27 de setembro de 2020

Voltámos à Escola!

    Mais um ano letivo começou. Mais um ano, que poderia ser igual a tantos outros. Poderia, mas não é. Este é em tudo, ou quase tudo, diferente. Faltam os abraços, os beijos, os apertos de mão, que costumam marcar os reencontros. Falta a proximidade, os sorrisos bem definidos no rosto, que agora quase só se adivinham, faltam as brincadeiras à vontade, os “encontrões” cúmplices dos rapazes e as mãos dadas das meninas pequenas que passeiam pelo recreio, os cochichos ao pé do ouvido, o barulho dos corredores e dos recreios cheios… falta tanta, tanta coisa.

    Sobram as máscaras que escondem o sorriso dos rostos, que escondem também o desagrado que não costumava precisar de palavras para se expressar. Sobra o constante lava, desinfeta, desinfeta e lava, preocupação de que não conseguimos, nem devemos, libertar-nos, por agora. Sobra o espaço que permeia as conversas entre amigos, que sem se poderem aproximar, se fazem silêncio. E o silêncio incomoda. O silêncio acentua os medos, os receios até de respirar, não vá o “maldito vírus” estar por perto e fazer-se hóspede indesejado.

    As nossas crianças e jovens já precisavam deste regresso à escola. Mesmo sendo um regresso tão atípico. Foram muitos os meses de isolamento, de conversas exclusivamente on-line. Só quando somos obrigados ao afastamento conseguimos perceber como a proximidade nos faz tanta falta.

    Tenho jovens em casa e pude testemunhar a sua frustração com a interrupção das aulas presenciais, que significou ausência de uma vida normal, com todas as rotinas quotidianas, que nos fazem sentir vivos. Pude também verificar como os meses de afastamento acentuaram a sensação de receio de estar com os outros, fazendo de seres iminentemente sociais seres com alguma tendência à retração. E isso não deixa também de ser preocupante. Que as nossas crianças e jovens se tornem seres isolados, retraídos, com tendência a fechar-se aos outros e a concentrar-se no seu pequeno mundo. Foi com alegria e muita esperança que os vi sair e retomar, na medida do possível, a sua vida normal em sociedade. Mesmo com todas as restrições que a pandemia impõe.

    A infância e a juventude são estágios preciosos de crescimento e amadurecimento. São um tempo de construção da personalidade. Um tempo irrepetível, que não pode ser retomado e, por isso mesmo, sem contemplações com paragens impostas seja pelo motivo que for. É claro que a saúde física, quer das crianças e jovens, quer das suas famílias e da comunidade em geral, tem de ser protegida. Mas, como mãe e como professora que sou, duplamente atenta a estas questões, não posso deixar de me questionar sobre as suas necessidades sob o ponto de vista da saúde psicológica, mental e espiritual.

    Como professora, estava também eu, com uma necessidade urgente de retomar a minha vida profissional e de relação com alguma normalidade. Os benefícios que os tempos atuais, com todos recursos tecnológicos que se nos oferecem, e dos quais não posso deixar de ser adepta, sob pena de permanecer encarcerada no passado, são indubitavelmente vantajosos. Outras gerações não puderam encarar dificuldades idênticas às que hoje vivemos com a mesma vantagem que hoje possuímos e que nos faz estar, de algum modo, próximos, mesmo à distância. Devemos sentir-nos gratos, sem dúvida. Mas…o que há que se compare com o contacto em presença, seja nas relações de amizade e companheirismo, seja no processo de ensino-aprendizagem? Disso todos nós sentíamos uma saudade que, mesmo com todos os entraves atuais, lá vamos minorando, neste voltar à escola.

    Mas não deixa de ser estranho, tenho de admitir. As nossas salas de aula, nada adaptadas às necessidades de afastamento social impostas pela DGS, que consideramos necessárias e apropriadas mas nos vemos na contingência de não conseguir cumprir na totalidade, oferecem-nos um triste panorama de amálgama de seres mascarados, separados por acrílicos, quando não há possibilidade de separação física, olhitos espreitando os colegas, mãos que se tocam sem se tocarem… Faz-me lembrar pobres funcionários de um call center, “enjaulados” entre vitrines.

    Depois… lá vêm os recreios, as horas do lanche, as crianças que correm para se abraçarem, se tocarem… Aí, sobram os ralhos, os “não podes”, os “larguem-se, olhem o covid”, as carinhas frustradas deles e a nossa sensação de estar a contribuir para uma infância sem o que é primordial.

