17 de novembro de 2020

António Hebil, o primeiro fotógrafo de Arouca

Apesar muitos de nós já se terem cruzado com uma ou outra fotografia com a sua marca, não fosse a recolha de Manuel Valério no seu projeto "Contributos para o Futuro Arquivo de Arouca" e dificilmente se perceberia a dimensão e importância dos registos realizados por António Hebil nas primeiras décadas do século passado, deixando aos nossos dias o valioso retrato de muitos arouquenses que viveram nessa época, bem como de muitos aspetos da nossa vila de então.

Pessoalmente, para além de já antes ter visto algumas outras, foi o conjunto de três fotografias da família descendente do último capitão de Rossas, tiradas nos anos vinte, no adro da igreja local, que me suscitou maior interesse sobre o trabalho e o próprio autor, motivado também pela curiosidade sobre o seu apelido, que nos sugere uma ascendência estrangeira.

No entanto, na verdade, o primeiro fotógrafo de Arouca não tinha qualquer ascendência estrangeira, antes pelo contrário. A necessidade de ter adotado tão curiosa alcunha por apelido, à partida sem qualquer explicação que facilmente se descortine, foi comum à de muitas pessoas que, em face de se verem homónimas de ascendentes, padrinhos, parentes ou vizinhos, e, por isso, com elas confundidas ou confundíveis, adotaram alcunhas e apelidos que as diferenciasse, como FilhoJúniorSobrinho..., e alguns outros que deram em apelidos entre nós.

António Hebil, de sua graça batismal António Joaquim Teixeira, no entanto, terá sido um personagem relativamente excêntrico, com uma faceta artística muito vincada, pelo que terá exigido uma alcunha ou apelido à altura. Segundo contava o seu filho Alberto Hebil (que também nasceu em Arouca e se destacou na pintura), seu pai, a certo dia, terá tido a ideia de colocar algumas letras dentro de um saco e ir tirando até compor um nome com o qual simpatizasse, e assim foi tirando… primeiro o H, depois o E, a seguir o B, depois o I, a seguir o L, e…, composta a palavra HEBIL, terá gostado e adotou-a como acrescento ao seu nome de batismo.

Filho de António Teixeira e Maria Emília, moradores no lugar da Ribeira, da vila de Arouca, aonde nasceu em 2 de Dezembro de 1864, António Joaquim Teixeira passou assim a assinar e marcar com Hebil os seus trabalhos, nomeadamente fotográficos, a cuja técnica de revelação não terá sido alheia a experiência como farmacêutico, profissão que exercia em 1892 quando casou com Maria Augusta Leonil Ferreira Pinto, e os ensinamentos do mestre Emílio Biel, que também fotografou entre nós, sendo o alegado autor do retrato em imagem e, entre outros, do icónico retrato da Fiadeira de Arouca. Hebil faleceu em Coimbra, a 26 de Julho de 1946. É de justiça perpetuar-lhe a memória numa das artérias da nossa vila.