas. Não corresponde, de todo, àquilo que foi nos tempos em que no mosteiro vivia uma comunidade de monjas, mas ainda assim podemos hoje consultar com a maior comodidade os espécimes que permanecem no mosteiro, graças ao projeto de catalogação e digitalização cujos resultados estão em http://arouca.fcsh.unl.pt/.
    2. A Biblioteca Municipal de Arouca. Dispensa apresentações. Segundo tenho ideia, trabalha em rede com as bibliotecas escolares e dispõe de dois serviços de extensão: bibliomóvel e bibliomala.
    3. O fundo documental da Associação de Defesa do Património Arouquense. Muito mais do que uma biblioteca, é um valioso repositório especializado sobre o concelho: bibliografia, hemeroteca, arquivo.
    4. A Biblioteca Memorial D. Domingos de Pinho Brandão. Inaugurada em 2015, tutelada pela Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda e instalada no Mosteiro de Arouca.
    5. As bibliotecas escolares. Servindo as comunidades escolares respetivas, dispensam igualmente apresentações.
    6. A Casa da Cultura de Fermedo. Espaço cultural que, sendo um polo de memória da região, inclui valência de biblioteca. Situada em Cabeçais no edifício que foi sede do concelho de Fermedo.
    Com tantas bibliotecas, haja leitores com tempo e vontade, porque os livros não se leem sozinhos…

A Serra da Freita em imagens


   É indesmentível que um dos tesouros de Arouca é a Serra da Freita. Não sendo uma alta montanha, a sua imponência é suficiente para ser observada de (quase) todos os pontos do concelho de Arouca.
   As paisagens da Serra da Freita estão presentes na minha memória desde criança, um tempo que infelizmente já passou, no sentido em que as várias transformações que têm ocorrido na Serra não foram - no geral - para melhor. Não é um problema exclusivo da Freita, é algo generalizado em todo o país pois as práticas de preservação dos nossos espaços naturais já foram efectivamente melhores.
   Porém não é isso que me leva a contribuir para este projecto, para o qual agradeço a enorme honra do convite para participar. Não sou especialista em conservação da Natureza e reconheço que é um assunto complexo que atravessa vários sectores da sociedade. Prefiro antes focar os aspectos positivos da Serra da Freita, usando a fotografia como meio preferencial. Não há meio melhor que a fotografia para exprimir o modo como vemos o mundo e consequentemente preservar as nossas memórias.
   Embora ainda o faça com muito menos frequência, entre 2009 e 2013 tirei milhares de fotografias na Serra da Freita, com o objectivo de apurar os meus conhecimentos de fotografia. Com o tempo percebi que o resultado desse trabalho servia para muito mais que isso. As imagens que obtive são também um arquivo, uma preservação da memória e do melhor que temos na nossa Natureza e na nossa Serra da Freita. O meu desejo é que também sirvam de inspiração e de alerta para a conservação dos nossos espaços naturais, já que nada dura para sempre.
   Para esta primeira colaboração escolhi um dos melhores exemplos disso mesmo. A árvore na imagem era um de três pinheiros que se encontravam mesmo em frente ao miradouro próximo do alto da Freita. Embora longe do seu vigor, eram extremamente formosos e fotogénicos. Infelizmente, ficaram definitivamente fragilizados após o grande incêndio de 2016 e acabaram por desaparecer.

22 de setembro de 2018

Sobre a morosidade no conseguimento das vias de comunicação

A seguir à agenda político-partidária, as vias de comunicação e/ou acessibilidades são, muito provavelmente, o tema com mais títulos nos jornais da nossa terra. Não por serem muitas as reclamadas, mas pelos seus "inconseguimentos" e morosidades. Seja pelas primeiras duas estradas nacionais, então dignas dessa classificação, concluídas já em finais do século XIX, seja pela estrada de Alvarenga, pela ligação a São Pedro do Sul ou, mais recentemente, pela ainda "inconseguida" ligação à Feira, é raro o ano em que as estradas do concelho (atuais e desejadas) não tenham feito manchete na imprensa de Arouca, desde que ela surgiu.

