29 de abril de 2020

A Pensar Alto. Confinar... Ter limites, ter confins...

Sinceramente em toda a minha vida nunca tinha empregue esta palavra. Sabia o que queria dizer mas como há sinónimos mais usuais e mais doces, maneiras de dizer, para expressar este isolamento, nunca a tinha escrito. E se calhar nunca a tinha dito. Perdoem a repetição, agora que lhe conheço na prática o significado, vivia bem sem ela. Por estes dias não haverá palavra que todos, nunca mais iremos querer pronunciar esta do confinar. Sabemos agora o que quer dizer ter limites, estar prisioneiro sem ter cometido qualquer crime ou delito, a injustiça a massacrar nos diariamente sem olhar a nada nem ninguém. Cá estamos, quase todos confinados, com dias e dias a passar, assustados com o vazio do futuro à espera de qualquer coisa, qualquer noticia, que nos alegre de novo e nos devolva os dias felizes, assim a modos do alívio quando o mar chega mansinho e refresca o corpo quente do sol. Até lá a maioria confinada, os indispensáveis a trabalhar todos com as suas e nossas prioridades, todas importantes e fundamentais. Nós os confinados, os mais velhos, e aqueles cujas atividades foram interrompidas, cá estamos a apreciar os dias mais longos, as horas sem fim, a arrumar pensamentos que muitos tínhamos esquecido mas voltaram com este repouso, tentando  não perder de vista o mundo, o de longe e o de perto e cada vez mais habituados e aperfeiçoados com as novas formas de comunicação. Sempre a resistir e ver se passamos despercebidos ao inimigo invisível. E nem tudo é mau. Descobri, melhor recordei, p.ex. que somos um povo fantástico. Do dia para a noite e através das redes sociais o que não faltam são entendidos em gráficos, em picos, em planaltos e quejandos. Descobrem se maquinações terríveis vindas do Oriente, problemas matemáticos são canja, todos sabem cozinhar bolos e doces com esmero, em relação ao presente soluções não faltam, pena não poderem ir todos para o Governo, criticas nascem a rodo, e do futuro então todos traçam um cenário, os do poder, meio côr de rosa, os da oposição moderada um pouco mais negro e os outros catastrófico que isso dá sempre audiência, nada como antever sofrimento e pesadelos. Alguns e como não tem havido futebol, impossibilitados que estão de ir para os campos insultar os árbitros e quem lhes apareça pela frente, insultam quem transmite as noticias, quem escreve opiniões que vão contra os seus interesses, e por dá cá aquela palha, com erros de ortografia ou frases mais delicadas não fica nada por dizer. O importante é mostrar indignação mesmo sem saber bem contra quê, ou que alternativas se escolhiam e se eram viáveis É tudo incompetente, onde já se viu. A oposição a nível nacional tem andado meio colaborante a ver onde param as modas, não vá vir por aí mais derrotas nas próximas eleições com atitudes que não se esqueçam facilmente nestes tempos de surpresas e de decisões pouco populares. Cá em Arouca a oposição, optou por manter a indignação em alto, para se manter fiel aos aderentes, divulgou as suas propostas fundamentais, quais vacina de ultima hora, num jornal da terra, on line que é mais rápido, com um dente a piscar no fim das páginas que o mais distraído até se assusta com tal aparição. Fiquei na dúvida se é preciso ter dentes para tais propostas, ou se se concretizarem tais intenções ficamos em paralelo com dentes melhorados, sei lá, mensagens sub liminares com certeza de uma publicidade moderna e meio americanizada lá das terras da aberração trumpiana. As propostas eram todas boas, tudo a descer, impostos, águas, e mais. E têm razão, está tudo sobrecarregado, uns mais que outros mas assim ficava tudo mais aliviado. Podiam ter falado na luz, nos seguros e por aí fora mas sabemos bem quem andou a vender as empresas rentáveis para salvar o País e incentivar a iniciativa privada, que isto do Estado nasceu para ter prejuízos e é a dividir por muitos.Mas afinal até isso,as simples propostas deram polémica, são nervos á flor da pele,è do tempo que vivemos. Adiante, anda no ar uma expetativa de que vai tudo acabar bem e que vamos todos aprender a lição do que muito se tem errado. Regressarão os valores propositadamente esquecidos, vamos todos olhar para os outros de uma maneira muito diferente, enfim, há males que vêm por bem. Não estou tão otimista, pelo andar da carruagem antevejo mais do mesmo, no entanto quero esperar para ver as mudanças e quem irão ser os mais penalizados e os mais favorecidos, porque disso vai haver de certeza. Tempos de reflexão, de atuação, pleno de surpresas e decisões das quais podem depender as nossas vidas. A nossa terra tem sido bem dirigida e o nosso País não tem sido dos piores numa Europa bem atingida pela calamidade. Mas claro isto é o meu ponto de vista, sei que muitos não irão concordar porque de conversa está o mundo cheio, e isso pelo menos está na mesma.

