14 de maio de 2020

A professora Helena d´Alhavaite

Acabei de ler um livro sobre Frei Simão de Vasconcelos e a sua história na guerrilha liberal em Arouca na primeira metade do século  XIX , escrito pelo arouquense Afonso Veiga. Um livro que aconselho leitura.
A páginas tantas  por entre árvores genealógicas de descendentes dos intervenientes nesta contenda entre absolutistas e liberais encontrei o nome da minha professora da escola primária. A professora Maria Helena "d'Alhavaite", como era e é conhecida.
Ao longo do nosso percurso estudantil há professores que nos vão marcando mais que outros e a professora Helena será porventura uma das que com mais saudade recordo. Fiz todos os meus quatro anos do ensino básico na Escola Primária da Boavista, em Santa Eulália. A professora Helena era uma professora à " moda antiga". Lembro-me de dizerem lá pela escola que teria sido uma das primeiras mulheres de Arouca a ter carta de condução. Ainda há mais ou menos uma década a via por aí, já com avançada idade, a conduzir o seu Renault 19 chamade. Era uma professora à moda antiga também na relação de afectividade com que tratava os seus alunos. Teremos sido uma das últimas "classes" a quem terá dado aulas antes de se reformar da longa e profícua actividade lectiva e felizmente tivemos o prazer de a ter como professora . Era à moda antiga também na forma de castigar e repreender os alunos quando estes não se portavam de acordo com o esperado ou expectado e antes que qualquer "réguada ou canada ou puxão de orelhas" passasse pelo crivo e critica apertadissimo e "no sense" do bullying e violência dos dias de hoje. Aprendi muito com ela e penso que terá sido responsável pelos pilares básicos do aluno medianamente bem sucedido que fui no futuro. Recordo os ditados em que só poderíamos dar até 6 erros ortográficos sob pena de ficarmos sem intervalo, recordo  as tabuadas cantadas no quadro, o apagador e o pó de giz branco, etc... recordo também aquelas as férias grandes de Verão entre o 3º e o 4 º ano em que uma tragédia se abateu sobre a totalidade  da família Alves que regressava de umas férias no Algarve. O João era meu colega de carteira e familiar da professora Helena . Recordo esse inicio de ano lectivo estranho, o da professora talvez mais, pela consciência trágica do sucedido o meu amenizado pela inocência da infância.
A professora Helena era casada com um médico veterinário, o Dr. Albino "d' Alhavaite". Penso que quando nos deu aulas já o seu marido havia falecido e não estando certo desta precisão de datas estou porém muito certo da paixão com que nos contava por vezes algumas histórias médico veterinárias do seu marido por terras de Arouca. Eu nunca o cheguei a conhecer.
Há uns 7 anos, já médico veterinário e a exercer profissionalmente, fui chamado para prestar assistência a uma ovelha à quinta da Alhavaite por pedido da professora Helena.
Foi possivelmente das consultas mais prazerosas e satisfatórias que fiz até hoje; consultei o animal, fui convidado pela minha professora primária para um lanche na sua casa da quinta onde trocamos memórias e onde partilhei o meu percurso académico. Histórias e estórias da actividade médico veterinária , a minha, mas principalmente as que escutei da boca da minha professora primária acerca do seu marido Dr. Albino bem como do seu riquíssimo percurso de vida.
Este texto poderia ser certamente mais preciso, detalhado e concreto em algumas informações, mas pretendi que tivesse um pendor mais emocional que racional que, como se escreveria nos tempos em que a professora Helena começou a leccionar, fosse escrito de uma penada só.
Obrigado professora