Quando, em 1882, surge o primeiro jornal, havia muito pouco tempo que as ligações de Arouca a Oliveira de Azeméis, por um lado, e a Cabeçais, por outro, com modernas pontes de pedra sobre os rios e ribeiros, iniciadas nos anos sessenta dessa centúria, se tinham acabado de rasgar e calcetar, e substituir a antiquíssima Estrada Real.

Em 1893, o Visconde de Albergaria de Souto Redondo, então presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, pugnando pelos interesses dos seus munícipes e dos povos de Arouca, seu torrão natal, reclamava ainda ao ministro das Obras Públicas a conclusão entre Cabeçais e Espinho, oferecendo-se mesmo para pagar as expropriações que impediam o avanço das obras.

Foi então assunto para mais de trinta anos. Tantos como os que havia de levar a estrada de Alvarenga e, depois, a ligação a São Pedro do Sul, já no século que se lhe seguiu. O que tudo parece, aos olhos d'hoje, perfeitamente compreensível, atendendo, nomeadamente, à maquinaria então existente. Porém, neste nosso tempo, o "inconseguimento" da ligação à Feira, conta já mais de vinte anos...

21 de setembro de 2018

Grande Vila

   8.15h da manhã… enquanto tomo o café - que é condição de energia para enfrentar o dia -  leio uma reportagem sobre o Hotel Rural da Freita no Jornal de Notícias. Projeto novo de gente nova, que cresce e bem.
   Ao meu lado, um colega de trabalho – que partilha as folhas do JN comigo – diz “É pá, Arouca está sempre nos jornais. Ainda há dias era de alguém que cultivava mirtilos.”
   Realmente, já nos habituamos a ver Arouca nos jornais nacionais e nem damos o verdadeiro valor a essa visibilidade. Esta projeção que o concelho conseguiu nos últimos anos, por fruto das politicas públicas e das ações privadas de muitos, é um caso de estudo.
   Haverá poucas “terras” que tenham uma visibilidade tão superior à sua verdadeira dimensão. Isso é um feito e deve encher-nos o peito. Porque esta pequena Vila mostra a muitos o que é ter dimensão.

17 de setembro de 2018

Oh Zé, o que traz a Defesa?


   Ainda ecoam em mim as palavras da minha mãe que, num ritual de sexta-feira, perguntava ao meu pai as notícias de Arouca que aquele jornal semanal lhes envolvia a Saudade e lhes abraçava a ligação, nunca perdida, com a terra onde nasceram.
   O meu pai Zé nasceu em Penso de uma família muito pobre: a minha avó Eulália lavava escadas na rua do Beco a troco de alguma comida. O meu avô Aires era jornaleiro nas terras da D. Catarina em dias que havia trabalho. A minha mãe Rosa viveu na Rua da Lavandeira e os meus avós maternos, ele lavrador, ela mulher de casa que repartia o seu tempo entre o forno a lenha onde cozia broa de milho e parteira quando dela necessitavam, viveram de modo remediado com uma prole de dez filhos vivos que três, levara-os ainda novos, a doença.
   Cedo o meu pai começou a aprender uma arte, no seu caso de alfaiate, em casa do senhor Vitorino Fontes, mas como aspirava a uma vida melhor concorreu, após a tropa, para ingressar na Policia de Segurança Pública no Porto onde permaneceu até à reforma. A minha mãe que, desde muito nova, começou a servir em casa do Dr. Duarte Silva, aspirando a ganhar um pouco mais para fazer o enxoval, rumou a Marechal Gomes da Costa, no Porto, para ajudar em casa da família Queiroz Ribeiro.
   Separados de Arouca, num tempo em que os transportes escasseavam e o dinheiro não abundava, o jornal Defesa de Arouca desde sempre os acompanhou no estreitar de uma relação à sua terra de que só eles conheciam memórias e sabores.
   Todas as sextas feiras, o carteiro era portador de notícias cristalinas que aquele jornal simples e macio fazia transbordar numa saudade da distância que nos sufoca sem contudo nos fazer retroceder no caminho. Sim, que os meus pais nunca foram pessoas de desistir!
   E como era interessante ver os anúncios simples das festas e romarias, a vida social de familiares, amigos ou conhecidos, os artigos dos arouquenses mais dados à escrita ou mesmo os reparos dos assinantes!
   Hoje procurei nos pertences dos meus pais um exemplar do jornal Defesa de Arouca! Infelizmente não encontrei …apenas me deparei com alguns recortes de noticias que o meu pai, religiosamente, colecionava: o falecimento do meu avô Manuel e o nascimento da minha filha Diana, cerca de vinte anos mais tarde.

