29 de maio de 2020


Mobilidade em Arouca na ordem do dia

Foi noticiada oficialmente pela Câmara Municipal de Arouca a assinatura do auto de consignação da empreitada de ligação do Parque de Negócios de Escariz à A32, pelas Infraestruturas de Portugal e o Consórcio Ferrovial Agroman S.A. que decorrerá no dia 3 de junho, no salão nobre dos paços do concelho, com a presença de SE o Ministro da Habitação e das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e dos presidentes de câmara de Santa Maria da Feira e de Oliveira de Azeméis, Emídio Sousa e Joaquim Jorge, respectivamente.

Esta empreitada terá a duração de 870 dias e custará mais de 30 milhões de euros, co-financiada por fundos europeus, no âmbito do Programa de Valorização das Áreas Empresariais.

Esta é uma obra desejada há muitos anos pelos arouquenses, como continuidade à tão prometida e sempre adiada 2.ª fase da Variante à N326, que apesar de não cumprir a totalidade da extensão anteriormente reivindicada, com sacrifício do troço entre Rossas e Escariz, é a solução possível, fruto do trabalho e da pressão dos municípios de Arouca e de Santa Maria da Feira junto do poder central, em defesa do direito à mobilidade das populações de interior, como as de Arouca.

É de enaltecer o esforço e o investimento que a autarquia de Arouca fez para que este “sonho”, há muito almejado e tantas vezes malogrado, se concretizasse. Esta ligação será uma mais-valia para diminuir o isolamento e distanciamento geográfico de Arouca face ao Porto, sede da Área Metropolitana que Arouca integra.

Contudo, há ainda muito a fazer e a investir em termos de construção de infraestruturas e de mobilidade. Arouca tem uma única central de transportes, a necessitar de obras de remodelação, funcional e arquitectónica, pois é e deve ser uma porta de entrada para Arouca, serve os arouquenses, trabalhadores e estudantes que se deslocam diariamente para a sede do concelho para frequentar os 2.º, 3.º ciclos e o ensino secundário e, finalmente, alguns turistas (seriam mais se o Andante e o plano de mobilidade na AMP tivesse discriminação positiva para Arouca).

Em linha com as recomendações europeias, o transporte público deve ser o meio privilegiado para uma mobilidade mais amiga do ambiente, mais cómoda, mais segura e menos onerosa, representando um importante fator na qualidade de vida das populações e símbolo de desenvolvimento económico e social das localidades.

Em Arouca ainda não se conseguiram colmatar as deficiências da rede (?) de transporte público existente nas diversas freguesias e destas para o exterior do concelho, apesar do tão apregoado Andante, acessível verdadeiramente para os utilizadores dos municípios mais urbanos e próximos da sede da AMP.

Desde março até agora, devido aos constrangimentos por causa da COVID-19 que limitou a circulação das pessoas e encerrou escolas, a maioria dos transportes públicos em Arouca foram suspensos, deixando a população sem esse serviço básico que deveria ser universal. Não têm os residentes de Alvarenga, Canelas, Moldes, Ponte de Telhe, Cabreiros, Albergaria da Serra, Tropeço, entre outras, o mesmo direito à mobilidade dos residentes noutros municípios e freguesias da AMP?

Além de estradas, os arouquenses merecem legitimamente o direito ao transporte público. É necessário pensar e pôr em ação um plano estratégico para a mobilidade em Arouca, com todos os seus constrangimentos e especificidades, que assegurem as necessidades quer de residentes, quer de turistas que optem por deslocações mais amigas do ambiente. Será utópico reivindicar que um turista aterre no aeroporto Sá Carneiro e em 3 horas de viagem em transporte público intermodal, chegue a Alvarenga, via vila de Arouca? Será demais pedir que haja transporte público independentemente do calendário escolar?

Os horários das carreiras devem também ser ajustados às necessidades, para motivar o uso do transporte público em detrimento da utilização de veículos próprios e individuais. As cidades estão a limitar o tráfego e a circulação de veículos ligeiros de passageiros e a apostar em redes eficientes de transportes públicos, de forma a devolver os espaços públicos e as ruas e avenidas aos peões. Arouca deverá seguir estas boas práticas e lutar por infraestruturas estruturantes para garantir a fluidez, rapidez e segurança da rede viária (se possível com vários centros urbanos com que delimita fronteiras (não apenas com o litoral), necessária à boa circulação de bens e mercadorias e, concomitantemente, pugnar e investir no transporte público, indispensável à fixação da população nas freguesias mais distantes, como é o caso de Alvarenga, que também tem uma zona industrial para “avivar” e que tem vindo a perder serviços públicos como os CTT, obrigando a deslocações frequentes à vila de Arouca que, na ausência de transporte próprio, tem de ser feitas com recurso a táxi.

