15 de agosto de 2019

De uma das entrevistas recentes ao Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões...

O Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e director do IPATIMUP, filho e neto de Arouquenses ilustres, é, indiscutivelmente, uma das actuais personalidades portuguesas de muita relevância que estão ligadas a Arouca. Tenho grande admiração pelo Professor Doutor Sobrinho Simões e tenho a honra de o conhecer pessoalmente.
São frequentes as entrevistas que este reconhecido investigador e cientista de prestígio internacional concede aos «mass media» nacionais. Entrevistas que são sempre interessantes e falam, quase sempre, de Arouca, localidade das suas origens familiares paternas e onde passa, com a família, algumas temporadas, durante o ano.
Numa das suas entrevistas mais recentes, concedida ao Jornal i, o Professor Doutor Sobrinho Simões aborda, na sua lucidez habitual, vários assuntos, focando, com conceitos sociológicos, aquilo que é um facto claro: a diferença da idiossincrasia cultural e identitária entre o Norte e o Sul, entre o Porto e Lisboa, descrevendo, de modo pertinente, o centralismo (melhor dito: o ultra-centralismo) de Lisboa no que se refere ao campo específico da Saúde, apesar dos hospitais do Porto estarem, habitualmente, no topo do 'ranking' dos melhores hospitais de todo o País e com menos fundos dos que os de Lisboa, devido a esse pernicioso ultra-centralismo lisboeta:

" O que o irrita mais nos lisboetas?
Não tenho uma irritação. Mas gosto muito de viver no Porto. Mas há os tiques da capital.

Por exemplo?
São mais fake.

Somos mais fake?
Claro, não se compara [risos]. Até na linguagem, nós usamos o calão. O Porto é muito inbred e Lisboa não é, é a primeira grande diferença. Aqui no Porto somos todos primos e cunhados uns dos outros. Em Lisboa a população é muito flutuante, foi muita gente para lá. E desenvolveram-se muito os serviços, que criaram uma classe média, que no Porto não há. No Porto havia profissões liberais, uma classe média alta talvez, e uma classe baixa, não havia a classe média. Em Lisboa à hora de almoço está tudo cheio de gente que trabalha nos serviços. Não se compara, aqui as pessoas almoçam sobretudo em casa.

Mas porque é que somos mais fake?

Há uma competição social muito maior, que depois se passou para a política e para os edis, ligados aos partidos e autarquias, que introduziram um elemento de made believe, que é mais evidente em sociedades mais competitivas.

O país continua demasiado centrado em Lisboa?

Isso é indiscutível. Veja-se o S. João e o Santa Maria. Eles gastam muito mais dinheiro do que nós e os resultados não são assim tão diferentes. Há menos oportunidades. "

Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, director do IPATIMUP
foto: Jornal i

E o ilustre Professor Doutor Sobrinho Simões, como é habitual nas entrevistas que concede, fala de Arouca como um território familiar de afecto que habita com frequência:

"(...) Na sexta-feira à hora de almoço fui uma conferência sobre melhoramento humano. Nem lá pude ficar porque fui para Arouca discutir na academia sénior, umas velhinhas amorosas, cantaram cantigas de Covelo de Paivô, terra do meu bisavô. Fui discutir os desafios do século XXI. Envelhecimento ativo, longevidade, solidão e insegurança. (...) Há um esgotamento óbvio do planeta. Fogos em Arouca, estou habituado. Fiquei mais espantado quando houve na Suécia. (...) no verão, vou para Arouca. A minha mulher é de Âncora, o meu pai era de Arouca. Em Arouca vou ao Parlamento, à Tasquinha ou à Varandinha. (...) nasci no dia 8 de setembro, dia das festas em Arouca. (...)"