20 de outubro de 2020

Geossítios, jornais, websites e preservação. Tem tudo a ver

 

“No Arouca Geoparque Mundial da UNESCO encontramos 41 geossítios (locais de interesse geológico) que se destacam pela sua singularidade e notável valor do ponto de vista científico, didáctico e/ou turístico. Apresentam elevada relevância, com ênfase para quatro geossítios de importância internacional.” (http://aroucageopark.pt/pt/conhecer/geodiversidade/geossitios/)  

Os geossítios podem ser vistos como belos poemas que a mãe natureza nos deixou “escritos na pedra”. Ficam preservados. Passados milhões de anos qualquer um os consegue ler e admirar; e os mais eruditos conseguem inclusive perceber como se formaram no tempo. É fascinante!

Os sítios (no sentido de websites, e chamemos-lhes assim), são umas das expressões mais visíveis da internet. Começaram a ser escritos há perto de 30 anos; mesmo sendo milhões de minutos, é um curto período. Cresceram exponencialmente em quantidade, qualidade, complexidade, etc. Irónico é que, e comparando-os com os geossítios, quem os escreve fá-lo como tratando-se de conteúdos “escritos na areia”. Parte considerável desaparece passado pouco tempo e nunca mais qualquer geólogo ou arqueólogo da internet os encontrará.

Felizmente, pelo menos em relação a alguns websites institucionais há projetos privados e públicos como o Internet Archive e o Arquivo.PT que nos permitem ler websites no tempo, pelo menos as camadas que eles preservam. Estes projetos praticam a chamada preservação digital.

Vejamos o caso do website da Câmara Municipal de Arouca. O Arquivo.PT preserva neste momento 186 cópias deste website (a partir de maio de 1998). Vale a pena espreitar aqui

Vem a propósito desta reflexão uma história que os colaboradores do Arquivo.PT costumam contar: A Gazeta de Lisboa, criada em 1715, é considerada como sendo o primeiro periódico português com caráter oficial. Está na origem do Diário do Governo / Diário da República. Ora, quem pretender hoje consultar os números da Gazeta de Lisboa publicados em 1715 pode fazê-lo em papel na Biblioteca Nacional de Portugal ou digitalmente, através do site da Biblioteca Nacional de Portugal. O Diário Digital, criado a 19 de julho de 1999, é considerado o primeiro jornal português totalmente online; desapareceu em 2017. Se hoje pretendermos consultar os primeiros números deste jornal não conseguimos, pois a informação não se preservou. Só graças a projetos fantásticos como o Arquivo.Pt é possível aceder a algumas das edições deste periódico digital.

E vamos daqui para a imprensa local de Arouca ainda há um mês (re)mencionada neste blog pelo António Brandão de Pinho, agora no post “Por uma Hemeroteca Digital de Arouca”. Também “O Commercio d'Arouca” deve ser mais fácil de ler hoje do que os primeiros ensaios de imprensa web de Arouca. Ai Deus, e u é?. 

Irónico será daqui a alguns anos estarmos a ler no ecrã do nosso dispositivo eletrónico a primeira edição da “Defesa de Arouca” (a que se imprimia) e verificarmos que é uma edição centenária e preservada; e ao mesmo tempo não encontrarmos rasto da primeira (e não sei se sequer da última) edição desta “Defesa de Arouca”, versão blog em que o leitor ora lê. Bom… o Internet Archive já guardou qualquer coisinha…. Veja aqui

A preservação da informação digital é muito mais desafiante e difícil do que a preservação da informação em suporte papel. As instituições públicas e outras que tenham obrigação ou vontade de prestar serviço público devem investir na preservação digital, pelo menos dos seus próprios websites institucionais.  O Arquivo.PT pode dar uma ajuda. Não faltam outras formas de por onde começar, um exemplo.