31 de dezembro de 2020

Mais uma importante descoberta em Escariz

O Roda Viva Jornal dá-nos hoje notícia de mais uma importante descoberta em Escariz, freguesia conhecida pela existência de vários vestígios e sítios arqueológicos. Desta feita, trata-se de um belíssimo lajeado, descoberto em sequência da movimentação de terras para construção da Variante entre Escariz e Milheirós de Poiares.

Ainda não se saberá ao certo o período histórico a que remonta a descoberta, mas, pela sua aparência, parece-me muito provável tratar-se do troço de uma antiga via romana, muito possivelmente do hipotético eixo viário secundário que ligava Santa Maria da Feira a Arouca, cruzando as então duas principais vias que atravessavam esta região: a Via Cale-Olisipo (Porto-Lisboa) e a Via Cale-Vissaium (Porto - Viseu). 

Ou até mesmo da própria Via Cale-Vissaium, que, no seu percurso inicial liga o Porto à denominada serra de Arouca e desta segue por São Pedro do Sul até Viseu, cujo troço, apesar de incerto, por não se ter confirmado ainda o ponto de derivação (se junto ao Castro do Monte Murado (Carvalhos), se mais à frente no castro de Monte Redondo (Fiães), mas que, em qualquer dos casos, atravessa a atual freguesia de Escariz.

De resto, nesta mesma freguesia, no sítio do Alto do Coruto, terá mesmo existido um castelo roqueiro associado ao controle da via Porto-Viseu, onde esta cruzava com uma via proveniente do castro de Arouca rumo ao litoral, passando junto ao castro de Romariz e por Santa Maria da Feira, até ao mar.

De Escariz a Arouca, aquele referido primeiro hipotético eixo viário romano, seguiria até ao cruzamento da Urreira, depois pela estrada velha de Ver, passando por Barrosas, até ao lugar da Estrada, freguesia de Mansores, continuando depois por Agras e Abitureira, até à travessia do rio Arda na ponte de Fontão Longo, freguesia de Tropeço, passando junto ao casal de Malafaia, na freguesia de Várzea, pela capela de São Lourenço, freguesia de Urrô, por Minhãos e Moção, freguesia de Santa Eulália, e desta a Arouca. 

Curiosamente, o traçado que há cerca de vinte anos apontei como mais indicado para a Via Estruturante de Arouca ao Litoral.

Não deixa também de ser muito curioso, ainda que previsível, dado o conhecimento da sua existência, que a tão almejada moderna ligação de Arouca à Feira, traga a descoberto troços da muito provável e antiga ligação romana da Feira a Arouca. Os quais, em todo o caso, pela sua inegável importância arqueológica, vale muito a pena estudar, classificar e preservar.

23 de dezembro de 2020


20 de dezembro de 2020

SIM! É NATAL!


Sim, já é Natal! Já as luzes se acendem na cidade,
Que se banqueteia em seu faustoso brilho;
Já as gentes se afadigam em loucas correrias,
Empurrando todos, no seu apressado trilho.
 
Sim, já é Natal! Mas a Terra continua chorando
A dor imensa dos seus filhos que sofrem:
A infância que não é, no coração das crianças
Sem pão, sem lar, sem ter quem as amem…
A velhice ao desamparo em profunda solidão,
Na falta de aconchego que só o amor impede…
A guerra que lá longe faz ribombar corações,
Sufocados pela dor que a ambição não mede…
As florestas queimadas, sem vida, desolação…
Humanidade tonta, destrói tudo num repente,
Animal enraivecido, que de tudo se acha dono,
Devastando o Lar que o acolhe em seu ventre.
 
Mas…sim!! É Natal!! Já outras mãos se abrem em Amor!!
Enquanto uns correm, se apressam loucamente,
Trabalham tantos outros, minorando sofrimentos,
Doando vida a outras vidas que acalentam, docemente
Em seus braços, abrigando, servindo, amando,
Trilhando ruas sem brilho, onde a solidão chora,
Onde o frio gela a alma e a fome embrutece,
Onde só o Amor resgatará a tristeza que ali mora.
 
Sim, é Natal!! Enquanto alguém se “esquecer” de si
E se doar a outro alguém, olhando-o como igual,
A Terra, grata, rejubila, enxuga o pranto e bendiz:
Cresça a Paz, em borbotões de Luz! SIM!! É NATAL!!

Torrão Natal


Guardado por alterosas montanhas
Nas suas faldas roçadas encaixado
Este vale de qualidades tamanhas
P'los caprichos orográficos afagado

P'los caprichos orográficos afagado
Pela intercessão Mariana protegido
Um destino sempre muito desejado
Por quem nele se viu à vida trazido

Por quem nele se viu à vida trazido
Nos seus campos desenvencilhado
Nunca será deste vale desaparecido
Pois a ele estará sempre destinado

Pois a ele estará sempre destinado
Quem vai com o aperto da saudade
Para realização do sonho desejado
De nele vir completar a felicidade

16 de dezembro de 2020

Apesar do ultra-centralismo, Hospital de Santo António, no Porto, é o melhor hospital pelo sexto ano consecutivo

O Hospital de Santo António (que diz muito a Arouca e aos Arouquenses) foi distinguido, pelo sexto ano consecutivo, como o melhor hospital de Portugal, na área da excelência clínica, numa avaliação da consultora multinacional IASIST, segundo os critérios de classificação das unidades de saúde definidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). No grupo E, dos maiores e mais complexos hospitais, o vencedor foi o Centro Hospitalar Universitário do Porto, EPE. Também outros hospitais da Região Norte (de Braga, de Barcelos e a Unidade Local de Saúde do Alto Minho) foram, noutros grupos, os vencedores.

Confirma-se, mais uma vez, aquilo que referiu o prestigiado investigador 'portuense e arouquense' Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e director do IPATIMUP, de que, apesar de existir o ultra-centralismo ultra-parasita de Lisboa e arredores no campo da Saúde, os hospitais do Porto são os melhores hospitais de Portugal (tradição que já é muito antiga e enraízada e que tem a ver com a idiossincrasia identitária das gentes do Porto e do Norte),  estando, habitualmente, no topo do 'ranking' dos melhores hospitais portugueses, apesar de terem menos fundos e financiamento que os hospitais de Lisboa e arredores, devido a esse pernicioso e viciado ultra-centralismo ultra-parasita lisboeta, que tem de ser extinto, de vez, com muita urgência, com a concretização real do processo de Regionalização:


Certamente que estes resultados dessa avaliação são, mais uma vez, motivo de satistação para os habitantes e para os profissionais de Saúde da Área de Metropolitana do Porto e da Região Norte, relativamente aos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que, como é óbvio, deve ser, cada vez mais, reforçado e expandido, porque existem, na realidade e na verdade, muitos fundos para o SNS ser sempre sustentável e ser, progressivamente, aperfeiçoado. Esses fundos têm é que deixar, de vez, de ser, maioritariamente, canalizados e aplicados em Lisboa e arredores, tal como tem vindo, infelizmente, a acontecer, de modo muito injusto e imerecido...Assim, a concretização lúcida e racional do processo de Regionalização é uma das reformas estruturais mais urgentes e mais necessárias para bem de Portugal como um todo e para bem de todos os Portugueses, em todos os campos do seu sistema social...   

