11 de dezembro de 2020

A Pensar Alto! Os Velhos

Há dias quando lia o jornal diário dei por mim a tentar assimilar o que representavam os números que iam surgindo, todos tendo por base a velhice em Portugal. Era uma descrição verdadeira mas não deixa de ser surpreendente como chegamos a este ponto. Os velhos agora tratados por idosos como se esta mudança de designação fosse como acrescentar açúcar a um café muito azedo e difícil de tomar, são cada vez mais, e ao longo destes últimos anos, foram se refinando as diversas  maneiras de ir tapando o sol com a peneira, mas o raio do vírus acaba por obrigar toda a gente a olhar bem de frente para a questão. Temos uma população com idade avançada e com este mediatismo passou a ser assunto diário.
Encontravam-se abandonados nos hospitais do nosso País, alguns há anos, mais de 1500 velhos, sem quaisquer perspetivas de solução, deitados, à espera que a burocracia instalada, principalmente quando se é pobre há sempre muita, arranjasse uma solução ou os dias trouxessem uma doença mais grave das que não perdoam. De repente tudo se mexeu e lá se esvaziaram as camas para a emergência dos dias de hoje sempre com o desenrascanço tradicional. Temos perto de 7500 lares, centros de dia e serviços de apoio domiciliário, uns legais outros ilegais uns a pagar muito, outros a pagar menos numa panóplia de tabelas que ninguém entende mas em muitos espera se pela morte muito em conta. Uns pagam o que tem e o que não tem, outros pagam muito menos com critérios de olho clínico para as questões, cada caso é um caso.  Temos 40000 velhos a viver sozinhos e só 20%  o fazem na própria casa, a maioria das vezes sem condições para novos quanto mais para gente com mais de 70 e 80 anos. Já nem quero escrever sobre os mais de 1500 velhos que têm mais de 90 anos. Não é difícil imaginar como muitos Portugueses terminam a sua vida. Agora com esta situação de crise pandémica tenta se recuperar o desleixo com que se olhou para esta situação ao longo dos anos. Afinal a malta dos lares tão estimada quando de eleições, tem muitos problemas, muitas carências, acumula muitas indignidades, e o Estado que tantos anos viveu à custa deles, vai arranjando umas soluções económicas porque o dinheiro é pouco e a malta do capital precisa de todas as migalhas. Onde já se viu investir num negócio sem solução à vista?
O nosso serviço Nacional de saúde está a passar algumas dificuldades desde que surgiu a pandemia. As consultas para os doentes crónicos diminuíram tanto que há doentes que acreditam ser algum santo que ainda os mantém vivos. As consultas ao médico de família, num centro de saúde, por exemplo no nosso, passaram a ser tipo raspadinhas, pode ser que sim pode ser que não. Quem inicia a saga de uma consulta, se telefonar não é atendido, se lá vai, mandam telefonar, o médico não aceita consultas, se está lá não atende, nem o Kafka conseguia um enredo destes. Cada dia é um dia e vai se vivendo assim. Já agora num dos últimos dias de Novembro não havia no nosso Centro de Saúde gel para higienizar as mãos, a resposta que obtive quando alertei a questão foi simples, não há. Num centro de saúde não se conseguia cumprir um dos novos  quatro mandamentos, a solução é levar as mãos limpas. Não está fácil ser velho, doente e ter poucas possibilidades económicas. Para quem tem algum ainda se vai remediando nos privados e mais não digo. Está tudo muito ligado e uma coisa é certa, se não vais de novo, de velho não escapas, é com essa fé que muitos se vão deixando ficar cada vez mais isolados e sozinhos. Ou se calhar sou eu que com tanto confinamento, recolhimento e tratamento  vou tendo umas alucinações de que é muito difícil acreditar no melhor, agora comer e calar isso não. Siga.