   Olhei-os com uma inefável ternura…
  Sabe tão bem guardar as raízes do que somos, o antes de qualquer projecto perfeitamente definido, num tempo em que o sonho, a sedução e o sentido de um jornal fazia as delícias de uma pequena família de arouquenses, no Bairro do Cerco do Porto!

Nota: Aceitei, com agrado, o convite para participar no Blog Defesa de Arouca! Saiba eu estar à altura daquilo que todos vós poderão esperar do meu singelo contributo.
Rosa Sousa
Professora de Filosofia

Guia turístico para não turistas

   Arouca é hoje uma terra fortemente vocacionada para o turismo. Já o era no passado, mas nunca como nos dias de hoje a vertente turística teve tanta importância na economia e sociedade Arouquense. Arouca é hoje também de quem nos visita e a descobre e já não é só nossa. Os recantos escondidos e desconhecidos, os pequenos segredos da nossa gastronomia, as praias fluviais menos conhecidas, os trilhos mais escondidos são cada vez mais escassos. Escrevo-o não com qualquer pendor pejorativo mas, sim, como uma constatação.
   Ainda assim é possível, hoje, ser-se turista na própria terra sem se cruzar com as centenas de turistas que nos visitam. E, por isso, esta é um sugestão de guia de fim-de-semana por uma Arouca menos turística.
   - Sábado: Pequeno almoço no Alpha 5, onde os funcionários de longa data “Domingos” ou ”Graveto“ nos servem um café e um pastel de nata com canela, enquanto lemos as últimas notícias do jornal comprado no Quiosque do Cruz, mesmo em frente. Para os amantes do desporto uma corrida ou um percurso de bicicleta pelo vários trilhos, - infelizmente ainda não oficialmente traçados e sinalizados,  mas que centenas de Arouquenses percorrem todas as semanas -, ou, então, algo mais calmo como uma caminhada pelo perímetro urbano onde nos cruzamos com várias casas brasonadas e cheias de história, quiçá pela "Vila no meu Pé" tão interessantemente conduzida pelo meu amigo Ricardo Oliveira.
   Após um banho rápido, seguimos para a freguesia de Moldes, mais propriamente para o lugar do Pedrogão, onde a família Quaresma nos aguarda sempre com as suas inigualáveis iguarias, de que se destacam as maravilhosas trutas de rio.
Feita a digestão, e se o tempo o permitir, rumamos ao rio Paivô, não ao Paiva mas sim ao Paivô, e, neste particular, ao recém restaurado açude da Ponte de Telhe, que será, certamente, uma opção que não deixará ninguém defraudado.