Hospital de Santo António - Porto
foto: JN

14 de dezembro de 2020

Aqui no alto…


Ergueram-se aos Céus por Fé e devoção
A capelinha, a casa da ceia e o Cruzeiro
Neste monte entre a Freita e o Gamarão
Onde se fez lenda o cristão prisioneiro

Onde se fez lenda o cristão prisioneiro
dentro de uma arca segura por uma mó
por fazer preces neste monte altaneiro
Viu-se molestado sem piedade nem dó

Viu-se molestado sem piedade nem dó
Sem nunca ceder à sua Fé e devoção
Ficou para sempre da Senhora da Mó
Este monte entre a Freita e o Gamarão

Este monte entre a Freita e o Gamarão
Que do vale se levanta sobranceiro
Encimado pela Cruz acesa na escuridão
Onde se fez lenda o cristão prisioneiro

11 de dezembro de 2020

A Pensar Alto! Os Velhos

Há dias quando lia o jornal diário dei por mim a tentar assimilar o que representavam os números que iam surgindo, todos tendo por base a velhice em Portugal. Era uma descrição verdadeira mas não deixa de ser surpreendente como chegamos a este ponto. Os velhos agora tratados por idosos como se esta mudança de designação fosse como acrescentar açúcar a um café muito azedo e difícil de tomar, são cada vez mais, e ao longo destes últimos anos, foram se refinando as diversas  maneiras de ir tapando o sol com a peneira, mas o raio do vírus acaba por obrigar toda a gente a olhar bem de frente para a questão. Temos uma população com idade avançada e com este mediatismo passou a ser assunto diário.
Encontravam-se abandonados nos hospitais do nosso País, alguns há anos, mais de 1500 velhos, sem quaisquer perspetivas de solução, deitados, à espera que a burocracia instalada, principalmente quando se é pobre há sempre muita, arranjasse uma solução ou os dias trouxessem uma doença mais grave das que não perdoam. De repente tudo se mexeu e lá se esvaziaram as camas para a emergência dos dias de hoje sempre com o desenrascanço tradicional. Temos perto de 7500 lares, centros de dia e serviços de apoio domiciliário, uns legais outros ilegais uns a pagar muito, outros a pagar menos numa panóplia de tabelas que ninguém entende mas em muitos espera se pela morte muito em conta. Uns pagam o que tem e o que não tem, outros pagam muito menos com critérios de olho clínico para as questões, cada caso é um caso.  Temos 40000 velhos a viver sozinhos e só 20%  o fazem na própria casa, a maioria das vezes sem condições para novos quanto mais para gente com mais de 70 e 80 anos. Já nem quero escrever sobre os mais de 1500 velhos que têm mais de 90 anos. Não é difícil imaginar como muitos Portugueses terminam a sua vida. Agora com esta situação de crise pandémica tenta se recuperar o desleixo com que se olhou para esta situação ao longo dos anos. Afinal a malta dos lares tão estimada quando de eleições, tem muitos problemas, muitas carências, acumula muitas indignidades, e o Estado que tantos anos viveu à custa deles, vai arranjando umas soluções económicas porque o dinheiro é pouco e a malta do capital precisa de todas as migalhas. Onde já se viu investir num negócio sem solução à vista?
O nosso serviço Nacional de saúde está a passar algumas dificuldades desde que surgiu a pandemia. As consultas para os doentes crónicos diminuíram tanto que há doentes que acreditam ser algum santo que ainda os mantém vivos. As consultas ao médico de família, num centro de saúde, por exemplo no nosso, passaram a ser tipo raspadinhas, pode ser que sim pode ser que não. Quem inicia a saga de uma consulta, se telefonar não é atendido, se lá vai, mandam telefonar, o médico não aceita consultas, se está lá não atende, nem o Kafka conseguia um enredo destes. Cada dia é um dia e vai se vivendo assim. Já agora num dos últimos dias de Novembro não havia no nosso Centro de Saúde gel para higienizar as mãos, a resposta que obtive quando alertei a questão foi simples, não há. Num centro de saúde não se conseguia cumprir um dos novos  quatro mandamentos, a solução é levar as mãos limpas. Não está fácil ser velho, doente e ter poucas possibilidades económicas. Para quem tem algum ainda se vai remediando nos privados e mais não digo. Está tudo muito ligado e uma coisa é certa, se não vais de novo, de velho não escapas, é com essa fé que muitos se vão deixando ficar cada vez mais isolados e sozinhos. Ou se calhar sou eu que com tanto confinamento, recolhimento e tratamento  vou tendo umas alucinações de que é muito difícil acreditar no melhor, agora comer e calar isso não. Siga.

6 de dezembro de 2020

Devaneios - a estrada para Alvarenga

Conduzir tendo por companhia apenas os meus pensamentos, ou a ausência deles, é um dos prazeres que tenho, sobretudo se a condução acontecer sem pressa e se for pelas estradas sinuosas de Arouca.  Estas entregam-se voluptuosamente, caem aos nossos pés e guiam-nos por entre a respiração verde, húmida e sussurrante, em letargia, presa no mesmo lugar, entre o antes e o depois, entre o que já passou e o que está por vir, sem tempo, sem cronómetro nem relógio, alheia a qualquer pensamento, vontade ou emoção do visitante, um ponto efémero e ao mesmo tempo eterno, como efémeras e eternas são as manifestações da natureza que ciclicamente e sistematicamente existem e se repetem, em monotonia perfeita, pacífica, inexplicável…


Envolta em suaves brisas que teimosamente empurram a neblina diáfana, sepulcral e mística, observo e contemplo as montanhas, os sobreiros, os carvalhos, os socalcos construídos com os despojos das pedras esventradas pelo Homem...

A estrada está vazia.

Não há mais carros.

Desligo o rádio para ouvir melhor o silêncio.

Sinto-me a percorrer ritmadamente e a deambular no corpo das montanhas. 

Sinto as suas concavidades, subo os altos, desço os desfiladeiros, conquisto as encostas mais íngremes e as zonas mais encrespadas…

Perco-me no tempo.

Devaneio.

Não penso, só sinto.

Não sei o quê.

Invade-me uma paz messiânica (ou sebastiânica?).


Chego ao destino.

5 de dezembro de 2020

A nutricionista Ana Bravo visitou os Passadiços do Paiva, em Arouca

No passado mês de Novembro, a nutricionista Ana Bravo visitou os Passadiços do Paiva e publicitou esse facto no Instagram, com três 'posts', três fotografias e quatro vídeos...
Aprecio muitíssimo a defesa e a promoção que esta célebre nutricionista portuense e transmontana faz da Dieta Mediterrânica (onde se insere a gastronomia de Arouca): tipo de dieta que é, cada vez mais, reconhecida pela sua excelência frugal e pelos seus benefícios para a saúde humana...

