31 de agosto de 2019

ESTA SEMANA NA HISTÓRIA DE AROUCA (XXXVII)

1776.VIII.26 – É derrogado o privilégio à Abadessa do Mosteiro de nomear o Juiz Ordinário, sem necessidade da aprovação do Corregedor de Lamego, a cuja comarca pertencia. A partir desta data é criado o lugar de Juiz de Fora do Cível, Crime e Órfãos do concelho de Arouca. É igualmente ordenado que o referido Juiz de Fora o seja igualmente do concelho de Alvarenga.

1833.VIII.26 – António Pinto Pereira de Vasconcelos é o primeiro cidadão a aclamar a rainha D. Maria II em Arouca, e a organizar uma companhia de Voluntários, com a qual se foi juntar ao Exército Libertador, para defesa da cidade do Porto.

1833.VIII.26 – A Câmara Municipal assina um “Auto de Aclamação” visando o apoio às ideias liberais.

1833.VIII.31 – A Câmara Municipal assina um “Auto de Reclamação” visando o repúdio das ideias liberais e dos actos revolucionários expressos pelo executivo camarário anterior.

1936.VIII.28 – É ampliada aos concelhos de Felgueiras, Castelo de Paiva, Arouca e Castro Daire, com declaração de utilidade pública, a concessão de distribuição de energia eléctrica em alta tensão dada à "Eléctrica Duriense, Limitada".

1940.VIII.28 – É publicada no Diário da República a constituição heráldica das armas, bandeira e selo do Município de Arouca.

1946.VIII.30 – A Comissão das Construções Prisionais emite parecer desfavorável à instalação de um Estabelecimento Prisional no Mosteiro de Arouca.

1990.VIII.30 – Por ocasião do 46.º aniversário da Feira das Colheitas, é inaugurada a placa toponímica com o nome do ex-presidente da Câmara António de Almeida Brandão, natural da freguesia de Rossas, na artéria entre a Avenida 25 de Abril e a Alameda D. Domingos de Pinho Brandão.

1991.VIII.27 – É constituída a ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Serras do Montemuro, Arada e Gralheira.

1999.VIII.31 – São inauguradas as novas instalações do Centro de Saúde de Arouca.

2001.VIII.27 – São expropriadas as parcelas de terreno necessárias à execução da obra da EN326, Mansores – Arouca.

2009.VIII.28 – É publicado um Despacho do Governo a autorizar o concurso público para a Concessão do Vouga, permitindo que a obra da segunda e última fase da Via Estruturante Arouca-Feira (entre Mansores e Feira) possa iniciar-se em 2010.

29 de agosto de 2019

No 75º Aniversário da Feira das Colheitas, recordar e homenagear o seu fundador: António de Almeida Brandão

 Aproxima-se o 75º aniversário daquele que é, inquestionavelmente, o maior e o mais importante evento do concelho de Arouca: a Feira das Colheitas. São as 'bodas de diamante' de um elemento estrutural e estruturante da identidade de Arouca e dos Arouquenses e que os Arouquenses sentem «como seu», como «fazendo parte, de modo natural, da sua identidade». A Feira das Colheitas (que é, como sempre foi, uma montra da identidade autóctone e endógena de Arouca e dos Arouquenses) é um evento com impacto nacional e também é recordada e vivenciada pelos Arouquenses e seus descendentes espalhados pelo Mundo, em particular no Brasil e em França. É um elemento constituinte de Arouca que, provavelmente, quase a totalidade dos Arouquenses sabe que existe e que ocorre, todos os anos, no mês de Setembro. 
 Idealizada e fundada pelo ilustre arouquense António de Almeida Brandão (n.Casa de Telarda, Rôssas, Arouca, 1893 - m.Casa de Eidim, Rôssas, Arouca, 1986) a partir do Grémio da Lavoura de Arouca (do qual foi um dos elementos fundadores e do qual era, nessa altura, seu gerente, cargo para o qual foi eleito, à semelhança daquilo que também aconteceu quando ocupou, durante vários anos, a presidência da Direcção do Grémio da Lavoura de Arouca), a primeira edição da Feira das Colheitas realizou-se no ano de 1944, há 75 anos atrás, num contexto de grave crise económica que se fazia sentir em Arouca, em Portugal e na Europa, devido às consequências perniciosas do deflagrar da Segunda Guerra Mundial. António de Almeida Brandão também foi o fundador da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Lacticínios de Arouca, seu primeiro presidente eleito e, por inerência desse cargo, presidente da Mútua do Seguro do Gado. Depois de vários anos como presidente da Direcção da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Lacticínios de Arouca, o prof. Telmo Pato seria o seu sucessor, eleito durante mais de quatro décadas. A evolução e a fusão dessas instituições arouquenses, presididas e dirigidas por António de Almeida Brandão, originaram a moderna Cooperativa Agrícola de Arouca que, de algumas centenas de associados, na década de sessenta do século XX, passou a ter, com o decorrer do tempo, os milhares de associados que tem na contemporaneidade.
 O objectivo da acção do Grémio da Lavoura de Arouca, protagonizada por António de Almeida Brandão, era, para contrariar a grave crise económica que se verificava em Arouca, aumentar, significativamente, a produção agrícola, em particular a produção de cereais. Para isso, para estimular o aumento da produção agrícola, foram realizados concursos, entre os lavradores e agricultores de Arouca, das melhores searas, da melhor fruta, da melhor adega e do melhor linho, integrando também o concurso de raça bovina arouquesa que já existia no concelho e que permaneceu, ao longo das décadas, na Feira das Colheitas, sendo, no presente, um concurso de âmbito nacional e não apenas concelhio.
 Esse objectivo estrutural da Feira das Colheitas foi concretizado com grande sucesso em Arouca, num concelho que, de deficitário na produção de cereais, passou, passado poucos anos, a ser exportador de cereais, em particular exportador de milho. De modo concomitante, a Feira das Colheitas começou a realizar, anualmente, a Exposição Agrícola e do Artesanato de Arouca, onde ficaram célebres as belíssimas exposições de fruta, bem como as belíssimas exposições de ouro e de peças de linho das casas tradicionais de Arouca, sendo também, como é bem conhecido e identificado, o grande evento pioneiro, responsável, em Arouca, pela recuperação das danças e dos cantares tradicionais, bem como do trajo tradicional de Arouca, onde se constituíram e de onde se formaram os ranchos folclóricos de Arouca, dos quais se destacam o extinto Rancho do Merujal e o Rancho de Moldes, mais tarde renomeado de Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, etc.

António de Almeida Brandão ladeado, entre outros, pelo Doutor Domingos de Pinho Brandão e pelo prof. Joaquim Brandão de Almeida. Fotografia dos fins da década de sessenta ou dos inícios da década de setenta do século XX.
Foto: Jornal «Defesa de Arouca»