Carlos S. Sousa em quarentena.

25 de abril de 2020

Não comemoro Abril nem Maio!

cravos de várias cores...
Respeito muito todos quantos, depois do anterior regime "ter caído", em virtude de uma simples queda, - passo a aparente redundância - fizeram a “Revolução” de Abril, e até muito mais todos quantos por este país fora, com conhecimento de causa sobre o tempo vivido antes, suspiraram e alimentaram a esperança de passar a viver um tempo novo. Afinal, o tempo que ainda hoje vivemos. Este tempo em que nasci e vivo e, pelo que sei doutros tempos, quero, sem dúvida alguma, continuar a viver.

Porém, o tempo que ainda hoje vivemos, não é resultado daquela dita “Revolução”. Quando muito, pode afirmar-se que sem os acontecimentos ocorridos em Abril de 1974 não teríamos os acontecimentos que, em definitivo, levaram à construção e estabelecimento da democracia e liberdade plenas. E assim, se me é permitido, sem temer os habituais e sobranceiros reparos de militantes e adeptos “abrileiros”, comemoro antes Novembro, o 25 de Novembro de 1975! Posso até ficcionar que estamos em Novembro e sair à rua também, mas é isto que comemoro e não aquilo! A Construção e não a "Revolução". A Democracia construída e a Liberdade estabelecida por várias e não por uma só cor!

Comemorar Novembro de 1975, cujo “Golpe” também não teve os contornos que alguns narram, até porque foi mal sucedido enquanto Golpe, e ainda bem, - tal como Abril, que de “Revolução” tem apenas o nome, de que “dos Cravos” nos diz tão bem -, é comemorar a efectiva implantação da democracia e liberdade, da passagem do processo revolucionário (indefinidamente em curso) ao processo constitucional. É comemorar o fim da anarquia e dos conflitos entre grupos de esquerda e direita, instigados no 1.º de Maio de 1974, cujas tradicionais manifestações ainda hoje revelam algum saudosismo. É, quiçá, comemorar o não vivermos hoje ou durante muito tempo um certo social-fascismo.

Contudo, como vivemos em democracia e liberdade plenas, conseguidas em definitivo pelo Novembro de 1975, respeito, e respeito muito - emociono-me até às vezes com certos episódios de homens e mulheres de esquerda e de direita unidos pelo que mais importa... -, mas, dizia: respeito, e respeito muito, todos quantos não ousem apagar e reescrever a história (nenhuma parte dela) e pese embora façam tábula rasa do período entretanto e então vivido, entendam ter razões para comemorar Abril e Maio de 1974.

23 de abril de 2020

Arouca no pós Covid-19

A pandemia Covid-19 atacou-nos a todos enquanto sociedade de uma forma nunca antes sentida na era moderna. Tão fracturante como o ataque a que fomos submetidos, mais ou menos bruscamente, temos também que estar conscientes que a curto/médio prazo o vírus estará aí para nos fazer repensar a nossa forma de agir, estar, interagir e viver em sociedade. Seremos capazes de aprender ou reaprender  algo após isto tudo ou quando "a vacina chegar", quando "um tratamento mais eficaz chegar" seguiremos o nosso caminho desenfreado como até aqui vínhamos fazendo?
Até agora foi tempo de pensar quase exclusivamente na saúde, na não ruptura do nosso SNS. Parece que o conseguimos fazer, felizmente, com sucesso. Agora será também altura de começar a pensar como sair deste buraco económico em que nos fomos obrigados a esconder. E Arouca, como foi ou será afectada economicamente por esta epidemia?