E a nutricionista Ana Bravo, sem hesitações, constata: " A descrição dos PASSADIÇOS DO PAIVA é simples: são lindos! 🧡🧡Conhecem? "
Como sigo o Instagram da Ana, de imediato fiz-lhe o seguinte comentário, que ela agradeceu: " Está no meu concelho natal: Arouca. Tantas vezes que percorri o rio Paiva! É lindo! Penso que também deve visitar a vila de Arouca, que é linda! Os restaurantes e a gastronomia são excelentes. 👏"
Foi, sobretudo, no tempo da infância e da adolescência que percorri, muitas vezes, o rio Paiva, na altura em que acompanhava, frequentemente, alguns familiares meus, na pesca desportiva de truta fário no rio Ardena, afluente do rio Paiva, perto de Espiunca. Desde Rôssas ao rio Ardena, quando passávamos por Canelas durante a viagem, os meus familiares, no automóvel, referiam-me sempre que a mãe de meu avô, senhor António de Almeida Brandão, minha bisavó, Maria Soares de Figueiredo (que foi morar para a Casa de Telarda, em Rôssas, por se ter casado com o meu bisavô da Casa de Telarda) era da Família Soares de Figueiredo, da Quinta do Toural - Canelas. Como se sabe, os 'de Almeida Brandão' (da Casa de Telarda - Rôssas) e os 'Soares de Figueiredo' (da Quinta do Toural - Canelas), meus familiares directos pela linha paterna, são, como bem descreve este blogue, duas das famílias tradicionais mais emblemáticas de Arouca.    


A presença da nutricionista Ana Bravo em Arouca, nos Passadiços do Paiva, devido à sua defesa e promoção da Dieta Mediterrânica, é muito simbólica, sobretudo no sentido em que nos remete para a ideia que se deve, cada vez mais, reforçar e associar a gastronomia e a doçaria de Arouca aos Passadiços do Paiva e à Ponte 516 Arouca.
Porque as pessoas que nos visitam, nesse local identitário maravilhoso de Arouca, também ficam a conhecer, simultaneamente, dois dos elementos identitários melhores e mais valiosos de Arouca e dos Arouquenses, que são a sua gastronomia e a sua doçaria.      

1 de dezembro de 2020

ONLocal - está ON?

Foi hoje, 1 Dezembro, apresentada uma campanha do Município de Arouca que procura  promover as vendas no comércio tradicional e local. Após consulta do site da Câmara ficamos a saber que a campanha consiste  na distribuição de "sacos pelas lojas cuja a mensagem apela à compra em Arouca" e "um catálogo com vários produtos das lojas locais que inclui vouchers de oferta/desconto" e uma loja online. 

Não consegui destrinçar em que é que esta segunda parte da campanha se traduzirá, mas será certamente esta a que mais poderá fazer pelos comerciantes arouquenses. No global parece-me que é possível e obrigatório fazer mais.

Segundo o site, a campanha decorrerá durante este mês e ao longo do próximo ano. Tendo em conta as condições que vivemos de pandemia e as dificuldades gigantescas que os comerciantes atravessam, a que acrescem as consequentes dificuldades das suas famílias combinando esta dicotomia temporal vendedor/cliente e tendo  também em consideração que a autarquia deixou de gastar/investir muitos milhares de euros em actividades que foram adiadas ou canceladas pela covid19 ao longo do corrente ano, penso que seria esta a altura para "investir" de forma muito mais forte neste incentivo à compra no comércio concelhio.

Uma boa ideia seria a de criar uma dinâmica de economia circular através da entrega de vouchers aos clientes  nas compras realizadas em lojas de Arouca que poderiam ser trocados por dinheiro num valor de 10% da compra, mediante apresentação da factura com contribuinte na entidade coordenadora, com um limite mínimo de 25 Euros e máximo de 1000 por factura. Esta dinâmica poderia ser realizada durante o mês de Dezembro de 2020, como sabemos um dos meses mais fortes em termos de  comércio. 

Ao longo do ano 2021 esses vouchers poderiam dar direito a inscrição em concursos que semanalmente ou mensalmente atribuiriam novos vouchers de desconto no comércio local, promovendo assim a economia circular e local.

São duas sugestões que apesar de acarretarem um investimento grande por parte da autarquia me parecem importantes e necessárias.

Importante, independentemente de campanhas, será uma consciencialização que na possibilidade de opção, opte por comprar cá, no que é nosso. Compre no comércio Arouquense!

30 de novembro de 2020

Câmara Municipal incentiva e premeia a defesa, preservação e valorização de património por privados e particulares

Não é verdade, mas podia e devia ser. Com efeito, urge mudar o paradigma de relacionamento das autarquias, Câmara Municipal e Juntas de Freguesia, com os privados e particulares detentores e proprietários de sítios, edificações, elementos e objectos de reconhecido valor e importância histórica.

Não se pode mais estar à espera que os privados e particulares não façam o que não devem fazer, agindo apenas nos casos em que já quase nada se pode para evitar prejuízos e perdas, quantas vezes irreparáveis e insubstituíveis. É preciso inverter esta lógica de agir apenas em situações de prejuízo e perda, passando a incentivar, acompanhar e premiar quem valoriza e faz bem.

Se é possível e meritório premiar o efémero, temporário e imaterial, como acontece, e bem, em vários domínios e contextos, vale a pena pensar em premiar também o perene, duradouro e material. O património privado e particular ou classificado sito em propriedade privada, com importância, significado e valor para a nossa memória e história individual e colectiva.

Não estivesse já o património incluído nas atribuições do município e particularmente da Câmara Municipal em articulação com as freguesias, com vista à promoção e salvaguarda dos interesses próprios das respectivas populações, se é possível incentivar e promover, por exemplo, a criação de raça arouquesa por privados e particulares, sê-lo-á mais ainda incentivar e promover a preservação e valorização de bens com reconhecido valor histórico e patrimonial.

Talvez assim, só assim, se consiga inverter uma alegada incapacidade da Câmara Municipal e Juntas de Freguesia em sensibilizar, protocolizar e assegurar modos de salvaguarda e divulgação de património privado e particular ou património classificado sito em propriedades particulares, impedindo danos, destruições e perdas irreparáveis e permitindo ao mesmo passo a fruição, mais próxima ou mais distante, por terceiros.

Com a implementação de um prémio desta natureza, criava-se um momento anual, - que poderia ser no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios -, também para divulgação e incentivo de boas práticas, servindo ao mesmo tempo para condenar práticas em sentido diverso e sair deste marasmo recorrente em que, face a danos, destruições e perdas, alegadamente, nada se pode fazer.

28 de novembro de 2020

Senti tristeza com a surpresa que tive

 





Há algum tempo que não escrevia neste blog, por diversas razões que à direção já expliquei. Voltei a fazê-lo porque numa destas minhas ultimas voltas habituais que realizo de BTT pelas estradas e trilhos do concelho, deparei-me com uma situação que me deixou bastante triste. E que certamente, não só a mim deixará.

