28 de novembro de 2018

Quem foi Albano Ferreira?...

Na «Defesa de Arouca», desde a infância, muito convivi, de modo cordial, durante anos, com Arlindo Matos (cujo perfil biográfico está bem descrito, neste blogue, pelo seu filho António Matos) e com Alberto de Pinho Gonçalves, que faz a descrição biográfica (jornal «Discurso Directo»: 5-12-2014) do insigne etnógrafo arouquense Albano Ferreira, que foi um colaborador ilustre da «Defesa», cujas obras constituem alguns dos melhores e mais fidedignos textos que se escreveram sobre a identidade autóctone e endógena de Arouca e dos Arouquenses. Albano Ferreira viveu entre Arouca e o Porto e entre o Porto e Arouca.
Albano da Cunha Pinto Ferreira
« Vulgarmente conhecido como Albano Ferreira. Nasceu a 12 de Março de 1897, na Praça, Arouca. Filho de Ernesto Pinto Ferreira e Maria Carolina da Cunha Alegria. Neto paterno de José Ferreira de Oliveira, de Vila Nova, Burgo, e Maria Luísa da Conceição, do Rio de Janeiro, Brasil; e materno de João de Oliveira e Cunha, de Ovar, Chefe da Estação Telégrafo-Postal de Arouca, e Rita Ferreira Alegria, de Oliveira de Azeméis. O seu pai exerceu a profissão de escrivão-notário de Arouca.
Talvez a convivência paterna tenha influído na profissão que teve de escrivão judicial, em diversas comarcas do País, incluindo a de Arouca. Esta sua vivência com as populações, através da sua profissão, deu-lhe um conhecimento extraordinário de todos os aspectos etnográficos e antropológicos da população arouquense, que o apaixonaram toda a vida. Por tal motivo esteve durante muitos anos ligado ao folclore arouquense, e de um modo especial, ao Conjunto Etnográfico de Moldes, de que foi seu grande divulgador, nomeadamente nos anos 60, do século passado, conseguindo, através do seu grande amigo, o poeta Pedro Homem de Melo, ir várias vezes à RTP, mostrar o nosso folclore. Quem o quisesse ver zangado era falar mal do folclore e, de um modo especial, do Conjunto Etnográfico de Moldes.

A rua Albano Ferreira, numa zona central da Vila de Arouca
Ainda está na lembrança de muitos arouquenses, aquando da Feira das Colheitas, quando subia ao tablado o grupo de Moldes, para a sua actuação, ia também o «Albaninho» com a sua caixinha de cordões de ouro (pois ele tinha um grande espólio de peças de ouro antigas), e por sua mão os colocava ao peito das raparigas de Moldes, para a sua exibição. Pode dizer-se que era um «doente», no bom sentido, de tudo o que dizia respeito aos costumes e tradições das gentes de Arouca. Essa sua «doença» levou-o a escrever, durante muitos anos, na imprensa, principalmente no jornal “Defesa de Arouca”, belos artigos que mostram as vivências dos arouquenses, os seus usos e costumes, com uma prosa simples, objectiva e graciosa, que a todos deliciava. 

Não resisto a contar uma passagem que se passou na minha presença, há muitos anos. Trabalhava eu no dito jornal, onde ele colaborava, ainda sediado na rua Dr. Figueiredo Sobrinho (rua D´arca), num prédio hoje em ruínas. Naquela altura o jornal publicava uma secção denominada “Movimento Demográfico do Concelho”. Ora sobre os casamentos a notícia era dada mais ou menos nestes termos: fulano de tal, do lugar de tal, com fulana de tal, do lugar de tal, da freguesia de tal. Coincidiu que num casamento da freguesia de Canelas, em que há o lugar de Cima e o lugar de Baixo, saiu a notícia que dizia fulano de tal, de Cima, com fulana de tal, de Baixo. A perspicácia do «Albaninho» levou-o para a brejeirice. E então dirigiu-se ao jornal para adquirir um novo exemplar (talvez para guardar religiosamente...), e com grande satisfação, ria-se do caso. 

Não era pessoa religiosa; mas tinha em muitos padres os seus grandes amigos. De um modo geral tinha a simpatia de toda a gente, que o admirava e respeitava. Era um óptimo conversador. Mantinha um diálogo correcto e interessante com todos. Casou em 20 de Agosto de 1922, com Maria Helena Casimiro Leão Pimentel, natural da cidade do Porto, de quem teve dois filhos, o Alfredo e o Rui Pimentel Ferreira, creio que já ambos falecidos. Faleceu a 7 de Julho de 1978, na sua residência, na freguesia de Massarelos, Porto. A notícia do seu falecimento só chegou dias depois de ter acontecido, por sua expressa vontade. »(A.P.G.)

Para além das suas obras ainda não estarem compiladas e publicadas, convenientemente, em livro, a casa de Albano Ferreira do Porto, na rua de Vilar, em Massarelos, perto do Palácio de Cristal, encontra-se esquecida! Como é óbvio, em face destas duas situações lamentáveis, a Câmara Municipal de Arouca, bem como as instituições de Arouca, da Área Metropolitana do Porto e da Região Norte ligadas à cultura, deviam interessar-se, impreterivelmente, por elas, publicando as obras completas de Albano Ferreira e adquirindo a casa de Albano Ferreira do Porto, que poderia funcionar como uma Casa da Cultura Arouquense no Porto, com vários tipos de actividades, numa dinâmica vital e identitária que consolidasse, ainda mais, a forte ligação que Arouca e os Arouquenses sempre tiveram com o Porto e o Grande Porto. Na contemporaneidade, através da acção permanente de várias instituições, como a Área Metropolitana do Porto ou a CCDR-N, esse território identitário deve ser ainda mais solidificado e tem de estar sempre vivo, sadio, ético e dinâmico.