17 de junho de 2020

A Pensar Alto! Passeios à beira mar.

Naquele dia encontrei sem querer um velho barco meio perdido encalhado na beira do mar. É estranho como ao lado de um mar tão imenso o barquito se perdeu e sem forças se encostou de lado a meia dúzia de gastas rochas e por lá ,ponto de descanso para as gaivotas intervalarem daquelas viagens de ida e volta. Chamou me a atenção o leve ruído da água sempre repetida a afagar lhe o casco, a única maneira que encontrou para o confortar e ficar em repouso, quem sabe esquecer as muitas dificuldades que o tinham conduzido aquele sítio. Para nós habitantes de um Vale rodeado de montanhas é sempre com grande agrado que reencontramos o mar, velho conhecido que por muitos sustos que pregue é sempre igual aquele velho amigo a quem perdemos o rasto e de repente encontramos mais velho mas com o mesmo olhar de ternura imensa. Não conheço ninguém que não goste de ir dar aquele passeio domingueiro sem escolher dia ou hora e que sem dar por isso fica parado a rever os murmúrios das ondas, os brilhos nunca repetidos das águas e aqueles cabelos brancos que a espuma brilhante tão bem imita. Desde sempre fomos para ele atraídos, somos todos descendentes de marinheiros, e mares navegados ou por navegar, é cá connosco. Lembrei me disto quando se deu mais um passo para nos aproximar do mar, um passo mais pequeno do que gostaríamos, mas mesmo assim mais um. Lá vem mais um pedaço de Variante, agora com outro nome, pequeno, atendendo ao tamanho das promessas, mas suficiente já que lhe vislumbramos o restante, agora que o que falta está encurralado no meio e mais cedo ou mais tarde justiça será feita, nem que seja por vergonha de quem tem de tomar as decisões. Claro que a razão principal para esta melhoria não é levar nos, pobres do interior ver as ondas, são razões de economia e desta vez de mãos dadas com o desenvolvimento que esperamos por consequência receber de volta. Já ouvi e li várias vezes que Arouca é uma terra que não ficou parada á espera da estrada que nos iria aproximar do litoral, espécie de oásis onde tudo acontece, pelo contrário, fez se ao caminho e com os caminhos manhosos que por cá vamos tendo, se conseguiu desenvolver e fazer até escola com ideias de muito sucesso. Grande verdade. Mas se os deveres são para todos, os benefícios também o devem ser e nada justifica este imenso atraso na concretização da nossa maior aspiração, enquanto Arouquenses. Vivemos num País retalhado por magníficas auto estradas, algumas até paralelas, como se pudessem competir umas com as outras, e nós, olhamos para essa imensidão de dinheiro gasto, olhamos para os anos em que sonhamos, em que tivemos esperança que as promessas iriam ser cumpridas, e com muito desencanto recebemos 9,9 km e agora mais meia dúzia para ver o tal litoral mais perto. É pouco, em tanto tempo de espera, por muita festa que se faça, por muitas contas que se acrescentem ás distâncias, é pouco. Nos próximos 3 anos vamos aguardar a concretização deste novo troço mas temos que continuar a lutar para que os poderes do nosso País sejam constantemente inquietados por esta enorme injustiça que anos após anos poucos quiseram corrigir. Nós os mais velhos gostaríamos que esta luta não tivesse que ser continuada pelos nossos filhos ou netos mas se tal acontecer que lhes deixemos o legado de quando se trabalha por uma causa justa não há cansaço, nem vontade de desistir. Queremos a conclusão desta via e com ela concluída mais o muito que se tem feito sem ela, iremos dar o passo que falta para o tal desenvolvimento que traz emprego, qualidade de vida, e oportunidades mais equilibradas e justas que há várias gerações Arouca reclama. Queremos todos ver o mar…ali mais perto. Não vamos desistir.

Carlos S. Sousa

14 de junho de 2020

O 'hall' de entrada de Arouca...