    “O contacto físico é uma categoria absolutamente essencial na vida humana”, li eu um destes dias, numa afirmação do professor e investigador Carlos Neto. Dizia ele ainda “Brincar é uma excelente forma de conquistar imunidade”. Concordo absolutamente com ele. E espero que tenha mesmo razão. Mesmo assim, não consigo abstrair-me de incessantes dúvidas contraditórias. Estaremos a proteger demasiado as nossas crianças e jovens? Por outro lado, estaremos a protegê-los o suficiente? O vírus está aí. E não dá sinais de querer afastar-se tão cedo. A tão desejada normalidade não parece ser para já. Mais parece uma miragem que quanto mais se caminha mais se afasta.

    São mais as dúvidas do que as certezas. Estamos todos a tentar fazer o nosso melhor. Esperemos que o nosso melhor seja o suficiente. Seja o acertado. Só o futuro nos dará o aval. Não nos resta mais do que caminhar e esperar que o caminho que fazemos nos leve mais ou menos onde desejamos chegar. Não podemos é deter-nos no caminho. Ele faz-se caminhando e o futuro é já ali.

    E, seja como for, é muito bom estar de volta à escola. Só esperamos que nos deixem (o vírus nos deixe) por aqui permanecer, todos juntos, ainda que não totalmente próximos.

26 de setembro de 2020

P’rá história dos anos em que não houve Feira das Colheitas

Pela razão de todos conhecida, foi cancelada a edição deste ano da Feira das Colheitas. É inédita a razão pela qual não se realiza, mas já não o facto de não se realizar. Não se realizou também, pelo menos, em 1968, 1974 e 1975. Razão pela qual também não conta tantas edições como anos.

Desta feita, porém, não está em causa a sua continuidade. É vontade geral dos arouquenses a sua realização. O que também se depreende pelos apontamentos colocados pela Câmara Municipal nos sítios da Feira e pelo simples «Sairás à rua... Feira das Colheitas», com que Laura Bastos "nos ofereceu" esta sua belíssima criação.

Já o mesmo não pode dizer-se de 74-75 e, principalmente, de 68, ano em que se temeu que não voltasse a realizar-se. Nos antecedentes desse ano, a Feira das Colheitas não era ainda a Festa do Concelho. Esse protagonismo era conferido às festividades em honra de São Bartolomeu, que tinham sempre lugar no penúltimo fim-de-semana de Agosto.

Em 1967 resolveu-se juntar as duas realizações num mesmo fim-de-semana. Nos dias 2, 3 e 4 de Setembro realizou-se a denominada "Festa do Concelho e das Colheitas". Porém, sendo salutar a união de esforços e concentração de meios, não foi nada consensual a junção da comemoração do padroeiro da vila com a comemoração das colheitas, principalmente numa altura em que nada dizia a uma ou outra.

No ano seguinte, realizaram-se os grandes festejos em honra de São Bartolomeu, mas já não a Feira das Colheitas. Com efeito, «não se realizando a Feira das Colheitas e não considerando o Grémio da Lavoura viável a reunião das duas, as denominadas Festas do Concelho não podiam deixar de vir para a rua», numa organização assumida pela Câmara Municipal.

Contudo, logo nesse ano, ficou a garantia: «Os tempos não correm propícios para a realização das grandes festas, sobretudo nas condições das de Arouca - uma logo a seguir à outra - mas julgamos saber que, já no próximo ano, o Grémio da Lavoura realizará a Feira na época própria e independentemente de qualquer outra.» E assim aconteceu, nos dias 27, 28 e 29 de Setembro, do ano seguinte, em prejuízo - é justo dizer-se - dos festejos em honra de São Bartolomeu.

A segunda vez em que a Feira das Colheitas não se realizou - agora por dois anos - foi já no pós-revolução de Abril. Como é sabido o Grémio da Lavoura tinha uma determinada conotação política e, por isso, logo se sentenciou com a revolução, cujos protagonistas locais não se sentiram à vontade para dar continuidade àquela realização naquela rescaldo. Não se realizou em 1974 e 1975.

Em Agosto de 1976, com o intuito de recuperar o certame, surge a notícia da realização de um Grande Concurso Pecuário ou Feira das Colheitas, agora sob a égide da Cooperativa Agrícola de Arouca. Prevaleceu a antiga denominação de Feira das Colheitas, que se mantém até hoje, agora sob responsabilidade exclusiva da Câmara Municipal.

25 de setembro de 2020

O primeiro estádio do Futebol Clube de Arouca foi inaugurado há 49 anos atrás...

O primeiro estádio do Futebol Clube de Arouca, localizado na zona das Costeiras, nas imediações da vila de Arouca e perto de Moldes, foi inaugurado a 26 de Setembro de 1971 (da era comum), com o Futebol Clube do Porto. Faz, nesta altura, 49 anos. O presidente do Futebol Clube do Porto era o banqueiro, empresário e mecenas arouquense Afonso Pinto de Magalhães, presidente honorário do Futebol Clube de Arouca, que também "deu o nome" ao campo de futebol.

