24 de agosto de 2022

Feiras das colheitas - "pormaior cultural"


A Feira das Colheitas está de volta; após dois anos de interregno as festas de Arouca e principalmente dos Arouquenses estão aí para animar a vila de Arouca.  A feira das colheitas é hoje o principal evento cultural do concelho e a principal montra de tudo o que existe no concelho; da  gastronomia ao folclore, da produção agrícola à produção industrial. E por serem as festas do e para  todo o povo Arouquense existe um pequeno pormenor que me merece uma nota.

O grupo musical Xutos&Pontapés foi o eleito, após uma votação on line promovida pelo município, para animarem a noite de sábado . Não tenho memória d'os Xutos actuarem em Arouca pelo que é uma oportunidade única para muitos arouquenses.

É verdade também que os Xutos serão dos grupos portugueses com um cachet mais elevado no panorama musical português com valores  que oscilarem entre os 30 e os 40 mil euros por concerto (valor facilmente consultável no portal BASE de contratação pública para espetáculos semelhantes). 

Porque as Colheitas são as festas de Arouca, são as festas de TODOS os arouquenses e não um outro qualquer evento cultural estou em desacordo com o facto que se equacione cobrar bilhete

Existem muitos eventos culturais e  musicais ao longo de todo ano que se pautam pela gratuidade; muitos desses eventos poderiam ser facilmente justificáveis como podendo ter bilhete e um custo associado para o espectador mas a autarquia tem optado por o não o fazer. Porque o faz aqui?

O preço de 4 euros por bilhete ( apesar de um valor baixo) poderá  limitar o acesso ao espetáculo por parte de alguns Arouquenses, ou famílias de arouquenses. Certamente o valor que possam realizar em  bilheteira não cobrirá o valor do espetáculo ( 5000 pessoas que já é um número muito ambicioso daria uma receita de 20000 euros)!

Neste particular sou defensor que o espetáculo deveria ser completamente gratuito para todos . 

Certamente conseguirão ao longo do ano ou até mesmo no próprio evento cortando noutras rubricas  "compensar " este custo; 


curiosidade : A musica "a minha casinha", provavelmente a musica mais conhecida dos Xutos, é um original de Milu de 1943 e uma musica que fazia apologia ao estado novo.


A minha casinha  por Milu


13 de abril de 2022

Porque se designa "dos Fogaréus" a nossa procissão da Quarta-Feira Santa?

Foto: Avelino Vieira

Hoje, Quarta-Feira Santa ou Quarta-Feira de Trevas, como se sabe, é o dia que antecede a celebração da morte e ressurreição de Cristo.
Entre nós, já com longa tradição, de mais de quatro séculos, neste dia, realiza-se na vila de Arouca a Procissão do Senhor dos Passos que, há cerca de século e meio, passou a denominar-se Procissão dos Fogaréus. E, apesar da denominação não ser o mais importante, face à dimensão, simbolismo e importância da Procissão em causa, no entanto, o facto de se designar "dos Fogaréus" suscita alguma curiosidade e, não raras as vezes, se diz que esta denominação se ficou a dever às velas e luminárias que se acendem nas casas, nas imediações e no itinerário da Procissão. Ou seja, a razões locais, relacionadas com esta Procissão em concreto. Mas não.
Sem pretender desmerecer o empenho e dedicação de quem a organiza, ou beliscar quem convictamente defende essa tese (tanto mais que à luz d'hoje parece ter plena razão de ser), se essa fosse a justificação, dificilmente se compreenderia (a não ser por mera coincidência) que outras procissões congéneres, que se realizam nestes dias um pouco por todo o país e até pelo mundo cristão, tivessem a mesma designação. No Sardoal, por exemplo, realizam-se também as Procissões dos Fogaréus e do Enterro do Senhor, tal qual as que se realizam em Arouca e com uma história muito semelhante, quanto às suas características e componentes. Em Braga, para referir apenas mais um exemplo bem conhecido, a Procissão do Senhor «Ecce Homo», também é popularmente designada como Procissão dos Fogaréus.
Mas, sem mais delongas, a justificação para a designação "dos Fogaréus", com efeito, não se deve a qualquer particularidade local, muito menos de Arouca, mas ao que, com maior ou menor rigor, se pretende recriar e significar nesta noite das Trevas. Ficou a dever-se, precisamente, aos fogaréus com que, tradicionalmente, se abriam e ainda abrem muitas das procissões e vias-sacras que pretendem recriar os Passos da Paixão, em recriação das tochas empunhadas pelos militares romanos que naquela noite foram prender Jesus Cristo.
Esta justificação, no entanto, não diminui em nada a Procissão dos Fogaréus que nesta noite se realiza em Arouca, cujo interesse, significado e simbolismo radica em factos muito mais relevantes e singulares, que se podem observar e sentir, desde a capela da Misericórdia, que nesta noite se assume como Pretório, ao Calvário, cuja ambiência que ali se cria quase nos transporta, no tempo e espaço, ao Gólgota de Jerusalém, onde se deu o desfecho da tragédia que nos salvou! Uma Santa Páscoa!

