Ainda a comemorar a entrega do
prémio de melhor atração de Turismo Aventura do Mundo ao Município de Arouca
com o projeto “Passadiços do Paiva”, que considero relevante para a
continuidade da estratégia política deste e do anterior executivo, focado
essencialmente no Turismo e no desenvolvimento do setor terciário, não consigo
evitar que dúvidas ou incertezas assombrem este orgulho que sinto enquanto
arouquense. Dúvidas essas que se me colocam acerca da preservação ambiental,
designadamente do ecossistema, flora e fauna existentes no rio Paiva e que pelo
número reduzido de espécimes são consideradas raras ou em risco de extinção,
privilegiando de normativas europeias de proteção. Refiro, a título de exemplo,
as lontras, as toupeiras-de-água, as borboletas, algumas aves, peixes e a
vegetação ripícola, onde se salientam bosques com amieiros, freixos e carvalhos
alvarinho. Apesar de menos referenciada pelo reduzido número de avistamentos, é
também de salientar a presença da águia de asa redonda que imponente voa e
plana no rio Paiva, de montante a jusante, e vice-versa, presença que estará na
origem do nome da Cascata das Aguieiras, por ser conhecida como local onde as
águias nidificavam. Será pacífica a coexistência entre este projeto de grande
afluência de turistas e a preservação destes ecossistemas???
Sem querer tirar o mérito aos
Passadiços do Paiva que têm como objetivo tornar acessível à população as
margens do Rio Paiva, para fruição da beleza paisagística e para educação e
sensibilização ambiental, passados 3 anos, penso ser altura de passar do “Verbo”
à “Ação” e implementar mais medidas que protejam de facto este património
natural de valor incalculável: limitar mais o número de visitantes por dia;
criar alternativas à circulação automóvel poluente utilizando veículos elétricos
para transbordo entre pontos de acesso; melhorar a planificação e gestão dos
resíduos; garantir que os esgotos provenientes das populações e lugares
ribeirinhos sejam alvo de tratamento em ETARs, eliminando as tradicionais
fossas ou o esvaziamento através de cisternas; melhorar a segurança rodoviária
em estradas perigosas pela sinuosidade que apresentam; aumentar e enquadrar
paisagisticamente o número de parques de estacionamento que, na minha opinião,
deveriam ser pagos; melhorar estruturas de acolhimento - maior número de WC e
já agora substituir os WC em contentores na praia fluvial do Vau; realizar
obras nos esquipamentos das praias fluviais do Areinho e Paradinha e dotá-los
de painéis solares capazes de forma a evitar o recurso a geradores; procurar
garantir a colocação de rails de proteção na estrada que serve o lugar da
Paradinha, à semelhança dos rails colocados para acesso ao lugar de Meitriz,
etc.
Estas são apenas algumas das
muitas intervenções que serão necessárias realizar a médio prazo, para que o
nosso património natural seja “preservado” e sofra o menor impacto possível e
para que as expectativas colocadas nos Passadiços do Paiva e, para o ano, na
maior ponte pedonal suspensa do mundo, não sejam defraudadas, sob pena dos
holofotes dos media se virarem contra nós.
Os prémios acarretam
responsabilidade e compromisso e, havendo clareza de visão, discernimento e
juízo crítico, não é necessário ser adivinho para antever onde serão aplicados
os orçamentos municipais dos próximos anos. Enquanto arouquense, espero que o
dinheiro público investido seja utilizado de forma criteriosa, equilibrada e
que vise o desenvolvimento de uma solução sustentável.
Sem querer alongar este meu
artigo que já vai extenso, acrescento que é premente angariar financiamento
comunitário quer para a ponte pedonal suspensa, quer para a ligação desta junto
à Cascata das Aguieiras à aldeia de Alvarenga, atravessando os lugares da
Chieira em direção à Ribeira, Miudal ou Santo António.
Também esta ligação deverá ser
planificada em respeito pelas características rurais, preservando-se caminhos,
regos de água, muros, fontes e fontanários que tão bem caracteriza Alvarenga e
que é um elemento cultural diferenciador a respeitar.
Enquanto alvarenguense, espero
igualmente que as tão almejadas obras na Quinta da Picota sejam uma realidade a
curto prazo e não se tornem promessas vãs nem ideias que não saem do papel,
hasteadas como bandeiras de campanha eleitoral, como a malograda 2.ª fase da Variante
de Arouca, a “marinar” há mais de 12 anos.
A par com os investimentos no
Turismo em Alvarenga, sugiro que se diversifique ainda a oferta com a criação
de um percurso pedestre de índole cultural e histórico, aproveitando a ligação
da ponte pedonal suspensa à aldeia de Alvarenga, iniciando na Chieira,
atravessando a Vila, o Passal, o Paço, Quintela, Ribeira, Trancoso, Casais,
Picota e terminando em Miudal ou em Santo António. Neste percurso cultural e
histórico, poder-se-ia (re)visitar a história de Arouca/Alvarenga (e à sua
semelhança a história nacional), abarcando pelo menos onze séculos de história
(X-XXI), abordando temas como as antigas “vila” romanas, a Reconquista Cristã,
a proeminência da família de Egas Moniz – o Aio, preceptor de Afonso Henriques,
a atribuição das cartas de foral manuelinas, que fez de Alvarenga concelho, o
que se manteve até ao séc. XIX, as Ordenanças de Alvarenga, as invasões
francesas, a exploração mineira de volfrâmio tendo no lugar da Chieira ocorrido
a 1.ª concessão mineira em 1911, a separadora do volfrâmio da Espinheira sita
no lugar da Vila, onde hoje está instalado o Hotel Quinta da Vila, o Motim de
1942 e o contrabando de minério por altura da II Guerra Mundial, a emigração
para o Brasil, com especial atenção para a figura de Adriano Telles, fundador
do café A Brasileira, o poder e a
influência de famílias de Alvarenga junto do governo central, designadamente
dos Galvão, dos Telles e dos Noronhas, a construção do rego do Boi, que
atravessa desde a Serra todo o vale de Alvarenga, desaguando na Cascata das
Aguieiras, etc.
Para terminar (mesmo!) há que
festejar e ter orgulho em Arouca e nos Passadiços do Paiva – e futura ponte
pedonal suspensa – acreditar na boa gestão local e acompanhar, sempre atentos,
o desenvolvimento das políticas locais, numa atitude de cidadania participativa,
consciente e responsável porque, como vemos, há muito trabalho a fazer e um mar
de oportunidades a rentabilizar!