20 de janeiro de 2019

Maria Rosalina, a “santinha” de Tropeço

(Maria Rosalina. Imagem em Manuel Dias - Milagres e crendices populares..., p.157)

   Maria Rosalina Vieira de Sousa nasceu em 1964 em Tropeço. Teria 8 a 10 anos quando uma doença a paralisou, ficando desde então recolhida na cama. Pouco depois, em 1975, correu o anúncio de que, por “milagre”, Maria Rosalina passara a viver sem ter necessidade de se alimentar.
   Progressivamente, consolidou-se um movimento devocional popular em torno desta menina, considerada "santinha", e enquadrável no conceito de "santas vivas", no qual se enquadra também o caso de Alexandrina de Balazar. Este movimento gerou alguns episódios de resistência dignos de registo. E registos há: na imprensa local, em processos judiciais, em arquivos e no livro de Manuel Dias – Milagres e crendices populares: visões, aparições, revelações (Porto: Brasília Editora, imp. 1985), que lhe dedica, entre as páginas 151 e 182, o capítulo mais extenso. Também Moisés Espírito Santo refere o caso de Maria Rosalina na sua conhecida obra “A religião popular portuguesa”.
   Visitei Maria Rosalina em 2006. Naquele dia estavam aí três autocarros em peregrinação. Havia, sobrevivia, ali um sistema de culto: o horário das visitas era limitado, só se realizava aos sábados e domingos das 9h às 11h da manhã, não valia a pena lá ir noutro horário; as pessoas entravam na casa em silêncio por uma salinha onde havia um quadro de Jesus Misericordioso; passavam depois ao quarto, bastante despido, onde estava deitada Maria Rosalina, coberta com uma colcha branca; aos pés da cama estava a mãe, outra senhora e um senhor; os visitantes aproximavam-se de Maria Rosalina, limitavam-se a beijar o crucifixo que esta erguia entre as mãos, a deixar as ofertas sobre a colcha e a sair. O silêncio imperava, embora algumas pessoas se ajoelhassem e lhe verbalizassem pedidos de graças a que, em poucas palavras, e a adivinhar pela expressão, diria consentir; à saída era oferecido a todas as pessoas um livrinho de distribuição gratuita intitulado “Guia prático para o sacramento da confissão”, editado por uma associação, “Mater Dei”, sediada em Elvas.
   Não sei se Maria Rosalina é viva e se, sendo, o culto se mantém. Fica este registo.