11 de dezembro de 2018

Melhor Atração de Turismo Aventura do Mundo!!!

Ainda a comemorar a entrega do prémio de melhor atração de Turismo Aventura do Mundo ao Município de Arouca com o projeto “Passadiços do Paiva”, que considero relevante para a continuidade da estratégia política deste e do anterior executivo, focado essencialmente no Turismo e no desenvolvimento do setor terciário, não consigo evitar que dúvidas ou incertezas assombrem este orgulho que sinto enquanto arouquense. Dúvidas essas que se me colocam acerca da preservação ambiental, designadamente do ecossistema, flora e fauna existentes no rio Paiva e que pelo número reduzido de espécimes são consideradas raras ou em risco de extinção, privilegiando de normativas europeias de proteção. Refiro, a título de exemplo, as lontras, as toupeiras-de-água, as borboletas, algumas aves, peixes e a vegetação ripícola, onde se salientam bosques com amieiros, freixos e carvalhos alvarinho. Apesar de menos referenciada pelo reduzido número de avistamentos, é também de salientar a presença da águia de asa redonda que imponente voa e plana no rio Paiva, de montante a jusante, e vice-versa, presença que estará na origem do nome da Cascata das Aguieiras, por ser conhecida como local onde as águias nidificavam. Será pacífica a coexistência entre este projeto de grande afluência de turistas e a preservação destes ecossistemas???


Sem querer tirar o mérito aos Passadiços do Paiva que têm como objetivo tornar acessível à população as margens do Rio Paiva, para fruição da beleza paisagística e para educação e sensibilização ambiental, passados 3 anos, penso ser altura de passar do “Verbo” à “Ação” e implementar mais medidas que protejam de facto este património natural de valor incalculável: limitar mais o número de visitantes por dia; criar alternativas à circulação automóvel poluente utilizando veículos elétricos para transbordo entre pontos de acesso; melhorar a planificação e gestão dos resíduos; garantir que os esgotos provenientes das populações e lugares ribeirinhos sejam alvo de tratamento em ETARs, eliminando as tradicionais fossas ou o esvaziamento através de cisternas; melhorar a segurança rodoviária em estradas perigosas pela sinuosidade que apresentam; aumentar e enquadrar paisagisticamente o número de parques de estacionamento que, na minha opinião, deveriam ser pagos; melhorar estruturas de acolhimento - maior número de WC e já agora substituir os WC em contentores na praia fluvial do Vau; realizar obras nos esquipamentos das praias fluviais do Areinho e Paradinha e dotá-los de painéis solares capazes de forma a evitar o recurso a geradores; procurar garantir a colocação de rails de proteção na estrada que serve o lugar da Paradinha, à semelhança dos rails colocados para acesso ao lugar de Meitriz, etc.

Estas são apenas algumas das muitas intervenções que serão necessárias realizar a médio prazo, para que o nosso património natural seja “preservado” e sofra o menor impacto possível e para que as expectativas colocadas nos Passadiços do Paiva e, para o ano, na maior ponte pedonal suspensa do mundo, não sejam defraudadas, sob pena dos holofotes dos media se virarem contra nós.

Os prémios acarretam responsabilidade e compromisso e, havendo clareza de visão, discernimento e juízo crítico, não é necessário ser adivinho para antever onde serão aplicados os orçamentos municipais dos próximos anos. Enquanto arouquense, espero que o dinheiro público investido seja utilizado de forma criteriosa, equilibrada e que vise o desenvolvimento de uma solução sustentável.

Sem querer alongar este meu artigo que já vai extenso, acrescento que é premente angariar financiamento comunitário quer para a ponte pedonal suspensa, quer para a ligação desta junto à Cascata das Aguieiras à aldeia de Alvarenga, atravessando os lugares da Chieira em direção à Ribeira, Miudal ou Santo António.

Também esta ligação deverá ser planificada em respeito pelas características rurais, preservando-se caminhos, regos de água, muros, fontes e fontanários que tão bem caracteriza Alvarenga e que é um elemento cultural diferenciador a respeitar.

Enquanto alvarenguense, espero igualmente que as tão almejadas obras na Quinta da Picota sejam uma realidade a curto prazo e não se tornem promessas vãs nem ideias que não saem do papel, hasteadas como bandeiras de campanha eleitoral, como a malograda 2.ª fase da Variante de Arouca, a “marinar” há mais de 12 anos.

A par com os investimentos no Turismo em Alvarenga, sugiro que se diversifique ainda a oferta com a criação de um percurso pedestre de índole cultural e histórico, aproveitando a ligação da ponte pedonal suspensa à aldeia de Alvarenga, iniciando na Chieira, atravessando a Vila, o Passal, o Paço, Quintela, Ribeira, Trancoso, Casais, Picota e terminando em Miudal ou em Santo António. Neste percurso cultural e histórico, poder-se-ia (re)visitar a história de Arouca/Alvarenga (e à sua semelhança a história nacional), abarcando pelo menos onze séculos de história (X-XXI), abordando temas como as antigas “vila” romanas, a Reconquista Cristã, a proeminência da família de Egas Moniz – o Aio, preceptor de Afonso Henriques, a atribuição das cartas de foral manuelinas, que fez de Alvarenga concelho, o que se manteve até ao séc. XIX, as Ordenanças de Alvarenga, as invasões francesas, a exploração mineira de volfrâmio tendo no lugar da Chieira ocorrido a 1.ª concessão mineira em 1911, a separadora do volfrâmio da Espinheira sita no lugar da Vila, onde hoje está instalado o Hotel Quinta da Vila, o Motim de 1942 e o contrabando de minério por altura da II Guerra Mundial, a emigração para o Brasil, com especial atenção para a figura de Adriano Telles, fundador do café A Brasileira, o poder e a influência de famílias de Alvarenga junto do governo central, designadamente dos Galvão, dos Telles e dos Noronhas, a construção do rego do Boi, que atravessa desde a Serra todo o vale de Alvarenga, desaguando na Cascata das Aguieiras, etc.

Para terminar (mesmo!) há que festejar e ter orgulho em Arouca e nos Passadiços do Paiva – e futura ponte pedonal suspensa – acreditar na boa gestão local e acompanhar, sempre atentos, o desenvolvimento das políticas locais, numa atitude de cidadania participativa, consciente e responsável porque, como vemos, há muito trabalho a fazer e um mar de oportunidades a rentabilizar!