6 de outubro de 2018

Último lagar hidráulico de Arouca está à venda!

Nesta última edição da Feira das Colheitas, a organização presenteou-nos, mais uma vez, com uma excelente exposição etnográfica e agrícola no antigo Celeiro do Mosteiro de Arouca. Desta feita, dedicada à cultura da oliveira e da azeitona, à sua transformação em azeite e à utilização deste, a que, com propriedade, chamaram "Azeite - Ouro à Mesa".

Efectivamente, escasseia a notícia e começa já a perder-se a memória sobre o que foi e a importância que teve essa bela e útil actividade e tradição de fazer o azeite no nosso concelho. Vai já longe o tempo em que o azeite era o único óleo utilizado na alimentação, como elemento essencial na confecção de muitas mezinhas, mas também como forma de iluminação, profana e religiosa. Vale, pois, a pena voltar ao assunto e prometo fazê-lo.

Por coincidência, neste mesmo fim-de-semana das Colheitas, fiquei a saber que se encontra à venda (por uma imobiliária nacional) o último lagar de azeite hidráulico moderno de Arouca e em risco de se perder um acervo único, de relevante interesse histórico e etnográfico, que vale a pena socorrer e salvaguardar!

Sito na freguesia de Rossas, na margem do rio Urtigosa, aquele antigo lagar, azenha ou engenho, como indiferenciadamente se denominava e que deixou de laborar nos anos noventa, possui ainda boa parte da sua maquinaria, desde a roda d'água existente no exterior que accionava toda a oficina oleícola, o moinho com suas duas grandes mós de pedra, as prensas a vapor de água e a caldeira onde esta se aquecia, os carros de mover as seiras e seus trilhos, mas também alguns dos utensílios utilizados nas diferentes fases da transformação da azeitona e apuramento do azeite. Um acervo único de relevante interesse histórico e etnográfico!

Perspectiva exterior do Lagar. Foto REMAX
O conjunto tem mesmo potencial para constituir um interessante núcleo de interpretação histórica e atractividade turística e enquadrar um espaço mais alargado de lazer naquela margem do rio Urtigosa, entre o Parque de Lazer de Sinja e os antigos moinhos de Rossas e da Quinta, também estes carecidos de salvaguarda. A merecer, pois, a atenção da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Rossas. Tanto mais quando a transformação do azeite constituiu uma importante actividade e tradição desta antiga comenda, que, a par com o do Mosteiro, possuiu durante muito tempo um dos dois únicos lagares de Arouca; mas também da freguesia, onde, após a extinção das Ordens Religiosas, houve três lagares, de que já nada existe à excepção deste. A que acresce o facto de Rossas estar hoje carecida de um investimento diferenciador e com potencial turístico.

Perspectiva interior. Foto REMAX
 A não ser possível o mais..., que se consiga pelo menos a aquisição da maquinaria e utensílios e a sua colocação noutro espaço da freguesia, em dependência do Museu Municipal ou até mesmo no antigo Celeiro do Mosteiro, onde não falta espaço para a reconstituição deste antigo engenho hidráulico. Perder esta oportunidade, - há não muitos anos cobiçada pela Câmara Municipal e pela Junta de Freguesia -, de se tentar fazer alguma coisa naquele espaço e/ou com aquele acervo, poderá significar uma perda insubstituível e irreparável!