13 de abril de 2022

Porque se designa "dos Fogaréus" a nossa procissão da Quarta-Feira Santa?

Foto: Avelino Vieira

Hoje, Quarta-Feira Santa ou Quarta-Feira de Trevas, como se sabe, é o dia que antecede a celebração da morte e ressurreição de Cristo.
Entre nós, já com longa tradição, de mais de quatro séculos, neste dia, realiza-se na vila de Arouca a Procissão do Senhor dos Passos que, há cerca de século e meio, passou a denominar-se Procissão dos Fogaréus. E, apesar da denominação não ser o mais importante, face à dimensão, simbolismo e importância da Procissão em causa, no entanto, o facto de se designar "dos Fogaréus" suscita alguma curiosidade e, não raras as vezes, se diz que esta denominação se ficou a dever às velas e luminárias que se acendem nas casas, nas imediações e no itinerário da Procissão. Ou seja, a razões locais, relacionadas com esta Procissão em concreto. Mas não.
Sem pretender desmerecer o empenho e dedicação de quem a organiza, ou beliscar quem convictamente defende essa tese (tanto mais que à luz d'hoje parece ter plena razão de ser), se essa fosse a justificação, dificilmente se compreenderia (a não ser por mera coincidência) que outras procissões congéneres, que se realizam nestes dias um pouco por todo o país e até pelo mundo cristão, tivessem a mesma designação. No Sardoal, por exemplo, realizam-se também as Procissões dos Fogaréus e do Enterro do Senhor, tal qual as que se realizam em Arouca e com uma história muito semelhante, quanto às suas características e componentes. Em Braga, para referir apenas mais um exemplo bem conhecido, a Procissão do Senhor «Ecce Homo», também é popularmente designada como Procissão dos Fogaréus.
Mas, sem mais delongas, a justificação para a designação "dos Fogaréus", com efeito, não se deve a qualquer particularidade local, muito menos de Arouca, mas ao que, com maior ou menor rigor, se pretende recriar e significar nesta noite das Trevas. Ficou a dever-se, precisamente, aos fogaréus com que, tradicionalmente, se abriam e ainda abrem muitas das procissões e vias-sacras que pretendem recriar os Passos da Paixão, em recriação das tochas empunhadas pelos militares romanos que naquela noite foram prender Jesus Cristo.
Esta justificação, no entanto, não diminui em nada a Procissão dos Fogaréus que nesta noite se realiza em Arouca, cujo interesse, significado e simbolismo radica em factos muito mais relevantes e singulares, que se podem observar e sentir, desde a capela da Misericórdia, que nesta noite se assume como Pretório, ao Calvário, cuja ambiência que ali se cria quase nos transporta, no tempo e espaço, ao Gólgota de Jerusalém, onde se deu o desfecho da tragédia que nos salvou! Uma Santa Páscoa!