31 de dezembro de 2018

As alminhas, estes pequenos monumentos




   As alminhas são um elemento singular da arquitetura popular ao serviço da devoção religiosa. Muito comuns nos espaços rurais do Norte de Portugal, estes pequenos monumentos religiosos situam-se à beira dos caminhos, sobre os muros, embutidos nos cômoros ou eretos nas encruzilhadas. Geralmente em forma de nicho ou de oratório, umas de granito, outras de betão, outras de metal, mais discretas ou mais vistosas… São lugares de sacralização dos espaços públicos e da vida pública.
   A representação das almas em figura humana é em si uma contradição, uma vez que as almas não têm forma material, não têm corpo. Porém, como nos é difícil conceber algo sem que se represente, nem a Santíssima Trindade escapa à nossa necessidade de representar. Quanto às almas, representam-se normalmente em pinturas, ou seja, em duas dimensões, e não em imagens tridimensionais (estátuas), como que precisamente a significar que se trata de um símbolo e não de uma materialização daquilo que não é matéria.
   A presença de alminhas à beira dos caminhos da vida é um permanente lembrar da nossa condição de frágeis peregrinos mortais a caminho... São também testemunhos de uma época em que era natural andar a pé por caminhos e carreiros, em que atravessar a pé os lugares habitados e os sítios ermos era do necessário e do quotidiano. Não se caminhava por caminhar, nem por desporto, nem por turismo.
   Em Arouca devem ser centenas, estes pequenos monumentos. Em Arouca, território no qual “o monumento” por excelência é o gigante e granítico mosteiro, as alminhas são argueiros, à vista da trave que é o mosteiro. Em Arouca, território para o qual os multipremiados passadiços do Paiva têm atraído hordas de turistas que viajam horas de automóvel para vir caminhar um pouco e depois viajar horas de automóvel e de alma cheia.
   As alminhas são insignificantes à beira de tudo isso, bem sei. Não têm monumentalidade, nem arte, nem beleza, nem têm já grande funcionalidade. Não são precisas para nada. Mas, fazem-me lembrar algo que ouvi recentemente: S. Francisco de Assis terá dito ao irmão jardineiro “Irmão jardineiro, deixe uma pequena faixa no jardim sem cultivar, pois as ervas daninhas também merecem viver”. As alminhas também merecem viver e ser reconhecidas. Seria interessante inventariar e estudar as alminhas espalhadas por Arouca. Se alguém com tempo e gosto se quiser lançar a isso, porque não?
A imagem acima é tirada de um livro que por acaso folheei há dias: Pe. Francisco de Babo – “Alminhas”: padrões de Portugal Cristão. 2ª ed. Ermesinde: Colégio de Ermesinde, 1954.

VI - Vaz Pinto, do Burgo

Os Vaz Pinto, do Burgo, que, geralmente, associamos a Bernardino António Teixeira Vaz Pinto (1766-1834) proprietário, que entre outros cargos e funções desempenhou as de capitão-mor de Ordenanças de Arouca, reconduzem-se à casa do Burgo, sita no lugar e freguesia do mesmo nome, que ainda hoje ostenta o seu brasão de armas.

Com efeito, foi na descendência de Gaspar José Teixeira Pinto, filho do capitão-mor Manuel José Teixeira e sua mulher Maria Teresa Clara, neto paterno do capitão Manuel Teixeira Barbosa de Escobar e Maria Barbosa de Ataíde, do Burgo, e neto materno de Manuel Pinto da Fonseca e Jerónima Vaz, de Urrô, casado com Luísa Teresa Angélica de Pinho Brandão, filha de Domingos Fernandes Ferreira e Antónia de Pinho Brandão, da Cavada, de Rossas, cujo casamento se realizou na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em 24 de Janeiro de 1763, que se conformou o apelido composto aparente Vaz Pinto.


Os filhos daqueles ficaram órfãos de mãe e pai ainda antes dos vinte anos, o que fez com fossem acolhidos e orientados pelos avós e tios maternos da Cavada de Rossas, onde, compreensivelmente, fizeram prevalecer o apelido materno Brandão sobre os apelidos paternos Vaz Pinto. No entanto, uma vez orientados, Lourença Vitória, casada com o capitão-mor de Ordenanças Manuel José de Almeida Ferraz Bravo, Dionísio António, feito capitão de Ordenanças da Espiunca, e Bernardino António feito capitão-mor das Ordenanças de Arouca, sucedendo a seu cunhado, apenas passaram os apelidos paternos às gerações seguintes.

O mais notável e renomado Vaz Pinto foi, sem dúvida, Bernardino António, que quase sempre assinou Teixeira Vaz Pinto Brandão de Carvalho, e foi dos poucos e últimos armigerados de Arouca, com cartas de brasão de armas passadas em 1819 e 1825.

Tal como com o brasão de armas, os seus descendentes fizeram questão de preservar e replicar o apelido composto aparente, que conta já hoje cinco gerações e permite afirmar que este Vaz Pinto, do Burgo, é um nome de família originário de Arouca.

30 de dezembro de 2018

A nutricionista Ana Bravo devia interessar-se pela gastronomia de Arouca...