De resto, apesar destes constrangimentos que não sendo novos restringem o transporte público ao transporte escolar, ao tempo letivo e a 5 dias por semana, em várias freguesias, Arouca tem investido em formas e modos de mobilidade suave, de que é exemplo a “Ciclovia” que, estou certa, trará à população do vale de Arouca e do vale do Arda uma nova forma de deslocação, mais sustentável, amiga do ambiente, agradável, saudável, em harmonia com a paisagem ribeirinha, por este modo, acessível à fruição. Falta agora garantir uma rede de transportes públicos eficiente e com serviços mínimos assegurados, durante todo ano, em todas as freguesias do concelho, através de empresas privadas (se o serviço for rentável), ou através de serviços de transporte municipais, relembrando que a autarquia já teve 2 autocarros, dois motoristas e que mais que assegurar passeios e visitas de estudo (igualmente necessários e pertinentes), não serão prioritários relativamente ao direito de circulação da população local. Por que não garantir um ou dois dias por semana, pelo menos, de transporte público municipal gratuito, das freguesias à sede de concelho, através da criação de circuitos, como se tem feito nos últimos anos, na Feira das Colheitas? Fica a sugestão...

14 de maio de 2020

A professora Helena d´Alhavaite

Acabei de ler um livro sobre Frei Simão de Vasconcelos e a sua história na guerrilha liberal em Arouca na primeira metade do século  XIX , escrito pelo arouquense Afonso Veiga. Um livro que aconselho leitura.
A páginas tantas  por entre árvores genealógicas de descendentes dos intervenientes nesta contenda entre absolutistas e liberais encontrei o nome da minha professora da escola primária. A professora Maria Helena "d'Alhavaite", como era e é conhecida.
Ao longo do nosso percurso estudantil há professores que nos vão marcando mais que outros e a professora Helena será porventura uma das que com mais saudade recordo. Fiz todos os meus quatro anos do ensino básico na Escola Primária da Boavista, em Santa Eulália. A professora Helena era uma professora à " moda antiga". Lembro-me de dizerem lá pela escola que teria sido uma das primeiras mulheres de Arouca a ter carta de condução. Ainda há mais ou menos uma década a via por aí, já com avançada idade, a conduzir o seu Renault 19 chamade. Era uma professora à moda antiga também na relação de afectividade com que tratava os seus alunos. Teremos sido uma das últimas "classes" a quem terá dado aulas antes de se reformar da longa e profícua actividade lectiva e felizmente tivemos o prazer de a ter como professora . Era à moda antiga também na forma de castigar e repreender os alunos quando estes não se portavam de acordo com o esperado ou expectado e antes que qualquer "réguada ou canada ou puxão de orelhas" passasse pelo crivo e critica apertadissimo e "no sense" do bullying e violência dos dias de hoje. Aprendi muito com ela e penso que terá sido responsável pelos pilares básicos do aluno medianamente bem sucedido que fui no futuro. Recordo os ditados em que só poderíamos dar até 6 erros ortográficos sob pena de ficarmos sem intervalo, recordo  as tabuadas cantadas no quadro, o apagador e o pó de giz branco, etc... recordo também aquelas as férias grandes de Verão entre o 3º e o 4 º ano em que uma tragédia se abateu sobre a totalidade  da família Alves que regressava de umas férias no Algarve. O João era meu colega de carteira e familiar da professora Helena . Recordo esse inicio de ano lectivo estranho, o da professora talvez mais, pela consciência trágica do sucedido o meu amenizado pela inocência da infância.
A professora Helena era casada com um médico veterinário, o Dr. Albino "d' Alhavaite". Penso que quando nos deu aulas já o seu marido havia falecido e não estando certo desta precisão de datas estou porém muito certo da paixão com que nos contava por vezes algumas histórias médico veterinárias do seu marido por terras de Arouca. Eu nunca o cheguei a conhecer.
Há uns 7 anos, já médico veterinário e a exercer profissionalmente, fui chamado para prestar assistência a uma ovelha à quinta da Alhavaite por pedido da professora Helena.
Foi possivelmente das consultas mais prazerosas e satisfatórias que fiz até hoje; consultei o animal, fui convidado pela minha professora primária para um lanche na sua casa da quinta onde trocamos memórias e onde partilhei o meu percurso académico. Histórias e estórias da actividade médico veterinária , a minha, mas principalmente as que escutei da boca da minha professora primária acerca do seu marido Dr. Albino bem como do seu riquíssimo percurso de vida.
Este texto poderia ser certamente mais preciso, detalhado e concreto em algumas informações, mas pretendi que tivesse um pendor mais emocional que racional que, como se escreveria nos tempos em que a professora Helena começou a leccionar, fosse escrito de uma penada só.
Obrigado professora

