28 de fevereiro de 2021

A influência dos influencers

Tenho 39 anos. Acho que já tenho idade para dizer "Isto no meu tempo..." Pois bem. 

No meu tempo, aquando da primeira licenciatura, há cerca de 20 anos, as aulas eram dadas com o auxílio de acetatos. Mal havia Internet. Os telemóveis serviam para (imagine-se) telefonar. Estudava para os exames na biblioteca ou através de sebentas impressas na reprografia. Para fazer a monografia recebíamos artigos pelo correio. O acesso à melhor e mais actual evidência era cara e demorava tempo. Era assim, ontem. Hoje não. 

Hoje a informação chega-nos à velocidade da luz. A rodes. A boa, a má, a verdadeira ou a falsa. Tudo nos chega ultra rápido. Aliás, com esta história dos algoritmos, a informação chega-nos mesmo que não a procuremos. Através do nosso perfil, comportamentos, etc, o que nos entra pelos olhos dentro já está adaptado ao nosso padrão. Sem contraditório ou outras visões. Ajustado às nossas crenças, ideologias e interesses pessoais. E nós todos, sem excepção, somos levados a crer que aquilo é que está correcto. Sem questionarmos, sem duvidarmos, sem tomarmos a iniciativa de fazermos as nossas próprias pesquisas. 

Este tem sido um drama enorme nos dias onde já não se aprende por acetatos. Associado à baixa literacia, nomeadamente na ciência, está a ausência de crítica e este fenómeno está a revelar-se surreal. Acompanhemos meia dúzia de comentários nas redes sociais e percebe-se fácil, acho eu, que o panorama da discussão pública está pela rua da amargura. Hoje, uma opinião é-nos apresentada como se de um facto se tratasse. Irrefutável, indiscutível e sem direito a contraditório. Somos bombardeados com as mais diversas aldrabices e não questionamos. Não criticamos. Não conferimos. Aliás, em tom de brincadeira, vai-se dizendo, até, que se está no Facebook é verdade. E isto não tem nada de engraçado. É perigoso e molda comportamentos. 

E depois, como se não bastasse, todos os dias e nas melhores horas, ouvimos e vemos aqueles que tudo sabem. Não sou contra que estas pessoas digam o que mais bem lhes apetecer. Sou é a favor que se critique, que se investigue, que se confronte e que se compare com o que os especialistas dizem. E, para mim, está aqui a chave. Ouvir e ver especialistas. Se quero saber sobre vírus, ouço um virologista. Se quero saber sobre pandemias, ouço um epidemiologista. Se quero saber sobre a vacina da Pfizer, ouço um especialista em biologia celular. E por aí fora... 

Hoje, na palma da mão, posso encontrar o método do Dr. Noronha na operação ao ligamento cruzado anterior. Hoje, na palma da mão, posso saber na hora como está o tempo em Marte. 

Hoje não são precisos acetatos para aprendermos e estamos a desperdiçar o melhor tempo que a humanidade já teve no que ao acesso à informação diz respeito. 

Serve, portanto, este meu artigo de opinião, para incentivar as pessoas a criticarem. Incentivar as pessoas a fazerem boas pesquisas. Incentivar as pessoas a não se deixar influenciar por influencers. 

João Pedro Ferreira

27 de fevereiro de 2021

Não metam mais água nem deixem que a um mau negócio se acresça uma má fatura!

A última vez que aqui escrevi sobre o tema que por estes dias faz correr mais tinta…, comecei por referir que: «Volvidos apenas cinco anos da concessão dos serviços de água e saneamento por parte do Município de Arouca à atualmente denominada Águas do Norte, está cada vez mais evidente uma “rutura” carecida de reparação ou substituição. No entanto, é preciso alguma prudência, não vá a emenda revelar-se pior que o soneto».

Por essa altura e pelas razões já por demais conhecidas, o executivo camarário acabava de tomar a decisão de avaliar e verificar se os pressupostos e objetivos que suportaram a decisão de aderir ao “Sistema de Águas da Região do Noroeste” estão a ser cumpridos, para, em última análise, rever ou até mesmo desvincular-se da participação naquele sistema multimunicipal, conforme a opção que melhor sirva os interesses dos arouquenses.