 Foram esses alguns dos elementos estruturais de um evento que foi idealizado, fundado, organizado, promovido e fomentado pela grande capacidade trabalho de António de Almeida Brandão (agraciado por várias instituições e pela Presidência da República Portuguesa com a Ordem do Mérito) e que foi uma personalidade de muito prestígio em Arouca, que dirigiu e presidiu, durante o século XX, com abnegação e sem ser remunerado, a várias instituições fundamentais do município de Arouca, algumas das quais fundou (na altura da fundação da Feira das Colheitas, também era presidente da Câmara Municipal de Arouca...).
 Foi a iniciativa estrutural de António de Almeida 
Brandão, a partir do Grémio da Lavoura, que configurou a Feira das Colheitas como grande evento concelhio de impacto nacional (num acto individual que não surgiu, portanto, de uma política emanada do Poder Central do Estado Português) e que foi a primeira Feira desse tipo que surgiu no País, anterior à Feira do Ribatejo, hoje Feira Nacional da Agricultura, cujo aparecimento se verificou em 1953, ou seja, nove anos mais tarde. O fundador e promotor da Feira das Colheitas, que era um entusiasta do desenvolvimento e da aplicação das Ciências e das Técnicas, pretendeu, claramente, fomentar o impacto de Modernidade na estrutura tradicional de Arouca, cuja actividade económica se centrava na Agricultura, entendendo também a Feira como uma montra anual e festiva dos elementos identitários, autóctones e endógenos, do território de Arouca e dos Arouquenses. 
 Como é óbvio, as actividades económicas, em Arouca, já não estão centradas apenas na Agricultura (que continua a ter muitíssimas potencialidades em Arouca, infelizmente sub-aproveitadas...), mas a intencionalidade originária e o evento originário da Feira das Colheitas nunca foram tão actuais como no presente e, por essa razão, mantêm-se e actualizam-se, todos os anos, com prestígio e muito sucesso. 
 Fazendo uma muito breve retrospectiva histórica...: fundada por António de Almeida Brandão e em termos institucionais organizada pelo Grémio da Lavoura, a Feira das Colheitas, depois, passou a ser organizada, com um curto período de interregno no início da década de setenta, pela Cooperativa Agrícola de Arouca e, depois, passou a ser organizada, e bem, pela Câmara Municipal de Arouca, porque a Feira das Colheitas, na actualidade, funciona mesmo como as 'Festas Oficiais do Concelho de Arouca', com a colaboração de outras instituições de Arouca e da Região Norte, das quais uma das mais relevantes, como é óbvio, continua a ser a Cooperativa Agrícola de Arouca. 
 E a Feira das Colheitas deve sempre continuar a ser as 'Festas Oficiais do Concelho de Arouca'. Pela sua singularidade identitária e pela sua intencionalidade precoce de Modernidade, aplicada aos elementos autóctones do território concelhio, a Feira das Colheitas, sabem-no bem todos os Arouquenses, é uma Feira e uma Festa de Arouca e de todos Arouquenses para todo o País e para todo o Mundo e, portanto, neste seu 75º aniversário, como é óbvio, será um acto de grande justiça a Cooperativa Agrícola de Arouca e a Câmara Municipal de Arouca recordarem e homenagearem o seu fundador: António de Almeida Brandão, porque, como bem elucidou o etnógrafo arouquense Albano Ferreira: 

" A Feira da das Colheitas é uma organização imediata do Grémio da Lavoura, mas, na realidade, um empreendimento de um só homem - o senhor António de Almeida Brandão. E, como realização de um só homem, sujeita a percalços e a contingências, que se torna necessário acautelar para que se não venha a perder esta admirável realidade que é a Feira das Colheitas. O dinâmico e aparentemente sorumbático empreiteiro da Feira tem sido e é, sem ofensa ou menosprezo para quem quer que seja que tenha estado à frente ou colaborado na obra ou finalidade do Grémio da Lavoura, pela continuidade de presença neste organismo, o homem indicado para estar à sua frente, pois muito a tem prestigiado. Senhor António de Almeida Brandão: Vemos o perigo, sempre iminente, da sua ausência ou desaparecimento. O Grémio é um organismo electivo, isto é: pode ou não conservar ou afastar os seus dirigentes e demitir os seus funcionários. E como homem, o senhor António de Almeida Brandão, está sujeito às contingências (longe vá o agouro...) da doença e da morte. E é ocasião de perguntar: Que sucederia se alguns destes fenómenos surgissem? Quem estaria aí, como testamenteiro, para continuar a obra do senhor António de Almeida Brandão? Quererá ele, como arouquense, que se perca ou esqueça uma obra que é sua? Ao próprio dinâmico e calado obreiro deixo a resposta a esta pergunta no que ela contém de perigo e precaução.(...)", ao considerar previamente que "A Feira das Colheitas deixou já de ser um acidente na vida do concelho, porque se tornou no acontecimento, na «realidade» da nossa terra. O que ontem foi ou teria sido uma tentativa ou uma experiência transformou-se já numa tradição radicada, que não pode perder-se nem abastardar-se, mas antes manter-se viva e engrandecida. É hoje, sem dúvida, a maior festa - porque de festa, afinal, se trata - a mais querida e ansiada de toda a gente: - para os lavradores, como obra sua e revelação das suas possibilidades e do seu esforço; para o comércio, a única oportunidade grande para o seu negócio; para a gente moça, ocasião de mostrar as suas graças no palco da Praça e para os forasteiros motivo de atracção ou curiosidade ou, como hoje se diria, de cartaz de uma terra antiga e cheia de tradições. " (em jornal «Defesa de Arouca», nº274, Ano 6 - IIªSérie, 8/10/1960)


28 de agosto de 2019

Férias na Nossa Terra


As férias são sempre momento especial na nossa vida, muito aguardadas, desejadas, merecidas, umas vezes mais planeadas do que outras. Infelizmente, nem todos têm a possibilidade de viver novas experiências, de conhecer novas terras, novos lugares, descobrir novas maravilhas, ou simplesmente viver sem a pressão do tempo, dos compromissos inadiáveis, das coisas sempre “importantes” que nos ocupam todo o tempo e mais algum, se mais algum houvesse.
Há quem planeie grandes viagens, de preferência para destinos exóticos, para lugares de sonho, para terras que sempre desejaram conhecer... sonhos que as poupanças acumuladas ao longo de um ano de trabalho permitem realizar. E isso é bom, muito bom, porque o contacto com novas gentes e novas culturas, o conhecimento de novas realidades enriquecem-nos, fazem-nos alargar horizontes, permitem-nos perceber que o mundo vai muito para além do nosso cantinho.
Para quem há muito está fora do seu cantinho ou não tem propriamente um cantinho fixo, sabe bem aproveitar as férias para regressar ao seu cantinho, voltar à sua terra, reviver as suas raízes. É precisamente esta a experiência que procuro fazer todos os anos: até posso arranjar uns dias de férias num qualquer lugar, sobretudo à procura do mar que sempre me fascina; mas não consigo pensar um tempo de férias sem uns dias passados nas minhas queridas terras de Arouca, especialmente na minha muito querida Alvarenga!
Há muitos anos que o meu projeto de vida não me permite viver na minha terra ou por ali perto. É por isso que há sempre um gosto especial no regresso à nossa terra. São dias passados em família, na conversa desinteressada com os amigos, à volta de um copo que se partilha, no ritual do jogo da sueca... Às vezes são horas intermináveis de conversa, a falar de tudo e de nada, a recordar os bons velhos tempos, não com saudosismo bacoco, mas a relembrar como esses tempos partilhados foram fundamentais para solidificar a amizade que agora vivemos e que sentimos estar mais do que cimentada para um futuro que todos sonhamos seja longo e feliz.  
Destas férias assim vividas num paraíso que os de longe procuram e que os de perto às vezes desvalorizam, há rituais e celebrações que se tornaram verdadeiros clássicos: a Missa do Rio na Paradinha já faz parte do calendário de Verão, mesmo que vá mudando de data, consoante a disponibilidade do celebrante; os disputadíssimos jogos de sueca animam as horas mortas do dia ou prolongam quase infinitamente as horas da noite; a organização de almoços e jantares num dos muitos e bons restaurantes da região, a pretexto de nada que não seja juntar os amigos, entrou na praxe de Verão; as cabidelas, combinadas atempadamente ou à última da hora, na casa deste ou daquele amigo, dão um sabor especial de liberdade e de partilha a um tempo que é sobretudo para estreitar laços, matar saudades, reviver a alegria de estarmos uns com os outros, de termos tempo uns para os outros, de podermos conversar sem tempo nem hora marcada. 
É tudo isto que faz com que as férias, curtas ou longas, passadas na nossa terra, sejam mágicas, sejam de sonho, sejam de felicidade autêntica; e isto sem sequer falarmos nas muitas festas e romarias que dão um encanto ainda mais especial aos dias de Verão... Mas também é por tudo isto que custa muito regressar ao trabalho, dizer um até breve – que às vezes sabemos muito bem não ser tão breve quanto isso – à família e aos amigos de sempre, àqueles que contam verdadeiramente, aos que o são para a vida, aos que estão por ali ou algures, sempre prontos a acolher-nos e a fazer-nos sentir como tem muito mais sentido e sabor uma vida passada assim. 
Sem ponta de inveja: boas férias aos bem-aventurados que ainda podem continuar a prolongar a magia dos reencontros; a todos os outros, como eu, bom regresso ao trabalho, a sonhar na próxima oportunidade de reencontrar e abraçar os amigos de sempre!

