20 de novembro de 2018

A Pensar Alto... O Circo.


De tempos em tempos, como se fosse uma visita de velhos companheiros, recebemos cá por Arouca uma companhia de circo. Sem datas marcadas, sem grandes avisos, só damos por eles quando se começam a instalar quase sempre ali à entrada da Vila na Rotunda do Lavrador, e a espalhar pelos sítios do costume e ondas da rádio, os pequenos avisos gastos de muito repetirem as mesmas proezas, anunciando os espetáculos que irão fazer sorrir as crianças e sonhar muitos adultos. Para mim e por ser cá, o circo é sempre melhor e diferente...
O espetáculo do circo iniciou se no séc.200 a.C. e era um divertimento necessário para evitar atos revolucionários. De lá para cá foi adotando diversas cambiantes, manteve se sempre com atitudes de lazer e distração, refinou a magia e o encantamento, inventou mais truques e motivos de curiosidades, mas ganhou concorrentes muito mais modernos, eficientes e poderosos. A maior parte das companhias que nos visitam são humildes com reportório muito limitado, sem grandes adereços, animais selvagens substituídos por pequenos domésticos que muito se esforçam para parecerem suplentes à altura, pássaros de uma brancura esmerada que só lhes falta falar, instalações que já viram melhores dias, e artistas multifacetados que saltam do trapézio para palhaços ou malabaristas, com a magia e habilidade a nunca faltar para deleite dos nossos olhos. Nos intervalos vendem pipocas e pequenas máquinas com luzes e sons que fazem lembrar a India, o Paquistão ou a China, mas que as crianças desejam mostrando como o Mundo está global e tudo serve para quebrar o enfado da TV e dos smartphones dos pais. Daí para a frente, vontades satisfeitas, assumem uma postura de recato e bom comportamento, quiçá por influência das luzinhas e monotonia dos acordes. Depois deste espaço é até possível para os mais audazes, calcar a pista ondulada pelas muitas voltas, no dorso de um cavalinho, mesmo ao lado de um verdadeiro artista, e sentir mais intensamente esta magia de cavaleiros em busca de novas descobertas. Depois falta mesmo é esperar pelas atrações finais. Aí as estrelas do espetáculo, podem transformar-se em domadores, mágicos ou porteiros, e até colocam a vida em risco como diz com sotaque e tremuras de aflição o apresentador, subindo para um canhão e sendo projetados como homens bala, mas para perto, que nos dias de hoje prenhes  de dificuldades a pólvora é quase toda sêca e o corpo é frágil e desarranja-se num instante. O que não perdem é a dignidade e o orgulho de pertencerem a uma classe de nómadas dos tempos de hoje e levam a vida que muitas vezes identificamos com alegria, prazer, viagens, descobertas e imensa felicidade, tudo muito embrulhado em ambientes de mistérios e surpresas de espantar. Sempre que cá vêm são bem recebidos e mudam radicalmente o dia a dia de muitas crianças desfavorecidas ou não. Até os pais agradecem. E os avós já agora. Para mim nunca foi sacrifício visitar o circo e partilhar aquelas emoções com os meus filhos e agora netos. Sempre que posso vou acompanhá-los. Desta vez fiquei surpreso com a magia, tinham uma máquina que trespassava um corpo e nem um ferimento acontecia, espada para cá, espada para lá e nada. O artista tanto estava aqui, como aparecia acolá. Seria com um caixote destes que o membro da Assembleia que faltava estando presente conseguia tal proeza? E aqueles ares de inocentes dos sempre falsamente acusados, tão em moda no desporto, nos criminosos, de grandes ou pequenos delitos, teriam eles aprendido com os palhaços ricos, aquele ar sorumbático? Ou com os palhaços pobres? Com estes não, que é o mais o nosso papel. Grande circo por aí anda. Tinha assunto para deixar o picadeiro, vermelho de vergonha. Continuo a preferir os que nos visitam, sei o que vou encontrar e melhor ou pior, com os pés quentes ou frios, faça chuva ou calor, num banco torto ou numa bancada a tremer das emoções, sinto aquela vertigem de olhar para o pequeno trapézio que anda para cá e para lá, vou espreitando para a gasta cortina que serve de entrada a tantas surpresas boas, dou umas boas gargalhadas, respiro aqueles pedacinhos de aventura e mistério e até estremeço de susto quando um cão feroz ou outro animal disfarçado de tal dá um salto maior para apanhar um pedaço de prémio. No circo temos que acreditar em tudo. Para a próxima não se esqueçam, venham ao circo.