Tal como refere, com razão, no 'post' anterior, Paulo Teixeira, coordenador e colaborador deste blogue «Defesa de Arouca», o denominado «Fundo do Concelho de Arouca» é, como sempre foi, na realidade, o hall de entrada de Arouca. É um facto, é uma evidência, é uma verdade.
A expressão antiga «Fundo do Concelho» surgiu, em Arouca, no inconsciente colectivo, a partir das populações que residem na sede do concelho (na vila de Arouca) ou no núcleo territorial identitário do concelho, que é o território do vale do Arda e da sua influência. Surge, portanto, dessa percepção, no inconsciente colectivo arouquense, de quem reside na área mais central do concelho, em termos administrativos.
O território do concelho de Arouca localiza-se, quase na sua totalidade, na Bacia e na Região Hidrográfica do Douro. E pertence, com pleno direito, à Área Metropolitana do Porto, que é a porta de entrada estrutural, via terrestre, via aérea, via ferroviária, via marítima e via fluvial de acesso ao território do Arouca Geopark. A cidade do Porto sempre foi o principal espaço urbano de referência para Arouca e para os Arouquenses, em relação à qual mantêm uma forte ligação sócio-económica.

Daqui a uns tempos, a segunda fase da variante à EN326 estará concluída e ligará o nó de Pigeiros da A32 à localidade da Abelheira, em Escariz. E tornará esse hall de entrada de Arouca muito mais rápido e funcional. A partir dessa altura, como é óbvio, as várias instituições de Arouca terão que tornar muito mais visíveis, em termos de eficácia e racionalidade, os acessos e a mobilidade ao concelho de Arouca, numa altura em que a nova Ponte 516 Arouca já estará, provavelmente, a ter muito sucesso nacional e internacional, com a visita em massa de muitos forasteiros aos Passadiços do Paiva e à nova ponte pedonal. Será importante, portanto, publicitar e tornar bem visível esse trajecto mais directo e funcional a partir do hall de entrada de Arouca, quando for concluída a segunda fase da variante à EN326:
É a partir da parte mais a litoral da Área Metropolitana do Porto que, de certeza, acorrerão, ao concelho de Arouca, muitos, muitos e muitos visitantes, para ver a nova Ponte 516 Arouca, que, para além de se deslocarem por estrada, certamente também se deslocarão via aérea (Aeroporto Francisco Sá Carneiro e Aeródromo Municipal da Maia), via ferroviária (Estação Ferroviária de Porto-Campanhã), via marítima (Porto de Leixões e Marina 'Porto-Atlântico') ou via fluvial (Marina 'Douro-Marina' e Marina do Freixo).
Mapa: Área Metropolitana do Porto

11 de junho de 2020

As Fontes de Fermedo

Fermedo foi sede de concelho até 24 de Outubro de 1855, com a designação oficial de Cabeçais e Fermedo, passando daí em diante a incorporar o concelho de Arouca . É a freguesia mais a poente de todo território concelhio , sendo vulgarmente designada por “fundo do concelho “ . Esta designação é, em minha opinião , errónea porque depende da localização geográfica de quem a profere . Tendo em conta o número de turistas que nos visita hoje em dia Fermedo será , porque uma cota parte muito grande desses turistas vem de norte e da GAMP, o início do concelho . Neste ponto de vista Fermedo é o hall de entrada de Arouca . E para que não seja somente um local de passagem fica a sugestão da criação de um percurso pedonal/ pedestre nesta zona do concelho . Todo o vale de Fermedo , que tem como centro a igreja matriz dedicada a nossa senhora da Expectação , tem várias fontes de água já devidamente identificadas e sinalizadas mas um pouco esquecidas . Ali pelo lugares da Igreja Matriz,Parameira, de Trás do Rio , Adegas , Val do conde , Presa Grande , Abrunhal , Romão, Resumil e Cabeçais existem várias fontes e fontanários públicos que poderiam servir de base a um futuro percurso pedonal quer para usufruto dos Fermedenses quer para apresentação da hoje freguesia outrora concelho a todos quantos a visitam . Fica a sugestão .

9 de junho de 2020

Ainda não há dinheiro para a construção das 3ª e 4ª fases da variante à EN326 de Arouca, mas para… ... ...