Em Arouca, um mosteiro, não um convento

    Sempre que passo na Autoestrada do Norte (A1) antes da saída para Santa Maria da Feira reparo nas placas de grande dimensão e fundo castanho anunciando que por ali se sai para o “convento de Arouca”. É um erro. O muitas vezes chamado “convento” de Arouca não é um convento. É, sempre foi, um mosteiro.
    Se é verdade que só porque se lhe chame convento, não deixará por isso de ter sido ou de ser um mosteiro, e se é verdade que há erros piores e coisas mais importantes na vida, aos olhos das quais isto é um argueiro, nem por isso deixa de ser um erro.
    A maioria de nós acaba por, uma vez por outra, repetir e reproduzir este erro, que se entranhou no nosso linguajar. Mesmo em páginas oficiais de entidades administrativas da nossa terra é fácil encontrar o mosteiro trocado por um convento. Veja-se o caso do website da Direção Regional de Cultura do Norte para perceber-se do que falo. Ou veja-se a referência de Miguel Torga de que falarei em próximo texto.
    Deixo a sugestão a quem isto ler, se estiver de acordo e se tiver ou conhecer quem tenha poderes para propor e/ou fazer a correção das placas da A1 e de outras que eventualmente existam, que tal proponha ou faça. Por exemplo, através das instituições de âmbito administrativo-autárquico ou com responsabilidades de promoção turística.
    A diferença entre mosteiro e convento tem a ver com a história das formas de vida regular da Igreja e tem a ver com a distinta etimologia de uma e de outra palavra. Simplificando, nos mosteiros vivem comunidades de monges ou monjas em obediência a uma regra de vida que preconiza um claro afastamento do mundo exterior; já nos conventos vivem comunidades de frades (chamados freires no caso de ordens militares) ou freiras cuja regra de vida impõe que estejam, que ajam no mundo. As ordens monásticas, cujos membros habitavam mosteiros, precederam o surgimento, no século XIII, das ordens mendicantes, que foram as primeiras a viver em conventos.
    Em Arouca há um mosteiro, não um convento. Um mosteiro no qual viveram monjas, da Ordem de São Bento e depois da Ordem de Cister, mas nunca freiras. E mosteiro, aqui, no sentido de instituição ou comunidade, não simplesmente de edificado, pois antes do atual mosteiro-edifício outros ali houve.
    A terminar, e não vá alguém ter a ideia, creio que não se justifica mudar de doces conventuais para doces monásticos. Soa pior e, sei lá, poderiam deixar de saber tão bem!

15 de setembro de 2018

Há precisamente dez anos…

… vistos de agora, iniciou-se uma nova Era para Arouca e para os Arouquenses. Uma Era mediática que catapultou Arouca para a cena nacional e internacional, motivando e impulsionando os Arouquenses e o município para uma nova e promissora dinâmica socioeconómica. 
   Quando um dia se fizer a história de Arouca deste nosso tempo, 2008 ter-se-á de fixar, necessariamente, como o início de uma nova Era.
No entanto, quando lá nos encontrávamos, estávamos longe de o imaginar. Nem o mais sustentado e fundamentado prognóstico o poderia antever. Tanto mais quando as contrariedades eram ainda mais do que as facilidades. A “estrada”, com que andávamos entretidos há anos, não passava de promessas. Parte das notícias e da opinião crítica ia-se com o fim da Defesa de Arouca e, até o mediático apresentador de televisão se via obrigado a deixar de treinar a equipa de futebol do principal clube da terra.
Mas, ao contrário do que parece e parecia, 2008 ainda estava no seu começo e havia outras “estradas” e outros “canais” ao alcance. Arouca vinha a "rasgar caminho" e a "levantar pilares" para se projectar e afirmar. Há que dizê-lo sem rodeios e atribuir mérito a quem o protagonizou. Conquanto, - não tenho dúvidas -, também só assim foi, porque Arouca nunca foi uma terra amorfa, nunca se resignou e sempre teve uma forte, construtiva e exigente opinião crítica (publicada), que, por sorte (nossa) e habilidade (deles), sempre foi motivação e incentivo para quem a tem governado.
   Porém, ao contrário do que se possa pensar, não foi a iniciativa pública (que depois "rasgou caminho"…), mas antes a iniciativa privada, que esteve na génese desse salto. Foi a dedicação e o investimento abnegado e apaixonado de dois ou três arouquenses que contagiou o poder local, motivou e incentivou a iniciativa pública. 
    Arouca é hoje, pois, - para orgulho de todos -, o que os Arouquenses têm feito dela! "Os de Lisboa" e "os da Europa" têm vindo sempre depois e, mesmo assim, quantas vezes com meras promessas...

