28 de fevereiro de 2021

A influência dos influencers

Tenho 39 anos. Acho que já tenho idade para dizer "Isto no meu tempo..." Pois bem. 

No meu tempo, aquando da primeira licenciatura, há cerca de 20 anos, as aulas eram dadas com o auxílio de acetatos. Mal havia Internet. Os telemóveis serviam para (imagine-se) telefonar. Estudava para os exames na biblioteca ou através de sebentas impressas na reprografia. Para fazer a monografia recebíamos artigos pelo correio. O acesso à melhor e mais actual evidência era cara e demorava tempo. Era assim, ontem. Hoje não. 

Hoje a informação chega-nos à velocidade da luz. A rodes. A boa, a má, a verdadeira ou a falsa. Tudo nos chega ultra rápido. Aliás, com esta história dos algoritmos, a informação chega-nos mesmo que não a procuremos. Através do nosso perfil, comportamentos, etc, o que nos entra pelos olhos dentro já está adaptado ao nosso padrão. Sem contraditório ou outras visões. Ajustado às nossas crenças, ideologias e interesses pessoais. E nós todos, sem excepção, somos levados a crer que aquilo é que está correcto. Sem questionarmos, sem duvidarmos, sem tomarmos a iniciativa de fazermos as nossas próprias pesquisas. 

Este tem sido um drama enorme nos dias onde já não se aprende por acetatos. Associado à baixa literacia, nomeadamente na ciência, está a ausência de crítica e este fenómeno está a revelar-se surreal. Acompanhemos meia dúzia de comentários nas redes sociais e percebe-se fácil, acho eu, que o panorama da discussão pública está pela rua da amargura. Hoje, uma opinião é-nos apresentada como se de um facto se tratasse. Irrefutável, indiscutível e sem direito a contraditório. Somos bombardeados com as mais diversas aldrabices e não questionamos. Não criticamos. Não conferimos. Aliás, em tom de brincadeira, vai-se dizendo, até, que se está no Facebook é verdade. E isto não tem nada de engraçado. É perigoso e molda comportamentos. 

E depois, como se não bastasse, todos os dias e nas melhores horas, ouvimos e vemos aqueles que tudo sabem. Não sou contra que estas pessoas digam o que mais bem lhes apetecer. Sou é a favor que se critique, que se investigue, que se confronte e que se compare com o que os especialistas dizem. E, para mim, está aqui a chave. Ouvir e ver especialistas. Se quero saber sobre vírus, ouço um virologista. Se quero saber sobre pandemias, ouço um epidemiologista. Se quero saber sobre a vacina da Pfizer, ouço um especialista em biologia celular. E por aí fora... 

Hoje, na palma da mão, posso encontrar o método do Dr. Noronha na operação ao ligamento cruzado anterior. Hoje, na palma da mão, posso saber na hora como está o tempo em Marte. 

Hoje não são precisos acetatos para aprendermos e estamos a desperdiçar o melhor tempo que a humanidade já teve no que ao acesso à informação diz respeito. 

Serve, portanto, este meu artigo de opinião, para incentivar as pessoas a criticarem. Incentivar as pessoas a fazerem boas pesquisas. Incentivar as pessoas a não se deixar influenciar por influencers. 

João Pedro Ferreira