21 de janeiro de 2019

Volfrâmio - Memória e Património Físico em Arouca

Mina da Fiveda ou "Gola" em Alvarenga
Volvidos quase 6 anos desde a notícia divulgada pelo Jornal “As Beiras”, a Câmara Municipal e a Associação Geoparque Arouca, com o apoio da Adrimag, têm desenvolvido alguns esforços no sentido de dotar as minas de volfrâmio de Regoufe e Rio de Frades de melhores condições de visitabilidade e de promover esta oferta no âmbito do turismo cultural e histórico.
De facto, algum deste património está promovido do ponto de vista turístico e integra a “Rota da Água e da Pedra”.

Contudo, apesar do trabalho que vem sendo desenvolvido nesta matéria, ainda não foi possível constituir efectivamente a almejada Rota do Volfrâmio na Europa com reais benefícios/investimentos para Arouca, tão necessários à recuperação de algumas minas e edifícios, em ruína, e à constituição de um museu ou centro interpretativo ou, por que não, da constituição de uma rota do volfrâmio no concelho de Arouca, garantindo ao visitante uma experiência global, histórica e cultural do fenómeno no nosso concelho que, desde a primeira grande guerra (recorde-se que a primeira concessão mineira ocorreu em 1911, na Chieira, Alvarenga) suscitou grandes mudanças económicas, sociais e culturais, sem esquecer a construção de importantes redes rodoviárias, a electrificação e a colocação de telefones.

Arouca, muito mais que o concelho vizinho de Sever do Vouga (que possui e expõe um acervo importante, bem organizado e definido no Museu Municipal sobre a temática do volfrâmio ), tem história, infraestruturas, documentos/registos da época, notáveis estudos como “Volfro!” e “O Volfrâmio de Arouca”, documentários, fazendo com que seja possível reconstituir núcleos museológicos em torno da exploração do volfrâmio, evitando que este património se perca no tempo e se dilua em intenções/projectos que vão surgindo aqui e ali, estanques, descontextualizados, ficando muito aquém do que é necessário e merecido.

Arouca tem complexos mineiros em Rio de Frades, em Regoufe; a mina da Gola (ou da Fiveda), em Alvarenga, freguesia onde ainda existem antigos donos de mina vivos (Sr. Fernando Pinto, do lugar de Miudal); tem ainda o edifício onde estivera instalada a Separadora de Minério da Espinheira, no lugar da Vila, ocupado pelo Hotel “Quinta da Vila”; tem uma das casas onde eram alojados operários vindos de fora para trabalhar como jornaleiros nas minas, no lugar da Travessa, em Alvarenga; tem com certeza importantes acervos particulares das famílias Peres, Noronha e Pereira Pinto (arouquenses donos de minas, ao contrário do que acontecia em Rio de Frades e Regoufe que eram de propriedade alemã e inglesa, respectivamente.

De facto, temos património de raridade excepcional, de âmbito concelhio, que permitiria criar um núcleo museológico do volfrâmio, complementado pela rota do volfrâmio em Arouca, com pelo menos 3 ou 4 pontos ou spots de visitação que deverão incluir a freguesia de Alvarenga, praticamente ignorada neste contexto.

O nosso património é mais que reconhecido externamente, tendo sido transportado para a área da literatura, da televisão, do cinema e do teatro, basta recordarmos o romance histórico “Da outra margem” do autor arouquense José Nuno Pereira Pinto, “Volfrâmio” do célebre Aquilino Ribeiro, “O Rei do Volfrâmio” de Miguel Miranda, a série televisiva “A febre do ouro negro” e o filme “Volfrâmio” de Joel Sá Pinto, além de várias peças de teatro.

Conforme facilmente se constata, perante tamanho Património, é inegável a enorme responsabilidade e urgência na sua preservação que poderá passar por iniciativa privada, além da pública, como o que já acontece com o centro de interpretação geológica de Canelas, de índole do empresário Manuel Valério, pelo que internamente merece um olhar mais atento, quer da autarquia, quer da população local.

O reconhecimento e a valorização externa são evidentes. E a população local, será que valoriza e confere grau de prioridade à preservação e promoção deste património?

Na minha opinião, há muito a fazer: é urgente a localização, inventariação e (se possível) a aquisição de máquinas, utensílios e equipamentos associados à actividade mineira em Arouca, por forma a “rechear” um futuro museu ou Núcleo museológico e a preservar a memória e o património físico que ainda existe.

Tenho consciência que o nosso Município, pelo património diversificado que possui, tem muito onde investir, mas não deve ignorar as oportunidades, pois como diz o ditado, “não se deve por os ovos todos no mesmo cesto”, e cestos é o que não falta a Arouca!

Fonte: Diário As Beiras