Ainda não há dinheiro para a construção da 3ª fase (que ligará a Ponte da Cela a Escariz) e da 4ª fase (que ligará o nó de Pigeiros da A32 ao nó de Santa Maria da Feira da A1) da variante à EN326 de Arouca, em plena Área Metropolitana do Porto, mas houve mais dinheiro para doar (num acto dum governo supostamente de centro-esquerda...e será que é mesmo um governo de centro-esquerda?!!!) mais 850 milhões de euros ao Novo Banco. Banco que está sediado em Lisboa e que é uma expressão do tipo de capitalismo inútil e parasitário de Lisboa e arredores, que o opõe ao capitalismo produtor, laborioso e exportador da Região do Norte de Portugal. No Novo Banco, que surge desse capitalismo inútil de lobbys de Lisboa e arredores (já bem antigos e que sempre andaram à volta do Palácio de São Bento e do Terreiro do Paço), foram injectados, até ao momento, cerca de 7 mil milhões de euros provenientes dos impostos dos Portugueses!!!...Repito: 7 mil milhões de euros provenientes dos contribuintes!!!...
E a Área Metropolitana do Porto e a Região do Norte, onde Arouca se insere e pertence, estão também, no presente, a viver a ameaça da redução dos vôos da TAP a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que é o aeroporto mais moderno de Portugal, movimentando mais de 12 milhões de passageiros/ano, tendo um hinterland que representa mais de 5 milhões de cidadãos do Norte e Centro do país e boa parte da Galiza, mas que serve, sobretudo, a Região do Norte, que é a região mais populosa, a mais produtora e a mais exportadora de Portugal, etc.etc. O plano de retoma de rotas da TAP prevê o restabelecimento de 55 ligações internacionais em Lisboa, mas apenas quatro no Porto, constatando-se que os passageiros que já tinham viagem marcada estão a ser “transferidos” para Lisboa sem serem consultados!!!...A TAP, cujo capital é maioritariamente do Estado Português, ou seja, dos Portugueses, na prática está a funcionar como uma empresa local de Lisboa e arredores e para Lisboa e arredores e não como uma empresa-instituição nacional do Estado Português, penalizando, fortemente, a sua região mais populosa, mais produtora e mais exportadora, que é a Região do Norte.
Gravura: Transportes em Revista
São apenas dois elementos recentes do ultra-centralismo ultra-parasita de Lisboa e arredores, onde se injectam, descaradamente e de modo injusto, fundos e activos que são gerados e produzidos noutras regiões de Portugal, sobretudo provenientes da Região do Norte.
Mas para concluir um pequeno e muito urgente troço de estrada na Área Metropolitana do Porto (a 3ª e 4ª fases da variante à EN326 de Arouca) ainda não há dinheiro!!!!! Será que não há mesmo dinheiro?!!!!
E esta situação muitíssimo injusta e imoral do ultra-centralismo ultra-parasita de Lisboa e arredores não pode continuar mais assim. Não pode mesmo. A Regionalização de Portugal continental nas cinco regiões identificadas é mesmo uma das reformas estruturais mais urgentes que tem de ser concretizada com lucidez e eficácia, para bem de todo o Portugal e de todos os Portugueses. E este grande problema não se reporta apenas ao facto da existência muito duradoura do sórdido ultra-centralismo ultra-parasita de Lisboa e arredores, mas também ao facto da capital de Portugal não se encontrar no sítio certo e adequado, há séculos: a capital de Portugal devia localizar-se no núcleo identitário do território português, que é, como sempre foi, o Entre-Douro-e-Minho.

7 de junho de 2020

Crónica com nome: Matilde


Matilde é uma menina de seis anos, semelhante a qualquer outra menina da sua idade que vive 

com a sua mãe, Angelina.
Matilde tem no seu olhar meigo o reflexo das cores do arco-íris que nos fazem recordar a nossa infância, com os aromas e os paladares que persistem na nossa memória e que nos levam a acreditar e a sentir que ficaremos bem.