Como a Wikipédia descreve, de modo factual e objectivo: "A história do Futebol Clube de Arouca está muito ligada ao Futebol Clube do Porto, tendo sido a filial n.º 40 do Futebol Clube do Porto, o que é também um reflexo e um indicador da forte ligação sócio-económica, que sempre existiu, dos arouquenses com o espaço urbano do Porto, para além da proximidade territorial, visto que a fronteira de São Miguel do Mato (Arouca) com Gondomar dista cerca de 20 km da cidade do Porto.

E estes são e serão os meus dois clubes, para sempre. Que isso fique bem claro e seja conhecido. Só na idade adulta, de modo consciente, é que decidi mesmo ter um clube. Gosto de futebol. E, mais do que nunca e por variadíssimas e ínumeras razões, sou e serei sempre adepto do Futebol Clube do Porto e do Futebol Clube de Arouca. E, no futuro, também pretendo ser sócio destes dois clubes do coração. Que são os clubes dos lugares que mais amo no Mundo: Arouca e o Porto, que são e serão os meus lugares endógenos e naturais de sempre e para sempre, com A Protecção Divina de HaShem, Bendito Seja O Seu Nome Sagrado. No caso específico do Futebol Clube do Porto, é um dos grandes clubes (a nível europeu e a nível mundial) do qual já sou um adepto convicto há cerca de 12 anos, sediado naquela que é, indiscutivelmente, a melhor cidade de Portugal: o Porto, que é, para além da minha querida Arouca natal, a cidade que mais amo no Mundo, a par de Jerusalém - Israel. Para além disso, o azul (que é a cor estrutural do F.C. do Porto e que também está presente na identidade do F.C. de Arouca) sempre foi a minha cor preferida.

Neste pequeno vídeo (cuja versão completa pertence à família 'Pinto de Magalhães'), muito carismático e com forte identidade histórica, pode-se ver a inauguração do primeiro estádio do Futebol Clube de Arouca, ao jogar com o Futebol Clube do Porto, do qual é a filial nº40. Neste pequeno vídeo, uma forte componente identitária de nós, Arouquenses, está bem viva e é, portanto, muito actual:


E é de tal modo assim que, passado 35 anos, em 2006 (da era comum), o novo e actual estádio do Futebol Clube de Arouca, agora localizado na vila de Arouca, também foi inaugurado com a realização de um jogo com o Futebol Clube do Porto. 
De facto, o núcleo identitário de Arouca permanece, ao longo dos tempos, conscientemente ou de modo mais espontâneo...Mas permanece. E ainda bem que permanece. A forte identidade própria é e será, como sempre foi, um dos elementos mais valiosos de Arouca e dos Arouquenses.

20 de setembro de 2020

Relato do prof. Fernando Miranda sobre as verdadeiras origens e objectivos da Feira das Colheitas

Este ano, por razões óbvias, não pode mesmo ocorrer aquele que é, indiscutivelmente, o evento mais relevante de Arouca e dos Arouquenses: a Feira das Colheitas...Este evento (que, no ano de 1944, não surgiu de qualquer política central do Estado Português) foi idealizado, fundado, organizado e promovido durante décadas, por António de Almeida Brandão (n.1893-m.1986), a partir do Grémio da Lavoura de Arouca, do qual foi um dos seus fundadores, tendo sido, mais tarde, o fundador e presidente da Cooperativa. 
António de Almeida Brandão, nessa altura, era gerente do Grémio da Lavoura de Arouca (o único cargo que teve remunerado), tendo sido, cerca de dois anos mais tarde, eleito presidente do Grémio...Ao tempo, em 1944, também presidia à Câmara Municipal de Arouca...
Ninguém melhor que o prof. Fernando Miranda (um arouquense ilustre que viveu e acompanhou a Feira das Colheitas desde o seu início) para descrever as verdadeiras origens e objectivos da Feira das Colheitas, bem como o perfil do seu fundador, organizador e promotor:

