24 de setembro de 2018

O poder evocador da Defesa para um "Abec"

Cá está! Escrevo o primeiro artigo da minha vida em português. 

Para um blog.
Para Arouca.
A combinação de uma certa forma da modernidade com a evocação de raízes profundamente enraizadas em mim.
As minhas contribuições serão de um arouquense de lá que, apesar da distância, permanece ligado a este pequeno canto do mundo, central, que é Arouca. Um arouquense do famoso "Meu querido mês de Agosto".
Estamos reunidos aqui em torno da memória evocadora de um título da imprensa que marcou a nossa história comum: a "Defesa de Arouca". Esse desejo de reinvenção emocionou-me particularmente porque desperta em mim muitas lembranças.
Nascido e criado na França, o meu relacionamento com a língua portuguesa é limitado a conversas com os meus familiares. Tenho, por assim dizer, apenas uma relação distendida com a leitura e, a fortiori, com a literatura portuguesa. Como muitos dos meus congéneres "Abec". A maioria das minhas lembranças de leitura em português tem a ver com a Defesa de Arouca. Não seria exagero dizer que aprendi a ler (decifrar) e a escrever (mal) português através deste jornal. Eu li de ponta a ponta, títulos relacionados com a política local, com obituários ou ainda os relatos de jogos do FC Arouca ainda perdido nos campeonatos regionais.
O mais importante para mim, no entanto, não foi o conteúdo do qual, devo admitir, guardo apenas memórias muito distantes. O mais importante com a Defesa de Arouca é a lembrança dele em casa dos meus avós, eles que são, especialmente o meu avô, a base do meu apego a esta terra e à orgulhosa humildade de seu povo. Lembranças dos jornais amontoados ao lado da lareira antes de acabarem nela. Foi lá, junto à lareira, com os meus avós, ao som do crepitar e do ferver da panela de caldo, que eu folheei o jornal e me confrontei com uma linguagem escrita que era tão estranha para mim. Além disso, era a única leitura da casa. A Defesa de Arouca era o único acesso a uma forma de cultura literária. Sem este jornal, não tenho certeza que o meu avô se comprometeria em manter um vínculo com a leitura e que eu pudesse ler mais de duas palavras por escrito em português.

Por seu poder evocador de recordação e pelo que me trouxe, obrigado à Defesa de Arouca.

Até breve neste meu Arouca do recordar e da saudade!

P.S.: Gostaria de agradecer à Sara Tavares, arouquense de coração, por sua releitura benevolente.