3 de outubro de 2020

5 de Outubro – uma data esquecida em Arouca

 

O 5 de Outubro, que nos recorda a data em que se proclamou e implantou a (Primeira) República, pondo fim a mais de sete séculos de Monarquia, mas que também desta, por coincidência, nos recorda a data do "seu começo", pela assinatura do Tratado de Zamora em que Afonso VII de Leão e Castela reconheceu Portugal como reino independente, sendo por isso uma data histórica duplamente significativa, parece nada dizer à vila de Arouca, que sobre aquela também nada nos tem a contar.

Com efeito, ao contrário dos brasões monárquicos que se conservam - e muito bem! - nas fachadas dos antigos e atuais Paços do Concelho, não se ostenta hoje em lado algum, a não ser nas bandeiras, o brasão da República, e não há na nossa vila uma praça, avenida, rua, travessa, viela, beco ou cantinho, que assinale a sua implantação, afirmando e perpetuando a sua relevância histórica. Nem 5 de Outubro nem República! O que é mesmo um caso raro na toponímia das vilas e cidades do nosso país.

É verdade que já houve, mas há muito deixou de existir e nunca mais se recuperou. Com a implantação do regime republicano em Portugal a principal rua da vila passou a denominar-se Rua 5 de Outubro, tendo passado, mais tarde, a denominar-se Avenida da República. Porém, fruto de circunstâncias d’época, alterou-se depois para Avenida Dr. Oliveira Salazar, posteriormente para Avenida Movimento das Forças Armadas, a seguir para Avenida das Descobertas e, finalmente, para Avenida 25 de Abril. A atual Praça do Município, depois de Praça Arantes de Oliveira, chegou também a denominar-se Largo 5 de Outubro.

De tantas denominações e se lhe souber o histórico - impossível de elencar na respetiva placa toponímica -, pode até dizer-se que em Arouca existe a avenida dos regimes, por excelência. Se bem que, atento o que é referido no preâmbulo do Regulamento Municipal de Toponímia, à luz d’hoje, nenhuma daquelas alterações se rodeou de qualquer cuidado específico ou pautou por critérios de rigor, coerência, isenção e seriedade. Apenas se impuseram sucessivamente umas em prejuízo das outras.

Porém, como é evidente, não é igual a relevância histórica de todos os acontecimentos ou circunstâncias políticas subjacentes àquelas denominações. Não faz até qualquer sentido que existam hoje algumas delas nem que coexistam a maior parte. Mas, faria todo o sentido recuperar e atribuir a denominação "5 de Outubro" ou "República" a uma das artérias ou espaços da nossa vila, onde até a memória do indigente Evaristo tem direito a um Cantinho.