"(...) Estávamos a caminho do fim da II Guerra Mundial. A lavoura agonizava. Os pardieiros proliferavam. O medo e a inépcia confundiam-se num sentimento de abandono, senão de verdadeiro desespero. Cultivar as terras para quê? Esta a grande e permanente interrogação que pairava no ar e invadia a alma dos que, tendo labutado de sol a sol, durante toda uma vida de sacrificio, de suor e de lágrimas, fazendo, da charrua e da enxada, do albião e da picareta, os inseparáveis instrumentos com que desbravavam e rompiam uma terra cada vez mais madrasta, se viam, agora, entregues a si próprios, sem esperança nem futuro. Foi neste quadro que nasceu a Feira das Colheitas, em Arouca. 
 Era, à altura, gerente do Grémio da Lavoura, o senhor António de Almeida Brandão. 
 Homem conhecedor dos problemas agrícolas, defensor devoto da preservação da natureza, um verdadeiro ecologista, quando ainda nisto se não se falava (!), pessoa de poucas falas e de muito trabalho, dotado de uma invulgar inteligência e senhor de uma vasta cultura, ele escondia todas estas qualidades por detrás de um rosto austero que lhe não suscitava simpatias, como atrás se diz, mas gerava confiança e respeito. Dele dizia meu pai, o mais insuspeito de todos: «é inteligente, é sério, é culto, é trabalhador e devotado às coisas e às causas de Arouca e isso me basta...»
 Volvido mais de meio século sobre a realização da primeira Feira das Colheitas e colocando-nos no tempo em que isso aconteceu, só, de facto, um grande homem, de hercúlea força de vontade, de um estoicismo a toda a prova, de uma extraordinária visão, foi capaz de arriscar, de meter ombros a tão ingente quão delicada tarefa.
 Ingente porque foi indispensável que ele calcorreasse o concelho de lés a lés, fazendo reuniões prévias em cada freguesia e aí instalando comissões encarregadas de proceder ao peditório tendente à angariação de fundos para obviar às despesas da festa e organizar um grupo folclórico que levaria, à Vila, as danças e cantares locais. Delicada, porque a mensagem era dirigida a um auditório desiludido, amorfo, abandonado, envelhecido.
Mas as comissões eram constituídas por pessoas a que, agora, se chamam "líderes de opinião" e esse facto constituía, desde logo, um forte contributo para o sucesso da tarefa. E nem este pormenor escapou a Almeida Brandão. A sua voz, de ansiedade feita, o seu verdadeiro grito de alerta, de revolta incontida, o seu veemente apelo, chegavam, aos lavradores, através da palavra autorizada dos chamados "homens bons" de cada freguesia. Só, assim, poderia encontrar eco o esforço exigido no melhoramento do trato das terras e dos gados e o consequente aumento da produção agrícola e leiteira: a "Melhor Seara", a "Melhor Fruta", a "Melhor Adega", o "Melhor Linho", bem como o "Concurso da Raça Bovina Arouquesa". Só, deste modo, as promessas de prémios, às melhores searas e aos melhores gados, se revestiam de credibilidade.
 É que, D. Dinis, ficava séculos para trás e, da Lei das Sesmarias (D. Fernando -1375), nem uma vírgula restava...
 Arouca, terra essencialmente agrícola, fechada a contactos com o exterior, rica em tradições e cujo povo prima em ser bairrista, não deixou de responder à chamada, em toda a sua extensão e latitude. E, então, deu-se aquilo que refuto não só de salutar e maravilhosa congregação de esforços, mas também do maior e mais profundo acontecimento cultural da história de Arouca. 
 Do fundo das arcas, saltaram maravilhosos bordados e outras relíquias artesanais, que deslumbraram aborígenes e forasteiros, mas também lindos trajes que ali permaneciam à espera de amortalharem as suas ciosas donas. Da memória lúcida da última geração possuidora de tais relíquias, brotaram, em catadupa, música e canções, verdadeiros tratados etnomusicais e as danças, duma beleza coreográfica ímpar. As noites de Setembro daquele ano já longínquo, tornaram-se uma continuada festa. Jovens e velhos e mesmo as crianças aderiram de corpo e alma à novidade. Eram os ensaios dos Ranchos. Era a pedrada no charco. Era o reviver dos velhos tempos. Eram as cantas, as danças, os cantares ao desafio. Tudo isto num assomo de comunitarismo e de alegria que contrastava, flagrantemente, com o estado da Nação, mas traduzia, por um lado, o desabafo do sofrimento, por outro, a esperança na agonia duma guerra e o vislumbrar de dias melhores.
 Foi, de facto, lindo de se ver. Mas lindo foi também o corolário de todo este trabalho, de toda esta azáfama - A FEIRA DAS COLHEITAS. E se, como digo atrás, as noites do mês de Setembro foram de festa em cada uma das freguesias, naquele último fim-de-semana, para a Vila, convergiram, em massa, os Ranchos e as suas gentes, transformando a sede do Concelho num verdadeiro mar de povo, estreitecendo a Avenida e apertando a Praça, em desfiles coloridos de esfusiante alegria, cada um tentando apresentar-se melhor que o outro, sem artifícios que a pureza e a autenticidade não consentiam, mas com o garbo e o aprumo que os grandes momentos exigem.
 Foi um desfile de cor e alegria, de caras bonitas e de lindas vozes, de verdadeiros artistas da harmónica, da viola, do cavaquinho, ferrinhos e bombo, que outros não eram os instrumentos usados em Arouca, se exceptuarmos a concertina que se foi alojando no lugar da harmónica e a flauta que nunca passou de divertimento individual.
 Foi assim que nasceu a Feira das Colheitas e, com ela, a possibilidade de não deixarmos perder-se, no tempo, um património valiosíssimo da nossa história. Mas foi assim, também, que nasceram os agrupamentos folclóricos, alguns dos quais ainda hoje se mantêm, em toda a sua pujança, como baluartes intransigentemente fiéis das tradições mais profundas do Povo de Arouca, ao nível das danças e cantares, dos trajes e tocatas, em síntese, do folclore, da música popular e da etnografia arouquense.