24 de agosto de 2019

ESTA SEMANA NA HISTÓRIA DE AROUCA (XXXVI)

1325.VIII.21 - É desta data a “pública forma” da carta de foral concedida por Dona Mafalda Sanches a Vila Meã do Burgo. Neste documento é dado a conhecer que aquele foral foi concedido em forma de carta aberta escrita em pergaminho de couro, em Maio de 1229.

1520.VIII.22 – Diogo Brandão, neto de Diogo Brandão, antigo Escrivão e Tabelião do cível e crime dos julgados de Arouca, Sanfins e Alvarenga, é nomeado recebedor das Sisas da Vila de Arouca.

1756.VIII.21 – O vigário Domingos Ferreira Brandão “O Novo”, do lugar da Cavada, freguesia de Rossas, é feito Capelão em Obediência da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta.

1886.VIII.19 – Por provisão de Dom Américo, bispo do Porto, dá-se a aprovação eclesiástica dos estatutos da Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda.

1886.VIII.19 – O Ministério das Finanças manda sobrestar a venda do Mosteiro até ser tomada uma resolução sobre as pessoas ali encontradas a residir.

1905.VIII.24 – É publicado o primeiro número do jornal Gazeta de Arouca, Semanário Independente de orientação monárquica, sob a direcção e administração de Alberto Carlos Teixeira de Brito e edição e redacção de Justino Gomes Teixeira.

1929.VIII.20 – Reinaldo Soares Correia de Noronha, residente em Alvarenga, toma posse como Administrador do Concelho de Arouca.

1929.VIII.22 – Um abaixo-assinado contendo 98 assinaturas de habitantes da vila e concelho, manifesta o desacordo com a resolução da Comissão Administrativa da Câmara Municipal em instalar o Tribunal Judicial no extinto Mosteiro.

1967.VIII.25 - A Câmara Municipal formula comunicações de protesto relativamente à iniciativa da Casa Regional da Beira-Douro em promover a criação do distrito de Lamego, que incluiria, entre outros, os concelhos de Arouca e Castelo de Paiva.

1967.VIII.23 - É constituída a Casa de Cultura e Recreio de Alvarenga.

1986.VIII.20 - A ainda comummente referida Albergaria das Cabras passa a denominar-se Albergaria da Serra.

1988.VIII.22 - Dá-se o falecimento do professor, investigador, historiador, arqueólogo, padre e bispo, Dom Domingos de Pinho Brandão, natural da freguesia de Rossas, onde o seu corpo foi inumado em jazigo de família.

23 de agosto de 2019

«Onde mora o Folclore?»: um texto do etnógrafo arouquense Albano Ferreira a conhecer

Para além da sua colaboração assídua no jornal «Defesa de Arouca», o insigne etnógrafo arouquense Albano Ferreira é autor de vários outros textos etnográficos e etnológicos sobre Arouca publicados em revistas da especialidade.
Um deles, bastante relevante, é o texto «Onde mora o folclore?», que surge de um pequeno ensaio que Albano Ferreira apresentou, na década de 60 do século XX (era comum), ao Colóquio Portuense de Arqueologia, onde defendeu vários factos óbvios, mas inovadores para a maioria dos estudos daquela altura sobre o assunto: 
-que as danças tradicionais de Arouca têm uma origem milenar, muito remota, na dita 'civilização castreja' do noroeste da Península Ibérica; -que as danças tradicionais de Arouca se enquadram, se inserem e pertencem ao território identitário e endógeno do Douro Litoral, protagonizado pela cidade do Porto: -que os corais polifónicos femininos de Arouca são endógenos e autóctones e, portanto, têm, de igual modo, como é óbvio, origem nessa civilização muita remota dos castros e das citânias e não derivam, de modo algum, da música da Igreja Católica ou dos conventos, visto que têm uma estrutura sonora e musical muitíssimo distinta da música da Igreja Católica e são, portanto, muitíssimo mais antigos, em milénios.
Vale a pena ler e conhecer bem esse texto do etnógrafo arouquense Albano Ferreira, aqui:


dançadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes com o belíssimo traje feminino tradicional de Arouca - Douro Litoral
 Feira das Colheitas (fins da década de 60 do século XX)
fotografia do etnógrafo arouquense Albano Ferreira

A década de 60 do século XX (era comum) é a década dos «anos de ouro» do Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses e o timbre e o som das modas deste grupo arouquense têm, claramente, a marca da lucidez etnográfica e etnológica de Albano Ferreira. Vale a pena ouvir estas duas modas, de grande autenticidade, desses «anos de ouro» do Conjunto Etnográfico de Moldes:
Tirana

Cana Real das Canas

17 de agosto de 2019

ESTA SEMANA NA HISTÓRIA DE AROUCA (XXXV)

1245.VIII.12 – Sua Santidade o Papa Inocêncio IV ordena aos arcebispos de Compostela e de Braga, que excomunguem todos quantos se apoderarem de bens pertencentes ao Mosteiro de Arouca.

1779.VIII.18 – Sua Majestade a rainha D. Maria I, restitui à Abadessa do Mosteiro de Arouca os privilégios que lhe haviam sido abolidos em 1776.

1850.VIII.15 – Nasce, na freguesia de São Miguel do Mato, António da Costa Couto Sá de Albergaria, renomado professor e escritor português.

1900.VIII.14 – Dá-se o falecimento do padre Bernardino de Pinho Bandeira, natural de S. Pedro do Sul, que foi professor na vila de Arouca e presidente da mesa que presidiu à reunião para aprovação dos primeiros Estatutos da Real Irmandade Rainha Santa Mafalda, em 1886.

1927.VIII.12 – Inicia-se a publicação do “SEMANÁRIO REPUBLICANO”, pelas mãos de Ângelo Miranda e Basílio Honório.

1942.VIII.18 – Dá-se o falecimento de Maria Rosa do Sacramento, que entrara no Mosteiro com apenas 12 anos para servir as monjas e aí permaneceu até morrer. Durante a sua permanência cuidou e zelou dos objectos e relíquias de culto, impedindo que se dissipasse esse valiosíssimo espólio.

1962.VIII.18 – Ressurge o Desportivo de Santa Cruz de Alvarenga, após um período de quase inactividade provocado pela emigração para o Brasil e África da quase totalidade dos seus jogadores.

1977.VIII.13 – É constituído o Centro Cultural e Recreativo de Vila Viçosa.

1979.VIII.14- Tem inicio o I Torneio de Verão de Futebol Infantil.

1995.VIII.13 – É inaugurado, em Sequeiros, freguesia de Rossas, o Restaurante Avistada, propriedade de Cármen Soares Ferreira.

2009.VIII.16 – É confirmada a candidatura de Paulo Portas, presidente do CDS/PP, à Assembleia Municipal de Arouca.