Ainda não são conhecidos os resultados dessa avaliação, mas a turbulência está a aumentar e o executivo camarário começa a acusar a pressão da água, ao ponto de tomar agora, com a abstenção dos vereadores do PSD e CDS, uma medida mais radical, que acentua a vontade do município em abandonar aquela parceria, mediante pagamento de uma indemnização no valor correspondente ao investimento realizado no concelho.

É evidente que essa proposta não será aceite, que a questão não é assim tão simples nem se reduz ao mero investimento realizado, tanto mais que o comprometimento do município com os sistemas de água e saneamento não se reduz já apenas ao contrato de parceria pública assinado em 5 de Julho de 2013. Mas imaginemos que era assim tão simples e que aquela proposta era aceite. Estaria o município à altura de se desvincular das parcerias assumidas nesta matéria e implementar os respetivos sistemas e serviços, com maior eficiência e resultado, com reflexos mais em conta na fatura dos consumidores? Terá o executivo feito as contas e estará em posse de dados que o garantam?

Há apenas cinco anos, José Artur Neves, então presidente da Câmara, de que Margarida Belém era número dois, garantia ao jornal Roda Viva – como se pode ler nesta última edição - que o município, para além de ter um sistema altamente deficitário, não tinha alternativa se não aderir a um sistema multimunicipal. E que só dessa maneira se evitava que a tarifa não atingisse valores incomportáveis para a população. Mais asseverava que, para além do sistema económico-financeiro do município não ser viável, estava vedada a possibilidade de conseguir financiamento comunitário para os investimentos de que o município carecia e que rondavam cerca de 20 milhões de euros, concluindo que o município com o seu orçamento jamais conseguiria fazer tais investimentos.

Estará o atual executivo camarário em situação de garantir que tudo mudou em apenas cinco anos e que o município está agora em condições de resgatar a concessão e fazer o investimento que falta, sem sacrifício desmesurado para o seu orçamento, e em condições de implementar aqueles sistemas e serviços com maior eficiência e resultado, e mais em conta para a população? Ou é apenas um não sei por onde vou, só sei que não quero ir por aí?

Talvez seja mais prudente exigirem-se as conclusões da avaliação e as correções que em resultado daquela devam ser feitas, colmatando depois o que subsistir desarrazoado com medidas ao alcance de serem tomadas pelo município; e continuar a cumprir os termos da concessão, exigindo-se melhor serviço e maior investimento, até que o concelho fique totalmente coberto, e depois, então depois, já mais próximo do prazo contratualmente previsto, pondere-se a desvinculação do município e resgate da concessão. Não se meta é agora mais água nem se deixe que a um mau negócio se acresça uma má fatura!

26 de fevereiro de 2021

Ainda a água...

O tema da água tem marcado agenda pública e politica de Arouca nos últimos largos meses. Mas muito mais que um tema que "nos" separa, anuindo ao artigo de opinião que a presidente da Câmara Municipal de Arouca fez publicar no Diário de Notícias (agora exclusivamente digital), deveria ser, antes de tudo, um tema que "nos" une. Nos une, principalmente na clarificação da nossa posição com a da empresa Águas do Norte (AdN), também ela pública e a prestar serviço público.

Acerca do complexo mundo da água já escrevi aqui (link) em Outubro de 2020 e sugiro a leitura para se perceber um pouco melhor essa complexidade ao nível do fornecimento e gestão.

Escrever sobre todo este processo de forma leve e não exaustiva é um enorme desafio. Neste artigo vou unicamente expor algumas questões que penso que já deveriam ter sido esclarecidas há muito para uma tomada de consciência cívica e politica mais assertiva.

