23 de abril de 2020

Arouca no pós Covid-19

A pandemia Covid-19 atacou-nos a todos enquanto sociedade de uma forma nunca antes sentida na era moderna. Tão fracturante como o ataque a que fomos submetidos, mais ou menos bruscamente, temos também que estar conscientes que a curto/médio prazo o vírus estará aí para nos fazer repensar a nossa forma de agir, estar, interagir e viver em sociedade. Seremos capazes de aprender ou reaprender  algo após isto tudo ou quando "a vacina chegar", quando "um tratamento mais eficaz chegar" seguiremos o nosso caminho desenfreado como até aqui vínhamos fazendo?
Até agora foi tempo de pensar quase exclusivamente na saúde, na não ruptura do nosso SNS. Parece que o conseguimos fazer, felizmente, com sucesso. Agora será também altura de começar a pensar como sair deste buraco económico em que nos fomos obrigados a esconder. E Arouca, como foi ou será afectada economicamente por esta epidemia?


Nos últimos anos tivemos um desenvolvimento económico, à semelhança do resto do país, muito alicerçado no sector do turismo com os Passadiços do Paiva como ex-libris desse desenvolvimento. Se existem  sectores que poderão ser exemplo máximo do "fechar tudo" são o sector do turismo e restauração. Todo o sector terciário foi severamente atingido.
De portas fechadas, sem turistas, sem receitas, com as despesas que se adiarem agora a terem que se pagar no futuro (são estas as indicações do governo). As empresas vêem-se em enormes dificuldades.
O turismo em Arouca é essencialmente um turismo de natureza, ao ar livre onde a proximidade e distanciamento social são por si só potencializados pela prática em si mesmo. Caminhadas nos nossos percursos pedestres, nos passadiços com lotação limitada, prática de desportos radicais, passeios na Serra da Freita, etc., têm certamente um factor de contágio e transmissão mais baixo que o fazer turismo em museus e ruas de grandes cidades de Portugal ou mundiais. Poderá isto ser visto como uma vantagem turística a médio prazo? Mas não nos interessa em termos comerciais ter turismo se não podermos tirar os dividendos económicos do mesmo. E esses dividendos indirectos vêm-se na restauração, no alojamento... em resumo: na generalidade de todo o consumo local que o turismo arrasta. 
A gastronomia é outro ponto muito forte do nosso turismo, seja através da marca "Raça Arouquesa" ou através dos Doces Conventuais e todas as outras iguarias tradicionais. Iremos a breve prazo poder voltar a ter os restaurantes lotados ou com lotação limitada? As pessoas terão receio de se reunir socialmente e preferirão "vir passear à nossa natureza e trazer a sua "marmita"?
Temos uma nova ponte pedonal a inaugurar, com um custo de mais de 2  milhões de euros, com um target de público alvo nacional e internacional. Um investimento que necessitará de milhares de turistas para fazer reverter o investimento. Os turistas, que acredito terão vontade de nos visitar, terão receio de atravessar  a ponte ou terão um receio ainda mais prejudicial que será o receio de vir?
E a médio prazo, a sociedade arouquense aprenderá a viver com o vírus? Temos uma população envelhecida, principalmente nas zonas mais rurais e serranas onde algumas aldeias têm uma população com média de idade acima dos 70 anos, o que faz com que toda a aldeia seja população de risco. E se a epidemia aí chegar?
Não temos uma data definida para isto terminar pelo que teremos que ir pensando e projectando ou desprojectando a curto, médio e longo prazo.
As festividades como as conhecemos, do São João do Porto, por exemplo, foram canceladas, as do Senhor de Matosinhos, pela primeira vez na história, foram canceladas. E as nossa Feira das Colheitas? O espaço temporal que medeia entre a data actual e o final de Setembro será suficiente para que possa acontecer nos moldes que a conhecemos?
Felizmente todos as ERPI's de Arouca testaram negativo para os seus utentes, mas como já escrevi teremos que aprender a viver com a doença. Deveremos manter a longo prazo um local para onde possam ser deslocadas pessoas que necessitem de quarentena e isolamento fora da estrutura da ERPI? Essa solução, a médio prazo, não poderá ser o pavilhão municipal porque as nossas escolas terão que obrigatoriamente reabrir. 
Todo um novo mundo de dúvidas, questões e incógnitas nos trouxe este surto. Estas são só algumas dúvidas no imenso mar de interrogações que podemos ter. O desconhecido também nos obriga a questionar e a tentar antecipar todos os cenários.