2013.VIII.18 - O Futebol Clube de Arouca desloca-se ao Estádio Alvalade XXI para defrontar o Sporting Clube de Portugal, no jogo de estreia na 1.ª Liga Nacional de Futebol.

16 de agosto de 2019

Não fazem ideia de quanto eu amo a cidade do Porto!...

Para além da minha querida Arouca natal, não fazem ideia de quanto eu amo a cidade do Porto!...A cidade do Porto: «a minha cidade de sempre e para sempre»...O Porto «sempre foi Arouca e Arouca sempre foi o Porto»...A minha querida Foz, a Foz do Douro (que hoje, mais uma vez, percorri...), tem um ambiente de boas energias cósmicas e é lá, entre o Douro e o Atlântico, que também habita a mulher que é a mais gira e a mais bela fusão feminina do Porto com Trás-os-Montes...
O rio Arda nasce na vila de Arouca e, em Rôssas, passa no sopé da colina de Telarda, ao direccionar-se para o rio Douro, onde desagua, a cerca de 22 Km do Porto... E o rio Douro desagua no oceano Atlântico, na minha querida Foz, a Foz do Douro...«Na minha cidade de sempre e para sempre»: o Porto, que «sempre foi Arouca e Arouca sempre foi o Porto». Arouca é uma continuidade do Porto e o Porto é uma continuidade de Arouca.
Arouca e o Porto, o Porto e Arouca, que tanto amo, são «as minhas localidades endógenas e de naturalidade, de sempre e para sempre». Arouca e o Porto e o Porto e Arouca são e serão, com a Ajuda e a Protecção Divinas de HaShem, as minhas localidades de residência para sempre, com o vínculo vitalício axiológico à Torá Hebraica de HaShem e a Israel, onde se vai edificar, na Era Messiânica, o Terceiro Templo, para, a partir de Jerusalém, surgir o Governo Messiânico, para uma nova era futura de paz, de ética noahide-chassid-observante, de bem-estar e de prosperidade incomensuráveis, para todos os seres humanos, no planeta Terra.
A escatologia humana é a escatologia judaica ortodoxa e haredi «Shomer Torá uMitzvot» direcionada para a Era Messiânica, que ocorrerá no futuro, a partir de Jerusalém, em Israel, liderada pelo Moshiach ben David. Não outra.
Foto: European Best Destinations

A escatologia humana é a escatologia judaica ortodoxa e haredi «Shomer Torá uMitzvot» direcionada para a Era Messiânica, que ocorrerá no futuro, a partir de Jerusalém, em Israel, liderada pelo «Moshiach ben David». Não outra.
Conferência de muita qualidade do rabi ortodoxo Mendel Kessin.

José Nuno Pereira Pinto - o autor, a vida, o homem

José Nuno Pereira Pinto em Alvarenga, 02/08/2019
Em linha de continuidade com alguma tradição existente no nosso concelho em tornar público dados e informações biográficas de personalidades arouquenses, dignas de destaque (pelo percurso singular de vida, pela participação relevante em factos históricos, pela dedicação a causas nobres, pelo altruísmo, pela empatia, pelo percurso profissional ou académico, ou simplesmente pelas relações pessoais criadas), sem a pretensão de uma biografia académica nem exaustiva, partilharei alguns dados e observações sobre arouquenses que, por variadas razões, suscitam o meu apreço e a minha admiração e que julgo ser de interesse local, na medida em que a história de um concelho se cruza com a história da sua população e das suas famílias. 

Em jeito de homenagem, mas sobretudo em manifestação pública do meu apreço, estima e admiração, inicio esta minha pretensão convocando o Dr. José Nuno Pereira Pinto, arouquense, natural da freguesia de Alvarenga, meu conterrâneo.

Julgo sobejamente conhecida a bibliografia do Dr. José Nuno Pereira Pinto, na minha opinião, um dos maiores e mais ilustres autores arouquenses, pelo número, diversidade, rigor e qualidade das cerca de duas dezenas de publicações, nas mais diversas áreas (romance, teatro, poesia, ensaio, diário, crítica literária, historiografia). De facto, enquanto leitora, perscruto no “Da Outra Margem” um autor hábil, um historiador perspicaz e um narrador/ficcionista que nos enreda numa teia sedutora, com personagens, estilos e recursos linguísticos, ambientes e histórias incríveis e únicas tendo como tema principal a extração mineira, o volfrâmio e a II Guerra Mundial em Alvarenga. Depois da mestria revelada neste romance, o autor continua a surpreender com a sua poesia, que sugere uma sensibilidade extrema, numa relação quase transcendental do poeta com a sua terra natal, com a sua família, mas também com a natureza com que se funde desde o raiar do dia ao crepúsculo, em sentimentos profundos, talvez inexplicáveis, de saudade, melancolia, onde a felicidade surge como naturalidade, originalidade, afetividade e inocência.

Se pensarmos que é já o bastante, José Nuno Pereira Pinto revela-se um excelente dramaturgo, recorrendo à tragédia clássica para dar voz à crítica mordaz e acutilante em “Quando a tirania mata pelo silêncio”, contra o Bispo António Ferreira Gomes, que conheceu bem, numa tentativa de honrar a memória do Pe. Coelho da Rocha, que se suicidou, e de desmistificar a imagem do Bispo, repondo alguma verdade àquela figura que, segundo JNPP, é de certa forma inventada e politizada. Esta coragem do autor, muitas vezes incómoda para algumas elites nortenhas e do Porto, repete-se no seu “Diário Imperfeito”, onde revela alguns episódios que vivenciou e que, para um bom entendedor, são esclarecedores do seu carácter e do seu percurso, nunca facilitado, pela Igreja, levando-o mesmo ao descrédito desta enquanto instituição, sem nunca, porém, ver abalada a sua fé. Alvo de algumas críticas foi também a figura do Bispo Dom Domingos de Pinho Brandão, arouquense, do qual JNPP foi discípulo.

José Nuno Pereira Pinto, atualmente nos seus 85 anos de vida, e depois de tantas páginas publicadas em livro, publicou recentemente “Esparsos” de seu pai, José Pereira Pinto, onde acrescenta biografias sobre os filhos deste, num gesto singelo que pretende homenagear o legado de seu pai que lutou para que todos os seus filhos tirassem um curso, que se concretizou e que os fez seguirem as suas pegadas na carreira de ensino, sendo das raras famílias dedicadas à docência (todos os onze filhos de José Pereira Pinto foram professores).

Se a bibliografia de JNPP é impressionante, não o é menos o seu percurso de vida.

Como já foi referido, José Nuno Pereira Pinto é filho de José Pereira Pinto, professor, que foi colocado como titular em Alvarenga em 1926, tendo sido o primeiro professor a estrear a escola do Paço, em 1930. Morou com os seus pais e as suas irmãs nesse estabelecimento até 1945, tendo recordações muito vivas e claras da sua infância, dos serões onde se rezava o terço, onde ouvia seu pai a ler em voz alta Garrett, onde se tocava piano e das manhãs em que acordava pelo dedilhar de guitarra de seu pai. Cresceu no seio de uma família numerosa, zeladora, protetora, rodeado de irmãs, em liberdade plena. Nascido em 1934, tinha 8 anos quando se deu o motim de Alvarenga, tendo memórias muito visuais do motim, da PVDE a cercar a Casa do Santo, que via da janela do seu quarto, de ver o seu pai preso para interrogatório, de se recordar da sua mãe que, na ausência de seu pai, assumia a proteção da família, dormindo com uma espingarda carregada debaixo do travesseiro e do regresso do seu pai a casa, na camioneta que vinha do Porto e que só parava à frente da escola do Paço para deixar entrar ou sair o Sr. Professor, a quem lhe era simpaticamente reservado o banco da frente.