13 de setembro de 2018

"Defesa de Arouca": o melhor e maior jornal do concelho

Caríssimos amigos,
   Há uma frase, entre muitas, que me tem acompanhado ao longo da vida: “Sou apenas um, mas sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa; e porque não posso fazer tudo, não me negarei a fazer o que posso.”
   Poucos saberão o que sinto quando se fala no jornal “Defesa de Arouca”. Apenas ficam pensamentos e/ou suposições mais ou menos semelhantes!
   Sou muito respeitador do passado e da história. Sou o filho mais velho de Arlindo Augusto Soares de Matos, que ainda menino, com apenas 11 anos começou a trabalhar na "Defesa de Arouca", então na Avenida Dr. Oliveira Salazar, atual Avenida 25 de Abril e onde é hoje o "Café Arouquense". 
   Lembro-me vagamente de ser pequenito! Talvez uns 4 ou 5 anitos! Ainda a “Defesa de Arouca” era na Rua Dr. Figueiredo Sobrinho. Minha mãe levava-me, juntamente com a minha irmã Magui para junto de meu pai, que trabalhava até às tantas da noite para que o jornal chegasse aos leitores à sexta-feira.
   Lembro-me algures em 1974 a “Defesa de Arouca” passar para a Rua Alfredo Vaz Pinto, n.º 8, tinha eu 6 anos.
   Depois foi sempre a crescer, eu e a “Defesa de Arouca”…
   Foram 34 anos de uma amizade profunda. De uma ligação eternamente grata e de um conhecimento imensurável.

10 de setembro de 2018

Elogio da Defesa

   Tenho muitas e muito carinhosas memórias do semanário “Defesa de Arouca”. Quando nasci, já a Defesa era assinada e lida na casa de meus pais havia décadas. Lá em casa pouco mais se lia do que este periódico. E desde pequeno me habituei a recebê-la na caixa do correio a cada 6ª feira. Líamo-la e comentávamo-la.
   As edições iam andando e pousando entre o pial, o banco e a mesa durante algumas semanas. Depois eram destruídas ou passavam a palimpsestos. Todavia, guardei em recortes e li vezes sem conta parte considerável da série “Arouca: subsídios para a sua monografia”, de Simões Júnior, classificada por freguesias e publicada por inícios dos anos 90. Ainda conservo parte. Ali aprendi muito do pouco que sei da história do nosso concelho.
   Depois, na juventude, vivendo já longe de Arouca, ainda publiquei alguns textos na Defesa e tornei-me seu assinante. Entretanto, a Defesa, como quase tudo nesta vida, acabou. Não é nenhum drama. Passaram 10 anos. A vida continuou e a Defesa não se perdeu, porque “verba volant, scripta manent”. Dei comigo há algum tempo a folheá-la de empreitada nas coleções conservadas em Arouca na Associação de Defesa do Património Arouquense e em Lisboa na Hemeroteca Municipal.
   “Defesa de Arouca” e “Em defesa dos interesses de Arouca e dos Arouquenses” são afirmações claramente programáticas. Recuperar o seu espírito e afirmá-lo com coerência através da escrita implica assumir uma causa e uma militância: escrever (agir pela palavra) em defesa dos interesses dos outros (de Arouca e dos Arouquenses) e não dos interesses próprios. Conseguir fazê-lo é um desafio, que lanço a mim próprio em relação aos textos que vier a publicar nesta plataforma. Um desafio que, se mo permitem, estendo aos demais colaboradores deste projeto.

8 de setembro de 2018

A (má) imagem do nosso património edificado

É já há muito manifestamente injustificável a (má) imagem que o Município passa do património edificado de Arouca. Tanto mais quando se trata do nosso mais importante património cultural classificado, na maior parte dos casos como património nacional.

Consultar a página do Município (hoje, dia 8 de setembro de 2018), ir aos conteúdos da barra lateral, clicar sobre «Concelho» e, depois, sobre «Património», significa percorrer um caminho muito curto, mas oficial, para uma imagem absolutamente deturpada, insuficiente, redutora e enganadora do mais relevante património edificado do concelho de Arouca.