  • Está a empresa a cumprir com o estipulado no contracto inicial?
  • Como justifica a empresa e o porquê dos aumentos? "água aumentar 76%, e o do saneamento 239%"
  • O serviço (ignorando pra já o valor) prestado pela empresa AdN está de acordo com o esperado e apresenta qualidade?
  • O investimento realizado à data em saneamento e água pela AdN em Arouca está dentro do acordado?
  • Quanto custará na realidade o resgaste do contrato?
  • Terá a autarquia que pagar unicamente o investimento da AdN no concelho como já li por aí? E os funcionários? Os equipamentos? A Frota?
  • Qual o valor da indeminização adicional a que obriga o resgaste?
  • Tem a autarquia capacidade de prestação de um serviço de qualidade em fornecimento de água e rede de saneamento a preço justo se assumir este serviço?
  • Qual o diferencial entre as receitas geradas pela água e saneamento e o custo real destes serviços, com respetivos investimentos e manutenção? Sabemos que nos resíduos sólidos as receitas cobrem 45,4% do custo e a autarquia coloca do erário público 328.056.00 Euros para cobrir o diferencial. Como será na água e saneamento? de que valores falamos?
  • É possível "obrigar" a empresa a renegociar ou a única solução é sair?
Estas são algumas, muito poucas, das questões que urgem ser respondidas. Continuo sem perceber porque é que este assunto tem sido tratado com tanto sigilo. Não se conhece, não se discute e, acima de tudo, não se "resume" para termos uma melhor perceção dos termos do contrato de adesão para que todos os arouquenses o possam perceber e não opinar sobre a espuma das ondas.

Não se conhece e não se discute a auditoria contratada para avaliação do assunto para que possam ser tomadas posições e decisões mais coerentes, menos dúbias e menos esclarecidas.

O tema da água é um assunto muito sensível e mais será nas próximas décadas em todo o Mundo e não apenas em Portugal, no Norte ou em Arouca. Não podemos basear as opiniões em argumentos como "Arouca é terra de rios e de muitas fontes que jorram água permanentemente"!!! Por isso, exige-se aos decisores e agentes políticos com responsabilidade na matéria, que se esforcem para que este processo seja "claro como a água", fornecendo toda a informação disponível.

É um tema que não deve compactuar com meias verdades, com subjetividade e confusão. É um tema demasiadamente importante para se vergar a populismos ou fundamentos eleitoralistas.

Tal como todos os arouquenses, estou certo, é o mínimo que exijo para que depois se tome a melhor decisão, seja ela fácil ou não, seja ela de permanecer, renegociar ou sair. 

23 de fevereiro de 2021

No território de Arouca, não se devem enfatizar as montanhas em detrimento dos vales...

Na sequência de ter visto um vídeo da Câmara Municipal que promove Arouca, senti, por uma questão de rigor científico e factual, que seria necessário referir que, no território de Arouca, nunca se devem enfatizar as montanhas em detrimento dos vales, porque isso não corresponderia à realidade do território arouquense.
Repito o óbvio, que é imediatamente observável e constatável: A Vila de Arouca, que tem cerca de 5 200 habitantes, sede de um concelho da Área Metropolitana do Porto e da Região Norte com cerca de 22 360 habitantes, localiza-se num vale de grande dimensão e não na Serra da Freita. A Vila de Arouca localiza-se no Vale do rio Arda, na Bacia e na Região Hidrográfica do rio Douro. As zonas de vale e de meia-encosta do concelho de Arouca são as mais populosas e não as zonas de serra, que são muito pouco populosas. Nesse sentido, a componente humana do concelho de Arouca que mais contribui para a definição identitária do concelho de Arouca como um todo, em termos estruturais, é, como sempre foi, forjada a partir da identidade das populações das zonas de vale e de meia-encosta do concelho e não das zonas de serra, que são exíguas em habitantes. A Vila de Arouca e o Vale do rio Arda, que se distende, depois, no espaço administrativo de várias freguesias arouquenses, para oeste e que se liga, em Rôssas, ao Vale do rio Urtigosa, são o território mais populoso que mais contribui, em termos de componente humana, para a definição identitária do concelho de Arouca como um todo.
gravura: Arouca Geopark