 O território de Arouca tem, sem qualquer tipo de exagero, uma das melhores e mais requintadas gastronomias tradicionais de Portugal. No entanto, essa riqueza endógena de Arouca, apesar de, em parte, estar bem dinamizada e promovida (o concelho de Arouca é, de facto, um «oásis gastronómico», se comparado com muitos outros municípios portugueses), tem muito mais potencialidades que ainda estão por desenvolver convenientemente, de tal modo que uma boa parte delas pode perder-se, de modo irreversível, neste período em que a agricultura familiar se reduziu, visto que foi a partir da agricultura familiar que se alicerçou, durante séculos, em termos estruturais, a gastronomia tradicional de Arouca, para além de alguma origem conventual...
 Para contrariar essa situação, o primeiro passo consistente será, como é óbvio, fazer a compilação exaustiva e sistemática, em livro monográfico, com fotografias de qualidade, muito minuciosa e atenta, da totalidade dos elementos gastronómicos autóctones do território arouquense, proveniente de uma recolha directa (realizada por uma equipa responsável de pessoas que tenham competências próprias para o fazer), nas áreas de vale, de meia-encosta, dos planaltos e de serra do território de Arouca, nas famílias arouquenses, visto que, como foi referido, a herança gastronómica está relacionada com a agricultura familiar e com o sector primário, tendo sido transmitida, nas famílias arouquenses, através das várias gerações, sobretudo pelas mulheres dos núcleos familiares, herança que está, intimamente, relacionada com o ciclo anual agrícola e com as festividades que ocorrem durante o ano. 
 Essa recolha e a elaboração dessa monografia gastronómica de Arouca (que é mesmo muito necessária) deve partir, como é óbvio, da iniciativa do executivo municipal e de várias instituições do concelho relacionadas com este fenómeno patrimonial, para, assim, serem publicadas em livro, de modo claro e funcional, as receitas e os modos típicos de confecção de todos os elementos da culinária e da doçaria arouquenses: das entradas e dos aperitivos, dos pães e das broas, das sopas, dos caldos e das canjas, dos pratos de carne e dos pratos de peixe, das sobremesas e dos doces, das frutas autóctones, dos queijos, da charcutaria e dos enchidos, dos petiscos, dos azeites e dos vinagres, das infusões, das ervas aromáticas, bem como dos vinhos, aguardentes e licores, etc...Com certeza, em Portugal, devem existir fundos específicos, nacionais ou de origem europeia, para concretizar este tipo de projecto tão premente e que terá muita utilidade para Arouca e sucesso garantido, já que, na actualidade, a gastronomia e a restauração, associadas ao turismo, são uma das principais fontes de rendimento neste concelho da Área Metropolitana do Porto, que foi distinguido, recentemente, como melhor município do ano
 A colaboração e a mobilização das e dos arouquenses são também necessárias, nesse movimento de dinamização mais intensa e de recolha completa de um tipo de culinária que se insere, a nível nacional, na região gastronómica do Entre-Douro-e-Minho e que, num contexto global, se enquadra, tal como as restantes regiões portuguesas, naquilo que os especialistas qualificam como ‘Dieta Mediterrânica’, que é, unanimemente, considerada o tipo de dieta mais saudável. 
 É, claro, que nem todos os componentes das receitas tradicionais portuguesas são saudáveis, tal como se verifica em qualquer gastronomia nacional. Têm muitas componentes saudáveis, mas há componentes que, como é óbvio, não são saudáveis. Perante esta regularidade, constata-se um esforço, sobretudo por parte de alguns nutricionistas, em remover os elementos não saudáveis das receitas tradicionais portuguesas, substituindo alguns ingredientes ou modificando, nalguns aspectos, o seu modo de confecção, mas não adulterando o paladar e a identidade tradicional e endógena das receitas. Um desses exemplos mais notáveis e reconhecidos é o da nutricionista Ana Bravo, que, através dos «mass media» e nas «redes sociais», bem como em livros e com o seu projecto ‘Nutrição com Coração’, tem contribuído para tornar ainda mais saudáveis as receitas tradicionais portuguesas, removendo e substituindo os seus elementos que não são saudáveis, facto que foi bem demonstrado num dos seus antigos programas do Porto Canal, denominado ‘Saúde no Tacho’, bem como num dos seus seis livros de sucesso com um título similar
 Faria, portanto, todo o sentido que, nessa monografia gastronómica de Arouca, nalgumas receitas que têm componentes que não são saudáveis, aparecesse também o relatório científico, por parte de uma nutricionista, que descrevesse o modo mais adequado de como se pode remover e substituir esses componentes que não são saudáveis, sem alterar o seu paladar tradicional e a sua identidade, o que, certamente, contribuiria para o sucesso de vendas do livro sobre a gastronomia arouquense, dadas as exigências crescentes, na contemporaneidade, em se consumir comida saudável. E penso, muito sinceramente, que a nutricionista Ana Bravo seria a nutricionista certa. Para isso, a nutricionista Ana Bravo devia interessar-se pela gastronomia de Arouca. Tenho a certeza que aprovaria, de imediato, a qualidade deste «oásis gastronómico» de Dieta Mediterrânica, situado apenas a 35Km do Porto, cujas festas concelhias oficiais, que têm a denominação de Feira das Colheitas, estão ligadas, precisamente, aos produtos autóctones do campo, à agricultura familiar e à gastronomia e que são um evento de considerável impacto nacional, já com 75 anos de existência, onde a insigne nutricionista ‘portuense e transmontana’ também poderia dar a conhecer ainda melhor, ao país, a partir do território de Arouca, a sua interessante linha de produtos alimentares saudáveis.
 Arouca ficaria, certamente, grata e feliz com o facto.

Ver, pf: Programa 'Saúde no Tacho' - Porto Canal

29 de dezembro de 2018

Defesa de Arouca - o caminho traçado


Chegados praticamente ao fim de 2018, cabe-me fazer neste local uma pequena reflexão sobre este projecto "Defesa de Arouca - blog" e o caminho que vem sendo traçado.
O blog Defesa de Arouca surge de uma convergência de ideias e opiniões acerca da necessidade da  existência de um local na "rede" que fosse ao encontro das novas realidades de opinião pública e publicada e  neste caso particular mais focada no âmbito regional e local do concelho de Arouca. 
«Neste nosso tempo, do surgimento e rápida difusão das novas tecnologias e redes sociais, a maior parte da participação cívica e opinião escrita é já realizada e materializada em formato digital». Baseados nesta realidade começamos a convidar colaboradores para nos ajudarem a acrescentar valor e conteúdos ao blog. 
Desde o inicio procuramos ter uma vasta abrangência  nas temáticas publicadas convidando a fazer parte do projecto cidadãos de distintos sectores e com diferentes sensibilidades. 
A velocidade com que se desenrola o quotidiano do dia-a-dia dos dias de hoje dificulta em muito a disponibilidade de cada um de nós para que possamos tirar uns minutos para escrever, reflectir e publicar. Aqueles que até agora aceitaram o nosso convite e o têm feito com maior ou menor regularidade, em meu nome pessoal um muito obrigado.
O blog não pretende ser um jornal virtual, pretende ser sim um espaço livre onde cada um possa escrever versando sobre temáticas que mais lhe aprazem muitas vezes não coincidentes com as agendas rotineiras do dia-a-dia.
Com quatro meses de existência, com mais de 22000 visitas, com textos de várias índoles que inclusive conseguiram ter repercussões práticas e benéficas nas vivências da sociedade Arouquense penso que o ensejo inicial está a ser cumprido.
Aos actuais colaboradores, aos que ainda não iniciaram a sua colaboração e a todos quantos nos visitam desejo um óptimo ano de 2019.

V - Pinho Brandão, de Rossas

Os Pinho Brandão, de Rossas, que geralmente associamos a Dom Domingos de Pinho Brandão (1920-1988), bispo e historiador, que entre outros cargos e funções ascendeu à dignidade de bispo auxiliar das Dioceses de Leiria e do Porto, reconduzem-se à Casa do Outeiro e, mais remotamente, à Casa de Cimo de Vila, daquela freguesia.

Foi com o casamento de Domingos Brandão e Antónia de Pinho, moradores no lugar e serventes do Morgado de Terçoso, de Rossas, que se deu origem ao apelido composto aparente Pinho Brandão. José de Pinho Brandão, filho daqueles, contraiu matrimónio na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em 21 de Agosto de 1717, com Maria Vaz, filha de António Vaz e Isabel Jorge, do lugar de Cimo de Vila, onde foram depois residir e tiveram larga descendência do referido apelido.


Os tempos, porém, eram de "terra, quanta vejas; casa, quanta caibas", e, de facto, era pequeníssima a casa de Cimo de Vila, o que não a impediu de chegar a ser uma das mais abastadas da freguesia, permitindo aos que dali saíram levar bom dote e assegurar a continuidade do bom nome. Assim fez o neto daqueles, Domingos Manuel de Pinho Brandão, que autonomizou um ramo do mesmo apelido, dando origem aos também conhecidos Pinho Brandão, da Sêca, de Rossas. E deste um outro, Manuel de Pinho Brandão, que levou o apelido à casa de Telarda de Baixo. E ainda por aquelas mesmas razões, compraram os Pinho Brandão a casa do Outeiro ao insigne doutor Egas Moniz, e passaram também à casa de Campo de Fora e à casa de Telarda de Cima.

Da formação do apelido "composto" ao renomado bispo de Rossas, homónimo do pai e do mais antigo dos três clérigos da família, contaram-se cinco gerações ininterruptas do mesmo sobrenome, ali criadas e hoje disseminadas por todo o vale da freguesia, o que permite afirmar que este Pinho Brandão, de Rossas, é um nome de família originário de Arouca.

27 de dezembro de 2018

IV - Pinto de Magalhães, do Burgo

Os Pinto de Magalhães, do Burgo, que geralmente associamos a Afonso Pinto de Magalhães (1913-1984), empresário, banqueiro e dirigente desportivo, que entre outros cargos e funções foi fundador do Banco Pinto de Magalhães e presidente do Futebol Clube do Porto, pese embora se reconduzam ao lugar e freguesia do Burgo, devem o seu apelido "composto" a casamento realizado na freguesia da Espiunca, quando esta, tal como a do Burgo, ainda não pertencia ao concelho de Arouca.