Nos últimos anos tivemos um desenvolvimento económico, à semelhança do resto do país, muito alicerçado no sector do turismo com os Passadiços do Paiva como ex-libris desse desenvolvimento. Se existem  sectores que poderão ser exemplo máximo do "fechar tudo" são o sector do turismo e restauração. Todo o sector terciário foi severamente atingido.
De portas fechadas, sem turistas, sem receitas, com as despesas que se adiarem agora a terem que se pagar no futuro (são estas as indicações do governo). As empresas vêem-se em enormes dificuldades.
O turismo em Arouca é essencialmente um turismo de natureza, ao ar livre onde a proximidade e distanciamento social são por si só potencializados pela prática em si mesmo. Caminhadas nos nossos percursos pedestres, nos passadiços com lotação limitada, prática de desportos radicais, passeios na Serra da Freita, etc., têm certamente um factor de contágio e transmissão mais baixo que o fazer turismo em museus e ruas de grandes cidades de Portugal ou mundiais. Poderá isto ser visto como uma vantagem turística a médio prazo? Mas não nos interessa em termos comerciais ter turismo se não podermos tirar os dividendos económicos do mesmo. E esses dividendos indirectos vêm-se na restauração, no alojamento... em resumo: na generalidade de todo o consumo local que o turismo arrasta. 
A gastronomia é outro ponto muito forte do nosso turismo, seja através da marca "Raça Arouquesa" ou através dos Doces Conventuais e todas as outras iguarias tradicionais. Iremos a breve prazo poder voltar a ter os restaurantes lotados ou com lotação limitada? As pessoas terão receio de se reunir socialmente e preferirão "vir passear à nossa natureza e trazer a sua "marmita"?
Temos uma nova ponte pedonal a inaugurar, com um custo de mais de 2  milhões de euros, com um target de público alvo nacional e internacional. Um investimento que necessitará de milhares de turistas para fazer reverter o investimento. Os turistas, que acredito terão vontade de nos visitar, terão receio de atravessar  a ponte ou terão um receio ainda mais prejudicial que será o receio de vir?
E a médio prazo, a sociedade arouquense aprenderá a viver com o vírus? Temos uma população envelhecida, principalmente nas zonas mais rurais e serranas onde algumas aldeias têm uma população com média de idade acima dos 70 anos, o que faz com que toda a aldeia seja população de risco. E se a epidemia aí chegar?
Não temos uma data definida para isto terminar pelo que teremos que ir pensando e projectando ou desprojectando a curto, médio e longo prazo.
As festividades como as conhecemos, do São João do Porto, por exemplo, foram canceladas, as do Senhor de Matosinhos, pela primeira vez na história, foram canceladas. E as nossa Feira das Colheitas? O espaço temporal que medeia entre a data actual e o final de Setembro será suficiente para que possa acontecer nos moldes que a conhecemos?
Felizmente todos as ERPI's de Arouca testaram negativo para os seus utentes, mas como já escrevi teremos que aprender a viver com a doença. Deveremos manter a longo prazo um local para onde possam ser deslocadas pessoas que necessitem de quarentena e isolamento fora da estrutura da ERPI? Essa solução, a médio prazo, não poderá ser o pavilhão municipal porque as nossas escolas terão que obrigatoriamente reabrir. 
Todo um novo mundo de dúvidas, questões e incógnitas nos trouxe este surto. Estas são só algumas dúvidas no imenso mar de interrogações que podemos ter. O desconhecido também nos obriga a questionar e a tentar antecipar todos os cenários.

20 de abril de 2020

Depois da tempestade, virá a bonança e, necessariamente, um tempo novo.