O território do município de Arouca apresenta as características típicas do Douro Litoral, em plena bacia hidrográfica do rio Douro, que tem, como capital, a cidade do Porto: é um tipo de território constituído por vales, planaltos e meias-encostas férteis, com uma parte montanhosa considerável, onde a agricultura e a silvicultura têm uma expressão significativa e complementar na economia local, que é parcialmente industrializada e terciarizada e em forte conexão sócio-económica com os concelhos vizinhos, mais industrializados, localizados a oeste e a noroeste. Território que tem, portanto, abundância de cursos de água que nascem nos cumes das montanhas e formam os vales típicos do Douro Litoral, como o vale do rio Arda, onde se localiza a sede do concelho, que se distende do sopé do monte cónico da Senhora da Mó até ao lugar da Pedra Má, na freguesia de Rossas, onde, por sua vez, se localiza um vale fértil, irrigado pelo rio Arda e pelo Rio Urtigosa. O vale de Moldes (Arouca) ou os planaltos de Alvarenga, de Chave (Arouca) e de Mansores também são exemplos desse território autóctone, típico da região do Douro Litoral. "

20 de fevereiro de 2021

A Pensar Alto! Por aí... O Percurso.

Comecei a escrever este pequeno texto sem uma ideia bem definida acerca do tema e de que iria tentar falar, mesmo que em pensamento. A preocupação maior é não resvalar para o óbvio e desatar a dar-me de entendido acerca da covid 19, porque destes está tudo cheio. Basta passar os olhos por um jornal, ouvir um debate ou uma conversa na tv, e berço dos berços ler atentamente os comentários nas tão modernas redes sociais. Entendidos, especialistas, analistas, experientes em nada e mais alguma coisa, tudo escreve. Erros de ortografia à parte, todos querem dar a opinião, passou a ser um direito, melhor, uma obrigação, calado é que eu não fico, mesmo que corra o risco de a mosca entrar. Admira me não ser criada uma associação nas redes sociais, para se fazer ouvir junto dos especialistas a sério, dos que aconselham as autoridades, também eles por vezes em tão grande número que as opiniões até se contradizem, e se umas são mais reais outras são de morrer com o susto. País original este. Avancemos. De eleições também não quero falar, o que passou lá vai e das próximas se bem que já me parece ver alguns candidatos ou pseudocandidatos em bicos de pés a pensar que a hora está próxima, nem se sabe bem quando são. Uns querem nas datas previstas, outros lá mais para a frente, pode ser que melhore qualquer coisa. Assim como aquele passeio de domingo que promete chuva, mas há sempre a esperança de só começar quando já estamos em casa. De confinamentos, é tema que esgota a paciência de um santo, é um atrás do outro. De crise, tinha pano para mangas o dia a dia é fértil nesse assunto e é como o vento de verão, sopra de todo o lado. De resto, para quem sabe o que é confinamento as conversas são muito menos, os contatos resumem se ao indispensável e mesmo estes com racionamento, mas muito ricos como se a língua tivesse medo de não recuperar a ligeireza dos tempos antigos. A vida deu uma volta que demoram todos a digerir. Até o otimismo tem que ser embrulhado em reticências, não vá parecer algo tipo blasfémia. A morte passou a ter contador, e os números ora sobem ora descem a embalar estes dias em que as descrenças começam a ganhar terreno, e lá vão amigos e conhecidos. Avancemos, em resumo, dias e noites, noites e dias muito iguais, mas com todo o tempo a ser aproveitado da melhor maneira que cada um se permite. Escrever faz parte disso. Ainda bem que  Arouca tem sempre assuntos novos. O novo percurso  ao longo do vale que nasce ali pela Vila e acompanha o rio, é verdadeiramente um sucesso, não sei se vai ser ciclo ou eco, sei que vão ter de coexistir e partilhar o mesmo chão, ouvir os mesmos cantares que sobem do rio, ora com mais ora com menos água, fazer as mesmas pausas e conviver com os colegas de rotas. Um percurso em versão soft daqueles antigos que nos enlameavam as botas e faziam chegar a casa com os pés molhados e reprimenda calorosa. Moderno, tranquilo e de fácil acesso, com as comodidades dos dias de hoje, rapidamente vai ficar repleto de muitos passos, rápidos ou lentos conforme o ânimo e a intenção do passeio. Ainda em obras, já se vai adivinhando o traçado completo e será uma forma de todos poderem ter mais saúde, se o que dizem é verdade, que caminhar traz saúde. Anda muita gente por lá durante quase todo o dia. A maior parte com todos os cuidados e a cumprir as regras, sejam casos individuais com os pensamentos sombrios a manterem se distantes, se calhar por causa daquele verde semeado de pássaros e coisas belas, outros em grupos pequenos e quase sempre familiares, uma partilha de encantamento físico distribuído por várias gerações. Este percurso, que até pode ficar caro, ter uma manutenção pesada, mas vale o esforço pelo que nos devolve em horas de exercício, convívio e aproxima das raízes de camponeses que quase todos transportamos. E tudo isto em segurança, sem fugas apressadas de veículos que trazem sempre a pressa no destino. Foi uma ideia que me parece agradar à grande maioria, mas esperemos pelo desenvolvimento destes tempos pandémicos, porque aí sim se tirarão as dúvidas. O investimento feito servirá também para atrair de novo os muitos turistas que nos visitavam e tão satisfeitos encontravam de novo as estradas para suas casas. Para nós e para eles. A nossa economia precisará de novo que o turismo regresse, que as estruturas existentes abram de novo as portas, que as filas nos restaurantes e cafés se acumulem ao longo do dia, e este percurso vai contribuir com a sua parte, tenho a certeza. Afinal vou terminar com noticias agradáveis, se calhar por causa das rabanadas de vento frio e alguma chuva que ainda estou a tentar secar da ultima caminhada. Que bom. Agora até tinha mais assuntos, a nova ponte, o aniversário da ASARC, a organização da vacinação com os seus passos muito curtos, as contrariedades que vão surgindo, a população que por estas bandas vai diminuindo, mas hoje, fico por aqui. Corre lentamente o ano de 2021. Continuamos em confinamento, mas acredito que o futuro irá regressar. Cada um tem que cumprir a sua parte, só isso. Cá ficamos á espera da vacina.