No lugar da Povoa, em Moldes, existia uma casa, velha, desabitada, mas ainda em pé que fazia as minhas delicias sempre que por ali passava. Até acho que a fotografava sempre que lá passava. Fazia-o por tudo. Pela lição de história que esta nos dava. Pela lição de engenharia que era. E mais que tudo, um património arquitetónico que deveria ser cuidado e preservado para a tão necessária memória futura.

A varanda desapareceu. A casa foi amputada. Foi como se lhe tivesse cortado um “membro”. Não mais será a mesma. Seguramente, não voltará a ser fotografada pelas pessoas que percorrem aquele Percurso pedestre que por ali passa.

Decerto, e salvaguardo desde já, que este ato foi feito seguramente feito com a melhor das intenções. O propósito de quem o fez foi para si o melhor. Possivelmente, a dezena de carros que passa por aquele sitio por dia pode agora passar mais depressa. Mas a casa essa nunca mais será a mesma e é de facto uma enorme perda para o local e para todo o património arquitetónico municipal.

Em resumo a mensagem que quero deixar com este texto é apenas no sentido de apelar para que existam cuidados na salvaguarda do património arquitetónico e que se evitem a realização de atos como este. Lembrar que tal como as pessoas são os mais velhos que têm mais para nos ensinar.   

26 de novembro de 2020

A Pensar Alto! "Às vezes dá vontade de desistir"

O meu pai, quando se metia em tarefas com grau de dificuldade que exigiam mais do que o expetativa, olhava em redor e soltava sempre esta frase “Às vezes dá vontade de desistir”. Mas funcionava exatamente ao contrário e nunca o vi desistir ou ter medo de não concluir qualquer tarefa ou projeto. Não era um homem alto, pelo contrário, não tinha grande robustez, mas disfarçava esta caraterística com uma enorme capacidade de superação e inteligência. Era um homem sem medos e estava sempre preparado para os desafios mesmo que lhe viesse aquela vontade de parar e ir para outro lado. Medo talvez só tivesse quando via o Eusébio passar o meio campo nas Antas e preparar se para o remate contra o nosso Porto, aí ficava nervoso e passava lhe pela cabeça algum receio, mas nada que lhe fizesse perder o apetite. Também é de assinalar que tinha sempre um filho de cada lado e esse aconchego era, tenho quase a certeza, o que lhe dava aquela força que gostava de demonstrar mesmo nos momentos de aperto. Se algo faltasse ia buscá-lo ao amor imenso pela minha mãe, era um belo e enamorado casal que sempre de mão dada nunca desistiu e soube enfrentar o bom e o mau com a cumplicidade que se cola à pele nos casos de puro amor. Mas não quero prosseguir pelo baú das recordações, senão o tema era inesgotável e nunca lhe conseguiria demonstrar o amor que por ele tinha, fica para dias de mais tempo, sem estas nuvens que tiram a alegria e trazem a chuva e a melancolia. Um dia destes, quero escrever sobre ele e relembrar a muita alegria que nos ensinou, não o contrário. A frase que o ouvi repetir algumas vezes e deu nome ao artigo é nestes dias o que muita gente pensa e muita gente repete. "Às vezes dá vontade de desistir". Os dias vão prosseguindo, com as vidas  alteradas, as noites são pensativas e as manhãs e tardes lá se vão misturando com os humores das informações, os contatos permanentes dos mais chegados e os suspiros que são agora utilizados nos momentos de maior angústia. Dá vontade de desistir. Mas aguentados estes meses, estamos mais preparados, se isso é possível, para atirar estes pensamentos para trás das costas e com aqueles entusiasmos que andávamos a poupar para um acontecimento especial, ganhar força atrás de força, e o desabafo gerar precisamente o oposto, desistir nunca. O Mundo e a vida continuam a ser belos. A nossa vida era como um brilhante puzzle com as peças certas, quase pronto e pouco por encaixar. Agora estão todas espalhadas por aí, mas o importante é não as perdermos de vista porque mais cedo ou mais tarde vamos acabar por completá-lo de vez, e orgulharmo-nos com o resultado. Numa qualquer pintura de gosto refinado, o preto nem sempre é sinal de tristeza, a ausência de cor mostra é que há mais cores, que como os raios de sol, nem sempre são iguais, mas vale a pena lutar por elas. O Mundo e a vida continuam a dar nos vontade de respirar, pelo menos para que continuemos com vontade de o melhorar, e bem preciso é. Somos muitos tentados em desistir, mas somos muitos mais a seguir o exemplo que gosto de seguir e o meu pai me ensinou, enfrentar com toda a nossa energia este mar de contrariedades que não contávamos encontrar nesta fase da vida. Todos temos como ele teve, ao nosso lado, quem nos dê a força bastante. Nós os mais velhos, acreditamos que mesmo que nem tudo vá ficar bem, não há de ser culpa nossa por  não termos contribuído com as nossas energias e os nossos conhecimentos. Todos, quando isto terminar, terão de ver  o prometido arco-íris, que hoje, todas as crianças sabem desenhar, com os olhos a deitar fora por  um futuro de coloridos. Não adianta repetir, dá vontade, isso dá, mas ainda vamos  a tempo de ver muitos arco-íris.

O confinamento quase me fez desistir de continuar a escrever, os assuntos desapareceram esmagados só por um, as conversas são mais rara, as paredes parecem mais fechadas, as luzes têm um brilho de quase noite, mas não desisto. Desculpem o desabafo. Vamos em frente, lavar as mãos, estar à distância e a de máscara como óculos, sempre presente... Fiquem bem!

24 de novembro de 2020

Preocupo-me muito com Arouca e com os Arouquenses...