Matilde é a protagonista desta crónica e desta história que tanto têm de real como de peculiar, em tempos de pandemia.
Durante cerca de dois meses e meio, os jardins-de-infância estiveram encerrados, os alunos passaram a ter aulas à distância, através da ressurgida telescola ou estudo em casa, foi decretado distanciamento social, circularam veículos nas ruas com altifalantes a apelar à população, repetidamente, para “ficar em casa”. As ruas ficaram esvaziadas de pessoas, de frenesim, de barulho, de gargalhadas, de apitadelas de condutores impacientes, e os cafés, os restaurantes, o comércio e as repartições públicas encerraram o atendimento ao público.
Os encarregados de educação de filhos menores de 12 anos ficaram em casa para os acompanhar neste novo modelo de ensino, à distância, a partir de casa.
Vilas e cidades guardaram silêncio para serem palco de grandes e inusitados concertos e despiques esvoaçantes da passarada, que há muito não se ouviam por serem ensurdecidos pelo barulho citadino ou, simplesmente, porque estes são esquivos à confusão.
E a Matilde? Como viveu ela esta quarentena? Com a sua mãe, à janela, a perscrutar e a ouvir os trinados dos pássaros nas pausas do estudo?
Já devem calcular que a resposta à última interrogação é negativa, não tratasse esta crónica de uma história peculiar…
Matilde foi das poucas crianças que não pôde ficar em casa porque a sua mãe teve de continuar a trabalhar, uma vez que é funcionária hospitalar e integra o corpo de bombeiros, assumindo assim funções indispensáveis, ainda mais neste contexto pandémico.
A nossa menina (sim, nossa, porque quando gostamos tendemos a apoderarmo-nos afetivamente), contrariamente à maioria das crianças da sua idade e apesar das escolas terem encerrado, continuou todos os dias a levantar-se cedo, a vestir-se, a tomar o pequeno-almoço, a escovar os dentes, a preparar a mochila e a ir para a escola, não para a sua, mas para outra nova e depois ainda outra!
Numa primeira fase, Matilde e um aluno do 3.º ano de escolaridade eram os únicos alunos a frequentarem a escola primária de Arouca e a serem acompanhados por professores novos que se revezavam diariamente, durante a manhã, e por educadoras, à tarde. Dois dias depois, os dois meninos passaram a frequentar a escola secundária, e a surpresa foi muita! Os dois pequenos conheceram uma escola enorme, conheceram os funcionários, a direção, o porteiro e as câmaras de videovigilância, a cantina, a sala dos professores e, claro, conheceram e foram “paparicados” por todos os adultos que assumiram a sua “guarda” e que ficaram rendidos aos seus encantos.
Quando perguntei à Matilde de que escola gostava mais, se da escola normal, ou se desta escola nova, ela disse-me que gostava mais desta escola nova e que não tinha saudades dos seus colegas, porque nestes dois meses e meio não havia tanta confusão.
Por incrível que possa parecer, Matilde experimentou realmente o ensino personalizado, com diálogo e interação constante entre aluno/professor, estando os “holofotes” centrados em si, sendo alvo de toda a atenção.
Matilde entrava na escola às 8h da manhã e saía às 18h e estava sempre acompanhada por professores e por educadores, que a ajudavam e a desafiavam a manter as rotinas de estudo: de manhã assistia a telescola na televisão com o aluno do 3.º ano de escolaridade, ouvia com atenção a hora da leitura, dedicava-se nas expressões plásticas e no desenho, na matemática, no estudo do meio, fazia exercício físico, treinava a escrita e aprendeu a escrever melhor com letras maiúsculas! De tarde as atividades eram de carácter mais lúdico e artístico.
Matilde confessou-me que gosta mais de ir à escola do que de estar em casa, porque gosta de trabalhar e de estudar. Mostrou-me a capa com os trabalhos que fez, as fotografias que as professoras tiraram com ela, as mensagens que lhe escreveram, para que não as esquecesse e disse que a diretora, a Prof. Amélia, a convidou para a ir visitar, que as portas da secundária estariam sempre abertas!

Nestes dois meses e meio, Matilde ganhou novas amizades da Prof. Helena e da Prof. Margarida e de outros de que já não recorda o nome…

Aprendeu a desinfetar as mãos, percebeu que esta não era uma situação normal e que não podia estar na sua escola habitual com os seus colegas por casa do “bicho”, do “coronavírus” e do “Covid-19”, nomes que ela referiu de uma só vez e que ficarão, certamente, na sua memória.

O coronavírus para a Matilde é mau, mas o saldo desta experiência inusitada é positivo, porque lhe trouxe ainda mais atenção, carinho, afeto e novas amizades!



O que os olhos da Matilde nos dizem é que quando há bondade, honestidade e amizade, as dificuldades são ultrapassadas, o sol aparece e, juntamente com a chuva, faz surgir um grande e colorido arco-íris!