28 de outubro de 2018

Desenterrar os mortos. Parte 1 de 2

Retrato atribuído a Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha
Fonte: geneall
   Sepultar os mortos é uma obra de misericórdia. Desenterrá-los – no sentido figurado de resgatá-los do esquecimento –  pode sê-lo também. Há múltiplas formas de fazermos memória daqueles que partiram, que nos dizem, e que não queremos que sejam esquecidos. Uma dessas formas passa pela celebração da Solenidade de Todos os Santos e pela comemoração de Todos os Fiéis Defuntos que, embora distintas, não por acaso são sequenciais.
   Em janeiro deste ano passaram 100 anos da morte de um arouquense que, embora tenha tido um percurso político e cívico que faz dele um protagonista, está entre nós, como tantos da mesma estatura, esquecido. Venho simplesmente lembrá-lo. Seu nome: Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha.
   Nasceu em Mansores, na casa da Terça, a 24-06-1834, filho primogénito de José António Nunes Saldanha e de Ana de Oliveira Camossa [Nunes Saldanha]. Formou-se em Leis na Universidade de Coimbra em 1860. Foi: vogal da Junta de Freguesia de Mansores de 1864 a 1866, vereador da Câmara Municipal de Arouca de 1866 a 1870; presidente da Câmara Municipal de Arouca de 1870 a 1885; presidente da Junta de Freguesia de Mansores de 1886 até data que ainda não apurámos; vereador da Câmara Municipal da Feira em 1890 e presidente dessa câmara de 1893 a 1897; administrador do Concelho de Arouca de 1897 a 1902. Foi chefe do Partido Regenerador de Arouca e cofundador do jornal Correio da Feira. Em 1890 o rei D. Carlos criou o título nobiliárquico de Visconde de Albergaria de Souto Redondo a seu favor, tornando-o 1º visconde de Albergaria de Souto Redondo. Casou no Porto em 1871 com Margarida Augusta Pais dos Santos. Teve quatro filhos: Alfredo António Camossa Nunes Saldanha, Maria da Conceição Camossa Nunes Saldanha, Ana Maria Camossa Nunes Saldanha e Augusto Camossa Nunes Saldanha, todos nascidos em Lamas, donde era natural a esposa de Manuel Baptista. Faleceu em Espinho, a 11-01-1918.
   Desde que em 1835 se começaram a eleger as Câmaras por voto, julgo que foi a pessoa que mais tempo exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Arouca. Não há uma rua ou travessa em qualquer parte do concelho que tenha o seu nome e assim lhe faça memória. Isto, apesar de ter sido, na prática, o grande promotor da via estruturante de ligação de Arouca ao litoral. Não me refiro à variante à Estrada Nacional 326. Refiro-me “apenas” à Estrada Nacional 326, a histórica ligação entre Arouca e Lourosa. O traçado desta estrada tem o cunho e o interesse de Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha: iniciado em Arouca, a cuja Câmara presidia, atravessa Mansores, sua terra (e, aqui, atravessa o monte do Borralheiro, grande parte do qual lhe pertencia, e passa à porta da casa da Terça, a sua casa), e termina em Lourosa, localidade próxima de Lamas, donde era sua mulher e onde também tinha propriedades. A estrada, creio, previa-se na altura que terminasse o seu traçado em Espinho. Manuel Baptista terminou a sua vida em Espinho. Soube fazê-la.