E porque falar da Feira das Colheitas é falar de Arouca, de um bom naco da sua história e de um dos seus maiores e mais luzentes marcos culturais, eu evoco, aqui, a memória do seu criador, prestando-lhe a minha simples, singela, mas profundamente sentida homenagem. Homenagem ao homem que, um dia, foi capaz de um rasgo de génio, de um verdadeiro golpe de asa, de um assomo de inteligente assunção do sentir de um povo e de transmutá-lo, fazendo-o despertar da profunda letargia em que estava mergulhado. (...)"

Extracto da comunicação do prof. Fernando Miranda, na apresentação do livro de António de Almeida Brandão, Memórias de um Arouquense, a 19 de Junho de 1999, na vila de Arouca.
Agradeço, ao Dr. Óscar de Pinho Brandão, pela cedência do texto integral do prof. Miranda.

19 de setembro de 2020

18.ª Edição do Festival de Cinema de Arouca

Termina hoje mais uma edição do Festival de Cinema de Arouca ou Arouca International Film Festival, como se diz para a internacionalização deste evento cinematográfico que fecha a agenda e oferta cultural de Verão da nossa pacata vila de Arouca.

E esta não foi uma edição qualquer. Pois para além do certame atingir a maioridade, aconteceu num contexto particularmente contido, por força das medidas impostas em virtude da pandemia de Covid-19, nomeadamente, a eventos realizados em espaços fechados, como é próprio de um evento desta natureza.

De resto, como tantos outros, o evento poderia ter sido cancelado, tanto mais quando aquela doença tem vindo a somar casos no concelho. Mas não foi. E ainda bem que não foi. Pois, com efeito, contrabalançou as notícias sobre aquela doença e mais uma vez contribuiu para o bom nome de Arouca. Para além do mais, do evento em si, passou a notícia de que os arouquenses não estão acantonados no sopé da Freita à espera que o vírus passe e estão à altura de continuar a fazer acontecer, mesmo dentro de regras apertadas.

Mas, atingida a bonita idade de dezoito anos, uma palavra também para o Director do Festival: uma palavra de reconhecimento pela sua resiliência, dedicação sincera e abnegada. Porque ao fim de dezoito anos, só daquela forma se consegue continuar… Dezoito anos a pensar, organizar e cumprir um programa, por mais curto e menos trabalhoso que seja – que não o é, antes pelo contrário – só pode dizer bem, da capacidade de compromisso e de cumprir, de quem o faz, ainda por cima transparecendo sempre aquele entusiasmo e emoção de primeira vez, apesar de todas e muitas dificuldades ou desencantos que inevitavelmente ocorrem em tão grande período de tempo.

É com o à vontade de quem já, uma vez por outra, o aconselhou a "dar" o lugar a outros, que o escrevo. Ainda bem que não me deu ouvidos, porque mais uma vez conseguiu concluir uma boa edição e passar uma mensagem de garantia e segurança quanto ao futuro do evento, sustentado nas parcerias e compromissos que continua a estabelecer, com aquele acreditar com que nos falou ontem na Loja Interactiva de Turismo de Arouca. Um bem haja ao João "Rita" e à sua equipa, bem como a todos quantos com eles colaboram!

Como escrevi em 2012, à passagem da 10.ª Edição: «Se todos nós, cada um na área da sua formação ou naquilo para que tem mais gosto ou mais jeito, se empenhasse numa actividade deste género, de forma tão duradoura e persistente, como se tem empenhado o meu amigo João “Rita” – fundador e director do Festival – teríamos, certamente, uma terra mais dinâmica e mais rica.»

15 de setembro de 2020

Bom Ano Novo de 5781

A herança da Cultura Judaica (ainda que, a partir de determinada época, seja cripto-judaica e cristã-nova) está bem presente em Portugal e com muitíssimo mais intensidade no Norte de Portugal. E, portanto, também em Arouca, como já se demonstrou neste blogue. 
Estamos a aproximar-nos do início do Ano Novo Judaico, que ocorre no início do mês judaico de Tishrei: mês judaico que corresponde, no calendário português comum, ao período de algumas semanas de Setembro e de Outubro…E essa noção de ano novo, de um novo começo nesta altura de Setembro, herdada do calendário judaico (que é o único que não é artificial, porque é divino e está estruturado, com precisão quântica, segundo a dinâmica dos movimentos cósmicos, etc.), encontra-se no inconsciente colectivo dos Portugueses, visto que costuma ser a altura em que se inicía o ano de trabalho em vários tipos de instituições, bem como o início do ano escolar e académico, para além da rentrée política, etc…Há, de facto, nesta altura, um sentimento humano e um claro ritual de um novo começo que está presente no ciclo anual do calendário português comum, reportando-se, portanto, a essa herança judaica, cripto-judaica e cristã-nova em Portugal.
 