A situação que estamos a viver, por força da ameaça do novo Coronavírus, está a obrigar-nos a apressar novos conhecimentos e aprendizagens e a conhecer e implementar novas ferramentas e metodologias de trabalho, e até de mero contacto e convívio.

Imagem: Olivier Douliery/AFP/Getty Images
Com efeito, aquilo que estamos a aprender e implementar agora, para colmatar o distanciamento social a que esta pandemia nos obriga, permanecerá para além desta fase e será muito útil para imprimir maior eficácia ao funcionamento das organizações. 

Refiro-me concretamente aos contactos pessoais e de grupo, para trabalho e mero convívio, como é já hoje possível e está a ser feito por muitos de nós através da aplicação WhatsApp. Mas também às aulas, conferências e formações online, reuniões de trabalho, de gestores ou administradores de empresas, às reuniões de direcção de associações e instituições, às assembleias gerais de umas e outras, de freguesias e municípios, como já é possível e está ser participado por muitos de nós através, entre outras, da aplicação Zoom. Mas também do contacto e conversação com familiares acamados e/ou adoentados, internados em lares e hospitais, como é já hoje possível e está ser feito por muitas instituições através da disponibilização de um contacto de aparelho com videochamada, para ligações pré-agendadas. E até da assistência à própria Missa, cujas transmissões em directo via Facebook estão já a ser implementadas por vários párocos e paróquias, possibilitando a assistência de muitos que, já antes da circunstância que estamos a viver, não o podiam e continuarão a não poder fazer presencialmente.

Enfim, todo um conjunto de plataformas e ferramentas que, a reboque deste distanciamento que agora nos é imposto e continuará a ser recomendado por mais algum tempo, nos está a aproximar e relacionar com grande eficácia, nomeadamente, em proveito do funcionamento das organizações de que fazemos parte.

19 de abril de 2020

Como é óbvio, o 25 de Abril deve ser sempre celebrado...