Efectivamente, foi com o casamento de Dionísio António Teixeira Vaz Pinto Brandão, filho de Gaspar Teixeira Pinto e D. Luísa Teresa Angélica de Pinho Brandão, do Burgo, com Luísa Joaquina de Magalhães, filha do capitão Custódio José Rodrigues e D. Josefa Teresa Joaquina de Magalhães, da Espiunca, realizado na igreja matriz de São Martinho, em 8 de Fevereiro de 1796, que se formou o apelido composto aparente Pinto de Magalhães.


Com o falecimento de Dionísio António, já feito capitão de Ordenanças, em plena Guerra Civil, e uma vez instituído o regime liberal, os seus descendentes retomaram a Arouca, pela mão do primogénito padre Joaquim António Pinto de Magalhães, pároco de Tropeço, estabelecendo-se nessa freguesia, na vila e no Burgo, onde tiveram descendência do mesmo apelido.

Apelido que resistiu mesmo ao Pereira de Vasconcelos, de António Pinto, dos rivais e vitoriosos liberais, com que se casou Antónia Amália, não sendo já de estranhar a predominância pelos casamentos dos rapazes Bernardo António, José Júlio e António Augusto, com as primas Vaz Pinto, e Maria do Carmo Brandão, respectivamente. O que tudo somado ditou a continuidade do apelido e, uma vez integradas em Arouca as freguesias do Burgo e da Espiunca, permite afirmar que este Pinto de Magalhães, do Burgo, é um nome de família originário de Arouca.

O referido banqueiro, Afonso Pinto de Magalhães, filho natural de Maria Amália Pinto de Magalhães, foi já a quarta geração desse mesmo apelido.

24 de dezembro de 2018

Natal na Comenda de Rossas

Enquanto o Capitão faz uma pequena paragem junto à Fonte dos Cavalos, para levar o Roço a beber, um dos seus rapazes segue com duas talhas de azeite para, logo mais, alimentar as candeias da igreja durante a Missa do Galo e, entretanto, alumiar à ceia e temperar as pencas acabadas de chegar de Cimo de Vila e o bacalhau que lhe mandara o senhor Comendador de Leça do Balio, que há-de ser acompanhado com um almude de Vinho do Porto que lhe enviara o senhor Cónego de Sequeiros. O Capitão-mor do concelho mandou uma travessa de castanhas doces, uma cesta de figos secos e duas broas de pão doce.

Entretanto, nas imediações da Comenda, já se nota alguma azáfama em redor dos cestos preparados para os mais necessitados. O senhor Comendador mandou oferecer a cada um dos Senhores os Pobres, indicados pelo Reverendo Abade, meio afusal de linho, um quartilho de vinho e uma canada de azeite, uma quarta de castanhas e nozes, meia galinha e dois ovos, uma chouriça e uma broa de milho (que por cá é coisa nova...). Enquanto isso, os rapazes da Fontela e Corregato descarregam no adro da igreja as raízes de oliveira trazidas dos olivais da Bouça-Vedra e que, logo mais, serão colocadas a arder...

Dentro da igreja, renovada pelas obras mandadas fazer pelo senhor Comendador, as raparigas cobrem a mesa e os altares com linhos a estrear, oferecidos pelo senhor Morgado de Terçoso, e enfeitam os altares com ramos de azevinho que os rapazes da montaria trouxeram da Senhora da Lage. A igreja está bonita. Pela primeira vez vão poder ser observados os painéis da Padroeira Nossa Senhora da Conceição, da Anunciação, do Nascimento de Jesus, da Adoração dos Pastores e da Circuncisão. As suas cores vivas e brilhantes, iluminadas pelas candeias de azeite, prometem emprestar maior colorido e alegria ao templo e trazer novo ânimo ao povo da freguesia, depois de alguns anos fustigados por inclemências do tempo, a que acudiu Nossa Senhora do Campo.

Para logo mais, e porque a noite da rapaziada promete ser longa, o senhor Sargento da Felgueira prometeu duas canadas de jeropiga e uma de aguardente. O senhor Monteiro de Pousada prometeu um presunto de javali da última montaria feita na Escaiba e um quarteirão de trutas tiradas no Urtigosa. A senhora Miquinhas da Cavada arranja dois aventais de figos secos. Tudo para aguentar a rapaziada em claro e, ao cantar do primeiro galo, alvorar, com o sino da igreja a repique, cantando e anunciando o nascimento do Menino.

Por essa hora, antes de levantar a neblina que cobre o vale e rumarem à igreja para a missa matinal, devem as mulheres acender os fornos das casas em que os houver, para que em toda a Comenda se coma assado no dia de Natal. Os homens das casas mais abastadas devem tirar das salgadeiras as orelheiras reservadas para leiloar no fim da missa, a reverter para os doentes e órfãos. Tudo para que a Quadra motive o espírito solidário suficiente para compensar as perdas agrícolas, atenuar o sofrimento das perdas, moléstias e enfados pessoais, e satisfazer as mais prementes necessidades do povo da Comenda. Para que haja alegria entre a rapaziada nova e, principalmente, entre a pequenada, para que vingue ao frio e à tristeza do Inverno e desperte com força na Primavera do ano que bate à porta.

Festas Felizes e um Bom Ano Novo!

A véspera da noite de consoada


   Passei algumas poucas quadras de Natal longe de Arouca, da casa de meus pais, que é a minha casa-natal. Este é mais um dos natais que passo fora. Estando fora, lembro com particular saudade as tardes que, anualmente, antecediam a noite da consoada de Natal passada “na terra”. Tardes com especial sabor a Advento.
   Andando-se pelo lugar ou espreitando-se pela janela, era ir vendo a partir do início dessas tardes as chaminés no lugar e no horizonte a fumegar em jornada contínua. As cozinhas em ebulição, contrastando com a calma dos caminhos onde o tempo parecia parar. A troca de palavras e de saudações com quem passava. A ida à fonte ou ao poço buscar o bacalhau que se levara a demolhar. O acomodar do gado garantindo-se que ficasse bem farto, como em nenhum outro dia. O carregar da lenha para a lareira. Um frio e um sol distintos. Os sons e os cheiros. O recolher a casa cedo.
   Enfim, a sucessão de gestos que faziam daquelas tardes especiais um verdadeiro sacramento. Um sacramento, por definição, realiza aquilo que significa. No caso, a preparação da celebração do nascimento do Filho de Deus. Uma experiência que aquece o coração e se prolonga, permanece no tempo e no espaço. Aqui estamos, por isso, a recordá-la e a revivê-la.
   Formulo votos de Santo Natal aos colaboradores e leitores desta Defesa de Arouca em que nos vamos encontrando!

22 de dezembro de 2018

19 de dezembro de 2018

III - Brandão de Vasconcelos, de Alhavaite

Os Brandão de Vasconcelos, de Alhavaite, freguesia do Burgo, que geralmente associamos a António Teixeira Brandão de Vasconcelos (1835-1897), proprietário e autarca, que entre outros cargos e funções desempenhou as de presidente da Câmara Municipal de Arouca e está imortalizado na toponímia da praça da vila de Arouca, não têm origem em Alhavaite, mas antes na casa da Felgueira, na freguesia de Rossas, donde aquele era natural.

Com efeito, foi pelo casamento de António Brandão, filho de Manuel Brandão e Maria Francisca, da Felgueira, de Rossas, com Antónia Teixeira de Vasconcelos, filha de Vicente Teixeira de Vasconcelos e Maria Vaz, de Sequeiros, de Rossas, realizado na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em 16 de Novembro de 1789, que se formou o apelido composto aparente Brandão de Vasconcelos, com evidente e rara preponderância dada ao apelido da mulher.


Quando consorciados na casa da Felgueira, não terá sido alheia à preponderância do Vasconcelos face ao Brandão, o facto de Antónia Teixeira de Vasconcelos ser sobrinha e irmã de dois padres, cónegos da Sé do Porto, do mesmo apelido.