16 de fevereiro de 2021

COVID(A) com Humor - Isto de usar máscara

     “Isto de usar máscara está-me a parecer uma grande treta”, ouvi de raspão, ao atravessar a nossa linda Praça Brandão de Vasconcelos, em Arouca. Esta tirada tão sui generis (ou talvez nem tanto), logo me despertou a curiosidade, como não podia deixar de ser. Sou uma pessoa atenta aos que os outros pensam, interesso-me pelas opiniões e modos de sentir as coisas daqueles que me rodeiam. Ser curioso não é crime (por enquanto).

Abrandei o passo, disfarçadamente, apurei os ouvidos e lá consegui apanhar mais algumas coisitas da conversa entre dois senhores já de alguma idade. “Pois… não tenhas dúvidas…foram os chineses, claro…estou em crer que isso do bicho até é invenção só para nos prejudicarem”. “Achas?” “Acho, acho… não tenhas dúvidas… qual bicho qual quê… primeiro inventam o bicho, depois é só vender máscaras.” “Às tantas…eles têm é inveja… tinham de arranjar maneira de estragar a economia mundial”. “Pois… e arranjaram… enquanto isso, a deles… é só subir à nossa custa! É máscaras, é ventiladores…mas as máscaras então… ui, ui!”

Gostei, sobremaneira, deste “ui, ui!”. Gostava de ter visto as caras que acompanharam esta expressão, mas para isso, teria de olhar de frente os dois interlocutores, e não me atrevi a tanto. Também gostei das máscaras colocadas no queixo (isso ainda vi pelo canto do olho), usadas como quem diz “Se é obrigatório usar, usa-se, mas que não servem para mais do que aquecer o queixo, lá isso bem sabemos que não servem”.

Segui o meu caminho, imersa em mil reflexões, como gosto de fazer quando deambulo pelas ruas calmas da nossa linda Vila.

Ora não é que aqueles senhores até não deixavam de ter razão?! Nunca tinha pensado nisso desta forma, mas isto de usar máscaras… Acho que nos devíamos recusar a cair nestas armadilhas dos chineses. É só mais uma forma de nos enganarem e nos sugarem o nosso rico dinheirinho. As máscaras serão todas de fabrico chinês? Que importa isso? É apenas um pormenor. O que importa é que estávamos muito bem sem elas antes de eles terem inventado “o bicho”. Lá se vai o nosso rico dinheirinho e pronto! Devíamos recusar-nos, volto a dizer!