Como é óbvio, o 25 de Abril, este ano, deve ser também celebrado, na Assembleia da República, no Parlamento da República Portuguesa, cumprindo as devidas regras de interacção social que são necessárias nesta altura da crise pandémica do corona vírus. 
O 25 de Abril é um feriado estrutural da organização política estrutural do Estado português e deve ser sempre celebrado, porque (como já referi neste blogue) conduziu-nos, felizmente, com a extinção do Conselho da Revolução no ano de 1982 (da era comum), à Democracia Parlamentar e Representativa, que é um regime bom e benéfico de Liberdade, com eleições livres e com direitos sociais e garantias cívicas: de Liberdade política e partidária, de Liberdade económica, laboral e sindical, de Liberdade de reunião e de associação, de Liberdade epistémica, científica e técnica, de Liberdade estética e artística, de Liberdade de imprensa e de informação, de Liberdade de aprendizagem e de ensino, de Liberdade religiosa,..., que deve ser sempre acompanhada com a estruturação concomitante de um 'Estado-Providência'/'Estado-Social' forte, dinâmico e eficaz, que nunca falhe em tempos de crise económica, na linha do ‘Welfare State’ e da ‘Welfare Society’ de tradição europeia, de comprovado sucesso. E o Capitalismo e a Economia de Mercado são benéficos para os países e para os seus cidadãos, desde que haja sempre liberdade política e sindical responsável e com sentido responsável de Estado.
Liberdade, como é óbvio, repito, nunca significou nem significa desordem, indisciplina, caos, irresponsabilidade, anarquia, libertinagem, ausência de valores e ausência de rumo. Pressupõe deveres e responsabilidades, num exercício de cidadania permanente, porque os cidadãos têm direitos, mas têm que cumprir, escrupulosamente, de modo ético, os seus deveres e responsabilidades, para, assim, a Democracia Parlamentar e Representativa amadurecer, ser mais funcional e se aperfeiçoar. E o sistema axiológico absoluto para ser praticado, por todos os seres humanos de todos os continentes, é, como sempre foi, o sistema axiológico das sete leis noaítas: os valores morais noaítas da Torá Sagrada do Criador Absoluto dos Céus e da Terra.
Brasão de Armas da República Portuguesa
Portugal, desde a sua fundação, infelizmente, teve, quase sempre, ao longo dos séculos, regimes ditatoriais, repressivos, injustos e obscurantistas, com cosmovisões malévolas ou erradas, que perseguiram e destruíram vários elementos benévolos da configuração societal de Modernidade, o que fez com que o País muito se atrasasse relativamente aos países livres de Primeiro Mundo e ainda não possua a robustez sócio-económica e institucional desses países centrais e avançados, apesar de Portugal ter muitas potencialidades e estar muito melhor, em muitos e variados aspectos, do que no passado. O regime político de Liberdade que é proporcionado pela Democracia Parlamentar e Representativa é, até ao presente, o melhor regime político conhecido, que deve ser legado com consistência (num acto prospectivo de muitíssimo longo prazo, sempre enquadrado no espaço mais amplo da União Europeia), às novas gerações, porque se estão a verificar, na actualidade, alguns movimentos políticos extremistas e populistas que não trarão nada de bom e de benévolo para Portugal e para os Portugueses.
Entre os anos de 2013 e 2015 (da era comum), de modo muito irresponsável e num acto de muita ignorância, o Governo de coligação da altura eliminou dois feriados estruturais do Estado português: o 5 de Outubro (Dia da Implantação da República, o Dia da República) e o 1º de Dezembro (Dia da Restauração da Independência de Portugal)!!!!!!! Esses feriados, como é óbvio, nunca deveriam ter sido abolidos. Felizmente, esses dois feriados estruturais foram restaurados, em 2015 (da era comum), por outro Governo. 
Os feriados estruturais da organização política estrutural do Estado português nunca, mas nunca, podem ser abolidos e devem ser sempre, mas sempre, celebrados em Portugal. Para bem de Portugal e dos Portugueses e porque são elementos estruturais do Portugal livre, moderno e europeu, que comemoram a configuração política (a Democracia Parlamentar e Representativa e o Regime Republicano) que nos assegura o avanço e o desenvolvimento, que devem sempre progredir num acto ético e responsável (valores morais noaítas) de prática da cidadania e de aperfeiçoamento racional do mundo envolvente.

13 de abril de 2020

Uma Páscoa muito diferente.

Arranjo colocado na frente da Porta (fechada) da Igreja do Mosteiro
in Facebook da Paróquia de Arouca
A Páscoa de 2020 fica para a história individual e colectiva como uma Páscoa muito diferente, necessariamente diferente. Tanto mais quando não existe memória nem noticia de alguma vez assim ter acontecido e, espera-se, nunca mais venha a ser necessário que assim aconteça.

É, por isso, muito importante registar o momento que vivemos este ano e ter presente que ele significará, necessariamente, um marco também no que aos nossos comportamentos sociais, práticas e tradições comunitárias e religiosas, diz respeito. Haverá um antes e um depois da Páscoa de 2020.

É verdade que, em sentido mais amplo, para todos os efeitos - todos mesmo, mas, nomeadamente, no que à saúde e economia diz respeito - haverá sempre um antes e um depois do primeiro semestre de 2020. Em rigor, haverá sempre um antes e um depois da pandemia do Covid-19. 

No entanto, para quem é de meios mais pequenos e rurais, para quem sente e vive de forma mais intensa as tradições e práticas religiosas da época, ou até de quem julga não as sentir e viver, mas a arrasto delas convive e confraterniza com a família e amigos como em nenhum outro momento do ano, esta Páscoa de 2020 teve um significado muito especial e não deixará de ser um marco na nossa memória individual e colectiva, a recordar e comentar por muitos anos.

8 de abril de 2020

A Pensar Alto. Lugares do meu lugar.

Lugares do meu lugar. Uma historinha com muitas felicidades para assustar estes dias de poucas alegrias. O Burgo sempre presente.