E tudo se conformou ainda mais quando daqueles procederam, entre outros, Domingos Teixeira Brandão de Vasconcelos, que foi casar à Pena, de Tropeço, onde deu continuidade ao apelido, e António Teixeira Brandão de Vasconcelos, que ascendeu à categoria de capitão das Ordenanças de Malta, sucedendo a Manuel Joaquim de Sousa Brandão, da Vinha do Souto de Várzea. Já feito capitão, António Teixeira Brandão de Vasconcelos, contraiu matrimónio com a filha de um outro antigo capitão das mesmas Ordenanças, da Cavada de Rossas, de seu nome Margarida Amália Aranha Brandão de Mendonça, que lhe sobreviveu com seus filhos ainda menores.

Dentre aqueles, entretanto criados e educados pelos tios maternos da Cavada, de Rossas, António Teixeira Brandão de Vasconcelos passou à casa de Alhavaite, do Burgo, por casamento com Ana Emília Soares de Sousa, e com ele o irmão Inácio, donde se notabilizaram e afirmaram o apelido ainda hoje mantido por alguns descendentes do primeiro, o que permite afirmar que este Brandão de Vasconcelos, de Alhavaite (com origem em Rossas), é um nome de família originário de Arouca.

18 de dezembro de 2018

A Pensar Alto... Historinha de Natal

Esta é a história de uma menina… Para contar a todos os meninos.

Sempre que a menina passava perto daquela linda casa, sentia-se triste ao ouvir o cantar também muito triste de tantos pássaros que adivinhava e depois vira, presos, em gaiolas de muitos feitios, e que sempre que a viam passar, esvoaçavam, piavam, para lhe chamar a atenção de tal situação. E de cada vez, a cada passagem, sentia mais a injustiça de tal prisão e decidiu num impulso tudo fazer para os libertar antes do dia de Natal, pois faltavam já poucos dias, e no Natal também se festeja o amor e as boas ações. Mas a quem poderia pedir ajuda? Uma coisa simples para um adulto, para ela menina ainda muito pequenina era uma enorme tarefa, e pensou, pensou e teve uma ideia. Decidiu pedir ao mais forte aliado de que se lembrou, o vento. E esperou pelo momento oportuno. Logo que o sentisse, nem que fosse leve brisa, ia pedir-lhe ajuda. E assim foi, quando deu por ele, era um fim de tarde de um dia de outono daqueles que raramente são tranquilos, deu pela chegada do futuro aliado, esperava ela, assim como um zumbido, ao cair da noite, mas ainda muito a tempo de lhe fazer o pedido. - Ó Senhor vento tu que és tão forte e sempre tão presente, que me refrescas nos dias quentes de verão e que me aconchegas na lareira com a tua forte voz no inverno, tu que fazes mover as pás dos moinhos, os vira ventos das crianças como eu, que me empurras nas minhas correrias e fazes as folhas voar como qualquer pequeno pássaro, mas que também sabes brincar, ainda há dias, numa travessura, me fizeste esvoaçar o cabelo despenteando-me toda, preciso de um favor teu, preciso que num dia destes em que sopres devagarinho assim a modos de quem vem fazer um passeio à beira mar, abras as fechaduras das gaiolas que enfeitam as paredes desta casa aqui ao lado da minha, e deixes abertas de par em par as pequenas portas para os meus amigos pássaros que por lá estão privados de liberdade, saberem que gostas de ser livre e não queres ver ninguém aprisionado. Como eu não quero também. O vento como que parou por momentos e ao ver tão doce e justo pedido e tão inocente desejo, não podia ficar indiferente e logo abriu com um suspiro que mal se ouviu, as pequeninas portas, que permitiram a imensos pássaros conhecer um mundo novo e muito mais azulado, da cor do céu da nossa terra. E quase de imediato apareceu pelos ares uma nova nuvem, uma nuvem cheia de cantos, penas a esvoaçar de imensa brancura e uma misturada de imensas cores que um arco-íris que nascia ao longe, ficou com um pouco de inveja de ver tal concorrente. Eram os pássaros que voavam numa festa sem fim, sem disfarçar a alegria que sentiam ao voar, cantar e saltar pelos céus para agradecer à pequena menina o grande bem que lhes tinha feito com o pedido ao vento. Eram livres, nunca lhes faltara o essencial, o trigo, a água, o ar, mas faltara lhes sempre o que é tão importante, a liberdade. E a menina não cabia em si de tanta felicidade, de repente ganhara muitos amigos e agora só queria era brincar com eles e partilhar segredos e pequenas canções que aprendera na escola, pois todos sabemos como os pássaros cantam bem estando felizes. Mas como em qualquer história de meninas, as surpresas não ficaram por aqui. Apareceu pelo meio dos pássaros um lindo príncipe, amigo antigo de tão lindos passarinhos e que apesar de muito tentar nunca tinha conseguido libertá-los. E nem os poderes mágicos que possuía lhe tinham valido. Ficou por isso surpreso e muito contente por ter descoberto que o amor de uma menina e a bondade de um pedido, conseguiram muito mais. Num agradecimento a tão lindo gesto logo quis retribuir com algo que nunca mais aquela menina esquecesse. Assim decretou que naquela casa, naquele lugar, sempre que a menina sorrisse e ficasse feliz, logo nasceria uma flor de beleza estranha, são as mais belas, e os jardins espanto dos espantos seriam os mais coloridos de todo aquele burgo. A família e todos os moradores ficaram radiantes com tais noticias ao saberem que iriam viver rodeados do perfume das flores, e desde esse dia todas as manhãs quando o sol começava a espalhar se, viam o resultado pelas janelas das casas e acendia-se-lhes na alma um sorriso tão bonito e tão longo que permanecia até ao fim do dia, contagiado por tanta beleza. Todos lhe agradeceram. Valeu bem a pena a boa ação que tudo originou. Vale sempre a pena uma boa ação. E a história continuou repleta de surpresas que estavam sempre a aparecer. Não vou dizer quais, deixo que cada um que a está a contar, continue esta pequena história à sua maneira, com a imaginação possível, e que nunca a termine, porque nunca são demais os inocentes contos que fazem as crianças dormir com a felicidade estampada no rosto, e terem sonhos de um côr de rosa que permanecerá pela vida fora. Já sabes, tu que és adulto, continua a narrativa, e se tiveres dificuldade aproveita mais uma vez aquele coração de criança repleto de ternura que todos os adultos têm, e às vezes se esquecem ou não querem mostrar. Aproveita-o e sê também mais feliz por isso. É natal. Umas boas festas a todos.

17 de dezembro de 2018

Quem se lembra da Telescola?

   Sim, “quem se lembra da Telescola?” Eu lembro-me, e fui dos que andaram na Telescola. Na Telescola da minha Mansores natal. Quando os comigo nados na freguesia entre fins de 77 e fins de 78 chegámos ao fim do ensino primário, as alternativas eram ir ou ficar: ir para o “ciclo” em Arouca ou ficar na Telescola lá na freguesia. Éramos uns 30, mais ou menos, a maioria ficou na Telescola e ficou-se pela Telescola. Creio que desses cerca de 30 só dois chegámos ao Ensino Superior. As coisas serão bastante distintas hoje.

Foto: Arquivo RTP
   Talvez pela proximidade do Natal e pela distância da natal terra, vêm-me saudades da também distante infância e desses tempos de Telescola, talvez os mais felizes dos anos em que andei de escola em escola. As minhas professoras foram a professora Amélia, de S. João da Madeira, e a professora Áurea Rita, de S. Pedro do Sul. Recordo dois episódios desses tempos:
   - A minha caligrafia era péssima. Escrevia mal, pronto. Um dia a professora Áurea Rita envergonhou-me à frente de todos os colegas. Obrigou-me a usar um caderno de duas linhas. Ora, esses cadernos eram para as crianças dos primeiros anos da primária. Uma humilhação que nunca vou esquecer.
   - Tinha jeito para a Matemática. A Professora Amélia sabia disso. Um dia apareceu de surpresa um inspetor e era dia de teste de Matemática. Lá fizemos o teste perante o olhar preocupado da professora ao lado do inspetor. Ainda consigo precisar o sítio da sala em que eu estava sentado. A professora, mal acabámos o teste, corrigiu o meu e mostrou-o ao inspetor como exemplo de bom resultado. Ela depois agradeceu-me não a ter deixado ficar mal. Gostava muito da professora Amélia. Soube que faleceu entretanto.
   Nas suas distintas configurações e denominações, a Telescola foi lançada em Portugal em 1965 e chegou a Arouca ou nesse ano ou no seguinte, de onde partiu definitivamente em 2001 ou muito pouco depois.
   Quem não se lembrar da Telescola, que vá googlar.