Os Arouquenses sabem que a imagem que o Município passa não corresponde à realidade e que, felizmente, todo esse património se encontra com muito melhor aspecto e a justificar melhor e mais publicidade. Mas, quem não sabe e/ou procura saber, - que, felizmente, são muitos e cada vez mais -, não obriga a um pequeno investimento na imagem desse nosso património cultural edificado?

Não valerá a pena retomar o protocolo com o Movimento Fotográfico de Arouca, de que se falou há uns tempos? Certamente que, com pouco, farão muito e ficaremos todos a ganhar.

6 de setembro de 2018

O papel dos professores (de Arouca) na divulgação do património arouquense

   Arouca, acomodada numa área privilegiada pela natureza, moldada por amplas paisagens naturais, rústicas, campestres e verdejantes, ajustou as características das suas gentes, desde sempre, às particularidades das vivências rurais.
   Assim, se construiu e moldou, orgulhosamente, o património humano de uma vila, expresso na simplicidade e autenticidade de cada arouquense. Estas características fortaleceram, desde sempre, o sentimento de pertença a um lugar único e, no coração de cada um, sem igual.
   A satisfação em falar de Arouca quando viajamos. A vaidade em referir a imponência do convento. O orgulho em mencionar as singularidades da nossa terra: a Frecha da Mizarela, as Pedras Parideiras, as Trilobites Gigantes de Canelas. O prazer em convidar os amigos forasteiros a experimentar a transparência dos nossos rios, encaixados em vales que contam histórias da vivência alemã e inglesa por altura da segunda guerra mundial; a percorrer os percursos pedestres que nos levam a aldeias mágicas escondidas por trás das serras e perdidas no tempo, e a caminhos calcorreados pelos nossos pais e avós, na luta pelo ganha-pão do dia-a-dia; a passear nos Passadiços do Paiva; a experimentar a nossa fantástica gastronomia, confecionada como não há igual, seja a vitela arouquesa, o bife de Alvarenga ou melhor frango frito do mundo; os doces conventuais; e tanto que cada um gosta de partilhar, faz com que cada arouquense sinta esta terra como propriedade sua. É por isso que, orgulhosamente, enaltecemos as qualidades e, teimosamente, escondemos os defeitos da “nossa” Arouca.

4 de setembro de 2018

O fim das Aldeias da Serra

   As aldeias tradicionais de Arouca estão condenadas a acabar se não se conseguir encontrar uma solução para inverter a tendência das últimas décadas. É certo que não é uma realidade exclusiva de Arouca, mas foquemo-nos no nosso concelho.
   Aldeias como a da Castanheira, em plena Serra da Freita, que mesmo beneficiada pelo famoso e muito visitado Centro Interpretativo das Pedras Parideiras (um dos principais núcleos do Arouca Geopark) conta neste momento com meia dúzia de habitantes sendo que a pessoa mais nova tem já cerca de 60 anos. Mas o mesmo sucede com Regoufe, Rio de Frades, Covelo de Paivô, Cando ou Noninha, povoações a enumerar entre outras e onde este fenómeno de êxodo se verifica mais acentuadamente nas últimas décadas. As gerações mais novas saíram há já uns anos com a promessa de voltar, mas não estão a regressar.
   Para além do mais, com o despovoamento destas aldeias deixaremos de ter o gado de pastoreio, nomeadamente as Arouquesas de montanha que muito contribuem para a subsistência e dinamismo local, para o turismo gastronómico e paisagístico do concelho. Deixaremos de ter os rebanhos de pequenos ruminantes que pintam o planalto e, com eles, uma parte significativa da ruralidade de que tanto nos orgulhamos.
   Sendo, pois, evidente que equipamentos como o das Pedras Parideiras não contribuem para inverter aquela tendência, urge pensar no que se poderá/deverá ainda fazer para segurar vida nas nossas Aldeias da Serra.