Aliás… pesando bem… se calhar, há muito mais coisas que são um perfeito abuso e não são só as máscaras. E não é de agora, isto já dura há muito, muito mais tempo do que podemos imaginar. Não sei se é tudo culpa dos chineses, mas enfim…

Se não, vejamos.

Nos bons e saudosos tempos do paraíso bíblico, os nossos pais andavam nus. Hoje pode parecer-nos estranho e despropositado. Mas, o facto é que para eles era bastante normal. É claro, temos de reconhecer, que nos dias de hoje, esse uso (ou falta dele, depende do ponto de vista) seria inadequado ao nosso clima. Mas, suspeito eu, que, precisamente desde aquela decisão de se usar esses trapinhos a cobrir-nos, foi que o nosso corpo se desadaptou do clima e começou a sentir necessidade de se cobrir para não morrer de frio. Nós em Portugal, até temos um clima (dizem) bastante ameno, por isso, se calhar, pensando bem, até poderíamos passar bem sem essas roupinhas inventadas sabe-se lá por quem. Mas não. Pegou a moda e agora… temos todos de segui-la como carneirinhos. É ou não verdade que, seguindo a versão das máscaras, são tudo invenções para gastarmos o nosso rico dinheirinho e fazer subir a economia de alguém que lucra à nossa custa? Devíamos pensar bem nisso e rever a nossa posição em relação a esta questão.

Outro exemplo. E este, parece que até é mesmo culpa (mais uma vez) dos chineses. Estou a falar dos guarda-chuvas. Não há registo histórico de quem e em que data exata foi este instrumento inventado. Mas, segundo se sabe, foi na China que surgiu, por volta do séc. XI antes de Cristo. Ah, pois é! Mais uma perseguição dessa cultura, e esta já de longa data. Ora, também me está a parecer que vou deixar de comparar esse malfadado instrumento de tortura. Tortura, digo e repito. Nem sei ao certo quantos guarda-chuvas compro por ano, mas vai em boa conta. Estão sempre a perder-se, a ser deixados em todo o lado. Então para que servem. Compramos… compramos… e, quando deles precisamos, nunca estão lá! E ainda por cima, o melhor sítio para se comprarem, para além das feiras, é mesmo nas lojas chinesas.

Não que eu tenha alguma coisa contra esse povo. Antes pelo contrário. O mundo é um lugar que obtemos de empréstimo (por sinal, por uns quantos anos, às vezes até bem poucos) e que temos o dever de partilhar. Sinto-me, acima de qualquer outra coisa, cidadã do mundo). Um pequeno quinhão chega-me bem (até me hei de, um dia, contentar com bem menos). E, se os chineses inventam coisas, acho muito bem. Eles ou quaisquer outros, evidentemente. Mas, o que me aborrece é que tenhamos que usar tantas e tantas coisas, eu que até sou (digo eu!) pouco consumista. Ou gostaria de ser.

Para concluir, deixo aqui algumas dicas. Isto das máscaras, das roupinhas, dos guarda-chuvas… e até das comidinhas, se pensarmos bem, não passam de invenções para nos fazer gastar dinheiro e consumir a paciência.

Recuso-me! Vou deixar-me disso! Máscaras, então, nem pensar!

O vírus? Bem… não sei se é invenção, mas logo se vê. Se vier… bem… há hospitais, não há? E UCIs, não há? E ventiladores, se me faltar a capacidade de respirar sem ajuda, não há?

 Esperem lá!... Quem terá inventado estas coisas?! 