15 de dezembro de 2018

II - Sousa Brandão, de Várzea

Os Sousa Brandão, de Várzea, que, geralmente, associamos a Dom Leonardo de Sousa Brandão (1767-1838), clérigo e partidário do absolutismo, que veio a ser o último bispo da extinta diocese de Pinhel, são descendentes do primeiro filho varão sobrevivente de Manuel Brandão e Maria de Almeida, da casa da Vinha do Souto de Baixo, que, como já vimos, são também progenitores dos Almeida Brandão, de Rossas.

Irmão mais velho de António de Almeida Brandão, que seguiu para Rossas, Manuel de Almeida dos Santos Brandão, que, em 1741 havia já recebido ordens menores para padre, mas depois, tal como seu pai, se viu admitido a Familiar do Santo Ofício, acabou por arrumar o hábito e contrair matrimónio, em 5 de Setembro de 1757, na igreja matriz de São Salvador de Várzea, com Angélica Joaquina Margarida de Sousa, filha do sargento-mor das Ordenanças Manuel Bernardo de Sousa e de D. Luísa Teresa de Sousa, da Lavandeira, de Arouca, dando assim origem ao apelido composto aparente Sousa Brandão.


Ao sargento-mor Manuel Bernardo de Sousa se ficou a dever a admissão dos Brandões da Vinha do Souto, de Várzea, nas Ordenanças de Malta, da comenda de Rossas, de que António se viu promovido a alferes e Manuel a capitão, de que depois abdicou em favor de seu primeiro filho varão sobrevivente Manuel Joaquim de Sousa Brandão, o qual se viu viúvo prematuramente e, já com 50 anos, contraiu novas núpcias com a jovem Luciana Laurinda Libania de Almeida, filha do capitão-mor de Macieira de Cambra, que lhe sobreviveu por 46 anos, sem descendência, proprietária de uma casa enorme, mas desafortunada de trazer aos dali o título de Visconde de Baçar, que por certo tocaria a um seu filho se o tivesse tido.

Mas entre os onze filhos do capitão Manuel de Almeida dos Santos Brandão, contavam-se ainda o frei Feliciano de Sousa Brandão e o bispo Dom Leonardo de Sousa Brandão, foragido à vingança dos liberais até à sua morte inglória e enterrado às escondidas para evitar represálias sobre os seus familiares, nomeadamente, sobre seu irmão Dâmaso de Sousa Brandão, antigo tenente do Regimento de Milícias de Arouca, entretanto mudado para o Sobral, no extremo nascente das lavouras da Vinha do Souto, onde teve larga descendência do mesmo apelido.

Dos treze Sousa Brandão que Dâmaso teve de D. Marcelina Cândida da Mota, apenas o último, padre Luís de Sousa Brandão, que paroquiou Várzea e Urrô, viveu quase cem anos e cedeu, uma vez por outra, à fragilidade humana, conseguiu impor o Sousa Brandão por mais uma geração. O suficiente, no entanto, para se poder afirmar que este Sousa Brandão, de Várzea, de que procedem, entre outros, os Brandão de Almeida, é um nome de família originário de Arouca.

12 de dezembro de 2018

A Pensar Alto... A Feira de Natal.

A palavra feira, dia santo ou feriado, mostrava na sua fase inicial a ligação entre o comércio e a religião, pois as pessoas aproveitavam as festas religiosas para reunirem e trocarem mercadorias. Com o andar dos tempos tornaram se locais de espaço de cultura popular, trocas comerciais e muita afetividade, perdendo a matriz religiosa.

Em Arouca ao longo do ano temos sempre várias feiras mantendo a tradição ainda muito cultivada pelas pessoas em geral de usufruir do espaço público. Temos 2 feiras mensais com data fixa e apesar de não representarem aquele dia de festa, como antigamente, é sempre um bonito pretexto para uma deslocação à sede do Concelho dar uma vista de olhos pelos artigos em venda, conversar um bocado com os amigos que por lá se vão encontrando e fazer aquela compra que se andou a adiar para justificar a nossa presença, mesmo que o preço não seja tão interessante como deveria. E depois existe uma cumplicidade secreta com um ou outro feirante que guarda aquela coisa muito especial e que estava esgotada na quinzena passada. Um shopping ao ar livre sem marcas daquelas que melhoram o status, mas com movimento razoável e onde se junta o útil ao agradável. Desde há algum tempo a Câmara decidiu aumentar a oferta turística e começaram a surgir também de 15 em 15 dias, aos domingos, as feirinhas, junto ao Convento numa fase inicial e agora mais na entrada da Vila ali ao lado do parque debaixo do olhar da Rainha Santa. Primeiro muito timidamente para os pequenos agricultores que ainda restam, terem a possibilidade de escoar e divulgar diretamente os seus produtos, e depois com alguns artesãos e fabricantes de produtos relacionados com a terra a juntarem se lhes compondo numa variedade de ofertas, uma amostra do que somos e do que temos. Têm tido grande sucesso, basta passar e ver a quantidade de pessoas que por lá andam, com sacos, ou de mãos a abanar que uma feira serve também para dar um passeio e descansar os olhos da monotonia e cansaço de muitos dias.
Durante o ano temos mais feiras extraordinárias, o S. Bráz, a Rainha Santa, as Colheitas, não me lembro de mais nenhuma, e a minha preferida, a do Natal. Não sei se é diferente porque é Natal, parece tudo mais bonito, ou se é pelo cuidado com as decorações, com a quantidade de crianças, com os sorrisos mais simpáticos, ou pela proximidade da data que pelos valores que anuncia, é pena não durar todo o ano. Quer esteja frio, quer o dia não queira colaborar e não mostre um pedacinho de sol, quer caia até um pé de água que obrigue a fazer equilíbrios com os guarda chuvas, tudo tem uma justificação sem rancores, estamos mesmo na época das doçuras, e nada estraga aquelas horas de passeio, convívio, uma compra de ultima hora. Até se come um petisco com sabor da quadra como aperitivo para o que aí vem. E então as crianças acolhem se mais aos pais, acreditam no colo do Pai Natal, abrem muito os olhos para não perderem nenhuma luzinha a piscar, entram sem receios naquela casinha construída para eles e ficam felizes e tristes por só terem Natal uma vez por ano.
A nossa feira de Natal, abrigada ao lado do Convento, não poderia ter melhor cenário, é sempre um êxito. Este ano repete-se e mostra que há iniciativas que agradam, com simplicidade e pequenas somas de investimento. O que é bom não dura sempre. Vamos aproveitar.

Umas boas festas para todos.

11 de dezembro de 2018

Melhor Atração de Turismo Aventura do Mundo!!!

