17 de agosto de 2020

Alvorada em Alvarenga

Alvorada em Alvarenga

Por entre a bruma que se desfaz suavemente,

Descobrindo a Terra de seu manto matinal,

O Sol espreita, abençoando toda a gente,

Desde o Nicho até ao Alto do Merouçal.

 

Trinam pássaros, que acordam num repente,

Verdejam campos, beijados por orvalho divinal,

A Vida se ativando, luminosa, lentamente…

Sons e cores em perfeita harmonia, surreal.

 

É Alvarenga que desperta para um novo dia!

Princesinha, se espreguiça em sua graça,

Pelo Montemuro, belo e altivo, tutelada.

 

No Paiva, vai beber gáudio e magia,

E em suas margens deslumbrantes se enlaça.

Vai à lida, Alvarenga, jubilosa, abençoada!

 

Maria de Lurdes Duarte

16 de agosto de 2020

NUMA CURVA DA ESTRADA… AROUCA

Nuvens de nevoeiro vão subindo em espiral, serpenteando por entre as árvores semeadas pela encosta. Parecem novelos de algodão cinzento a envolver a vegetação, conferindo-lhe um aspeto algo fantasmagórico. 

A montanha, no virar de cada curva, surge recortada no horizonte, com o céu e a terra a tocar-se, numa tangente em que os limites de cada um se confundem. Projeto o olhar em frente, momentaneamente, sem perder de vista o ato de conduzir, que requer absoluta concentração. Mesmo assim, não posso deixar de apreciar a imponência e altivez do dorso serrano que se deleita, longínquo e simultaneamente tão próximo, desafiador e misterioso.

Vou avançando, ao sabor de cada meandro da estrada, com a Freita, ao longe, a despontar por entre o muro de neblina matinal, que escala a encosta, vinda do rio Paiva, adormecido aos meus pés. 

Mas, de súbito, numa volta da estrada, é o Montemuro que me espreita, ora lateralmente, ora na faixa frontal, como uma onda verdejante por entre a espuma branca da névoa que tardiamente se desfaz. 

É assim a estrada que liga Alvarenga, freguesia em que resido, há quase vinte anos, e a vila de Arouca, vale encantado, encaixado entre as duas elevações que, quais vigilantes atentos, por ela velam incansáveis.

Por mais que este percurso faça parte da minha rotina quase diária, não consigo evitar ser assaltada por emoções intensas quando percorro esta estrada. É o meu cantinho do mundo, o lugar a que pertenço, mesmo sem ter nascido no concelho. Faz parte de mim. Quando me afasto, um pedaço de mim fica por cá; um pedaço deste local vai comigo, onde quer que eu vá. 

A estrada lá vai deslizando sob os pneus do meu carro, que avança pelo asfalto, ora firme, ora a medo, que ali mesmo ao lado, os declives precipitam-se como abismos, em direção ao Paiva. 

E num ápice, como saída de um conto de fadas, ao virar de uma curva… Arouca! Lá está ela, a despertar timidamente, com as suas casinhas semeadas pela encosta das colinas verdes e doiradas, aglomerados de vida simples e doce, bucólica mas prenhe de labor, fazendo lembrar as cascatas que encantavam a minha infância. 

Vou-me aproximando. À minha direita, um desvio que, sem dúvida, encurta o percurso, mas que raramente utilizo. Prefiro adentrar-me, devagarinho na vila, saborear o bulício de quem inicia os afazeres do dia, sentir a vila a murmurejar, que é como o pulsar do sangue nas veias, as batidas da alma das gentes. 

À minha esquerda, em toda a sua majestade, o Mosteiro de Arouca, morada da padroeira de Arouca, a Rainha Santa Mafalda, sorri a quem passa. É o centro da vila, o coração histórico de uma povoação que cresceu e se desenvolveu orgulhosamente à sua sombra. Um foco turístico, certamente, mas também, e acima de tudo, um farol a iluminar as gentes arouquenses. A identidade de uma terra que se preza da sua herança, enraizada no passado e projetada no futuro.

À minha direita, a Praça, deliciosamente talhada em volta do garboso fontenário, rodeada de história e pulsante de vida, lugar de reflexão e descanso. 

Em qualquer cantinho, os canteiros floridos, singelos, bem tratados, a embelezar com as suas cores e aromas doces. A brisa da manhã vai trazendo os odores dos campos em redor, brindando-nos com a alegria do dia que começa. É hora de avançar, firme e segura, aproveitando as oportunidades que o dia oferece. Cada coisa e cada ser está no lugar onde tem de estar. O lugar certo.

Para mim… Para mim, inexplicavelmente, ou talvez não, este lugar que é Arouca sinto-o como o meu lugar de sempre. O seu Mosteiro, as suas avenidas, a Praça, o casario, a estrada de Alvarenga, o rio Paiva, a serrania, tudo, vá-se lá saber porquê, aparece-me como surgido de um passado gravado em mim, como se sempre ali tivesse estado. Ter-me vindo instalar neste concelho, parece-me um regresso a um lugar de onde nunca deveria ter saído. De onde me parece, ao mesmo tempo, nunca ter, realmente, saído.

