1 de outubro de 2018

Do "Arroucâ, onde fica?" ao "És de Arroucâ, que sorte!"


Durante muitos anos, em França, quando me perguntavam donde eu era de Portugal e respondia «de Arouca», só podia notar o vazio interestelar nos olhos dos meus interlocutores: "Arroucâ, onde fica isso?". E eu, obrigado a responder sempre pelo mesmo retornelo: "a uma distância de cerca de 30 km a sul do Porto". A discussão geralmente parava por aí. Frustrante!

Hoje, vivo uma bela evolução. A evocação de «Arroucâ» desperta uma curiosidade muito mais assertiva entre as quais posso distinguir duas categorias de pessoas: os «gamers», amadores de futebol, e os amantes de natureza! Aos primeiros vem a recordação imediata da equipa de futebol que eles tiveram a oportunidade de enfrentar no jogo Fifa, "o Arroucâ que venceu o Benficâ", e os outros vem a imagem dos Passadiços. A discussão, em geral, não pára pela localização geográfica, mas toma o caminho da curiosidade sobre este pequeno pedaço de Portugal com pedidos de indicações sobre o que visitar.

Essa notoriedade relativamente nova deixa-me preso entre sentimentos ambivalentes. Adeus à frustração de não poder justificar as qualidades desta terra e dos seus homens. "Arroucâ" está hoje no mapa dos ex-libris portugueses e é FINALMENTE reconhecido. A contrapartida é a sensação de ser desapossado, de certa forma, porque foi, durante anos, a MINHA coisa que hoje devo compartilhar.

Pois é! Ser Arouquense de lá, hoje, é ter de compartilhar este bem comum que nos supera a todos. E, afinal, que prazer me dá ver o brilho nos olhos de amigos franceses de gema que convidei há anos à nossa terra e que hoje se tornaram os meus melhores embaixadores.

Texto dedicado ao meu amigo Antoine Martin, 
o mais arouquense dos franceses de gema