Ainda a comemorar a entrega do prémio de melhor atração de Turismo Aventura do Mundo ao Município de Arouca com o projeto “Passadiços do Paiva”, que considero relevante para a continuidade da estratégia política deste e do anterior executivo, focado essencialmente no Turismo e no desenvolvimento do setor terciário, não consigo evitar que dúvidas ou incertezas assombrem este orgulho que sinto enquanto arouquense. Dúvidas essas que se me colocam acerca da preservação ambiental, designadamente do ecossistema, flora e fauna existentes no rio Paiva e que pelo número reduzido de espécimes são consideradas raras ou em risco de extinção, privilegiando de normativas europeias de proteção. Refiro, a título de exemplo, as lontras, as toupeiras-de-água, as borboletas, algumas aves, peixes e a vegetação ripícola, onde se salientam bosques com amieiros, freixos e carvalhos alvarinho. Apesar de menos referenciada pelo reduzido número de avistamentos, é também de salientar a presença da águia de asa redonda que imponente voa e plana no rio Paiva, de montante a jusante, e vice-versa, presença que estará na origem do nome da Cascata das Aguieiras, por ser conhecida como local onde as águias nidificavam. Será pacífica a coexistência entre este projeto de grande afluência de turistas e a preservação destes ecossistemas???


Sem querer tirar o mérito aos Passadiços do Paiva que têm como objetivo tornar acessível à população as margens do Rio Paiva, para fruição da beleza paisagística e para educação e sensibilização ambiental, passados 3 anos, penso ser altura de passar do “Verbo” à “Ação” e implementar mais medidas que protejam de facto este património natural de valor incalculável: limitar mais o número de visitantes por dia; criar alternativas à circulação automóvel poluente utilizando veículos elétricos para transbordo entre pontos de acesso; melhorar a planificação e gestão dos resíduos; garantir que os esgotos provenientes das populações e lugares ribeirinhos sejam alvo de tratamento em ETARs, eliminando as tradicionais fossas ou o esvaziamento através de cisternas; melhorar a segurança rodoviária em estradas perigosas pela sinuosidade que apresentam; aumentar e enquadrar paisagisticamente o número de parques de estacionamento que, na minha opinião, deveriam ser pagos; melhorar estruturas de acolhimento - maior número de WC e já agora substituir os WC em contentores na praia fluvial do Vau; realizar obras nos esquipamentos das praias fluviais do Areinho e Paradinha e dotá-los de painéis solares capazes de forma a evitar o recurso a geradores; procurar garantir a colocação de rails de proteção na estrada que serve o lugar da Paradinha, à semelhança dos rails colocados para acesso ao lugar de Meitriz, etc.

Estas são apenas algumas das muitas intervenções que serão necessárias realizar a médio prazo, para que o nosso património natural seja “preservado” e sofra o menor impacto possível e para que as expectativas colocadas nos Passadiços do Paiva e, para o ano, na maior ponte pedonal suspensa do mundo, não sejam defraudadas, sob pena dos holofotes dos media se virarem contra nós.

Os prémios acarretam responsabilidade e compromisso e, havendo clareza de visão, discernimento e juízo crítico, não é necessário ser adivinho para antever onde serão aplicados os orçamentos municipais dos próximos anos. Enquanto arouquense, espero que o dinheiro público investido seja utilizado de forma criteriosa, equilibrada e que vise o desenvolvimento de uma solução sustentável.

Sem querer alongar este meu artigo que já vai extenso, acrescento que é premente angariar financiamento comunitário quer para a ponte pedonal suspensa, quer para a ligação desta junto à Cascata das Aguieiras à aldeia de Alvarenga, atravessando os lugares da Chieira em direção à Ribeira, Miudal ou Santo António.

Também esta ligação deverá ser planificada em respeito pelas características rurais, preservando-se caminhos, regos de água, muros, fontes e fontanários que tão bem caracteriza Alvarenga e que é um elemento cultural diferenciador a respeitar.

Enquanto alvarenguense, espero igualmente que as tão almejadas obras na Quinta da Picota sejam uma realidade a curto prazo e não se tornem promessas vãs nem ideias que não saem do papel, hasteadas como bandeiras de campanha eleitoral, como a malograda 2.ª fase da Variante de Arouca, a “marinar” há mais de 12 anos.

A par com os investimentos no Turismo em Alvarenga, sugiro que se diversifique ainda a oferta com a criação de um percurso pedestre de índole cultural e histórico, aproveitando a ligação da ponte pedonal suspensa à aldeia de Alvarenga, iniciando na Chieira, atravessando a Vila, o Passal, o Paço, Quintela, Ribeira, Trancoso, Casais, Picota e terminando em Miudal ou em Santo António. Neste percurso cultural e histórico, poder-se-ia (re)visitar a história de Arouca/Alvarenga (e à sua semelhança a história nacional), abarcando pelo menos onze séculos de história (X-XXI), abordando temas como as antigas “vila” romanas, a Reconquista Cristã, a proeminência da família de Egas Moniz – o Aio, preceptor de Afonso Henriques, a atribuição das cartas de foral manuelinas, que fez de Alvarenga concelho, o que se manteve até ao séc. XIX, as Ordenanças de Alvarenga, as invasões francesas, a exploração mineira de volfrâmio tendo no lugar da Chieira ocorrido a 1.ª concessão mineira em 1911, a separadora do volfrâmio da Espinheira sita no lugar da Vila, onde hoje está instalado o Hotel Quinta da Vila, o Motim de 1942 e o contrabando de minério por altura da II Guerra Mundial, a emigração para o Brasil, com especial atenção para a figura de Adriano Telles, fundador do café A Brasileira, o poder e a influência de famílias de Alvarenga junto do governo central, designadamente dos Galvão, dos Telles e dos Noronhas, a construção do rego do Boi, que atravessa desde a Serra todo o vale de Alvarenga, desaguando na Cascata das Aguieiras, etc.

Para terminar (mesmo!) há que festejar e ter orgulho em Arouca e nos Passadiços do Paiva – e futura ponte pedonal suspensa – acreditar na boa gestão local e acompanhar, sempre atentos, o desenvolvimento das políticas locais, numa atitude de cidadania participativa, consciente e responsável porque, como vemos, há muito trabalho a fazer e um mar de oportunidades a rentabilizar!

I - Almeida Brandão, de Rossas

Os Almeida Brandão, de Rossas, que geralmente associamos a António de Almeida Brandão (1893-1986), professor e autarca, que entre outros cargos e funções desempenhou as de presidente da Câmara Municipal de Arouca, reconduzem-se à Casa de Telarda de Cima, daquela freguesia. No entanto, o seu apelido composto aparente teve origem na Casa da Vinha do Souto de Baixo, da vizinha freguesia de Várzea.

Foi o casamento de Maria de Almeida, filha de Domingos de Almeida e Catarina de Almeida, da Vinha do Souto, de Várzea, com Manuel Brandão, filho de António Brandão e Maria Fernandes, das Eiras, do Burgo, realizado no dia 19 de Janeiro de 1712, na igreja matriz de São Salvador de Várzea,  a que assistiram o capitão-mor Diogo Malafaia de Mascarenhas e o futuro capitão-mor Teotónio de Vasconcelos Portugal Mendes e Cirne, que deu origem ao apelido composto aparente Almeida Brandão.


Manuel Brandão, cujos avós paternos e maternos eram de Rossas, foi feito Familiar do Santo Ofício em 20 de Abril de 1725. Para se ver admitido a essa qualidade, cujas principais funções estavam ligadas à hierarquia policial do Santo Oficio, os candidatos, bem como a esposa, respectivos pais e avós, eram sujeitos a um processo que incluía diligências exaustivas sobre a pureza de sangue e conduta de todos os inquiridos.

A passagem dos Almeida Brandão a Rossas e, mais concretamente, à Casa de Telarda de Cima, deu-se com o casamento de um dos filhos daqueles, de seu nome António de Almeida Brandão (o primeiro de três homónimos), agricultor e alferes das Ordenanças de Malta, com Mariana de Azevedo e Melo, filha de António Duarte e Paula de Azevedo, que teve lugar na igreja matriz de São Salvador do Burgo, em 27 de Abril de 1760. O casal foi então residir na companhia do irmão de Mariana, padre José Duarte Monteiro, que havia alguns anos assistia no lugar de Telarda, da freguesia de Rossas, onde tiveram descendência, nomeadamente, José Vicente de Almeida Brandão (também primeiro de três homónimos), que veio a ser um dos dois herdeiros do referido padre, casou com a prima directa D. Maria Vitória de Sousa e Almeida e ali permaneceram dando continuidade aos Almeida Brandão.