Os caminhos cruzam-se e descruzam-se. Em cada curva da estrada da vida, aproximamo-nos e afastamo-nos dos lugares que amamos. Às vezes, é sem retorno. Implacável. Outras vezes, a vida é mais gratificante e permite-nos retomar o que sentimos como nosso. Pelo menos, temporariamente. Nada é definitivo. 

Sou uma pessoa de sorte. Hoje estou aqui, no lugar certo. No lugar que é meu. No lugar que o meu coração elegeu.

Maria de Lurdes Duarte

2 de agosto de 2020

45,1 mil milhões de euros da U.E. - nos próximos três anos, mais do que nunca, o Norte e os Nortenhos têm que se unir...

A partir de 2021, Portugal começará a receber, da União Europeia, em parte a fundo perdido, cerca de 45,1 mil milhões euros, com um prazo de três anos para o aplicar.

Mais do que nunca (para que o rapto do ultra-parasitismo de Lisboa e arredores não se repita, em relação à sua habitual captação ultra-centralista de fundos europeus) é necessário que as instituições da Região Norte e os cidadãos da Região Norte (onde Arouca se insere e se enquadra, desde que Portugal é Portugal) se unam, como nunca, na aplicação concreta, legítima, legal e merecida de uma grande parte da totalidade desses fundos no território da Região Norte e nos vários tipos de instituições nortenhas.

A Região Norte, que tem muita coerência identitária, é, em Portugal, a região mais populosa, a mais industrializada, a única que exporta mais do que importa, a mais laboriosa, a que mais produz e a que mais contribui para o PIB, entre outros muitos e variados aspectos positivos, etc. etc., mas, por paradoxo, continua, em termos estatísticos, ao contrário do que acontecia no passado, a ser a mais pobre de Portugal!!! Isto porque as estatísticas (que encobrem processos com frequência e revelam, sobretudo, quantidades, mas não revelam as qualidades e as idiossincrasias, que também são elementos de várias espécies de capital) encobrem os grandes problemas e as grandes injustiças que estão na origem desta situação nacional lamentável do Estado português: que é o modo ultra-centralista como funciona o Estado português há bastante tempo, a partir de Lisboa e arredores. E o ultra-centralismo ultra-parasita de Lisboa e arredores, para mal de todos os Portugueses, infelizmente, radicalizou-se nas últimas décadas. Isto aliado ao facto da maioritariamente sub-urbana Lisboa ser, como sempre foi, uma péssima capital  de Portugal.

A partir de 2021, Portugal vai receber, da U.E., 45,1 mil milhões de euros para aplicar durante 3 anos 

É tempo de acabar, de vez, com essa grande injustiça gritante. A Região Norte tem, por essa razão, direito a uma grande parte da totalidade desses fundos europeus, uma vez que é, na realidade, como sempre foi, «o verdadeiro motor económico de Portugal», para que, assim, melhor se efective a tradicional dinâmica endógena do Norte e dos Nortenhos. Para que seja gerada mais riqueza aqui no Norte, mas para ser aplicada aqui no Norte e não em Lisboa e arredores. Para isso, o processo de Regionalização de Portugal tem também de se concretizar, com muita urgência, nos próximos anos, para bem de todos os Portugueses, no contexto da União Europeia e das suas euro-regiões.

Portanto, repito, é necessário que as instituições da Região Norte e os cidadãos da Região Norte (onde Arouca se insere e se enquadra) se unam, mais do que nunca, nos próximos três anos da aplicação desses fundos, provenientes da União Europeia, a que, legitimamente, têm direito.

Ler, por favor, estes artigos: 1)  e  2) e  3)

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Pelos vistos, como revelam algumas notícias de ontem (4/8/2020), o actual Governo ultra-centralista (se se não fizer nada, com urgência, para contrariar esta situação muito preocupante) prepara-se para, mais uma vez, praticar o rapto ultra-centralista de fundos europeus, ao pretender canalizar esses fundos, maioritariamente, para Lisboa e arredores, num acto muitíssimo injusto e que parece ser ilegal!!!

É escandaloso!!! Ler, por favor, estes artigos, a esse propósito: A) e  B)

ESTA SITUAÇÃO MUITÍSSIMO INJUSTA NÃO PODE CONTINUAR MAIS ASSIM: A REGIONALIZAÇÃO DE PORTUGAL TEM QUE SER MESMO CONCRETIZADA, O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL, PARA BEM DE PORTUGAL COMO UM TODO E PARA BEM DE TODOS OS PORTUGUESES:

"Os problemas das regiões têm de ser tratados e resolvidos por quem nelas vive, precisamos de meios e decisores de proximidade, que respondam perante as pessoas, que sejam democraticamente eleitos através de sufrágio universal. Os custos da regionalização serão um investimento nas pessoas que nelas vivem. Os argumentos patéticos de que com a regionalização se estariam a criar novos lugares políticos e mais “tachos” é uma imbecilidade, pois esses lugares existem há muito numa administração concentrada e que não responde perante os cidadãos. Elegermos os decisores regionais (e sermos eleitos) é uma responsabilidade cívica e um direito democrático de todos."