Em diálogo, por «e-mail», com dois dos colaboradores deste blogue «Defesa de Arouca», afirmei-lhes que me preocupo muito com a evolução de Arouca e dos Arouquenses...Quero que evoluam bem, no padrão ético e identitário são e correcto...É um sentimento espontâneo e congénito que, aliás, existe em qualquer arouquense (natural, residente ou espalhado pelo País ou pelo Mundo) que ame, verdadeiramente, Arouca e a sua identidade...Quando, neste blogue, expus, de modo muito insistente e muito repetido, a forte e muito consolidada ligação de Arouca ao Porto e à denominada área do 'Grande Porto' foi apenas para, em termos sociológicos, demonstrar factos sociais, óbvios e claros...Porque é importante que as pessoas exógenas ou que não conhecem Arouca saibam bem onde, de facto, Arouca, em termos ontológicos, se enquadra e sempre se enquadrou, em termos identitários e endógenos: no Entre-Douro-e-Minho e na Região do Norte, bem como na actual Euro-região Galiza-Norte de Portugal, no antigo distrito do Douro, no Douro Litoral, na Bacia e Região Hidrográfica do Douro e na actual Área Metropolitana do Porto. Que têm o Porto como capital, que sempre foi «a principal cidade central de referência para Arouca e para os Arouquenses»...
Porque é muitíssimo irritante ouvir-se, a todo o momento, nos «mass media», apelidar, de modo muitíssimo errado, os Arouquenses de «Aveirenses» ou «os de Aveiro». Visto que, comum com Aveiro, os Arouquenses têm apenas uma mera e absurda inserção burocrática, a partir de 1835, no distrito de Aveiro (que é apenas um (muitíssimo arbitrário e artificial, neste caso específico), entre outros, recortes administrativos e territoriais que existem no Estado português), numa altura em que os actuais distritos (que vão ser extintos, conforme aquilo que é previsto na Constituição da República Portuguesa) já pouco ou quase nada representam, como realçou, há uns tempos atrás, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.
Preocupo-me muito com a evolução de Arouca e dos Arouquenses...Quero que evoluam bem, no padrão ético e identitário são e correcto. E, assim, agora, aproveito para dedicar, a Arouca e a todos os Arouquenses, esta belíssima 'Tirana' do Conjunto Etnográfico de Moldes (cantada, de modo genuíno, pelo 'velho Samba' e pelo sr. António do Pelote, do lugar de Fuste - Moldes) que, em termos simbólicos, é uma expressão desse pulsar vital da nossa verdadeira identidade e que, por isso, é uma 'moda' e uma dança comum a todo o território nortenho do Douro Litoral, bem como comum ao território nortenho do Entre-Douro-e-Minho, que é o «território berço» da Nação de Portugal... 

21 de novembro de 2020

Trail de São Martinho - saudável e obrigatório

As “Rotas e Trilhos” é o nome do novo programa para promover atividade física que a Câmara Municipal de Arouca desenvolve em parceria com o BTTArouca." 

O Trail de São Martinho é o primeiro trilho desenvolvido  pela organização onde as " folhas de castanheiro, as ribeiras serpenteadas pela água, as levadas até aos moinhos, as cores e nostalgia do outono acompanham os que ousarem calcorrear os bosques e as aldeias encantadas". A primeira parte do percurso que tem a ribeira da Aveneira, desconhecida por muitos, como traço orientador e principal companheira ao longo de uma grande parte do trilho é maravilhoso, inesperado e carregado de surpresas. Preparado para ser feito em modo de exercício ou simples caminhada deveria ser obrigatório para todos os que gostam de descobrir a natureza de Arouca. 

Poderão fazer o percurso em grupo ou sozinhos e podem fazer a vossa inscrição e obterem o trilho e as coordenadas GPS aqui

Excelente experiência de natureza que merece uma forte felicitação a todos os envolvidos.

Eu optei por fazer a solo num final de manhã  antes do almoço uma parte do trilho mas ficou a vontade e o desejo de completar o mesmo quando tiver tempo... e já agora pernas e pulmões.

17 de novembro de 2020

António Hebil, o primeiro fotógrafo de Arouca

Apesar muitos de nós já se terem cruzado com uma ou outra fotografia com a sua marca, não fosse a recolha de Manuel Valério no seu projeto "Contributos para o Futuro Arquivo de Arouca" e dificilmente se perceberia a dimensão e importância dos registos realizados por António Hebil nas primeiras décadas do século passado, deixando aos nossos dias o valioso retrato de muitos arouquenses que viveram nessa época, bem como de muitos aspetos da nossa vila de então.

Pessoalmente, para além de já antes ter visto algumas outras, foi o conjunto de três fotografias da família descendente do último capitão de Rossas, tiradas nos anos vinte, no adro da igreja local, que me suscitou maior interesse sobre o trabalho e o próprio autor, motivado também pela curiosidade sobre o seu apelido, que nos sugere uma ascendência estrangeira.

No entanto, na verdade, o primeiro fotógrafo de Arouca não tinha qualquer ascendência estrangeira, antes pelo contrário. A necessidade de ter adotado tão curiosa alcunha por apelido, à partida sem qualquer explicação que facilmente se descortine, foi comum à de muitas pessoas que, em face de se verem homónimas de ascendentes, padrinhos, parentes ou vizinhos, e, por isso, com elas confundidas ou confundíveis, adotaram alcunhas e apelidos que as diferenciasse, como FilhoJúniorSobrinho..., e alguns outros que deram em apelidos entre nós.

António Hebil, de sua graça batismal António Joaquim Teixeira, no entanto, terá sido um personagem relativamente excêntrico, com uma faceta artística muito vincada, pelo que terá exigido uma alcunha ou apelido à altura. Segundo contava o seu filho Alberto Hebil (que também nasceu em Arouca e se destacou na pintura), seu pai, a certo dia, terá tido a ideia de colocar algumas letras dentro de um saco e ir tirando até compor um nome com o qual simpatizasse, e assim foi tirando… primeiro o H, depois o E, a seguir o B, depois o I, a seguir o L, e…, composta a palavra HEBIL, terá gostado e adotou-a como acrescento ao seu nome de batismo.

Filho de António Teixeira e Maria Emília, moradores no lugar da Ribeira, da vila de Arouca, aonde nasceu em 2 de Dezembro de 1864, António Joaquim Teixeira passou assim a assinar e marcar com Hebil os seus trabalhos, nomeadamente fotográficos, a cuja técnica de revelação não terá sido alheia a experiência como farmacêutico, profissão que exercia em 1892 quando casou com Maria Augusta Leonil Ferreira Pinto, e os ensinamentos do mestre Emílio Biel, que também fotografou entre nós, sendo o alegado autor do retrato em imagem e, entre outros, do icónico retrato da Fiadeira de Arouca. Hebil faleceu em Coimbra, a 26 de Julho de 1946. É de justiça perpetuar-lhe a memória numa das artérias da nossa vila.

14 de novembro de 2020

VII - Soares de Figueiredo, de Canelas

Os Soares de Figueiredo, de Canelas, que associamos a Manuel Joaquim Soares de Figueiredo (1801-1856), bacharel formado em Cânones e antigo administrador de Castelo de Paiva, e, entre outros, aos atuais proprietários da Louseira aí existente, tiveram origem no antiquíssimo lugar do Toural, daquela freguesia.

Com efeito, foi do casamento do capitão José Soares, filho de Manuel Soares e Maria Alves, do lugar do Toural, com Maria Luísa Figueiredo, filha de Francisco Duarte e Luísa Maria Figueiredo, do lugar de Moimenta, freguesia de Cabril, do vizinho concelho de Castro Daire, em finais do século XVIII, que houve a primeira geração do apelido Soares de Figueiredo, composto por sucessiva predominância dos apelidos maternos.

O lugar do Toural era já povoado muito antes dos Soares de Figueiredo, antes até da chegada da primeira Soares ao lugar, ainda no século XVII, proveniente do lugar de Casais, da freguesia de Alvarenga, quiçá até mesmo desde 1201, data em que essa herdade foi doada ao Mosteiro de Arouca. No entanto, foram os Soares de Figueiredo que mais contribuíram para o crescimento e importância da isolada Quinta do Toural.