O Ano Novo Judaico comemora a criação identitária do primeiro hominídeo com «neshamá»: Adam, que foi criado há 5781 anos atrás, depois das longas etapas de formação orgânica dos vários tipos de hominídeos. Ou seja, Adam é o primeiro ser humano com consciência moral e com a estrutura ontológica que define a identidade própria de um ser humano, etc. Com Adam, inicia-se a presente escatologia humana do tempo terrestre com dias de 24 horas. Antes de Adam, os "dias" que a Torá Sagrada e a Cabalá Sagrada descrevem são, na realidade, eras (a palavra hebraica para dia pode significar dia de 24 horas do tempo terrestre ou eras e idades de biliões de anos). Essas eras ou idades, antes de Adam, são períodos de biliões de anos do tempo cósmico, em que, no último período, se dá a formação orgânica, em longas várias etapas evolutivas, dos vários tipos de hominídeos sem «neshamá» até Adam, que eram hominídeos inteligentes mas não tinham essa estrutura que Adam começou a ter e que define a Humanidade dos seres humanos. Assim, os hominídeos foram formados em etapas evolutivas e, depois, a sua criação identitária, como seres humanos, ocorre com o surgimento de Adam. A Torá Escrita assinala bem esse facto: para os hominídeos inteligentes sem «neshamá» utiliza o termo hebraico simples 'adam' e para o primeiro ser humano utiliza a expressão com artigo definido 'Ha Adam'.
Os seres humanos são o propósito da Criação mas somente no planeta Terra, no contexto do tempo terrestre em que está a ocorrer a escatologia humana com dias de 24 horas, direccionada para a Era Messiânica. Nunca a Torá afirma que o ser humano e o planeta Terra são o centro do Universo, ou seja, dos Céus. Nunca. A Terra aparece sempre mencionada de modo secundário, a seguir aos Céus. E a Torá Sagrada e a Cabalá Sagrada descrevem a existência de seres inteligentes não-adámicos (muito mais avançados que os seres humanos) dos Céus, ou seja, nos incontáveis planetas das incontáveis galáxias dos Múltiplos Universos (que serão quase infinitos...), nas 26 dimensões físicas identificadas, que, por sua vez, podem estar ligadas a densidades físicas, a energias, a frequências, a vibrações, etc. A luz cósmica e originária referida no Beresheit/Génesis (que não é, como é óbvio, a luz solar) é o primeiro elemento a ser criado, que, por sua vez, é o elemento fundamental na formação da matéria, nos Céus e na Terra.
  
A obra notabilíssima do eminente físico Professor Doutor Gerald L. Schroeder (que tenho a honra de conhecer pessoalmente) explica, com muita clareza e com muita precisão científica, todos esses fenómenos, confirmando que a Ciência mais avançada só corrobora, cada vez mais, o verdadeiro sentido originário dos textos estruturais do verdadeiro Judaísmo Shomer Torá uMitzvot e o verdadeiro sentido originário do verdadeiro Criacionismo Hebraico. E não poderia ser de outro modo: O Criador Uno, Absoluto e Infinito dos Céus e da Terra é Perfeito. As letras hebraicas sagradas e as palavras hebraicas sagradas da Torá Escrita não podem, como é óbvio, conter um pequeno erro. O autor desse texto sagrado é Perfeito, sendo o único Ser Absoluto e Infinito que existe nos Céus e na Terra. Mas só podemos mesmo conhecer a Torá Escrita, com a leitura concomitante e consistente dos textos da Torá Oral e dos textos da Cabalá Sagrada.
 

Bom Ano Novo de 5781:
-que ocorre no próximo dia 18 de Setembro do calendário português comum.

Nós, a Humanidade, ao longo dos tempos, aqui no planeta Terra, através das várias gerações sucessivas, estamos mesmo numa escatologia, num processo evolutivo gerado pelo Criador dos Céus e da Terra e possuímos um livre-arbítrio condicionado, supervisionado e julgado por esse mesmo Criador Absoluto. Esta nossa escatologia humana direcciona-se para uma Nova Era (a Era Messiânica) que ocorrerá, no futuro, a partir do Monte do Templo, em Jerusalém - Israel. Essa escatologia é unicamente, como sempre foi, desde que a Humanidade existe, a Hebraica/Judaica Shomer Torá uMitzvot, do próprio e único Criador Absoluto dos Céus e da Terra com a sua Torá Sagrada. Não outra.
Todos os seres humanos «Não-Judeus» das várias nações têm que ser Noaítas-Observantes.

