8 de dezembro de 2018

Nomes de família originários de Arouca

Não é preciso fazer nem recorrer a qualquer estudo sociológico ou genealógico para verificar a existência de famílias arouquenses, com gerações geradas e criadas em Arouca desde há vários séculos. Há notícia e memória suficiente para o afirmar. Mas podemos dizer que existem nomes de família originários de Arouca?

Para responder a esta questão, não podemos, naturalmente, pensar em apelidos isolados do sobrenome, como, por exemplo, Almeida ou Brandão, mas antes em apelidos "compostos" por baptismo ou casamento, como Almeida Brandão ou Brandão de Almeida. Pois, com efeito, sabendo nós que os nossos apelidos, à excepção talvez de apenas três ou quatro (resultantes de alcunhas), não são originários de Arouca, nem cá chegaram, na maior parte dos casos, por uma mesma e só pessoa do respectivo apelido; regra geral, só é possível falar-se de nomes de família originários de Arouca, por referência a apelidos "compostos" por baptismo ou casamento. Sendo ainda necessário que esses apelidos, que julgo poderem dizer-se "compostos aparentes", se mantenham intencionalmente por mais de três gerações.

E "aparentes" porque, não raras as vezes, tomamos por compostos muitos desses apelidos, quando na realidade, na sua origem, não o são. Castelo Branco ou Corte Real, por exemplo, como facilmente se depreende, são apelidos compostos simples ou originários, outrora unidos inclusive por hífen. O que é diferente de Castelo Branco Corte Real (tudo junto), composto por casamento, e que também existiu entre nós, mas não ao ponto de se poder dizer um nome de família originário de Arouca. De resto, como muitos outros, tanto ou mais conhecidos, normalmente, devido à notabilidade de uma ou outra personalidade, mas cujo apelido composto aparente não se manteve nas gerações seguintes.

Exemplos de apelidos compostos aparentes; nem todos, porém,
nomes de família originários de Arouca
Estes apelidos compostos aparentes, para além de se reportarem a famílias que facilmente identificamos, conhecemos ou já ouvimos falar, são tanto mais relevantes quando sabemos que, mais do que resultantes de uma regulação antiga ou muito rígida, são pouco mais do que mera conformação e convenção de práticas ditadas pelo costume e tradição, para distinção e diferenciação dos membros de determinada família, para além da alcunha, da referência ao lugar ou a um dos progenitores. O que era extremamente relevante quando, em tempo ainda não muito distante, as pessoas, mais do que por si, se faziam valer pelos costados.

Com efeito, como é sabido, o sobrenome, que, na nossa cultura, é constituído pelos apelidos de família, para além de ser recentíssimo por baptismo e/ou registo civil de nascimento, nunca obedeceu a regras muito rígidas e, por isso, não fosse o costume e tradição de fazer perdurar inalterados os apelidos "compostos" pelo baptismo ou casamento na respectiva varonia, dificilmente poderíamos falar em nomes de família (tão comuns) com referência restrita a um qualquer lugar, freguesia ou concelho, pois que o dito apelido composto aparente, só por mera casualidade perduraria por mais do que uma geração.

De resto, é já assim nos nossos dias. Os apelidos compostos aparentes já só por mera casualidade se verificam por mais do que uma geração. Mas houve, de facto, como noutras terras, casos em que perduraram por mais de três gerações, podendo dizer-se nomes de família originários de Arouca. Porém, fruto de maior igualdade e menor condescendência dos cônjuges, estão hoje em extinção, tendo já desaparecido a maior parte deles.

Sentido pelo qual, não é nada descabido olhar os apelidos compostos aparentes, estabelecidos por casamento ou baptismo celebrado na nossa terra e mantidos por razoável número de gerações, como património cultural imaterial de Arouca. Trarei aqui a origem e brevíssima história de alguns deles nos próximos artigos.