2 de dezembro de 2018

Os passadiços e os seus parentes


   Mais dois prémios para o projeto dos Passadiços que, sendo do Paiva por causa do rio, são de Arouca porque são em Arouca. Este percurso marginal ao rio Paiva construído em tábuas de madeira é um sucesso do qual, como arouquenses, só nos podemos orgulhar. Temos um dos entabuados mais famosos e percorridos do mundo.
   Tanta fama fez-me lembrar outros percursos, os tradicionais percursos pedestres, dos quais em Arouca creio haver 14 de pequena rota e um de grande rota. Percorri a maioria, alguns por várias ocasiões. Prefiro-os aos passadiços. Pela sua maior discrição e naturalidade. Porque são endógenos. Porque percorrendo-os se vivem Arouca e as suas matizes, andando por caminhos, carreiros, estradões, pontões e escadas, atravessando aldeias, serras, vales, encostas, montes, bosques, campos, socalcos e ribeiros.
  Até ao ano passado, não havia um único destes percursos nas freguesias mais ocidentais do concelho. Como mansorense, fiquei feliz ao ver inaugurado em abril passado um destes percursos (o PR 11 – Trilho das Levadas) na minha freguesia natal. Até porque tive uma pequena ligação ao projeto.
   A Câmara Municipal de Arouca investiu a certa altura nestes percursos e, creio que por 2008, registou a marca “Arouca, capital do Pedestrianismo”, mas dá impressão que não se tem feito tanto uso desta marca quanto se poderia. Exceto, obviamente, se considerarmos que “Arouca = Passadiços do Paiva”.
  Não é segredo nenhum que o valor intrínseco de um projeto turístico não basta para que ganhe prémios. É preciso muito marketing, muito lobby, muito “soft power” para se levar o turista a julgar que descobriu aquilo que queríamos que descobrisse. Pois bem, agora que temos em Arouca um percurso “vip” e milionário, mais do que consolidado, porque não instrumentalizar a sua fama e a sua riqueza em favor dos seus parentes pobres, os tradicionais percursos pedestres? Fica a ideia.