Como muitos dos "abecs" arouquenses, Arouca ocupa apenas 1/12° da minha vida. Fisicamente.
No entanto, como para muitos dos meus
congéneres os 11/12° restantes são intimamente ligados ao 1/12° passado em
Arouca. 1/12° para matar saudades e
11/12° a manter viva essa mesma saudade. É o sinal de um apego forte a
esta terra. Falo de terra propositadamente porque falo de raízes fortemente
ancoradas em nós. Falamos um português rudimentar e nem sempre nos sentimos no «nosso» lugar e no entanto...
No entanto, voltamos todos os
anos. Fazemos a nossa transumância. Somos ardentes defensores de algo que
dominamos apenas parcialmente. De tanto querer matar a saudade,
acabamos por fortalecê-la paradoxalmente.
Temos uma visão idealizada de
Arouca. Uma visão distorcida pelo prisma das férias. Uma Arouca do lazer. É uma
característica comum a muitos dos "abecs" de Portugal.
A minha experiência de "abec" arouquense faz-me dizer que temos, no entanto, um suplemento de alma. Quantas
vezes vi outros abecs defender o seu pedaço de terra e ser rapidamente
desamparados face ao orgulho dos "abecs" arouquenses. Pois é…
Temos a sensação de sermos de um
lugar de onde, mais do que em qualquer outro lugar, exala uma energia
particular. Um cantinho pequeno do mundo mas
com muito caráter. Um lugar onde o orgulho de dizer
de onde somos permanece sempre forte. Somos todos um pouco chauvinistas
É ai que foram forjadas as nossas
mais belas memórias, Sejamos de França, da Suíça ou de
outro lugar, corremos teimosamente atràs do tempo perdido. Atrás da nossa «Madeleine de Proust». A procura daqueles raros momentos que escapam ao espaço-tempo. Momentos em que comungamos com as
nossas raízes. É um fenómeno profundamente
poderoso. Uma segunda respiração. Aproveitar momentos que somente
durarão breves instantes mas que indelevelmente ficarão em nós.
1/12° a matar a saudade e 11/12°
a manter viva essa mesma saudade. Em busca do tempo perdido.