Único filho varão de uma prole de onze que sobreviveram, JNPP viu recaírem em si sonhos académicos que seu pai desejava mas que lhe foram impossíveis e que a sua irmã mais velha, Maria Helena, gorava, ao abandonar a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, após dois anos de frequência, para se casar e emigrar para o Brasil.

Em 1945, José Nuno Pereira Pinto, com onze anos, muda-se com a família para o Porto, pois seu pai é impulsionado pela necessidade de dar continuidade aos estudos dos filhos.

Influenciado pelo contacto com o seu tio cónego, da educação religiosa que tivera e da possibilidade de vir a concluir os seus estudos no Seminário, José Nuno Pereira Pinto decide dedicar a vida ao sacerdócio, vontade que é respeitada e aceite pelos pais. Da sua passagem pelo seminário, JNPP confidencia e partilha o sofrimento que sentia, enclausurado no quarto, sujeito a uma disciplina rígida, quase tirânica, relembrando as disciplinas lecionadas sem espírito crítico nem pedagogia, a recriminação de quaisquer conversas entre pares, normais entre jovens, a hora de recolher obrigatória, os castigos, a ausência de quaisquer meios de comunicação como fossem jornais ou correspondência, o distanciamento imposto relativamente à família e sobretudo a escassa humanidade e solidariedade dos superiores. As memórias mais relevantes que JNPP relembra são de escuridão, proibição, medo, tirania, clausura, opressão e autoritarismo repressivo, memórias essas que contrastavam com as que até então conhecera, em Alvarenga, totalmente opostas.

Sob o jugo da Igreja, quer enquanto seminarista, quer depois, como sacerdote, os seus desejos de tirar uma licenciatura nunca foram considerados nem permitidos pelo Bispo Dom António Ferreira Gomes, o que fez com que JNPP se sentisse marginalizado, secundarizado e ostracizado, factos que talvez também o tenham levado à rutura e o tenham levado a pedir dispensa de votos. Apesar da rejeição do Bispo, JNPP matriculou-se em Coimbra, licenciou-se e depois de abandonar o sacerdócio concluiu várias outras licenciaturas, sendo diplomado em Teologia, Filologia Clássica, Direito e Pedagogia.

O abandono do sacerdócio foi outra prova pela qual JNPP teve de passar, juntamente com a sua família que aceitou e respeitou a sua decisão. JNPP recorda que sentiu o estigma, que socialmente deixou de ser considerado, que houve “amigos” que lhe viraram as costas, o que o obrigou a recomeçar e a redobrar as suas forças, revigoradas com a possibilidade de ser professor. Apesar de inicialmente pensarem que seria professor de Educação Moral, JNPP inicia a sua carreira de docente orgulhosamente a lecionar português, latim e grego (e a demarcar-se orgulhosamente da etiqueta de ex-sacerdote)…

Já professor e liberto dos votos enquanto padre, conheceu a mulher que havia de desposar, Natividade, também ela professora e mais tarde poetisa. Com ela teve um filho, a quem deu o nome de Nuno.

Nestas cinco décadas, JNPP teve uma vida repleta, instalando-se em Matosinhos. Foi professor, tirou várias licenciaturas (não tantas como queria, pois lamenta não ter tido tempo para tirar Medicina nem ter tirado Música), exerce advocacia com seu filho, e publicou obras de relevo para a História Local e Nacional.

José Nuno Pereira Pinto, como se pode facilmente constatar, é um homem notável, de uma enorme erudição, com conhecimentos diversificados muito acima da média, amante das artes, da música clássica e da ópera, exímio pianista (há poucos dias brindou-me a mim e à Cátia Cardoso com um concerto particular, em Alvarenga, onde sentado ao piano tocou alguns dos seus improvisos que compôs), detentor de uma memória visual incrível, capaz de relembrar factos, situá-los em tempo e local precisos (!), muito humano e sensível, altruísta, orgulhoso da sua terra e defensor do seu património (mostra-se incrédulo que ainda ninguém tenha publicado a monografia do concelho de Arouca de Manuel Rodrigues Simões Júnior!), impulsionador da Cultura e do Conhecimento, de uma perspicácia aguda, associando a memória do passado, à atualidade ao mesmo tempo que projeta o futuro, com esperança e positivismo.

Por vezes desconhecido ou nem sempre compreendido, José Nuno Pereira Pinto é de facto uma figura ímpar, que prima pela retidão, pela honestidade intelectual, pela verdade por vezes difícil de digerir e inoportuna, pelo qual nutro estima e admiração e a quem agradeço a amizade, o apreço e a partilha do seu conhecimento e da sua vida, registada em livros, ao alcance dos leitores!

15 de agosto de 2019

De uma das entrevistas recentes ao Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões...

O Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e director do IPATIMUP, filho e neto de Arouquenses ilustres, é, indiscutivelmente, uma das actuais personalidades portuguesas de muita relevância que estão ligadas a Arouca. Tenho grande admiração pelo Professor Doutor Sobrinho Simões e tenho a honra de o conhecer pessoalmente.
São frequentes as entrevistas que este reconhecido investigador e cientista de prestígio internacional concede aos «mass media» nacionais. Entrevistas que são sempre interessantes e falam, quase sempre, de Arouca, localidade das suas origens familiares paternas e onde passa, com a família, algumas temporadas, durante o ano.
Numa das suas entrevistas mais recentes, concedida ao Jornal i, o Professor Doutor Sobrinho Simões aborda, na sua lucidez habitual, vários assuntos, focando, com conceitos sociológicos, aquilo que é um facto claro: a diferença da idiossincrasia cultural e identitária entre o Norte e o Sul, entre o Porto e Lisboa, descrevendo, de modo pertinente, o centralismo (melhor dito: o ultra-centralismo) de Lisboa no que se refere ao campo específico da Saúde, apesar dos hospitais do Porto estarem, habitualmente, no topo do 'ranking' dos melhores hospitais de todo o País e com menos fundos dos que os de Lisboa, devido a esse pernicioso ultra-centralismo lisboeta:

" O que o irrita mais nos lisboetas?
Não tenho uma irritação. Mas gosto muito de viver no Porto. Mas há os tiques da capital.

Por exemplo?
São mais fake.

Somos mais fake?
Claro, não se compara [risos]. Até na linguagem, nós usamos o calão. O Porto é muito inbred e Lisboa não é, é a primeira grande diferença. Aqui no Porto somos todos primos e cunhados uns dos outros. Em Lisboa a população é muito flutuante, foi muita gente para lá. E desenvolveram-se muito os serviços, que criaram uma classe média, que no Porto não há. No Porto havia profissões liberais, uma classe média alta talvez, e uma classe baixa, não havia a classe média. Em Lisboa à hora de almoço está tudo cheio de gente que trabalha nos serviços. Não se compara, aqui as pessoas almoçam sobretudo em casa.

Mas porque é que somos mais fake?

Há uma competição social muito maior, que depois se passou para a política e para os edis, ligados aos partidos e autarquias, que introduziram um elemento de made believe, que é mais evidente em sociedades mais competitivas.

O país continua demasiado centrado em Lisboa?

