17 de setembro de 2018

Em Arouca, um mosteiro, não um convento

    Sempre que passo na Autoestrada do Norte (A1) antes da saída para Santa Maria da Feira reparo nas placas de grande dimensão e fundo castanho anunciando que por ali se sai para o “convento de Arouca”. É um erro. O muitas vezes chamado “convento” de Arouca não é um convento. É, sempre foi, um mosteiro.
    Se é verdade que só porque se lhe chame convento, não deixará por isso de ter sido ou de ser um mosteiro, e se é verdade que há erros piores e coisas mais importantes na vida, aos olhos das quais isto é um argueiro, nem por isso deixa de ser um erro.
    A maioria de nós acaba por, uma vez por outra, repetir e reproduzir este erro, que se entranhou no nosso linguajar. Mesmo em páginas oficiais de entidades administrativas da nossa terra é fácil encontrar o mosteiro trocado por um convento. Veja-se o caso do website da Direção Regional de Cultura do Norte para perceber-se do que falo. Ou veja-se a referência de Miguel Torga de que falarei em próximo texto.
    Deixo a sugestão a quem isto ler, se estiver de acordo e se tiver ou conhecer quem tenha poderes para propor e/ou fazer a correção das placas da A1 e de outras que eventualmente existam, que tal proponha ou faça. Por exemplo, através das instituições de âmbito administrativo-autárquico ou com responsabilidades de promoção turística.
    A diferença entre mosteiro e convento tem a ver com a história das formas de vida regular da Igreja e tem a ver com a distinta etimologia de uma e de outra palavra. Simplificando, nos mosteiros vivem comunidades de monges ou monjas em obediência a uma regra de vida que preconiza um claro afastamento do mundo exterior; já nos conventos vivem comunidades de frades (chamados freires no caso de ordens militares) ou freiras cuja regra de vida impõe que estejam, que ajam no mundo. As ordens monásticas, cujos membros habitavam mosteiros, precederam o surgimento, no século XIII, das ordens mendicantes, que foram as primeiras a viver em conventos.
    Em Arouca há um mosteiro, não um convento. Um mosteiro no qual viveram monjas, da Ordem de São Bento e depois da Ordem de Cister, mas nunca freiras. E mosteiro, aqui, no sentido de instituição ou comunidade, não simplesmente de edificado, pois antes do atual mosteiro-edifício outros ali houve.
    A terminar, e não vá alguém ter a ideia, creio que não se justifica mudar de doces conventuais para doces monásticos. Soa pior e, sei lá, poderiam deixar de saber tão bem!