12 de setembro de 2020

Por uma Hemeroteca Digital de Arouca

Antes de mais, Hemeroteca, refere-se a qualquer colecção ou conjunto organizado de periódicos (jornais e/ou revistas). Pode ser uma secção de biblioteca apenas reservada à conservação de material escrito deste género, a uma colecção temática de recortes de jornais e revistas ou, mesmo, uma base de dados, em suporte informático, com este tipo de publicações. É, pois, a esta última que me refiro e de que há já vários exemplos associados a arquivos e bibliotecas municipais e nacionais.

E se é verdade que nem todos os concelhos dispõem de um acervo que justifique o investimento na criação de uma ferramenta deste tipo, não é o caso de Arouca. Pois, com efeito, contam-se mais de 50 títulos de jornais e revistas publicados, alguns dos quais, ao longo de largas dezenas de anos, como foi o caso da Defesa de Arouca.

O primeiro jornal a surgir na nossa vila, no entanto, tinha o título de "O Commercio d'Arouca" e o seu primeiro número viu a luz da publicidade em 19 de Abril de 1888. Rareiam os exemplares deste título, mas ainda se conseguem. O primeiro jornal, editado, composto e impresso em Arouca, no entanto, foi "A Voz de Portugal", Órgão dos interesses do concelho de Arouca. Inaugurou a estampa na véspera de 4 de Junho de 1904. Em 24 de Agosto do ano seguinte surgiu a "Gazeta de Arouca" e, a partir daí surgem muitos outros títulos, nos quais é possível compulsar a quase história diária de Arouca, desde pelo menos 1904.

No entanto, salvo uma raríssima e louvável excepção privada, não é em Arouca, nem sem procurar, muito..., que a maior parte desses periódicos, principalmente os mais antigos, se encontra. Parece-me, pois, importante a referenciação dessas publicações, bem como a indicação das existências e fundos ou colecções, tanto mais quando em nenhuma biblioteca ou colecção se encontram todas e, de todas, nenhuma se encontra completa.

Já aqui tinha abordado este assunto a outro propósito, em 13 de Fevereiro de 2019, mas, entretanto, em 19 de Fevereiro último, foi tornado público o protocolo celebrado entre a Câmara Municipal e a Associação de Defesa do Património Arouquense, para digitalização, obtenção e disponibilização digital de cópia dos jornais "Gazeta de Arouca", "Gazeta", "Defesa de Arouca" e "Notícias de Arouca" coleccionados ao longo dos últimos anos por esta Associação.

Oxalá que esse protocolo e cedência seja apenas o primeiro passo para a digitalização de outras colecções com vista à criação de uma Hemeroteca Digital, onde, como é próprio de um fundo desta natureza, se disponibilizem, para consulta em linha e difusão pública, os jornais e revistas publicados em Arouca ao longo dos últimos, pelo menos, 132 anos, bem como raridades bibliográficas e/ou apontamentos inéditos de autores e personalidades Arouquenses.

8 de setembro de 2020

A Euro-região de Arouca: 'Galiza-Norte de Portugal'

A Euro-região de Arouca é 'Galiza-Norte de Portugal'. E ainda bem que o é. E só podia mesmo sê-lo. Arouca insere-se e enquadra-se, em termos identitários, autóctones e endógenos, na Euro-região 'Galiza-Norte de Portugal', à qual pertence com todo o acerto, que são, na verdade e na realidade, uma nação una e identitária. Os Galegos falam Português e os Nortenhos falam Português, com as devidas cambiantes entre o Português do Norte de Portugal e o Português da Galiza, em termos fonéticos, sintácticos, semânticos, morfológicos, etc. A Língua Portuguesa (que deriva do Galego-Português arcaico, que, por sua vez, deriva da fusão dinâmica e evolutiva do Hebraico edénico e antigo e do Hebraico com o Latim) nasceu neste nosso território endógeno do noroeste da Ibéria, sendo, no presente, uma língua global: o Português é a quarta língua mais falada no Mundo.