Da origem do apelido composto aparente ao acima referido António de Almeida Brandão (1893-1986), primogénito dos treze filhos de José de Almeida Brandão com Maria Soares de Figueiredo e Joaquina Soares de Pinho Brandão, contam-se seis gerações ininterruptas desse mesmo apelido, geradas e criadas naquela mesma casa de Telarda de Cima, da freguesia de Rossas, o que permite afirmar que este Almeida Brandão, de Rossas, é um nome de família originário de Arouca.

10 de dezembro de 2018

Declaração Universal dos Direitos Humanos: 70 anos depois...

A 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotava, em Paris, na sua resolução 217/A, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH). A Humanidade tinha ainda bem abertas as feridas provocadas pela II Guerra Mundial, uma barbárie nunca antes vista e uma violência nunca antes experimentada. Era uma Humanidade em choque que se unia para gritar o nunca mais a tamanhas atrocidades.

Nem sequer vale a pena evocar tudo o que de mau, de horrível tinha acontecido poucos anos antes no maior conflito da história da Humanidade. Tinham sido evidentes e gritantes as violações sistemáticas dos mais elementares direitos humanos e os atentados de toda a espécie à dignidade da pessoa. 

A 24 de Outubro de 1945 tinha sido criada a Organização das Nações Unidas (ONU) por 51 estados-membros – hoje são 193. Os principais objetivos eram o de promover a cooperação internacional e de evitar a repetição de conflitos do género do que há bem pouco tinha terminado e que tantos estragos tinha causado a toda a Humanidade.

70 anos depois, como estamos no respeito dos direitos proclamados na DUDH? Acreditamos que os princípios e valores ali consignados estão presentes nas relações entre Estados e na consciência da maioria. Mas há ainda tanto a fazer! A prática está longe de corresponder à bondade dos tratados assinados, porque diariamente se cometem violações e atentados aos mais elementares direitos que deveriam ser universais, isto é, que deveriam ser de todas e de cada uma das pessoas.

Na celebração dos 70 anos da DUDH, temos de continuar a gritar bem alto que a dignidade da pessoa, de toda a pessoa, é um valor inviolável e que todo o atentado a essa dignidade é uma negação da beleza e da bondade da ordem das coisas queridas por Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança, iguais em dignidade, em direitos e em deveres mútuos.

Há muitos irmãos nossos que continuam a precisar da nossa solidariedade, da nossa voz, da nossa indignação. Como diz muitas vezes o Papa Francisco, não podemos deixar-nos contagiar pela globalização da indiferença, porque aquilo que acontece aos nossos irmãos, especialmente aos mais desfavorecidos e desamparados da nossa Humanidade, também nos diz respeito. Não podemos permanecer calados e indiferentes perante a multidão de irmãos nossos que vivem muito longe de ser respeitados e promovidos na sua dignidade, que são marginalizados, explorados, maltratados, vendidos...

Sejamos capazes de dar o nosso contributo, pequeno ou grande, para que a Humanidade passe dos tratados à prática na defesa e proteção dos direitos fundamentais de todos os seres humanos.

P. José Agostinho Sousa

9 de dezembro de 2018

As identidades dos arouquenses


   No “post” de 25 de novembro que intitulei “Homo sapiens arouquensis? A identidade dos arouquenses” citei um texto de Filomeno Silva que ensaia traços da identidade dos arouquenses, e fiz duas perguntas. Nesse mesmo dia, creio, havia sido publicado neste blogue um texto de Miguel Quaresma Brandão intitulado “Uma ‘Cana Verde’ sublime, que entoa Arouca e os arouquenses: autêntica e telúrica!...” em que o autor aludia ao “insigne etnógrafo arouquense Albano Ferreira” e à qualidade dos seus textos sobre Arouca e sobre os arouquenses. O mesmo Miguel Quaresma Brandão voltou ao tema, falando-nos de quem foi Albano Ferreira e refletindo sobre a identidade de Arouca e dos arouquenses. Louvo os seus textos. Aprendemos muito com o que lemos.
   Tenho em casa os três primeiros números da revista Rurália, editada pelo Conjunto Etnográfico de Moldes. Não sei se chegaram a sair mais alguns números desta revista. Pus-me agora a folheá-la à procura de um texto que me diz muito, mas dei com os olhos num outro, que vem muito a propósito disto da identidade de Arouca e dos arouquenses.
O texto da Rurália, do 3º número, é de Geraldo J. A. Coelho Dias, resulta de uma comunicação que apresentou em 1993 e intitula-se “A dialética da ruralidade e da religião em Arouca”. Transcrevo os três primeiros parágrafos.
   “Arouca foi classificada como concelho rural de 2.ª classe e, de facto, a ruralidade, aqui, é visível a olho nu; resulta da própria configuração geográfica da região com vales e serras, mas também das condições sócio-económicas do viver das gentes de Arouca.
   Com efeito, a estrutura geográfica do concelho moldou, de longa data, as condições de vida do homem arouquense, que teve de procurar na terra as possibilidades do seu sustento e a garantia da sua sobrevivência. Assim, o amanho dos campos, sobretudo no vale do Arda e nas leiras e socalcos dos montes e encostas, deu-lhe uma vocação vincadamente rural, agrícola. Por sua vez, as serras altaneiras e imponentes que formam uma coroa de defesa à volta da vila de Arouca, haja em vista a serra do Gamarão a norte, a serra da Mó a nascente e a ecologicamente ainda pura serra da Freita a sul, estas serras favoreceram e estimularam a vida pastoril de muita gente dispersa nas aldeias das alturas e encostas, como Drave, Silveirinhas, Janarde, Covelo de Paivó, Cabreiros, Albergaria da Serra, etc.. Por último, os maciços florestais, a meia encosta, esses atiçaram o trabalho dos lenhadores e a exploração dos madeireiros.
   Temos, portanto, que campos, serras e florestas são os raios vectores ou as matrizes geradoras da ruralidade inata do homem arouquense no passado e no presente. É esta ruralidade, isto é, a espontânea e quase instintiva tendência para a vida agro-pecuária que distingue este concelho de Arouca no contexto dos concelhos portugueses e o torna uma mina inexaurível e fecunda para os estudos de etnografia, um ubi privilegiado de Folclore. No apego à terra, esta gente de Arouca mantém puras e vivas as tradições dum passado distante, mas que são o cordão umbilical da marca de autenticidade do ambiente vital, que aqui se experimenta e frui.”
   Temos, pois, que nisto de procurar dizer a nossa identidade (quem fomos e quem somos, o que nos identifica e o que nos distingue), há várias vozes, distintas, dissonantes, complementares. Talvez sinal de haver identidades mais do que identidade.

8 de dezembro de 2018

Nomes de família originários de Arouca

Não é preciso fazer nem recorrer a qualquer estudo sociológico ou genealógico para verificar a existência de famílias arouquenses, com gerações geradas e criadas em Arouca desde há vários séculos. Há notícia e memória suficiente para o afirmar. Mas podemos dizer que existem nomes de família originários de Arouca?

Para responder a esta questão, não podemos, naturalmente, pensar em apelidos isolados do sobrenome, como, por exemplo, Almeida ou Brandão, mas antes em apelidos "compostos" por baptismo ou casamento, como Almeida Brandão ou Brandão de Almeida. Pois, com efeito, sabendo nós que os nossos apelidos, à excepção talvez de apenas três ou quatro (resultantes de alcunhas), não são originários de Arouca, nem cá chegaram, na maior parte dos casos, por uma mesma e só pessoa do respectivo apelido; regra geral, só é possível falar-se de nomes de família originários de Arouca, por referência a apelidos "compostos" por baptismo ou casamento. Sendo ainda necessário que esses apelidos, que julgo poderem dizer-se "compostos aparentes", se mantenham intencionalmente por mais de três gerações.