Conheci-o era criança. Ele, um rapazinho muito calado, tímido, envergonhado mas sempre com aquele sorriso que por maus que fossem os dias encontrava lhes sempre um motivo para ser feliz, e mostrava o nos olhos grandes que transportavam a luz daqueles campos imensos. E fazia felizes os outros. Quando somos crianças é muito fácil olharmos em volta nas brincadeiras e encontrar mos um herói. Para mim era um herói desde que numa tarde apareceu com uma manta meio velha, meio gasta por variadíssimos usos, nunca os de capa, e com uma improvisada espada de um pau meio torto quase tão abandonado como ele, fez com que as crianças do lugar fugissem todas, pelo menos nessa tarde, para batalhas enormes onde os gritos eram de entusiasmo, os nervos eram de excitação e os sorrisos ou lágrimas eram por alguma pancada perdida num dedo. Tantas algazarras e lá ao longe adivinhava-se a donzela prisioneira à espera do beijo salvador. Foi um herói pela invenção da brincadeira e daí para a frente foi um amigo de muitos dias até que a vida entra na parte mais real, é triste não haver só um caminho, e cada um seguiu o seu. Nunca mais o vi, mas as memórias ninguém mas tira. Nem sei bem o nome dele, para nós ficou o espada, o espada do Porto Escuro. Vivíamos relativamente perto e sempre que as horas de brincadeira apareciam mesmo naqueles dias tristes de invernos frios, lá ia a correr procurar o companheiro, e num ápice, capa nas costas e espada na mão o seguia para encontros e descobertas tão perigosas que até tenho mêdo em recordar, pois pelo menos altos castelos, rios abundantes, dragões assustadores havia muito disso tudo. Passávamos por lugares que são uma mistura da imaginação, do amor á natureza, da beleza das paisagens e das pessoas,  boas pessoas que estão sempre presentes. Vivi quase sempre ali na parte mais alta de Lourosa de Campos numa casa encurralada por um caminhito estreito e por enormes árvores que davam sombra em fartura mas ao mesmo tempo ajudavam à sensação de se estar meio prisioneiro. Não a procurem que não a encontram, é difícil. Atrás da casa, bem no alto, aqueles enormes rochedos da Péna que no inicio me pareciam pintados no meio do arvoredo, mas que depois entendi estavam aprisionados, bem firmes, e agarrados pelos braços das terras da nossa Freita. Lá, descia os olhos e via o lugar da Forcada a trocar olhares comigo. Parecia-me um lugar de brincadeira e só poderia ter sido formado quando algum Criador daqueles cheios de força e que viveram em tempos afastados mas não existem por estes dias, subiu  curioso a esses enormes  rochedos e  de cima deles atirou as casas e espalhou-as por ali, por aquela encosta, como quem dá um prémio para toda a vida, ficando à espera da presença das  pessoas, formando o inicio deste belo lugar que até o nome faz lembrar tempos antigos, Forcada. Ali, mesmo a seus pés e perto de mim o lugar de Porto Escuro. Tão perto e tão intimo que até lhe aumentou o nome, Porto Escuro, era sempre o Espada do Porto Escuro. Estranho nome para um lugar colocado num degrau de uma montanha sem água por perto. Nem rio, nem regatos, um ou outro rêgo foreiro, mais nada. Para mim os portos são sempre lugares com o brilho das águas e a limpidez que muitas lágrimas enfeitam com as muitas chegadas e partidas. Luz nunca lhes falta e até as noites são luminosas com as alegrias de quem regressa, e as angústias e surpresas das partidas. Mas ali sem se saber porquê, foi sempre assim, Porto Escuro. Era no entanto um ponto de importância geo-estratégica  como se diz agora, um entroncamento que em vez de desunir, aproximou e serviu de ponto de encontro a muitos miúdos como eu. Para mais logo a seguir, até lá surgiu uma escola, um lugar pequeno com uma escola é caso raro mas aconteceu e enquanto durou ajudou a combater as ausências e a diminuição de gentes que por lá viviam. E acabou por sobrar alguma coisa para os dias de hoje, já tão desertos, ganhou uma das nossas Bandas, um sitio para reunir e ensaiar, a Banda de Figueiredo. Lá atrás e com ares de sobranceria um lugar pequenino com os perfumes e sons da Freita, Póvos, terra de piscos, tão perto e longe, disfarçado de verdes das árvores e de sons enrolados em cantares de águas como pano de fundo, a esconder aquele silêncio que nos deixa a cabeça zonza e os olhos semi cerrados. E se a aventura durasse aquele tempo que parecia não acabar, Bustelo, que era longe, mas as bicicletas velhas serviam de montadas  e até nos atiravam ao chão quais montadas indomáveis. E lá,  ficavam muito calmas e tranquilas encostadas ao coreto. Valia o esforço. Eram estas as terras de muitas brincadeiras. Nunca nos cansávamos de abraçar aqueles chãos, e respirar o nosso ar como se fosse possível ser para sempre só nosso. É verdade, por ali abaixo estendia se o lugar de Figueiredo de um lado e Lourosa de Campos por outro. Um vale pequenino com ares de quinta de família, com muitas marcas de sonhos que só a juventude descobre e momentos que nos levam sempre de volta. Era por aqui e por ali que decorriam as vidas de muitas pessoas que o mundo afastou mas permitiu pelo menos não se esquecessem. Eram estas as terras que amávamos sem saber, são estas as terras que o espada me descobriu e mostrou que há momentos em que por maior que seja  a tristeza, a simples lembrança nos faz de novo acreditar na felicidade. Arouca tem destas coisas, destas terras que parecem enfeitiçadas e ficam presas a nós como abraços perdidos em dias de festa.Abraço ao Espada do Porto Escuro, grande abraço. Nestes dias muito gostava de partir com ele mais uma vez á descoberta…

