28 de agosto de 2019

Férias na Nossa Terra


As férias são sempre momento especial na nossa vida, muito aguardadas, desejadas, merecidas, umas vezes mais planeadas do que outras. Infelizmente, nem todos têm a possibilidade de viver novas experiências, de conhecer novas terras, novos lugares, descobrir novas maravilhas, ou simplesmente viver sem a pressão do tempo, dos compromissos inadiáveis, das coisas sempre “importantes” que nos ocupam todo o tempo e mais algum, se mais algum houvesse.
Há quem planeie grandes viagens, de preferência para destinos exóticos, para lugares de sonho, para terras que sempre desejaram conhecer... sonhos que as poupanças acumuladas ao longo de um ano de trabalho permitem realizar. E isso é bom, muito bom, porque o contacto com novas gentes e novas culturas, o conhecimento de novas realidades enriquecem-nos, fazem-nos alargar horizontes, permitem-nos perceber que o mundo vai muito para além do nosso cantinho.
Para quem há muito está fora do seu cantinho ou não tem propriamente um cantinho fixo, sabe bem aproveitar as férias para regressar ao seu cantinho, voltar à sua terra, reviver as suas raízes. É precisamente esta a experiência que procuro fazer todos os anos: até posso arranjar uns dias de férias num qualquer lugar, sobretudo à procura do mar que sempre me fascina; mas não consigo pensar um tempo de férias sem uns dias passados nas minhas queridas terras de Arouca, especialmente na minha muito querida Alvarenga!
Há muitos anos que o meu projeto de vida não me permite viver na minha terra ou por ali perto. É por isso que há sempre um gosto especial no regresso à nossa terra. São dias passados em família, na conversa desinteressada com os amigos, à volta de um copo que se partilha, no ritual do jogo da sueca... Às vezes são horas intermináveis de conversa, a falar de tudo e de nada, a recordar os bons velhos tempos, não com saudosismo bacoco, mas a relembrar como esses tempos partilhados foram fundamentais para solidificar a amizade que agora vivemos e que sentimos estar mais do que cimentada para um futuro que todos sonhamos seja longo e feliz.  
Destas férias assim vividas num paraíso que os de longe procuram e que os de perto às vezes desvalorizam, há rituais e celebrações que se tornaram verdadeiros clássicos: a Missa do Rio na Paradinha já faz parte do calendário de Verão, mesmo que vá mudando de data, consoante a disponibilidade do celebrante; os disputadíssimos jogos de sueca animam as horas mortas do dia ou prolongam quase infinitamente as horas da noite; a organização de almoços e jantares num dos muitos e bons restaurantes da região, a pretexto de nada que não seja juntar os amigos, entrou na praxe de Verão; as cabidelas, combinadas atempadamente ou à última da hora, na casa deste ou daquele amigo, dão um sabor especial de liberdade e de partilha a um tempo que é sobretudo para estreitar laços, matar saudades, reviver a alegria de estarmos uns com os outros, de termos tempo uns para os outros, de podermos conversar sem tempo nem hora marcada. 
É tudo isto que faz com que as férias, curtas ou longas, passadas na nossa terra, sejam mágicas, sejam de sonho, sejam de felicidade autêntica; e isto sem sequer falarmos nas muitas festas e romarias que dão um encanto ainda mais especial aos dias de Verão... Mas também é por tudo isto que custa muito regressar ao trabalho, dizer um até breve – que às vezes sabemos muito bem não ser tão breve quanto isso – à família e aos amigos de sempre, àqueles que contam verdadeiramente, aos que o são para a vida, aos que estão por ali ou algures, sempre prontos a acolher-nos e a fazer-nos sentir como tem muito mais sentido e sabor uma vida passada assim. 
Sem ponta de inveja: boas férias aos bem-aventurados que ainda podem continuar a prolongar a magia dos reencontros; a todos os outros, como eu, bom regresso ao trabalho, a sonhar na próxima oportunidade de reencontrar e abraçar os amigos de sempre!