8 de maio de 2020

Levadas de Arouca - por que não?

Como é do conhecimento geral, todo o mundo está a reavaliar e a readaptar o seu "modus vivendi" face aos constrangimentos provocados pela pandemia da COVID-19, pois repentinamente a sociedade viu-se obrigada a ficar de quarentena e em distanciamento social.
Desde meados de março que estou, à semelhança da maioria dos portugueses, confinada a minha casa, não por iniciativa própria, mas por necessidade de acompanhamento do meu filho que frequenta o ensino pré-escolar, estando a usufruir do apoio excecional à família pela Segurança Social.
Esta semana em que o governo "levantou" o Estado de Emergência, propus-me planear algumas saídas/passeios sanitários com o meu filho, em segurança e longe de outras pessoas, para retomarmos a atividade física, sairmos de casa e para ele conhecer e aprender a gostar da sua terra, Arouca, que tantos lugares mágicos tem para oferecer!
Como é óbvio, dada a minha naturalidade, ontem comecei por uma caminhada a dois, no fim de tarde, em Alvarenga, pelo lendário "Rego do Boi", desde a capela do Espirito Santo até à mãe d'água, entre os lugares de Bustelo e de Noninha, com regresso até à Carreira dos Moinhos.
Toda a levada é extremamente bonita e permite conhecer o rio Ardena, afluente do rio Paiva, que nasce em Noninha, na vertente sul da serra do Montemuro, e desagua no rio Paiva.
A levada ou "Rego do Boi" pode ser um percurso de rentabilização cultural, etnográfica, ambiental, turística e desportiva, destinada a pequenos grupos, preferencialmente para famílias ou grupos turma/escolas. Esta, em particular deu para falar da serra do Montemuro, da delimitação geográfica e administrativa entre concelhos (Arouca/Cinfães), da importância da água para a agricultura, da literatura de tradição popular (a lenda do rego do boi), da forma como todo o rego foi construído, dos materiais utilizados, do caudal que é aproveitado para regar os campos do vale/planalto de Alvarenga e para fazer mover as inúmeras mós de moinhos de rodízio (podendo observar o conjunto atual de 17 moinhos em carreira, no lugar dos Carreiros), e as antigas azenhas, das quais hoje restam ruínas.
Esta levada é talvez a mais emblemática e a de maior relevância para o turismo de Arouca, se considerarmos que nasce na serra do Montemuro, alimenta a "Carreira dos Moinhos", é totalmente construída com pedra da região, atravessa todo o vale de Alvarenga até culminar na Cascata das Agueiras, aos pés da Ponte Pedonal Suspensa, desaguando no rio Paiva.
Na sua extensão, desde a nascente até à Cascata das Aguieiras teremos, provavelmente, entre 10 a 13 kms de extensão, de beleza natural, paisagística, de enorme potencial para rentabilização turística, adequada aos dias em que vivemos, com ou sem guia.
Além desta levada associada à molinologia, outras há de grande interesse. Existem em Canelas/Espiunca, Moldes, Rossas e Mansores.
Uma forma de afirmar a nossa terra, a nossa cultura e o nosso património no panorama do turismo cultural e de natureza, durante todo o ano, mas também de garantir e promover o acesso aos residentes que muitas das vezes não conhecem nem fruem do que têm à mão.
Se a Madeira é conhecida pelas suas levadas, e se Arouca também as tem, por que não as rentabilizar, promover, e tornar acessível a todos, com apoio de associações locais e das juntas de freguesia?
O nosso património deve ser fator de orgulho e aumentar o nosso sentido de pertença, mas de nada vale o património se não o conhecemos, não o preservamos e não o valorizamos internamente.
Quanto aos futuros passeios sanitários, estes vão continuar, talvez por outras freguesias vizinhas e talvez forneçam matéria para mais um ou outro artigo :-)