Mas a coesão dessa origem identitária, mesmo antes do Português existir, é das mais antigas, senão a mais antiga, da História da Humanidade (não exagero) e tem de ser melhor dinamizada e consolidada, no concerto dinâmico das euro-regiões, à escala continental e à escala planetária. No actual contexto da União Europeia, entre o Norte de Portugal e a Galiza, já não existem fronteiras físicas, mas as fronteiras físicas que existiram no passado, na realidade, eram apenas muito arbitrárias e muito artificiais, porque, entre o Norte de Portugal e a Galiza, o território sempre foi contínuo e coeso em termos endógenos e autóctones: porque são, repito, talvez o mais antigo ou um dos mais antigos territórios identitários da História da Humanidade.
Este território identitário, localizado no muito antigo e milenar Noroeste da Península Ibérica, no presente tem uma superfície total de 51 mil Km2 (Galiza 29.575 e Norte de Portugal 21.284) e tem cerca de 6,4 milhões de habitantes (Galiza 2.796.089 e Norte de Portugal 3.745.439), com uma densidade populacional de 125,8 hab/Km2. O Norte de Portugal tem muito, muito mais que ver com a Galiza do que com o Centro e o Sul de Portugal. E a Galiza tem muito, muito mais que ver com o Norte de Portugal do que com Castela e Leão ou do que com todas as outras comunidades autónomas de Espanha.
As declarações do actual Presidente da Câmara do Porto, numa entrevista concedida ao jornal Voz de Galicia, de que "se sente melhor em Sanxenxo do que no Algarve" e que "El AVE de Oporto es Vigo, y a la vez el aeropuerto de Vigo tiene que ser Oporto", são muitíssimo verdadeiras e fazem todo o sentido e simbolizam e sintetizam, de modo lúcido e subtil, todos esses factos acima descritos. Rui Moreira é, com toda a certeza, um dos líderes que melhor personifica a identidade do Porto e da Região Norte de Portugal. Esperemos que ele e o seu movimento se candidatem a mais um mandato às eleições autárquicas do Porto, que vencerão, de certeza, com A Protecção Divina de HaShem, Bendito Seja O Seu Nome Sagrado, com uma maioria absoluta, clara, inequívoca e consolidada. Isso seria bom para todos os habitantes do Porto e de toda a Região Norte de Portugal. E, terminado esse terceiro mandato, Rui Moreira seria o melhor substituto de Jorge Nuno Pinto da Costa, no cargo da presidência do Futebol Clube do Porto, que é outra personalidade carismática de relevo e outra voz identitária do Porto e do Norte que, como se sabe, entrou, no F.C. do Porto, pela mão do presidente do clube da altura: o arouquense Afonso Pinto de Magalhães, fundador da Sonae, amigo de António de Almeida Brandão, meu saudoso avô. Foi Afonso Pinto de Magalhães quem, estruturalmente, financiou o lançamento e a IIª Série do jornal «Defesa de Arouca» e quem convidou meu avô para ser seu director, que, por sua vez, foi a personalidade real e pragmática que configurou a idiossincrasia identitária deste jornal, no contexto de Arouca, do Porto e da Região Norte: semanário bastante prestigiado, tal como sempre foi reconhecido ao longo das décadas, a partir do qual se alicerça este blogue «Defesa de Arouca».      

5 de setembro de 2020

Percurso Pedonal e Ciclável do Vale de Arouca

 

Como é sabido, e de acordo com a descrição da obra, o Percurso Pedonal e Ciclável do Vale de Arouca - já comummente designado de Ciclovia - irá desenvolver-se ao longo de 6 freguesias do vale de Arouca, numa extensão aproximada de 11 Km, com um traçado que visa acompanhar o curso do rio Arda, fazendo a interligação entre os diversos aglomerados, freguesias e pólos escolares existentes na imediação do percurso, promovendo os modos suaves como prática quotidiana.

A obra teve o seu inicio em finais de Novembro último e, se tudo correr conforme previsto, estará concluída em Maio próximo. No entanto, o percurso, ou partes dele, já vai sendo regularmente frequentado, com manifestações de agrado e apreço.

Não é para menos. Do meu ponto de vista, para além daquilo que visa proporcionar, é uma obra de enorme valia, potencialmente estruturante para a organização da mobilidade no vale de Arouca e particularmente para a manutenção e asseio da bacia do Arda, bem como para a identificação, recuperação e preservação do património rural aí existente.

Segundo a política seguida pela Direcção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural, - com a qual concordo e não pode deixar de se concordar -, «reconhecer o valor do passado, proteger e valorizar o património rural, torná-lo conhecido, acessível e interactivo com as populações rurais é uma tarefa indispensável à manutenção dos equilíbrios ecológicos, à preservação da autoestima e do desenvolvimento económico, social e cultural. Esta tarefa incumbe, não só às instituições oficiais e entidades privadas ligadas ao sector, mas também às populações que deverão ter orgulho no património existente no seu território.»

Oxalá que o Município e as Freguesias envolvidas estejam à altura de ir para além do mero percurso pedonal e ciclável. Estejam à altura de cooperar, mobilizar e contribuir para alavancar aquela incumbência maior, que esta obra vem agora evidenciar e proporcionar.

Nota: apesar de ir sobrecarregada a agenda, julgo conseguir (ainda) preservar livres as matinas de sábado e domingo para, entre outros "ócios", retomar o compromisso inicial de aqui deixar semanalmente quatro ou cinco parágrafos de opinião.