Requalificar uma estrada no interior, não é só tirar curvas,
esconder retas e apagar buracos, é trazer de volta, na maior parte dos casos, a
esperança em dias futuros mais risonhos, em dias que acreditamos irão ser de
mais progresso. É acreditar de novo que todos os Portugueses merecem as mesmas
oportunidades e têm direito a elas.
É considerada por muitos uma espécie de porta dos fundos,
outros nem se lembram que existe. E é pena. A estrada 225 que vai de Alvarenga
até a um dos nossos vizinhos, Castro Daire, merecia ser olhada de outra
maneira. Há muitos anos já que a nossa fixação é olhar para o litoral. Queremos
a variante para o Litoral, queremos sair para o mar e sem querer, só por que a
isso somos obrigados, porque lá encontramos tudo, esquecemos que somos também
cúmplices na desertificação do nosso interior e vivemos praticamente de costas
voltadas para aquelas bandas. Temos a estrada para S. Pedro do Sul que por ter
nascido tarde, seria só por isso???, não conseguiu atingir os fins que tamanha
obra merecia, temos a estrada ou melhor as estrada para Castelo de Paiva que pararam em tempos distantes, e vivemos
assim afunilados com as entradas e saídas que nos levam a todo o lado, sempre
na mesma direção, o litoral.
Comecei a frequentar a 225 há muitos anos, por razões de
trabalho, e apesar de tudo via por lá movimento, gentes e trabalhos, escolas e
empregos, mas aos poucos foi definhando e nem estar sobranceira ao Paiva lhe
valeu. Sim, porque é muito próximo desta estrada que corre o Rio Paiva que se
deixa desnudar agora ali para os lados de Alvarenga e tanta notoriedade nos tem
dado. Mas desde Alvarenga até Castro Daire, podemos descobrir lhe praias
fluviais discretas e com muita daquela beleza que tem cheiros de pinhais,
flores, e uma água em que apetece deitar e tentar impedir que continue a correr
para longe. É graças a essa estrada que o podemos acompanhar e mostrar ao mesmo
tempo o quanto gostamos das nossas terras, sejam elas perto ou longe do oceano.
Mas quem a fôr percorrendo, por entre as curvas, os buracos e os perigos
imensos de uma estrada antiga encontra ainda muito património a merecer visita,
muitas paisagens das que não se esquecem com facilidade, pequenas ribeiras com
aquele cantar que nos faz suspirar fundo, aldeias completamente desertas só com
as memórias e as casas de pedra sem chaves nem ruídos, muitos pastores que se
deixam escorregar da enorme e bela montanha que a traz a tiracolo, as escolas
primárias e as velhas igrejas, que lá estão a testemunhar as mudanças, mas não
querem abandonar os lugares, e encontra se ainda muita gente, gente que merece
ser olhada com a dignidade de quem quer morrer onde gosta de viver e muita dela
nasceu, viu nascer os filhos, enterrou os mais velhos, e ganhou o sustento. Gente
com esperança, a esperança que vai faltando noutros locais. As raízes não são
fáceis de arrancar, pelo contrário ganham forças com as dificuldades. E muitos
sonham que um dia se olhe para o interior e se lhe dê o valor respetivo. E a
estrada é muito importante para que não morra a esperança nem desapareça o
sonho. Por isso lutemos. Nós os de Arouca, que gostamos de mar mas também das
serras, nós os de Arouca que acreditamos não se deve abandonar o interior nem a
natureza, nós os que acreditamos ingenuamente se pode viver sem ter que ir a
correr para a cidade mais próxima, nós que acreditamos que o nosso País deve
recuperar o equilíbrio, lutemos para que se requalifique esta estrada. Os
amigos vêm se nos apertos e temos por lá espalhados imensos amigos e gente da nossa e como nós. E
ficaremos até beneficiados com uma nova porta que nos pode levar com facilidade
a muitos locais, a muitos negócios e a muito mais equilíbrio pelas ligações que
permite. Afinal é uma entrada que serve Alvarenga e os seus lugares, é via de
acesso para os Passadiços e para a nova ponte, e só por isso significa muito
para Arouca. A nossa autarquia deve pressionar e transmitir as importâncias de
tal obra e os autarcas de Alvarenga que só tem a ganhar com um acesso mais
condigno para as suas gentes e os seus lugares, devem lutar até ao esgotamento por
esta obra. Pela obra que se realizou até hoje, a Arouca não nos basta a
Variante, queremos também estar com um pé no interior, queremos olhar para a
frente e também para trás. Fica o pedido, justo e mil vezes repetido,
requalifiquem a 225, ou coloquem um letreiro a indicar futuro deserto, e
ficarão as lembranças.