Isso é indiscutível. Veja-se o S. João e o Santa Maria. Eles gastam muito mais dinheiro do que nós e os resultados não são assim tão diferentes. Há menos oportunidades. "

Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, director do IPATIMUP
foto: Jornal i

E o ilustre Professor Doutor Sobrinho Simões, como é habitual nas entrevistas que concede, fala de Arouca como um território familiar de afecto que habita com frequência:

"(...) Na sexta-feira à hora de almoço fui uma conferência sobre melhoramento humano. Nem lá pude ficar porque fui para Arouca discutir na academia sénior, umas velhinhas amorosas, cantaram cantigas de Covelo de Paivô, terra do meu bisavô. Fui discutir os desafios do século XXI. Envelhecimento ativo, longevidade, solidão e insegurança. (...) Há um esgotamento óbvio do planeta. Fogos em Arouca, estou habituado. Fiquei mais espantado quando houve na Suécia. (...) no verão, vou para Arouca. A minha mulher é de Âncora, o meu pai era de Arouca. Em Arouca vou ao Parlamento, à Tasquinha ou à Varandinha. (...) nasci no dia 8 de setembro, dia das festas em Arouca. (...)"

14 de agosto de 2019

Ascendência e juventude de Bernardino António


«Porém, foi mais o facto de ter ficado órfão de mãe com apenas dois anos e órfão de pai ao cair dos dezassete, que ditou a ida de Bernardino António para a Cavada de Rossas. Sua mãe, Luísa Teresa Angélica de Pinho Brandão, não recuperou do difícil parto de sua irmã Lourença Vitória e acabou por sucumbir em 4 de Novembro de 1769. Seu pai, Gaspar José Teixeira Pinto, morreu a 14 de Setembro de 1783, quando Bernardino António, então com 17 anos, se preparava para começar novo ano na Faculdade de Leis em Coimbra, que vinha frequentando. Um tremendo e definitivo revés no mais dilatado horizonte que vinha experimentando na Universidade. Um abrupto chamamento da teoria à prática e à necessidade de mais aceleradas aprendizagens.
Acontecimentos estes que forçaram o jovem a regressar a Arouca e a assumir as obrigações inerentes à sua condição de sucessor de seu pai, uma vez que seu irmão Dionísio António, apenas mais velho um ano, se tinha já destinado ao serviço da Igreja.
Bernardino António pediu então também a ajuda de seus tios da Cavada de Rossas, onde se juntou a seu irmão Dionísio António que já ali assistia, no estudo informal de Cânones, que o haveria de levar a seguir as pisadas de seus primos e tios abades. Com efeito, era já velha e afamada a tradição de ali se preparar devidamente os jovens para os ofícios da Igreja ou para a carreira de Armas. De resto, havia sido em idêntico estágio que seu falecido pai ali se havia enamorado por sua falecida mãe.
Conjuntamente com seu irmão, já «clérigo in minoribus», Bernardino António começou por coadjuvar o tio Vigário Frei Domingos Ferreira Brandão, e, ao falecimento deste, em 1787, passou a acompanhar seu primo, e sobrinho daquele, o Vigário Frei Manuel José Ferreira Brandão, que, tendo nascido no Cortinhal de Santa Maria do Monte, também para ali viera aprender e por ali ficara a exercer. E com eles também o primo-sobrinho Miguel António, filho do primo António José Ferreira Brandão, boticário no Porto, onde nasceu e dali regressou. E também José Luciano, filho do Capitão-Mor Manuel José Ferreira Brandão de Carvalho, já feito «clérigo in minoribus». A Cavada de Rossas era então uma autêntica escola e esse um novo tempo, em que, apesar de perdida na espessura densa do negrume, não havia noite em que não ficasse a lucilar a lamparina de azeite no nicho da quina da casa da entrada do lugar, que os jovens aprendizes acorriam acender depois de, à vez, reboarem o angelus no sino da igreja.
Fruto das aprendizagens obtidas em Coimbra, Bernardino António, não tardou, assumiu mais protagonismo que seu irmão Dionísio António, aceitando apadrinhar várias crianças, às quais cedeu o seu próprio nome, como foi o caso do primo sobrinho de Santa Maria do Monte, outro em Provesende de Cima, a que assistiu por procuração de seu irmão, e ainda outro, filho de José Gomes da Cruz e Maria Soares, do lugar de Bouceguedim de Arouca, assistentes no lugar do Outeiro de Rossas. Apadrinhou também, entre outros, Caetana, filha do Capitão Manuel José de Azevedo Rocha e Melo, «rendeiro desta comenda», a que assistiu por procuração o irmão da baptizada.
Terá sido no âmbito destes ofícios, em que assinou frequentemente com o apelido Brandão, que Bernardino António conheceu a jovem Francisca Teresa, que vinha beneficiando da influência e posses de sua avó Damiana Teresa e seu tio-avô António, assistindo nas casas mais influentes e privando com os mais destacados oficiais de Rossas.

- Quando ontem te encontrei na igreja cheguei a cometer, naturalmente, perante Deus, um pecado! Mas o rei do mundo e do céu deve perdoar-me na hora dos últimos arrependimentos, atendendo aos sentimentos que a isso me levaram. Estando a olhar para ti chegava a esquecer-me do acto religioso a que estava assistindo. Tiveste a bondade de corresponder na rua ao meu sorriso, e é por isso que hoje te digo, por este meio, que aquela hora de deferência ficará gravada eternamente em minha alma. Espero a tua resposta, quer me venha a agravar o sofrimento, filho do receio, quer me venha encher o caminho de flores -

