27 de novembro de 2018

A Pensar Alto... O Café.

Os primeiros cafés ou cafetarias apareceram em Portugal no séc. XVII inspirados nas tertúlias francesas. Tornam se espaços de animação cultural e artística e são os locais preferidos de diplomatas, artistas, intelectuais e escritores entre outros. Surgem principalmente em Lisboa espalhando se depois pelo resto do País. Os cafés nos dias de hoje têm uma função social muito importante e estão disseminados por todas as vilas e freguesias do País. Arouca não é exceção. Locais de muitas conversas e muitas histórias, cá vai uma. 

O Costinha, nunca percebi porque lhe chamavam assim, era um homem de mais de 100 kilos, mais de 1.90m de altura, com umas mãos de dedos longos, que nos adivinhavam o pedido, pois de repente aparecia como que abandonado no balcão, quando falava as palavras soavam enormes por pequenas que fossem, e apesar disto e de outras coisas semelhantes era sempre o Costinha como se este tratamento o tornasse mais próximo de nós, pequenos e poucos clientes. E a voz? Parecia sempre acima do tom, quase nos lembrava o tempo das cavernas, se como me contaram era preciso falar grosso para se ter o respeito dos companheiros. Então quando o seu clube de futebol preferido perdia, já ouvi trovões em noites de temporal, mais tímidos e singelos. Ficava mais enorme, mais gigante, mais vermelho que um pôr do sol de verão, e soltava um ou vários palavrões que nem vou repetir porque me ocupavam o resto da folha. Mas era sempre o Costinha, o amigo, o confidente de muitas más e boas horas que o calendário tem guardadas, e o contador de novidades, algumas tão surpreendentes que nunca chegaram a acontecer. O Costinha. E sabia sempre tudo. Como dizia por entre gargalhadas e ares de matreirice, era especialista nos 4 esses, o de sexo, o de sangue, o de segredos e o mais importante, o de solidão. Quem roubou as armas em Tancos? Lá vinha resposta certeira sem contestação, Se alguém ia ser preso por tanta aldrabice e tanto roubo? Com ar sério, a questão era grave lá vinha resposta pessimista, Onde esconderam o corpo? Às vezes até parecia que era ele que o escondia tal a certeza, O homem era corrupto ou não? dependia da côr partidária mas as hipóteses da tentação são muitas..Problemas conjugais era especialista e desconfio que até passou uma fase em que era meio conselheiro matrimonial ,no tempo em que se pensava que o casamento era para durar. Era infalível, qualquer questão que aparecesse o Costinha à vontade nas respostas, sem pestanejar. Ouvi-lo era muito melhor que assistir aqueles comentários de ilustres na tv pois nem precisava de um ar tão sério, nem de tirar um curso de Dr. nos fins de semana. Um dia faltou às conversas do costume, quem nos atendeu foi o seu empregadito, uma espécie de aprendiz sem jeito que lhe servia mais de companhia que de utilidade para descansar do trabalho, e apesar de todos repararem nas respostas evasivas ninguém fez insinuações ou levantou questões, esperou-se. Quando se adivinham notícias desagradáveis é melhor ir adiando, como quem acredita em milagres. No dia seguinte e nos outros nada, e então começaram as dúvidas que logo foram certezas. Nada de bom, doença daquela que ninguém quer, poucas esperanças, daquela novidade não tinha ele falado, como se fosse possível o esquecimento trazer a cura. Mas não trouxe. Alguns dias depois, não contei mas foram poucos, a surpresa do aviso. E dessa vez, e pela primeira vez o Costinha pareceu me pequenino a fazer juz ao carinhoso diminutivo. A foto que acompanhava a noticia que com enorme tristeza colocaram na parede exterior do seu café, onde, apesar do desconforto da roupa domingueira, o ar sorridente, o cabelo penteado, o olhar a prometer novidades, pela primeira vez o Costinha me pareceu pequenino, ali encostadinho no lado esquerdo da folha, meio a contra gosto para dar espaço ao resto da noticia. Na foto que ilustra a noticia onde os grandes são pequenos e os pequenos grandes, tudo igual. Triste dia. Nunca mais vai ser igual o serão no café naquela Vila. Falta por lá o Costinha.