27 de outubro de 2018

Um roteiro pelos brasões de Arouca

Antes de mais, quando para este efeito me refiro a brasões, reporto-me exclusivamente aos resultantes dos títulos e cartas de brasão d'armas concedidas a pessoas singulares; das quais, na maior parte dos casos, resultaram as denominadas pedras d'armas, de brasão ou, simplesmente, brasões, que vemos ainda hoje nos portais, tectos, fachadas ou cunhais de alguns templos e casas de Arouca. Por isso, a forma como a eles me vou referir (por referência às casas onde estão) não é correta - pois o brasão deve ser sempre reportado ao seu titular e as armas à respetiva família. Porém, o propósito é apenas o de sugerir e facilitar, sem grandes delongas ou apreciações técnicas, um pequeno roteiro de simples observação.

Perspetiva da Casa e Brasão de Eiriz, na freguesia do Burgo

Os brasões mais conhecidos da maior parte dos arouquenses são os existentes no cunhal da Casa do Burgo, no cunhal da Casa dos Malafaias e os que encimam o portal do Terreiro ou a entrada dos Claustros do Mosteiro. É indesmentível que esses brasões, apesar do seu cunho e atributos pessoais e particulares, conferem maior valor aos imóveis em que estão colocados, imprimem maior nobreza ao meio e suscitam a atenção e curiosidade de quem com eles se depara. Não é para menos, pois antevê-se encerrarem muita história para nos contar.

No entanto, nem sempre aqueles brasões que temos como mais importantes ou historicamente relevantes, o são. Os brasões do cunhal da Casa dos Malafaias, na rua Dr. Figueiredo Sobrinho, do cunhal da Casa do Aro, no largo de Santo António, ou o do portal da Quinta da Lameira, na freguesia de Urrô, apesar de ricos do ponto de vista heráldico, são dos mais insignificantes do ponto de vista da importância que os seus respetivos titulares tiveram para a história de Arouca. O que não quer dizer que as Casas em questão e até outros parentes dos nobilitados o não tenham tido também. A dos Malafaias, por exemplo, foi muito importante. 

Desse ponto de vista, da importância para a história de Arouca, e por ordem de antiguidade, podemos reputar como mais significativos os do portal do Terreiro e da entrada dos Claustros, como é óbvio, o do portal da Quinta de São Pedro, o do cunhal da Casa de Eiriz, o da fachada da capela da Casa Nobre de Cela, e o do cunhal da Casa do Burgo. Mais antigos ainda, paredes-meias com o período medieval, são os dos Pintos, na padieira da capela de Santo António, em Santa Eulália, e dos Tavares, na base do cruzeiro à entrada da matriz de Urrô. Este último mais difícil de descortinar...

E ainda o de Dona Melícia de Melo, que estava na padieira do antigo lagar do Mosteiro e está hoje visível, ainda que invertido, numa moradia particular, no centro da vila. Entretanto, também de Dona Melícia de Melo se recolheram recentemente no Mosteiro partes de um outro, que estaria sobre o portal da antiga matriz de São Bartolomeu. Dos recuperados aos perigos de levarem rumo incerto, ficou também o de um comendador de Malta, no adro da matriz de Rossas, que melhor se lê pela comparação com o que fecha o altar-mor da referida igreja.

Houve outros, - pelo menos quatro -, que entretanto tomaram outro paradeiro nos últimos anos. Desses, os mais importantes e mais antigos eram os que se encontravam na fachada da Casa de São Pedro, em frente à capela desse orago, na vila, e a encimar o portal da Casa de Romariz, no Burgo. Os outros dois, eram réplicas do da Casa do Burgo e estavam colocados, por descendentes, na fachada da Casa dos Magalhães, do outro lado da estrada, e na entrada da Quinta do Boco, sobranceira à vila. Esses, ainda os vi e reconheço. Curiosamente, são essas as armas que estão na Casa da Terça, em Mansores, onde seriam esperadas as do Visconde de Albergaria de Souto Redondo. Já sobre o brasão da Casa do Castelo, em Fermedo, apenas obtive noticia.

Foram ainda outorgadas cartas de mercê e brasão d'armas a alguns outros ilustres arouquenses, que, no entanto, não deixaram por cá brasão. Foi o caso de dois capitães de ordenanças da Cavada de Rossas, aos quais foram concedidas duas belíssimas cartas, de que o mais velho fez pedra, mas colocou-a na casa onde foi casar, às portas de Oliveira de Azeméis e, depois, na casa onde foi viver, em Bemposta; o mais novo não foi dessas vaidades ou não encontrou canteiro à altura, apesar do mais belo trabalho que com certeza resultaria (é a primeira leitura/reprodução na imagem abaixo).

Outros ainda, apesar de terem obtido merecimento por cá, como foi o caso de um capitão-mor de Arouca, casado na Casa Nobre de Cela, colocaram a pedra d'armas na casa da sua naturalidade: no caso, em São Pedro do Sul. Assim sucedeu, mas ao contrário, com o brasão do cunhal da Casa dos Malafaias. O titular, descendente e herdeiro dali, mas que raramente por ali estanciou, mandou fazer e enviar para cá o brasão. Em situação semelhante, quanto aos brasões da Quinta da Lameira, mandou o titular para cá cópia da carta para que se replicassem duas pedras na respetiva propriedade.

Reprodução de alguns brasões, através de cartas e pedras existentes
(Ressalve-se que na execução apenas há que cumprir regras heráldicas quanto ao escudo, elmo timbre.
T
udo o mais fica ao livre, mas razoável e adequado, critério do executante)

De tudo, realizei um estudo há já alguns anos, com a necessária tentativa de reprodução manual e devidamente iluminada, com as respetivas cores e metais, das cartas e pedras que existem ou de que obtive noticia, mas o qual, apesar das imensas curiosidades históricas, genealógicas e heráldicas que aborda, seria fastidioso desenvolver aqui. Não queria, no entanto, e a propósito, deixar de sugerir este despercebido roteiro e suscitar maior curiosidade sobre este tema, que também enobrece a nossa terra.

Assim, à laia de rally paper, proponho então o seguinte roteiro de visita às principais pedras de brasão ainda hoje existentes em Arouca: i) brasões do portal do Terreiro e entrada dos Claustros do Mosteiro; ii) brasão do cunhal da Casa dos Malafaias, na rua Dr. Figueiredo Sobrinho; iii) brasão do cunhal da Casa do Aro, no largo de Santo António; iv) brasão do portal da Casa da Quinta de São Pedro, no lugar do mesmo nome; v) brasão do cunhal da Casa do Burgo, na freguesia do mesmo nome; vi) brasão do cunhal da Casa de Eiriz, no lugar do mesmo nome, na freguesia do Burgo; vii) brasão dos Pintos, na capela de Santo António, em Santa Eulália; viii) brasão do portal da Quinta da Lameira, na freguesia de Urrô; ix) brasão de Tavares, no cruzeiro do adro da matriz de Urrô; x) brasão da Casa Nobre de Cela, no lugar do mesmo nome, na freguesia de Urrô; xi) brasões da Igreja Matriz e adro de Rossas e; xii) brasão da fachada da Casa da Terça, na freguesia de Mansores. Bom roteiro!