19 de outubro de 2018

Sobre atribuições toponímicas e numerações de polícia que tardam.

Quase a abeirar-se o fim da segunda década deste século, muitas das nossas estradas, avenidas, ruas, caminhos, largos e calçadas, entre outras vias e vielas, locais e sítios, permanecem sem atribuição toponímica e, por falta desta, também os prédios (urbanos) sem numeração de polícia, ou seja: ruas sem nome e edifícios sem números de porta. Há ainda lugares densamente povoados e freguesias inteiras assim. Onde o "carteiro novo" não encontra quem quer que seja sem bater a três ou quatro portas, apregoar no meio do lugar e, quantas vezes, por fim, deixar a carta ou encomenda na caixa que melhor lhe parecer. Valham-nos as boas relações de vizinhança, quando são boas...

Não é uma falha do “carteiro novo” ou dos vizinhos. É uma falha das autarquias, câmara e freguesias, e um problema para todos e cada um de nós. E não é apenas uma questão de distribuição postal, apesar do problema tender a agudizar-se nestes novos tempos, da contratação e compra de bens e serviços online ou à distância. Com efeito, nunca foram nem são agora apenas o carteiro e o transportador que nos procuram em casa, na nossa morada, residência, domicílio fiscal ou profissional. Nem são apenas esses que, por questões de comodidade e segurança, queremos que nelas nos encontrem.


Em causa está, tão simplesmente, estabelecer os mais básicos elementos de localização, orientação e de identificação no território, contribuindo, assim, para a organização e orientação dos serviços e pessoas no espaço. E, claro está, contribuir para evitar o mais variado tipo de dificuldades, incómodos e inconveniências. Sendo certo que esta situação não pode ser já, nestes nossos dias, um incómodo, prejuízo ou insegurança para nós e, principalmente, para aqueles que quisermos ou nos interesse que saibam o nome da nossa rua e o número da nossa porta.

Há cerca de ano e meio, as freguesias de Arouca e Burgo, no que a esta diz respeito, Albergaria da Serra e Cabreiros, Canelas e Espiunca, Covelo de Paivó e Janarde, Rossas, São Miguel do Mato, Urrô, e Várzea, teriam já dado inicio aos respectivos processos de atribuição toponímica. No entanto, a menos que os dados que se encontram no site da Câmara Municipal estejam desactualizados, a esta data, só há toponímia atribuída e homologada nas ruas da vila, nas freguesias de Mansores, Chave, Escariz e na zona ocidental da freguesia de Fermêdo. Casos como os dos nomes das ruas do lugar de Souto Redondo, na freguesia de Urrô, atribuídos há já muitos anos pelos moradores – justamente para pôr cobro aos mais diversos incómodos e dificuldades -, também não se encontram ainda homologados.

É, pois, muito importante retomar e/ou concluir aqueles processos, dado estar em causa muito mais do que uma mera facilidade à distribuição postal. É até mesmo, como já aludi, uma questão de segurança, para pessoas em situação de perigo ou urgência, neste nosso tempo de, apesar de tudo, também algum isolamento e indiferença.

Para além do que se acaba de referir, e de permitir a categorização das vias ou lugares, a atribuição toponímica é também uma forma excelente de homenagear os maiores e benfeitores de cada freguesia, evocar denominações, acontecimentos e efemérides com relevância local, municipal ou mesmo nacional, ou ainda perpetuar designações ancestrais dos sítios ou lugares, entre outras atribuições com dignidade e merecimento toponímico. O que vale por dizer, não dever ser este um exercício de algibeira - como aqueles que atribuem por nomes “Rua da Estrada”, “Rua Direita” ou “Rua do Caminho de Terra” -, mas sim um rigoroso e criterioso trabalho de identificação e correspondência com os elementos e aspectos naturais, patrimoniais, históricos e sociológicos de cada lugar e cada freguesia. Algo que possa dizer, a nós e aos vindouros, do nosso torrão natal e dos nossos maiores.