Foi também na Cavada de Rossas que Bernardino António conheceu melhor e conviveu com um seu parente mais velho, destacada e reputada personalidade de Rossas e Arouca: o então Capitão-Mor de Ordenanças dos Privilegiados de Malta, Manuel José Ferreira Brandão de Carvalho, que havia alguns anos, por 1770, também exercera as funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia e, em 1771, as de Juiz Ordinário de Arouca. Um homem de grande sabedoria e inteligência, filho do não menos renomado Alferes João Pinho de Carvalho e de Bernarda Ferreira Brandão, prima de sua mãe e uma das três filhas do Vigário Domingos Ferreira Brandão “o Velho”, e genro do afamado Capitão-Mor Manuel Aranha Brandão de Mendonça, por via do casamento com a filha deste, D. Caetana Matilde Soares Aranha Brandão de Mendonça.
Bernardino António viveu extasiado com a história e estórias que aí se contavam dos antepassados da casa, não resistindo sequer a alvorar-se e pendurar-se em tão afamada ascendência, dizendo-se frequentemente Brandão de Carvalho.
Ao canto da sala da casa, sobradada mas não forrada, junto à mesa do senhor Capitão, três grandes arcas de vinhático e pau-santo, do século XVII, acondicionavam pequenas maravilhas e grandes preciosidades. Documentos nos quais se lia que naquela casa desde sempre morou gente da mais nobre e influente não só da comenda de Rossas, como de todo o concelho de Arouca e redondezas. «…pessoas nobres, e de conhecida nobreza, e sempre se trataraõ com o estado devido as suas pessoas, e calidade, como pessoas nobres que eraõ, e que com o mesmo estado, e nobreza, se trata elle supplicante, e da mesma sorte conserva elle supplicante a nobreza, e calidade de seus progenitores, assim paternos, como maternos, e que nunca nelles ouvera raça de judeo, mouro, ou mulato, nem de outra infecta naçaõ, nem fama, ou rumor de contrario…», como se podia ler na cópia da carta de Brasão de Armas, dada por El-Rei D. João V a José Soares Aranha Brandão. «… peçoas nobres de limpo sangue, sem Raça alguma de judeos mouro ou molato ou de outra infecta naçaõ, e verdadeiro descendente das munto nobres famílias, que neste Reyno saõ fidalgos antigos de geraçaõ e de cotta de Armas, e como tais se trataraõ sempre a ley da nobreza servindoçe com criados, cavallos e de todo o mais tratamento que a sua nobreza convenha…», como se podia ler naquela outra carta, dada por El-Rei D. José I a Manuel Aranha Brandão Soares Henriques de Mendonça.
Ali, onde os gatos se passeavam pelas traves do telhado e se abafavam na cinza da lareira à pinga dos enchidos ao fumeiro, residiram sempre os mais destacados oficiais das companhias de ordenanças dos caseiros privilegiados da Comenda de Rossas da Ordem de Malta. Sempre! Pelo menos desde o tempo do Comendador Frei Brás Brandão, que faleceu em Lisboa, em 1656, mas que por ali deixou descendência, nomeadamente Domingos Brandão, ao qual, após ter mandado construir a nova, «deu as casas velhas que erão da Comenda» e outros bens e o fez Capitão de Ordenanças, que o foi da Comenda anexa de Frossos, em Albergaria-a-Velha. E de lá também foi Capitão seu irmão António Brandão, cuja filha retomou a Cavada de Rossas onde casou com o célebre mercador Manuel Aranha, que sucedeu ao sogro na patente e foi Capitão desta comenda. E deste, o seu filho Capitão Manuel Aranha Brandão, do mesmo lugar, a que sucedeu seu filho Capitão-Mor José Soares Aranha Brandão, da mesma casa. E o Capitão-Mor Manuel Aranha Brandão Soares Henriques de Mendonça, do mesmo sítio, irmão do precedente, que veio a ser sogro do Capitão Manuel José Ferreira Brandão de Carvalho que dele, para além da filha, recebeu também a patente.
Mas de todos os papéis, documentos e livros existentes na casa, incluindo as Memórias da Ordem Militar de S. João de Malta, de frei Lucas de Santa Catharina, e a novíssima Dissertação Histórico-Jurídica sobre Direitos e Jurisdição do Grão-Prior do Crato, e do seu Provisor, de Pascoal José de Mello Freire, a mais bela era mesmo a referida carta de brasão passada ao Capitão-Mor Manuel Aranha Brandão Soares Henriques de Mendonça. Com efeito, os apelidos diziam bem dos merecimentos e o não se ter mandado fazer pedra d’armas diz bem da humildade e nobreza de carácter do nobilitado. De resto, havia aquela outra mais antiga, de que ali ficou apenas transcrição, passada ao seu irmão José Soares Aranha Brandão, mas que esse levou para o belo e soalheiro solar de Silvares, lá do outro lado da matriz de Macinhata da Seixa, no Almeu, às portas da vila de Azeméis, de que foi herdeiro por via materna, e onde entretanto casou e fixou residência, com suas armas no frontal e capela dedicada a Nossa Senhora da Guia, donde enviou descendência a Bemposta e devolveu sangue a Frossos.
Foi também na Cavada de Rossas que Bernardino António aprimorou a arte de manusear armas e montar a cavalo, o que, aliado ao seu porte e estatura, fez dele um admirável e respeitável cavaleiro, ao estilo dos antigos cavaleiros das ordens militares – o que – não lhe corresse nas veias, como cera p’los brandões, sangue dos cavaleiros ingleses vindos a este Reino com o Conde D. Henrique - muito o envaidecia e tornava ainda mais empenhado e dedicado.»

"O ÚLTIMO CAPITÃO de Ordenanças e Milícias de Arouca e a transição do Antigo Regime para o Liberalismo", Arouca, 2019, p. 12 e seguintes.

10 de agosto de 2019

ESTA SEMANA NA HISTÓRIA DE AROUCA (XXXIV)

1245.VIII.11 – Em Bula dirigida a Paio Furtado, bispo da Diocese de Lamego, Sua Santidade o Papa Inocêncio IV confirma a mudança das religiosas de Arouca para a Ordem de Cister.

1764.VIII.09 – É aberto o testamento do padre José de Sousa Figueiredo, natural de Figueiredo, freguesia do Burgo. Um dos encargos constantes deste testamento, era o de mandar construir uma capela de invocação a Nossa Senhora do Amparo e Santa Ana, naquelas que foram as suas propriedades. Trata-se da actual capela de Nossa Senhora do Campo, na freguesia de Rossas, construída a mando do seu herdeiro universal Manuel José Ayres, do Trigal (Rossas).

1812.VIII.10 – Ingressa no Mosteiro de Arouca, como Noviça, Dona Maria José Tovar de Menezes, filha de Alexandre José Gouveia e Dona Matilde Olímpia de Menezes, de Fonte Arcada, que virá a ser a última Abadessa do Mosteiro de Arouca.

1850.VIII.09 – Dá-se o falecimento do Doutor Manuel António Coelho da Rocha, natural de S. Miguel do Mato, ilustre Professor de Direito na Universidade de Coimbra.

1886.VIII.08 – É eleita a Comissão Instaladora da Real Irmandade Rainha Santa Mafalda de Arouca.

1926.VIII.05 – A Comissão Administrativa da Câmara Municipal delibera não voltar a arrendar as celas do extinto Mosteiro à medida que as mesmas vão sendo desocupadas de inquilinos.

1963.VIII.08 – Realiza-se, em Fátima, a Missa Nova do padre António de Brito Peres, de Santo António, Santa Eulália. Neste mesmo dia, mas no Seminário da Sé, realiza-se a Missa Nova do padre Idalino Vaz Ferreira, de Santa Maria do Monte, Santa Eulália. No dia 15, em Chave, tem lugar a Missa Nova do padre Manuel Correia Fernandes, de Ruival, Chave. No dia 18, em Santa Eulália, tem lugar a Missa Nova do padre Américo Brandão Pereira Vilar, de Jugueiros, Santa Eulalia.

1963.VIII.10 – São inaugurados os telefones automáticos em Arouca.

1974.VIII.11 – É inaugurada a nova capela de Ponte de Telhe, na freguesia de Moldes.

1980.VIII.05 – É constituída a Associação Social Cultural e Desportiva “Unidos de Rossas”, com sede na freguesia de Rossas.

2000.VIII.09 – É lançada a Primeira Pedra da Escola E.B.2,3 de Escariz.

2015.VIII.07 - É lançado, em Rossas, na Festa da Senhora do Campo, o livro “Senhora do Campo. Fé, Devoção, História e Tradição”, da autoria de António Brandão de Pinho.

8 de agosto de 2019

O calvário do Calvário

O histórico Calvário localizado na parte norte do centro urbano da vila de Arouca está votado a um abandono e degradação que não deixa indiferente quem por lá passa.
Sendo um dos locais mais simbólicos e históricos de Arouca, quer pelo seu cariz religioso quer social, entendo que está mais do que na hora de uma recuperação de fundo desse espaço.
É também, possivelmente, um dos locais mais visitados do concelho, pela sua importância e beleza, mas também pela sua proximidade geográfica ao Convento de Arouca que leva a que turistas e outros percorram as ruas de Arouca passando invariavelmente por aquele local.
A escadaria, púlpito, cruzeiros e todo o conjunto granítico  encontram-se com um aspecto de abandono, com ervas e vegetação arbustiva a crescer descontroladamente.
O local é propriedade privada da Santa Casa da Misericórdia de Arouca mas creio que tanto esta entidade como as entidades públicas devem envidar esforços no sentido de lhe dar uma “nova cara” e imagem. Todos saíriam a ganhar.