E tanto assim foi, que a riqueza que por ali se guardava terá sido mesmo motivo de cobiça alheia, até do afamado Zé do Telhado, levando a que os moradores se vissem na contingência de esconder, aparentemente sem sucesso, a fortuna e até a própria família, tendo feito mesmo com que o proprietário de então, João Joaquim Soares de Figueiredo, também escaldado pelas refregas liberais, tivesse deixado a inóspita propriedade e fixado residência no centro da freguesia, com sua esposa e filhos, que ali deram continuidade ao principal ramo da família, sob as bênçãos do padre Manuel Joaquim Soares de Figueiredo.

Dos primeiros Soares de Figueiredo, gerados e criados no misterioso e lendário lugar do Toural, até à geração atual, nomeadamente dos Valério Soares de Figueiredo, contam-se cinco ininterruptas gerações daquele apelido composto, o que permite afirmar que Soares de Figueiredo, de Canelas, é um nome de família originário de Arouca.

Mais nomes de família originários de Arouca

12 de novembro de 2020

Será que, no futuro a médio-prazo, a '516 Arouca' deixará de ser a ponte pedonal suspensa mais longa do Mundo?!

Será que, no futuro a médio-prazo, a Ponte '516 Arouca' deixará de ser a ponte pedonal suspensa mais longa do Mundo?!...Isto, porque, como informa a comunicação social, o município de Torre de Moncorvo pretende ligar, nessa localidade transmontana, as duas margens do rio Douro, através da "maior ponte pedonal suspensa do mundo", prevendo a construção dessa nova ponte com 750 metros, num investimento de cerca de três milhões de euros.
Será que os transmontanos foram buscar a ideia a Arouca?!...
De qualquer modo, isso não significa que a Ponte '516 Arouca' não tenha sucesso garantido, porque, para além de outras inúmeras características positivas, a Ponte '516 Arouca' está enquadrada pelos premiadíssimos Passadiços do Paiva e pelo reconhecido Arouca Geopark.
Quando a nova ponte suspensa de Torre de Moncorvo estiver construída, Portugal terá não uma, mas as duas pontes pedonais suspensas mais longas do Mundo, em plena Região e Bacia Hidrográfica do Douro. É bom para Arouca e é bom para Torre de Moncorvo. É bom para Portugal. 
Até lá, a Ponte '516 Arouca', na nossa querida Arouca natal, será mesmo a ponte pedonal suspensa mais longa do Mundo e terá sempre sucesso garantido, mesmo com a construção da de Torre de Moncorvo.
Ponte '516 Arouca' - Foto: Agência Lusa

8 de novembro de 2020

As associações na encruzilhada do presente

No passado dia 31 de Outubro, assisti, com todo o interesse, a mais uma “conversa digital”, promovida pelo Circulo Cultura e Democracia, desta feita subordinada ao tema “Participação cidadã: o papel das associações”. No final, apesar de aparentemente não ser esse o objectivo inicial, ficou patente a necessidade das associações se unirem, congregando esforços na prossecução de actividades e objectivos comuns.

Talvez tenha sido a primeira vez, desde há pelo menos duas décadas, que um debate sobre este tema, ainda que muito circunscrito ao ponto de vista dos cinco dirigentes de associações que nele participaram e dos próprios organizadores, evidenciou a fragilidade e dependência em que a maior parte das nossas associações se encontra novamente. E novamente porque, embora seja hoje agravado por novos factores, o que está na génese do problema não é novo.

Foi exactamente por se identificarem necessidades de união e cooperação para melhor prossecução de actividades e alcance de objectivos comuns, que há precisamente vinte anos se criou em Arouca uma federação municipal (logotipo em imagem), com vista a congregar todas as associações do concelho, de forma a contribuir para aquele desiderato e, também assim, para o fortalecimento e autonomia de cada uma das associações face ao poder politico.

Entretanto, por vicissitudes próprias, essa federação esmoreceu e desapareceu, e, ao mesmo tempo, cresceu e quase que se normalizou uma certa instrumentalização de grande parte das associações por parte do poder politico, que hoje põe e dispõe das mesmas e suas actividades, ao ritmo das suas próprias necessidades.

Cada uma por si, grande parte com atividade diminuta e na quase exclusiva dependência da atribuição arbitrária de subsídios ou inclusão discricionária na agenda municipal, a maior parte das associações do nosso concelho evidencia hoje estar novamente desguarnecida, fragilizada e muito exposta a uma dependência do poder político que em nada ajudará a tomar rumo na encruzilhada do tempo presente.

O Baloiço e outros segredos

A foto deste texto é de uma estrutura de madeira recentemente instalada no lugar de Palma, na freguesia de Moldes. Uso este baloiço como exemplo para expressar o seguinte: existem inúmeros locais por todo o concelho para usufruirmos e que muitas vezes parecem esquecidos e só passam a  reconhecidos pela população com ações de "marketing turístico". O pensamento subjacente neste particular é o seguinte: o lugar de Palma, a vista que permite ter sobre o bonito vale de Moldes e a envolvência da natureza do local sempre lá estiveram muito antes de instalarem o baloiço. Quantos visitavam o lugar antes? Porquê?

Existem alguns locais em que é necessário e obrigatório a instalação de estruturas para que possamos a eles aceder e usufruir da beleza que apresentam. Neste particular os passadiços do Paiva são o expoente máximo do que afirmo bem como serão algumas zonas da futura ecovia do vale do Arda. Mas existem muitos outros locais que estão aí "à mão de semear" para regalo de todos sem ser necessário qualquer mudança ou instalação de estruturas , e ainda bem.

Arouca apresenta-se e revela-se todos os dias ao nossos olhos. Há que partir à aventura  e à descoberta.

Redescubram os nossos percursos pedestres, por inteiros ou em troços e promovam a sua melhoria e conservação. 

Descubram as margens do Arda a montante da ETAR do vale do Arda. 

Visitem o Marco dos 4 concelhos e descubram o curto caminho pedonal até as margens do Douro.

Descubram a capela de Santo André, em Santa Eulália, provavelmente umas das melhores e desconhecidas vistas do vale de Arouca.

Visitem São João de Valinhas, com as suas escavações arqueológicas completamente abandonadas e promovam e exijam a sua reabilitação.

Descubram as centenas de moinhos de água abandonados por todas as encostas do vale; no meio de silvados, de cursos de ribeiros que muitas vezes nos passam despercebidos.

Poderia estar aqui a escrever de forma extensa tantas são as descobertas ou redescobertas que Arouca nos apresenta sem ser necessário. 

Tenho como objetivo principal deste texto referir que o turismo de natureza  é isso mesmo : de natureza. E que a natureza vale por si só e tem as suas exigências. Com as dificuldades de acesso, com caminhadas duras e ingremes, com pés molhados, pó e maus acessos e por isso mesmo é que muitas vezes vale tanto a pena.