4 de abril de 2020

Um agradecimento a todos os profissionais de saúde de Arouca. Um reconhecimento especial aos Bombeiros Voluntários de Arouca.


Atacados por um inimigo invisível, que não olha a origem, raça ou credo e que nos faz sentir que, na realidade, perante os desígnios da natureza somos todos iguais, este período pelo qual passamos, tem-nos levado ao limite da nossa paciência e resistência.

Limite e resistência que parecem não ter fim para todos aqueles que continuam a trabalhar e a contribuir para que a vide não pare.

Reconhecendo a importância de todos aqueles que diariamente se continuam a sujeitar ao ataque de guerrilha deste elemento hostil, não posso deixar de agradecer de um modo mais caloroso o trabalho daqueles que se encontram na linha da frente de combate. Porque são esses que, deixando a família, separando-se daqueles que mais gostam, se assumem como os bravos soldados que, sem manha ainda clara para derrotar o inimigo, não se amedrontam com a inferioridade de meios e com a incerteza das estratégias usadas. Lutam por eles, pelos que lhes são mais próximos, mas também e acima de tudo, lutam por nós todos. Lutam pela humanidade.

Não sabem como regressarão a casa. Não sabem, sequer, em alguns momentos, se regressarão. Ainda assim, de forma dedicada e altruísta, recusam desistir. 

Os Bombeiros Voluntários de Arouca, precisamente pelo seu voluntarismo, merecem neste momento, uma particular admiração. Homens e mulheres que nada ganham com o seu serviço nesta corporação, a não ser a sua própria satisfação por ajudar o outro, merecem todo o nosso respeito. Também eles deixam as suas famílias. São, na maioria das vezes, o primeiro contacto com quem está a ser atacado por este impiedoso inimigo e, por isso, correm riscos acrescidos. Ainda assim, movidos pelo desígnio de ajudar os que mais precisam, de forma voluntária e abnegada, não assumem os naturais receios de qualquer ser humano e enfrentam cada situação de espírito absolutamente desinteressado e humanista. Que bom é saber que, independentemente, dos riscos, da falta de meios que possam ter ou até do natural receio que vos possa tolher a coragem em alguns momentos, o vosso esforço, puro, genuíno e caridoso estará sempre com os arouquenses.

Assim, de forma simples, mas sincera, deixo o meu muito obrigado a todos pela resiliência demonstrada e pelo incansável espírito de cidadania. Bem hajam!

Imagm: Noticias ao minuto