Cá está! Escrevo o primeiro artigo da minha vida em português.
Para um blog.
Para
Arouca.
A combinação de uma
certa forma da modernidade com a evocação de raízes profundamente enraizadas em
mim.
As minhas
contribuições serão de um arouquense de lá que, apesar da distância, permanece
ligado a este pequeno canto do mundo, central, que é Arouca. Um arouquense do famoso "Meu querido mês de Agosto".
Estamos reunidos
aqui em torno da memória evocadora de um título da imprensa que marcou a nossa
história comum: a "Defesa de Arouca". Esse desejo de reinvenção
emocionou-me particularmente porque desperta em mim muitas lembranças.
Nascido e criado na
França, o meu relacionamento com a língua portuguesa é limitado a conversas com
os meus familiares. Tenho, por assim dizer, apenas uma relação distendida com a
leitura e, a fortiori, com a literatura portuguesa. Como muitos dos meus congéneres "Abec". A maioria das minhas lembranças de leitura em português tem a
ver com a Defesa de Arouca. Não seria exagero dizer que aprendi a ler
(decifrar) e a escrever (mal) português através deste jornal. Eu li de ponta a
ponta, títulos relacionados com a política local, com obituários ou ainda os relatos de jogos do FC Arouca
ainda perdido nos campeonatos regionais.
O mais importante
para mim, no entanto, não foi o conteúdo do qual, devo admitir, guardo apenas
memórias muito distantes. O mais importante com a Defesa de Arouca é a
lembrança dele em casa dos meus avós, eles que são, especialmente o meu avô, a
base do meu apego a esta terra e à orgulhosa humildade de seu povo. Lembranças
dos jornais amontoados ao lado da lareira antes de acabarem nela. Foi lá, junto
à lareira, com os meus avós, ao som do crepitar e do ferver da panela de caldo, que eu folheei o jornal e me
confrontei com uma linguagem escrita que era tão estranha para mim. Além disso,
era a única leitura da casa. A Defesa de Arouca era o único acesso a uma forma
de cultura literária. Sem este jornal, não tenho certeza que o meu avô se
comprometeria em manter um vínculo com a leitura e que eu pudesse ler mais de
duas palavras por escrito em português.
Por seu poder
evocador de recordação e pelo que me trouxe, obrigado à Defesa de Arouca.
Até breve neste meu
Arouca do recordar e da saudade!
P.S.: Gostaria de agradecer à Sara Tavares, arouquense de coração, por sua releitura benevolente.
P.S.: Gostaria de agradecer à Sara Tavares, arouquense de coração, por sua releitura benevolente.