4 de novembro de 2020

Outono, bálsamo para a alma

Entardecer. Hora a que o dia se finda, fazendo descer sobre os mortais aquela doce e branda melancolia que torna mais vívidas as memórias e a saudade.

A vassoura vai-se arrastando penosamente pelo pátio, tentando libertá-lo do manto de folhas que o vento impiedoso ali derramou, e que se aconchegam em montículos, como se quisessem proteger-se do destino que lhes tracei.

Ali mesmo ao lado, no quintal da vizinha, vigoroso, imponente, um velho castanheiro olha-me sorridente, com ar trocista, até, a querer alertar-me para a inexorável circunstância de, dali a breves instantes, as suas folhas, que parecem em queda perpétua, voltarem a atapetar-me o pátio. Mais uma e outra vez. Sempre. Até ao fim da estação. Nem sei porque insisto.

A majestosa árvore, a espreguiçar-se ao embalo do vento, derramando cores quentes e efeitos de luz na placidez da tarde, como me faz lembrar um outro castanheiro que povoou a minha meninice de horas felizes e tranquilas, quando a inocência e a ingenuidade preenchiam os meus sonhos!... O meu velho castanheiro! O meu amigo de outros tempos, à sombra do qual teci mil devaneios de menina, embalando bonecas ou baloiçando-me segura nos seus braços.

Por que razão me acometem lembranças tiradas do baú poeirento onde as tinha guardado tão ciosamente? Será da hora, propícia ao sonho que se solta do peito para se desfazer em nuvens de nostalgia?

Sim, talvez. Mas não só. Pelas narinas entram-me os fortes odores da estação. São os tomateiros, em plena produção, desprendendo os seus eflúvios, que se misturam com os dos limões, ternos e reconfortantes. É o doce das maçãs que se eleva da mãe árvore sempre pronta a presentear-me com o fruto da sua dedicada labuta. São os perfumes inconfundíveis do alecrim e da hortelã, aromatizando o ar que se impregna de intensa frescura.

Nas asas do vento, chega o odor apelativo de uvas maduras das vinhas semeadas pela encosta. No céu, as nuvens enovelam-se e apressam-se, como se quisessem abrigar-se da noite que não tarda a tingir céu e terra de treva. Vá-se lá saber porquê, fazem-me lembrar as vagas agitadas do mar da minha infância. Sinto-lhe a maresia à mistura com os cheiros da montanha.

Os meus pulmões absorvem com sofreguidão e sentem-se reconfortados. A minha alma embebe-se de bálsamos que a elevam a um paraíso que é só dela, deixando-a absorta e desligada de um presente que se escapa a cada segundo e, por momentos, regressa a um passado muito seu.

Hora de reviver o que é tão nosso. Hora em que o dia se esvai de si mesmo e nos deixa um pouco mais sós, resguardados na intimidade do que se foi mas está ainda presente. Tão presente. Sempre. Quanto mais se envelhece, mais presente se torna.

E a vassoura que teima em fazer o seu trabalho. Coitada! Quase se arrasta sozinha, os fios que a moviam estão tão ténues, deixou de ser comandada por mim. Trabalho árduo, o dela.

Eu… eu estou longe, lá atrás, num tempo que regressou trazido pelo vento e pelos odores outonais. Subo nos ares, perdida de riso, com os cabelos ao vento, que empurra o baloiço construído pelo meu pai, feito de canas e corda velha. Pendurado no meu querido castanheiro que, forte, duro, seguro, resiste ao tempo e às minhas lembranças. O meu pai, indiferente ao tempo que passou por ele e por mim, preso entre os limites da memória, continua a talhar cada pedaço de chão do quintal com o infinito amor e dedicação com que o recordo. Agora é ele quem dirige a vassoura, enquanto eu levanto voo no meu baloiço.

O velho castanheiro da vizinha continua a fazer troça de mim. Acena-me com os seus ramos quase despidos. “Cá te espero com a manta de folhas que voltarei a estender para ti, para cobrir-te de ternura”.

Volto ao presente. O meu pai desapareceu do meu raio de visão. Mas continua lá, sorrindo, sei que sim. A vassoura, incansável, desliza por entre as folhas que se espreguiçam no pátio, obrigando-as a acordar, presas nos seus dedos.

O pátio vai-se despindo do xaile de folhas. Por enquanto. Eu vou-me vestindo de saudade. É tão bom sentir saudade!

31 de outubro de 2020

Concelho de Arouca incluído na lista de alto risco de contaminação pelo Covid-19

O Governo alargou hoje, para entrar em vigor já no próximo dia 4 de Novembro, a lista de concelhos classificados com alto risco da Covid-19. Consideram-se concelhos de alto risco aqueles em que existam 240 casos de Covi-19 por cada 100 mil habitantes acumulados nos últimos 14 dias.

Para estes concelhos, o Conselho de Ministros determinou: 

 - o dever de permanência no domicílio, devendo os cidadãos abster-se de circular em espaços e vias públicas, bem como em espaços e vias privadas equiparadas a vias públicas, exceto para o conjunto de deslocações já previamente autorizadas, às quais se juntam as deslocações para atividades realizadas em centros de dia, para visitar utentes em estruturas residenciais para idosos, unidades de cuidados continuados integrados da Rede Nacional de Cuidados Integrados ou outras respostas dedicadas a pessoas idosas, bem como as deslocações a estações e postos de correio, agências bancárias e agências de corretores de seguros ou seguradoras e as deslocações necessárias para saída de território nacional continental; 

 - como regra, que todos os estabelecimentos de comércio a retalho e de prestação de serviços, bem como os que se encontrem em conjuntos comerciais, encerram até às 22h00; 

 - o encerramento dos restaurantes até às 22h30; 

 - prever-se que o presidente da câmara municipal territorialmente competente possa fixar um horário de encerramento inferior ao limite máximo estabelecido, mediante parecer favorável da autoridade local de saúde e das forças de segurança; 

 - a proibição da realização de celebrações e de outros eventos com mais de cinco pessoas, salvo se pertencerem ao mesmo agregado familiar; 

 - a proibição da realização de feiras e mercados de levante, 

 - a possibilidade de realização de cerimónias religiosas, de acordo com as regras da Direção Geral da Saúde; 

 - a obrigatoriedade de adoção do regime de teletrabalho, independentemente do vínculo laboral, sempre que as funções em causa o permitam, salvo impedimento do trabalhador; 

 - o regime excecional e transitório de reorganização do trabalho (constante do DL 79-A/2020) é aplicável às empresas com locais de trabalho com 50 ou mais trabalhadores, em todos os concelhos abrangidos pelas novas medidas (atualmente este regime era aplicável às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto). 

 Para além destas medidas, limita-se para 6 o número de pessoas em cada grupo em restaurantes para todo o território continental, salvo se pertencerem ao mesmo agregado familiar.