16 de janeiro de 2022

100 ANOS DE TEATRO EM ROSSAS

Casa da Barroca

Há precisamente 100 Anos, no dia d’ontem, mas na tarde d’hoje, porque o dia 15 de Janeiro de 1922 foi a um domingo, deu-se a estreia do Teatro na freguesia de Rossas. É uma data importante e digna de ser assinalada, pois enraizou uma tradição que ainda hoje se mantém muito viva e fulgurante.

Os primeiros atores organizaram-se sob o nome “Grupo Dramático de Rossas” e a estreia deu-se numa simples loja, no lugar da Barroca (na imagem), onde se improvisou um palco para o efeito. Foi então que pisaram o palco pela primeira vez, sob orientação e apresentação de António de Almeida Brandão, de Telarda, Joaquim de Pinho Brandão, do Paço, António Vicente da Silva, da Póvoa, Manuel Vicente da Silva, dos Carreiros, Manuel de Pinho Brandão, da Portela, Joaquim Brandão, do Matinho, e Maria Rocha, da Portela, estes dois últimos a interpretar duas cançonetas.

O grupo, no entanto, era ainda integrado por Celeste Garrido Brandão, da Portela, António de Pinho Santos, do Boucinho, Manuel da Costa Pinho, do Vale, e Maria de Pinho Magalhães, do Paço.

Nas palavras de António de Almeida Brandão, «eram todos dotados de muito mérito na arte de representar, como já se disse; mas Joaquim de Pinho Brandão distinguia-se dos demais, pelo facto de saber música, estando apto a ensaiar os números musicados, que sempre era costume meter em todas as récitas, tanto mais que as senhoras eram excelentes cantoras».

A estreia foi abrilhantada pela também novel “Tuna de Rossas”, integrada por Manuel de Almeida Aguiar, da Costa, António da Costa Brandão, da Cavada, António Francisco Martins, da Barroca, Joaquim Ferreira de Vasconcelos, da Vinha, Joaquim de Pinho Brandão, do Souto, e José de Pinho, da Comenda, sob regência de Manuel Brandão Martins, da Barroca.

Foi tal o sucesso que, pouco depois, pelo Domingo Gordo de Entrudo, seguiram para Castelo de Paiva, em carro de cavalos e a patrocínio do senhor Dr. Adelino Gomes Moreira, da Casa da Póvoa, freguesia de Tropeço, que, entretanto, se encontrava a residir naquele concelho. No dia 4 de Março de 1922, foi o grupo convidado a tomar parte no espetáculo que se realizou na vila de Arouca, no qual participou já quase todo o elenco.

Parabéns a todos quantos mantêm viva essa bela e centenária tradição!