3 de agosto de 2019

D. Leonardo de Sousa Brandão (1767-1838)

«Contemporâneo e correligionário de Bernardino António Teixeira Vaz Pinto, era também D. Leonardo de Sousa Brandão (1767-1838), filho do capitão Manuel de Almeida dos Santos Brandão e de D. Angélica Joaquina Margarida de Sousa, da casa da Vinha do Souto de Baixo, da paróquia de São Salvador de Várzea. Foi padre-mestre na Congregação do Oratório, em Braga, e último bispo da extinta Diocese de Pinhel. Antes, havia residido em Lisboa, na Casa do Espírito Santo, de onde foi chamado para confessor de D. Carlota Joaquina e da infanta D. Maria da Assunção, onde terá privado com os demais jovens filhos da rainha, nomeadamente, com D. Pedro e D. Miguel.
Em 1831, eram dezasseis os bispados vagos em Portugal. D. Miguel, apercebendo-se das vantagens políticas internas e externas de um reconhecimento do seu governo pelo papado, invoca junto de Roma os prejuízos pastorais que daquela situação advinham para a Igreja em Portugal, de forma a conseguir o preenchimento dos lugares vagos no episcopado com nomes por si apresentados e da sua confiança.
D. Pedro, percebendo a intenção de seu irmão e procurando obstar-lhe, logo avisa o Papa, a 12 de Outubro desse mesmo ano, de que não reconheceria como válidas as nomeações feitas pelo Usurpador da Coroa de sua filha, e mais consideraria traidores e rebeldes os que aceitassem tais nomeações, prevenindo-os de que seriam por essa razão expulsos do Reino e exceptuados expressamente da amnistia que tinha em mente conceder quando reposta a legitimidade. Com efeito, referiu ser esta legitimidade que o movia, e não quaisquer intuitos de excitar um cisma ou interromper a boa harmonia com a Santa Sé.
Apesar dos múltiplos esforços do representante de D. Pedro em Roma, o Papa acaba por ir nomeando bispos os candidatos que lhe são apresentados por D. Miguel, mesmo quando as previsões da vitória liberal são já de todo claras. O cisma que D. Pedro não desejava, mas com que ameaçara, tornava-se assim inevitável.
A 8 de Junho de 1832, num ofício em que dá conta do aparecimento da «cólera mórbus», o vigário pró-capitular da Diocese de Pinhel, vacante de bispo desde 19 de Julho de 1828, recomenda as preces «que o nosso Ex.mo Prelado Ex.mo Senhor D. Leonardo Brandão compôs para implorarmos a divina protecção de Maria Santíssima em nosso favor», e termina com um voto para que Deus restitua a paz ao reino atribulado e defenda a «preciosa vida» do rei D. Miguel e sustente a Santa Religião.
Leonardo de Sousa Brandão, que, em 1824, não havia aceitado a mitra de bispo do Ultramar, em 7 de Janeiro de 1832, não tem como recusar a nomeação para bispo de Pinhel, em que foi confirmado a 17 de Dezembro do mesmo ano e sagrado a 10 de Fevereiro do ano seguinte. No entanto, correspondendo aos demais pedidos de D. Miguel, que, no beija-mão de 2 de Novembro de 1832 em Braga reuniu mais de cem mil pessoas, andou pelo Minho, aonde ministrou o Santo Crisma nas comarcas de Viana do Castelo, Ponte de Lima e outros lugares; e, só depois de pregar em Braga, na Igreja dos Congregados, pelo 1.º de Dezembro de 1833, fez a entrada solene na Catedral de Pinhel.
Logo que D. Pedro se instala em Lisboa, cria a Comissão de Reforma Geral Eclesiástica. Desta Comissão são emanados pareceres que fundamentam os decretos pelos quais se declaram rebeldes e traidores os eclesiásticos que abandonaram os seus postos aquando da aclamação de D. Maria II; se extinguem todos os padroados eclesiásticos; e se proíbem os noviciados religiosos, num prenúncio claro das medidas que virão a ser tomadas para com as ordens religiosas, e de que fora já aliás sintoma a expulsão a 24 de Maio de 1834 dos jesuítas de Coimbra, que haviam reingressado em Portugal em 1829, autorizados por D. Miguel. Num outro decreto emanado por parecer da mesma Comissão, datado de 5 de Agosto de 1833, se declaram solenemente vagos todos os arcebispados e bispados que foram confirmados no Consistório de Roma em virtude da nomeação e apresentação do governo usurpador; e bem assim todas as dignidades, priorados-mores, canonicatos, paróquias, benefícios, e quaisquer outros empregos eclesiásticos, nomeados e apresentados pelo mesmo governo intruso, e confirmados em consequência desse título vicioso.
Cinco meses depois da entrada solene em Pinhel, D. Leonardo vê-se obrigado a retirar-se para fugir às perseguições dos partidários de D. Pedro, refugiando-se na sua terra natal e vagueando pelos concelhos das imediações de Arouca, sempre perseguido. Levantou altar nas casas onde lhe deram asilo, e ali celebrou e mandou celebrar o Santo sacrifício da missa, fazendo também algumas ordenações de presbíteros e outras Ordens, sempre auxiliado pelos “clérigos” do Sobral, seus sobrinhos, Manuel, Vitorino e Luís. Celebrou inclusive casamentos, como foi o caso de António Cerveira Ferraz Bravo com a viúva do major António Carlos de Vasconcelos, D. Joana Carmelinda Ferraz Bravo, da casa da Quinta de Cela, em 5 de Outubro de 1837.



«Dom Leonardo Brandão, por graça de Deos e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Pinhel do Conselho de Sua Majestade: Alertamos que achando-nos na freguesia de Várzea d’Arouca Bispado de Lamego, uzando dos poderes de que estamos auctorizados pelo Vigário Capitular legitimo e ortodoxo desta mesma Diocese, o Muito Reverendo António Teixeira, assistimos ao matrimónio d’António Cerveira Ferraz Bravo, com Dona Joana Carmelina Ferraz Bravo, com dispensa legitima do segundo grao de consanguinidade alcançada por via de Frei Bernardino da Virgem Santissima Religião do Seminário do Varatojo, pela grave causa, digo pela causa de grave perigo d’incontinencia e pelas clamitosas circunstancias, com que se acha o nosso Reino e falta de Parocho Ortodoxo, o fizemos ocultamente em nosso Oratório particular perante as duas testemunhas abaixo afsignadas, hoje cinco d’Outubro de mil oitocentos e trinta e sete. E para constar a todo o tempo da legitimidade deste matrimónio, Mandamos passar o prezente documento. Eu Vicente de Sousa Brandão o escrevi. Era ut supra. D. Leonardo de Sousa Brandão, Bispo de Pinhel = Dâmaso de Sousa Brandão = Victorino José de Almeida Brandão».

 Dom Leonardo terá começado por se refugiar na também sua casa de Campo de Fora, na freguesia de Rossas, entretanto passada a seu irmão Dâmaso, mas, esta antiga comenda de Malta também fora extinta e já não garantia mais protecção aos que andassem foragidos às justiças do Reino, como até então se dizia. Acresce que a contestação derivada da nomeação de um novo pároco para Rossas também fazia desta uma freguesia muito exposta. Terá andado depois escondido pelos lugares de Arrifana, da freguesia de Tropeço, e do Muradal, Tulha e Sobral, da freguesia de Várzea, aonde acabou por cair doente a um canto da loja da casa de seu irmão Dâmaso, estado em que nem sequer lhe puderam prestar socorros médicos, com receio de se descobrir o seu esconderijo.
Faleceu a 19 e foi sepultado a 20 de Abril de 1838, de noite, às escuras e às escondidas, na igreja paroquial de Várzea, para onde o seu cadáver foi conduzido numa padiola, de forma a evitar perseguições e vexames aos que lhe tinham dado asilo.
Era então presbítero secular e pároco encomendado o padre Manuel José Ferreira Brandão, da casa da Barroca dessa mesma freguesia – não aquele a que assistiu Bernardino António em Rossas, mas outro parente homónimo, e de homónimo pai, que ali serviu por trinta anos, de 1832 até 1863, e que, para maior peso da terra que sobre o seu cadáver se depositou, o extinto bispo não reconhecia como ortodoxo.»

"O ÚLTIMO CAPITÃO de Ordenanças e Milícias de Arouca e a transição do Antigo Regime para o Liberalismo", Arouca, 2019, pp.51-53