22 de outubro de 2020

A ponte: o bom, o mau e os que virão

 A obra da ponte pedonal sobre o rio Paiva está praticamente concluída e os últimos pormenores e   últimas particularidades acerca da "maior ponte pedonal do mundo" começam a ser conhecidos enquanto esperamos pela sua inauguração.

O BOM 

  • A notoriedade e dimensão internacional que a obra já trouxe e trará Arouca com honras de notícias nos maiores e mais reconhecidos meios de comunicação mundial (CNN, Daily Telegraph, etc) e as vantagens turísticas que daí advirão
  • A estratégia de marketing promocional estabelecida e delineada desde o inicio com o seu epiteto na projecção da marca "516 - a maior ponte pedonal do mundo"  
  • O aproveitamento do sucesso dos passadiços do Paiva para potencialização da ponte
O MAU
  • O IMPACTO VISUAL no meio ambiente envolvente é muito forte e diria mesmo muito  desenquadrado e desproporcionado. Ao contrário do seu "irmão" passadiços que consegue um enquadramento paisagístico e um casamento quase perfeito entre turismo e natureza, as duas "torres"  que ancoram a estrutura metálica marcam e sobressaem negativamente  no horizonte na zona da garganta do Paiva. Apetece dizer que o retorno terá de ser muito grande para quase nos esquecermos disto...
  • O projecto inicial global incluía um caminho pedestre pelo fundo dos campos férteis de   Alvarenga , onde outrora se explorou volfrâmio de aluvião, que terminaria num museu da Raça Arouquesa a ser construído na Quinta da Picota em Alvarenga. Neste momento metaforizando a expressão " Há mar e mar, há ir e voltar... há ponte e ponte... e terá que ser ir e voltar pois não há por ora nada mais no horizonte.
E OS QUE VIRÃO
  • Neste momento não será possível dizer se esta será uma aposta vencedora à semelhança dos passadiços ou não. Se teremos milhares a visitarem a ponte, o território e Arouca ou se serão só alguns. E será isto e só isto que justificará ou não o grandioso investimento e esforço económico realizado em detrimento de outros. Eu quero e desejo, como quererão todos os Arouquenses, que seja um sucesso. O valor do bilhete que se sabe agora ser de 12 euros para  a travessia cria desde logo um diferencial muito grande para os os milhares de turistas dos passadiços que estavam habituados e usufruíam de uma experiência de natureza  única e pioneira por 2 euros. Será um nivelar por cima? Uma seleção dos turistas de qualidade? A verdade é que 12 euros são 12 euros e em tempo de pandemia e em crise que se avizinha poderão ainda ter outra dimensão no orçamento familiar.  12 euros para a experiência de atravessar a maior ponte pedonal do mundo não é, em meu entender, caro mas poderá ser muito dinheiro. Se a este valor adicionarmos um fim de semana em família de 4 elementos onde optem por pernoitar, almoçar, provar os nossos doces, frequentar os nossos cafés, etc... usufruir do território e deixar cá riqueza estes 12 euros poderão numa larga fatia da sociedade inibir estes consumos. Poderão por optar visitar a ponte e simplesmente voltar às suas terras.  Fica a sugestão que por cada bilhete de travessia adquirido por 12 euros seja descontado um valor de 6 euros em consumos internos em QUALQUER comércio que se localize no território de Arouca desde que esses gastos sejam superiores a 12 euros. 

20 de outubro de 2020

Geossítios, jornais, websites e preservação. Tem tudo a ver

 

“No Arouca Geoparque Mundial da UNESCO encontramos 41 geossítios (locais de interesse geológico) que se destacam pela sua singularidade e notável valor do ponto de vista científico, didáctico e/ou turístico. Apresentam elevada relevância, com ênfase para quatro geossítios de importância internacional.” (http://aroucageopark.pt/pt/conhecer/geodiversidade/geossitios/)  

Os geossítios podem ser vistos como belos poemas que a mãe natureza nos deixou “escritos na pedra”. Ficam preservados. Passados milhões de anos qualquer um os consegue ler e admirar; e os mais eruditos conseguem inclusive perceber como se formaram no tempo. É fascinante!

Os sítios (no sentido de websites, e chamemos-lhes assim), são umas das expressões mais visíveis da internet. Começaram a ser escritos há perto de 30 anos; mesmo sendo milhões de minutos, é um curto período. Cresceram exponencialmente em quantidade, qualidade, complexidade, etc. Irónico é que, e comparando-os com os geossítios, quem os escreve fá-lo como tratando-se de conteúdos “escritos na areia”. Parte considerável desaparece passado pouco tempo e nunca mais qualquer geólogo ou arqueólogo da internet os encontrará.

Felizmente, pelo menos em relação a alguns websites institucionais há projetos privados e públicos como o Internet Archive e o Arquivo.PT que nos permitem ler websites no tempo, pelo menos as camadas que eles preservam. Estes projetos praticam a chamada preservação digital.

Vejamos o caso do website da Câmara Municipal de Arouca. O Arquivo.PT preserva neste momento 186 cópias deste website (a partir de maio de 1998). Vale a pena espreitar aqui

Vem a propósito desta reflexão uma história que os colaboradores do Arquivo.PT costumam contar: A Gazeta de Lisboa, criada em 1715, é considerada como sendo o primeiro periódico português com caráter oficial. Está na origem do Diário do Governo / Diário da República. Ora, quem pretender hoje consultar os números da Gazeta de Lisboa publicados em 1715 pode fazê-lo em papel na Biblioteca Nacional de Portugal ou digitalmente, através do site da Biblioteca Nacional de Portugal. O Diário Digital, criado a 19 de julho de 1999, é considerado o primeiro jornal português totalmente online; desapareceu em 2017. Se hoje pretendermos consultar os primeiros números deste jornal não conseguimos, pois a informação não se preservou. Só graças a projetos fantásticos como o Arquivo.Pt é possível aceder a algumas das edições deste periódico digital.

E vamos daqui para a imprensa local de Arouca ainda há um mês (re)mencionada neste blog pelo António Brandão de Pinho, agora no post “Por uma Hemeroteca Digital de Arouca”. Também “O Commercio d'Arouca” deve ser mais fácil de ler hoje do que os primeiros ensaios de imprensa web de Arouca. Ai Deus, e u é?. 

Irónico será daqui a alguns anos estarmos a ler no ecrã do nosso dispositivo eletrónico a primeira edição da “Defesa de Arouca” (a que se imprimia) e verificarmos que é uma edição centenária e preservada; e ao mesmo tempo não encontrarmos rasto da primeira (e não sei se sequer da última) edição desta “Defesa de Arouca”, versão blog em que o leitor ora lê. Bom… o Internet Archive já guardou qualquer coisinha…. Veja aqui

A preservação da informação digital é muito mais desafiante e difícil do que a preservação da informação em suporte papel. As instituições públicas e outras que tenham obrigação ou vontade de prestar serviço público devem investir na preservação digital, pelo menos dos seus próprios websites institucionais.  O Arquivo.PT pode dar uma ajuda. Não faltam outras formas de por onde começar, um exemplo.