8 de setembro de 2019

MUITO OBRIGADA, Adília Cruz!


Confesso …tenho vivido dias de emoções estranhas, diferentes e mesmo opostas. O início do ano lectivo está cada vez mais próximo e o conjunto de actividades que o antecedeu foi mesmo muito interessante. Como sempre, a escola sabe receber com simpatia e delicadeza os docentes que chegam de longe para viver uma realidade diferente que os espera para novas e reinventadas estórias de e para a educação.

Há uns dias que eu sabia! Conheço-te demasiado bem para não ser capaz de antever que um dia destes, por razões que tu própria conheces e sentes, serias capaz de dizer: 
Basta, vou-me embora!
E tu fizeste-o! 

Ao fim de alguns anos de  extrema dedicação a uma escola, a um agrupamento e a um conjunto de seres diversos e diversificados em formas de pensar e estar na escola e na vida, porque não suportas a ingratidão, porque não toleras a ausência de reconhecimento de um trabalho e de uma missão ao qual te entregaste plenamente e que ultrapassou, em muito, os portões da escola, tiveste a coragem de dizer: NÃO!.

Alguns de nós fomos completamente apanhados de surpresa…muitos serão aqueles que vão agora ter a noção que não estavas agarrada a um cargo que ocupavas por eleição e, sobretudo, devido a um currículo invejável que foste construindo desde que trabalhavas num estabelecimento comercial da vila!

Quase a terminar o último ano lectivo foste, miseravelmente, enxovalhada como não há memória de o ter sido algum dirigente de uma qualquer instituição em Arouca. Esquecendo que, por detrás da directora, está a mulher e a mãe, trataram-te com um desprezo inqualificável que te magoou mas que não te afastou do caminho. E era, absolutamente, mentira aquilo que se propagava…

Eu que estive, desde o primeiro momento, em todo o processo contigo e com a direcção, afirmo agora, pela primeira e última vez, porque não posso e não quero calar mais tempo, esta que é a verdade irrefutável: nunca existiu assédio, agressão ou violação sexual de qualquer aluno na escola. Há brincadeiras de miúdos que são penalizadas, sem contudo revestirem esta gravidade! Mas as mentiras repetiram-se vezes sem conta…para ver se te destruíam, com propósitos mesquinhos de quem faz da maledicência uma forma de vida.

Apesar de tudo, resististe estoicamente! 
É que tu, Adília Cruz. nunca deixaste que a escola fosse gerida de fora para dentro, nunca embarcaste em pressões,  aberrações, petições de demissões ou mesmo face-expulsões…

Dirigiste a minha escola como ninguém! Coordenaste uma escola que nos três domínios contemplados pela avaliação externa tem, em todos eles, a avaliação de Muito Bom; apoiaste sempre com muito orgulho os prémios nacionais e internacionais conseguidos pela escola. Uma escola que, sem uma liderança forte e empenhada como a tua, nunca se poderia afirmar pela “Identidade e Excelência” como tu sempre preconizavas!

Tens uma capacidade de trabalho que muito admiro, desde passar noites sem dormir a fazer todos os horários com uma pequena equipa, até à variedade de formações e de reuniões em que participavas para que a escola estivesse sempre informada, para que nada nem ninguém nos ultrapassasse do que de mais recente se pensava em termos de educação.

Apostaste, com uma inegável veemência, nos cursos profissionais  e conhecias ao pormenor cada turma procurando adequar as equipas pedagógicas ao contexto de cada realidade. Exigias critérios de avaliação rigorosos e monitorizavas, através das várias estruturas intermédias, o trabalho de cada um de nós. Conheces-nos como ninguém e nunca abandonaste qualquer aluno ou professor em momentos de dificuldade. Há uns anos, um dos meus filhos rapazes foi internado no Hospital da Feira e tu não me deixaste ir sozinha, estando ao meu lado até chegar um dos meus familiares. O mesmo vi acontecer com outros colegas que viveram momentos muito complicados.

Se estivemos sempre de acordo? Não…nem pensar…
Eu até criticava essa mania de “querer tudo para ontem”, de estar sempre na primeira linha da implementação das novidades pedagógicas…eu até te disse algumas vezes que se o ministro, em Lisboa, pensava uma inovação curricular, tu já a implementavas no mesmo dia. 

Eras uma directora por missão…que muito fizeste (e por certo vais continuar a fazer) por meninos que te abordavam ou que tu desconfiavas que algo de grave se passava: interrompeste abusos familiares, acabaste com violências, cuidaste de alunos com ímpetos suicidas, arrancaste vítimas a predadores…Enfrentaste juízes, magistrados e tribunais em defesa daqueles miúdos que ainda hoje te enchem o coração. Acolheste os meninos de S. Tomé e Príncipe e acompanhaste todo o seu percurso pessoal, escolar e profissional até aos dias de hoje! Mas isto nunca o divulgaste…fui-me apercebendo ao longo dos 30 anos que sinto a Escola Secundaria de Arouca como minha!

Alguns, lamentavelmente, regozijam-se com a tua atitude e dizem que “Já vais tarde!”, pois eu acrescento que não vais tarde nem cedo, vais no momento que voluntária e conscientemente, decidiste que o deverias fazer porque, minha amiga,  tu nem sequer precisas de ser directora para te afirmares como grande profissional que és e serão,  agora, os alunos que terão à sua frente uma excelente professora de Geografia cujo lema foi, é e será sempre “A ESCOLA NÃO DESISTE DOS SEUS ALUNOS”!

Em meu nome pessoal e dos meus filhos que ajudaste a formar como cidadãos, quero agradecer a pessoa que és e que, por certo, vais continuar a ser, em prol de alunos de excelência e, sobretudo, de alguns meninos, menos favorecidos, que sempre verão em ti um infinito, sereno e esperançado porto de abrigo…

Por tudo isto…

Muito Obrigada, Adília Cruz!
Rosa Sousa