Margarida Rocha


7 de maio de 2020

Pergunta do Dia

Como dizia um meu velho e saudoso Professor de Direito das Obrigações, aquando das orais: "às vezes, fazer uma boa pergunta, é melhor que dar uma excelente resposta". Pois foi com essa exigência, empenho e compromisso, cumprido à regra, que assumi este último desafio na página de Facebook do blog "Defesa de Arouca". Ficam aqui as perguntas para memória futura e os Parabéns ao muito digno vencedor do desafio, que foi o Rodrigo Fernandes de Pinho. E um muito obrigado também ao Rodrigo e aos demais participantes, pois um desafio só vale a pena se for correspondido, para participar, ganhar ou, muito simplesmente, incentivar. Como diria aquele meu velho e saudoso Professor: às vezes, incentivar é tão ou mais importante do que participar.

Aqui ficam as perguntas, que constituíram o desafio destes últimos dias:

PERGUNTA DO DIA (1/10): Quem foi o Presidente da Câmara Municipal do Porto que casou, exerceu e faleceu em Arouca?

PERGUNTA DO DIA (2/10): Bernardino António Teixeira Vaz Pinto, último Capitão-Mor de Arouca, nasceu, casou e faleceu na freguesia do Burgo. Qual o orago da capela em que foi sepultado?

PERGUNTA DO DIA (3/10): Estão ambos na vila, coexistem apenas há cerca de trinta anos, sem nunca se terem defrontado antes ou alguma vez trocado de posição entre si, mas onde está um já esteve o outro e onde está este já esteve para estar aquele. De que se trata? Justifica.

PERGUNTA DO DIA (4/10): Na vila e vale de Arouca existem ainda vários Brasões de Armas “de Família”, nos quais, regra geral, é possível ler as armas das famílias aí figuradas, correspondentes aos apelidos dos avós do armigerado. Em que brasão podemos ver figuradas as armas de Moreiras, Almeidas, Magalhães e Pintos e qual o apelido prevalecente?

PERGUNTA DO DIA (5/10): Assinala-se hoje o feriado municipal de Arouca. Antes de se considerar o dia 2 de Maio, assinalava-se o dia 4 de Junho. Que factos relacionados com esses dias relevam para a história de Arouca e em que séculos se deram?

PERGUNTA DO DIA (6/10): Foi Presidente da Câmara e Administrador do Concelho de Arouca durante vários anos e, entre um e outro cargo, para além de se ver enobrecido, presidiu também à Câmara de um concelho vizinho. De quem se trata e de que freguesia era natural?

PERGUNTA DO DIA (7/10): No passado mês de Janeiro completaram-se cem anos sobre a data de nascimento de Dom Domingos de Pinho Brandão, terceiro bispo que Arouca deu à Igreja. Quem foram os outros dois bispos, de que freguesias eram naturais e em que Dioceses exerceram o seu múnus episcopal?

PERGUNTA DO DIA (8/10): O semanário “Defesa de Arouca”, fundado por Alberto de Almeida, é ainda o jornal que por mais anos se publicou entre nós, de 1926 a 2008. No entanto, não é o mais antigo. Qual é e em que ano deu à estampa o primeiro número do (conhecido) mais antigo jornal de Arouca?

PERGUNTA DO DIA (9/10): Reconhecemo-lo mesmo sem que se lhe ponha o nome do todo ou das partes, pois conta já um século e três anos na forma que tem, e, destes descontados, um século que levou a juntar as últimas das partes que aquela contém. Do que é que se trata?

PERGUNTA DO DIA (10/10): Neste Portugal bendito / Foi Arouca quem posou / Para o quadro mais bonito / Que a natureza pintou. Assim começa o “Hino de Arouca”, cuja letra é da autoria de Benjamin Veludo e a música de José Calvário. Em que ano e por quem foi interpretada a versão original?