5 de fevereiro de 2021

Sobre a origem 'cripto-judaica' e 'cristã-nova' das famílias brasonadas de Arouca

No passado mês de Dezembro da era comum, recebi, na minha caixa de e-mail's, uma mensagem de um leitor brasileiro deste blogue «Defesa de Arouca», descendente de famílias arouquenses, que me fez uma série de questões sobre as famílias de origem «cripto-judaica» e «cristã-nova» de Arouca, ou seja, sobre a Cultura Judaica e o Povo Judeu 'Shomer Torá uMitzvot', do qual eu descendo, ao qual pertenço e ao qual estou muito ligado, de modo directo, faz, agora, precisamente, 17 anos. No presente e em termos vitalícios, como «Noaíta-Chassid / Chassid Umot ha-Olam»...
Esse leitor perguntou:
" Li os seus posts no Defesa de Arouca sobre elementos cripto-judaicos em Arouca e gostei muito por ter muito interesse no tema. Reparei também que você menciona que encontrou as suas próprias origens cristã-novas em Arouca, por acaso você teria informações também sobre outras famílias com a mesma origem no concelho?
Meu avô paterno nasceu no Burgo e por parte do meu bisavô sou descendente de Nunes Ferreira de Urrô/Santa Eulália/Burgo e Duarte da Rocha também do Burgo, e por parte da minha bisavó dos Gomes de Sousa Monteiro de Figueiredo (Burgo) que foram senhores das Casas da Moita, Aldeia, Devesa, Fonte, Figueiredo, Cabo, etc e também dos Almeida Magalhães da Casa de Sela (Sela, Urrô) e Quinta de Souto de Rei (Souto de Rei, Várzea), que pelo brasão entregue ao meu ancestral Cap. Domingos de Almeida Magalhães (da Sela) seriam também descendentes dos senhores das Casas da Trofa e do Côvo.
Ficaria muito contente caso você tenha alguma informação em relação à essas famílias, especialmente em relação às origens cristã-novos que creio serem bem prováveis."
Respondi-lhe do seguinte modo:
" Boa tarde. Sim. Cada vez mais se confirma a origem cripto-judaica e cristã-nova das Casas brasonadas do Norte de Portugal e da Galiza.
O cripto-judaísmo e os cristãos-novos são um fenómeno sobretudo do Norte de Portugal e não do Sul ou de Lisboa, tal como pude constatar em vários estudos académicos que realizei com outros colegas sociólogos...Um dos quais sobre a minha família cripto-judaica materna: os «do Valle Quaresma», senhores da Casa de Paços - Moldes - Arouca. As famílias brasonadas de Arouca terão, em grande parte, essa origem cripto-judaica e cristã-nova. "

Igreja da Misericórdia de Vila Real de Trás-os-Montes, que era uma antiga sinagoga sefardita ocidental
Foto: Visitar Portugal

Como referi neste blogue, uma parte da família do poeta Fernando Pessoa, da Casa e Quinta do Castelo, de Fermêdo - Arouca, era de origem «cripto-judaica» e «cristã-nova», como o próprio poeta Fernando Pessoa descreve na sua célebre nota biográfica, ao referir a sua origem familiar num «misto de fidalgos e judeus»...E grande parte das igrejas e congregações das Misericórdias do Norte de Portugal eram antigas sinagogas, que eram propriedade dessas famílias brasonadas do Noroeste Peninsular. Um desses melhores exemplos é a igreja da Misericórdia de Vila Real de Trás-os-Montes, localidade de onde era originário o Dr. Ângelo Miranda, que é o célebre médico transmontano que, durante o século XX da era comum, se tornou arouquense e que era descendente de Judeus religiosos praticantes, de uma família brasonada. 
Repito e sublinho bem: a cultura «Cripto-Judaica» milenar é uma componente muito relevante no Noroeste da Península Ibérica, que está no inconsciente colectivo das populações nortenhas e galegas, mesmo que, na actualidade, muitos não estejam conscientes dessa herança milenar e estruturante, mas que permanece, como herança, de modo espontâneo, na idiossincrasia cultural das populações do noroeste ibérico, em muitos e variados aspectos, tal como ocorre em Arouca. Ainda está por realizar um estudo minucioso e isento, com grande rigor científico, sobre as congregações, irmandades, igrejas e capelas da Misericórdia do Noroeste da Península Ibérica, bem como sobre as congregações, irmandades, igrejas e capelas do Espírito Santo (o Ruach Ha-Kodesh hebraico), visto que grande partes delas eram antigas congregações e sinagogas sefarditas ocidentais, que foram preservadas pelos «cristãos-novos», durante séculos.