E "aparentes" porque, não raras as vezes, tomamos por compostos muitos desses apelidos, quando na realidade, na sua origem, não o são. Castelo Branco ou Corte Real, por exemplo, como facilmente se depreende, são apelidos compostos simples ou originários, outrora unidos inclusive por hífen. O que é diferente de Castelo Branco Corte Real (tudo junto), composto por casamento, e que também existiu entre nós, mas não ao ponto de se poder dizer um nome de família originário de Arouca. De resto, como muitos outros, tanto ou mais conhecidos, normalmente, devido à notabilidade de uma ou outra personalidade, mas cujo apelido composto aparente não se manteve nas gerações seguintes.

Exemplos de apelidos compostos aparentes; nem todos, porém,
nomes de família originários de Arouca
Estes apelidos compostos aparentes, para além de se reportarem a famílias que facilmente identificamos, conhecemos ou já ouvimos falar, são tanto mais relevantes quando sabemos que, mais do que resultantes de uma regulação antiga ou muito rígida, são pouco mais do que mera conformação e convenção de práticas ditadas pelo costume e tradição, para distinção e diferenciação dos membros de determinada família, para além da alcunha, da referência ao lugar ou a um dos progenitores. O que era extremamente relevante quando, em tempo ainda não muito distante, as pessoas, mais do que por si, se faziam valer pelos costados.

Com efeito, como é sabido, o sobrenome, que, na nossa cultura, é constituído pelos apelidos de família, para além de ser recentíssimo por baptismo e/ou registo civil de nascimento, nunca obedeceu a regras muito rígidas e, por isso, não fosse o costume e tradição de fazer perdurar inalterados os apelidos "compostos" pelo baptismo ou casamento na respectiva varonia, dificilmente poderíamos falar em nomes de família (tão comuns) com referência restrita a um qualquer lugar, freguesia ou concelho, pois que o dito apelido composto aparente, só por mera casualidade perduraria por mais do que uma geração.

De resto, é já assim nos nossos dias. Os apelidos compostos aparentes já só por mera casualidade se verificam por mais do que uma geração. Mas houve, de facto, como noutras terras, casos em que perduraram por mais de três gerações, podendo dizer-se nomes de família originários de Arouca. Porém, fruto de maior igualdade e menor condescendência dos cônjuges, estão hoje em extinção, tendo já desaparecido a maior parte deles.

Sentido pelo qual, não é nada descabido olhar os apelidos compostos aparentes, estabelecidos por casamento ou baptismo celebrado na nossa terra e mantidos por razoável número de gerações, como património cultural imaterial de Arouca. Trarei aqui a origem e brevíssima história de alguns deles nos próximos artigos.

6 de dezembro de 2018

Melhor Destino de Aventura do Mundo

O rio e salto Petrohue na Patagónia Chilena são só um entre milhares de exemplos potencializados através de desportos  como rafting ou simples observação da natureza. Exemplar estrutura de apoio; acesso pago; comunidade local integrada nas valências e sustentabilidade  do projecto.


Os passadiços do Paiva ganharam mais um prémio, desta vez o prémio de melhor atração turística de aventura do mundo; importa também referir que no mesmo evento Portugal foi congratulado como melhor destino turístico do mundo.

Muito já se escreveu sobre a vitória de Portugal e a de Arouca mais particularmente da sua atração turística de aventura “Passadiços do Paiva”. Mas se Arouca tem dentro dos seus limites geográficos a melhor atração  de aventura do mundo qual será o país que terá ganho o troféu de melhor país como destino de aventura do mundo: Chile.

Faço referência a isto  pois penso que nós, portugueses e particularmente os arouquenses, poderemos aprender muito com o que de melhor se faz neste país da América do Sul. Maximizam ao máximo todas as suas potencialidades endógenas como montanhas, rios e toda uma outra imensidão de recursos naturais  mas não permitindo que a vertente turística exagerada desvirtue a sua génese. Inserem as comunidades locais nos projectos turísticos responsabilizando-as pelo cuidado e salvaguarda dos mesmos mas fazendo com que estes sirvam de suporte à sustentabilidade das mesmas comunidades. Criam estruturas íntegradas de suporte que enquadradas e introduzidas ao turista são geradoras de receitas. Falo de um simples percurso pedestre, ou uma simples cascata até ao mais majestoso deserto. Criam uma diferenciação entre locais e turistas de forma a beneficiar os primeiros.

Por exemplo um parque como o das pedras parideiras, a frecha da Mizarela, os percursos de BTT, o acesso ao complexo mineiro de Rio Frades seriam, se porventura no Chile, estruturas todas elas potencializadas, de acesso controlado e pago por turistas. Um hipotético parque natural e florestal (e Arouca continua a ser maioritariamente florestal) com árvores autóctones, percursos de BTT e pedestres demarcados, estruturas de apoio e vigulância de acesso controlado seria um exemplo desta potencialização que descrevo.

Não refiro uma exploração e inflação dos preços a reboque da galinha dos ovos d’ouro turística que têm sido os passadiços. Escrevo num caminho sustentado, diversificado e acima de tudo integrador de toda a região. A sabedoria popular costuma dizer que a roda está inventada só necessitamos de a fazer rodar. Turisticamente falando estamos no bom caminho mas podemos sempre fazer melhor ou neste caso como os melhores.

5 de dezembro de 2018

Tempo de Espera e de Esperança

O mês de novembro terminou há pouco. É um mês a que se convencionou chamar mês das almas ou dos defuntos, parecendo que nele se celebra sobretudo a morte. Mas, na realidade, novembro não é um mês de mortos e de morte, mas de vivos e de vida. Aliás, é um mês que começa precisamente com a celebração de Todos os Santos e no seu curso celebramos santos tão populares como São Martinho ou Santo André, a apontar-nos exatamente para outros horizontes que ultrapassam o momento da morte física. Por tudo isto, novembro é sobretudo um mês de esperança e de celebração da vida, recordando com carinho e gratidão todos quantos nos precederam. 

Além disso, e por vontade do Papa Francisco, novembro tem agora mais uma celebração significativa, que é o Dia Mundial dos Pobres. Nessa jornada, fomos convidados a olhar de forma especial para o drama que afeta milhões de irmãos nossos, que vivem muito aquém do nível que requer a dignidade comum a todos os seres humanos; olhar e comprometer-nos a alguma coisa fazer para que o nosso mundo se torne mais justo, mais humano e mais inclusivo.

Agora estamos a iniciar o mês de dezembro. Claro que quando falamos em dezembro nos vem logo à ideia a celebração do Natal. E, de facto, essa é uma festa incontornável, que mexe com todos, crentes e não crentes. Mas, sobretudo para os cristãos, dezembro é muito mais do que a celebração do Natal. É por excelência o mês do Advento, o mês em que somos chamados a preparar-nos para celebrar bem o Natal, para fazer do Natal a celebração efetiva do nascimento de Jesus. 

Por isso, dezembro é um mês de espera, de expetativa e, sobretudo, de muita esperança. O caminho que somos convidados a percorrer ao longo deste mês faz-nos acreditar que o Deus Menino continua a nascer nos nossos corações e na nossa vida, se fizermos redobrado esforço de tornar o nosso coração mais fraterno e acolhedor, onde há lugar para Deus e para os irmãos que nos rodeiam ou que encontramos no nosso caminho, especialmente os mais carenciados e necessitados da nossa atenção e do nosso carinho.

Que também pelas nossas terras de Arouca façamos deste mês de dezembro um caminho fraterno e solidário, feito de partilha e de dedicação, para que aconteça Natal em todas as casas e em todas as vidas.

Pe. José Agostinho Sousa