30 de dezembro de 2018

A nutricionista Ana Bravo devia interessar-se pela gastronomia de Arouca...

 O território de Arouca tem, sem qualquer tipo de exagero, uma das melhores e mais requintadas gastronomias tradicionais de Portugal. No entanto, essa riqueza endógena de Arouca, apesar de, em parte, estar bem dinamizada e promovida (o concelho de Arouca é, de facto, um «oásis gastronómico», se comparado com muitos outros municípios portugueses), tem muito mais potencialidades que ainda estão por desenvolver convenientemente, de tal modo que uma boa parte delas pode perder-se, de modo irreversível, neste período em que a agricultura familiar se reduziu, visto que foi a partir da agricultura familiar que se alicerçou, durante séculos, em termos estruturais, a gastronomia tradicional de Arouca, para além de alguma origem conventual...
 Para contrariar essa situação, o primeiro passo consistente será, como é óbvio, fazer a compilação exaustiva e sistemática, em livro monográfico, com fotografias de qualidade, muito minuciosa e atenta, da totalidade dos elementos gastronómicos autóctones do território arouquense, proveniente de uma recolha directa (realizada por uma equipa responsável de pessoas que tenham competências próprias para o fazer), nas áreas de vale, de meia-encosta, dos planaltos e de serra do território de Arouca, nas famílias arouquenses, visto que, como foi referido, a herança gastronómica está relacionada com a agricultura familiar e com o sector primário, tendo sido transmitida, nas famílias arouquenses, através das várias gerações, sobretudo pelas mulheres dos núcleos familiares, herança que está, intimamente, relacionada com o ciclo anual agrícola e com as festividades que ocorrem durante o ano. 
 Essa recolha e a elaboração dessa monografia gastronómica de Arouca (que é mesmo muito necessária) deve partir, como é óbvio, da iniciativa do executivo municipal e de várias instituições do concelho relacionadas com este fenómeno patrimonial, para, assim, serem publicadas em livro, de modo claro e funcional, as receitas e os modos típicos de confecção de todos os elementos da culinária e da doçaria arouquenses: das entradas e dos aperitivos, dos pães e das broas, das sopas, dos caldos e das canjas, dos pratos de carne e dos pratos de peixe, das sobremesas e dos doces, das frutas autóctones, dos queijos, da charcutaria e dos enchidos, dos petiscos, dos azeites e dos vinagres, das infusões, das ervas aromáticas, bem como dos vinhos, aguardentes e licores, etc...Com certeza, em Portugal, devem existir fundos específicos, nacionais ou de origem europeia, para concretizar este tipo de projecto tão premente e que terá muita utilidade para Arouca e sucesso garantido, já que, na actualidade, a gastronomia e a restauração, associadas ao turismo, são uma das principais fontes de rendimento neste concelho da Área Metropolitana do Porto, que foi distinguido, recentemente, como melhor município do ano
 A colaboração e a mobilização das e dos arouquenses são também necessárias, nesse movimento de dinamização mais intensa e de recolha completa de um tipo de culinária que se insere, a nível nacional, na região gastronómica do Entre-Douro-e-Minho e que, num contexto global, se enquadra, tal como as restantes regiões portuguesas, naquilo que os especialistas qualificam como ‘Dieta Mediterrânica’, que é, unanimemente, considerada o tipo de dieta mais saudável. 
 É, claro, que nem todos os componentes das receitas tradicionais portuguesas são saudáveis, tal como se verifica em qualquer gastronomia nacional. Têm muitas componentes saudáveis, mas há componentes que, como é óbvio, não são saudáveis. Perante esta regularidade, constata-se um esforço, sobretudo por parte de alguns nutricionistas, em remover os elementos não saudáveis das receitas tradicionais portuguesas, substituindo alguns ingredientes ou modificando, nalguns aspectos, o seu modo de confecção, mas não adulterando o paladar e a identidade tradicional e endógena das receitas. Um desses exemplos mais notáveis e reconhecidos é o da nutricionista Ana Bravo, que, através dos «mass media» e nas «redes sociais», bem como em livros e com o seu projecto ‘Nutrição com Coração’, tem contribuído para tornar ainda mais saudáveis as receitas tradicionais portuguesas, removendo e substituindo os seus elementos que não são saudáveis, facto que foi bem demonstrado num dos seus antigos programas do Porto Canal, denominado ‘Saúde no Tacho’, bem como num dos seus seis livros de sucesso com um título similar
 Faria, portanto, todo o sentido que, nessa monografia gastronómica de Arouca, nalgumas receitas que têm componentes que não são saudáveis, aparecesse também o relatório científico, por parte de uma nutricionista, que descrevesse o modo mais adequado de como se pode remover e substituir esses componentes que não são saudáveis, sem alterar o seu paladar tradicional e a sua identidade, o que, certamente, contribuiria para o sucesso de vendas do livro sobre a gastronomia arouquense, dadas as exigências crescentes, na contemporaneidade, em se consumir comida saudável. E penso, muito sinceramente, que a nutricionista Ana Bravo seria a nutricionista certa. Para isso, a nutricionista Ana Bravo devia interessar-se pela gastronomia de Arouca. Tenho a certeza que aprovaria, de imediato, a qualidade deste «oásis gastronómico» de Dieta Mediterrânica, situado apenas a 35Km do Porto, cujas festas concelhias oficiais, que têm a denominação de Feira das Colheitas, estão ligadas, precisamente, aos produtos autóctones do campo, à agricultura familiar e à gastronomia e que são um evento de considerável impacto nacional, já com 75 anos de existência, onde a insigne nutricionista ‘portuense e transmontana’ também poderia dar a conhecer ainda melhor, ao país, a partir do território de Arouca, a sua interessante linha de produtos alimentares saudáveis.
 Arouca ficaria, certamente, grata e feliz com o facto.

Ver, pf: Programa 'Saúde no Tacho' - Porto Canal