4 de março de 2019

Em busca do tempo perdido

Como muitos dos "abecs" arouquenses, Arouca ocupa apenas 1/12° da minha vida. Fisicamente.
No entanto, como para muitos dos meus congéneres os 11/12° restantes são intimamente ligados ao 1/12° passado em Arouca. 1/12° para matar saudades e 11/12° a manter viva essa mesma saudade. É o sinal de um apego forte a esta terra. Falo de terra propositadamente porque falo de raízes fortemente ancoradas em nós. Falamos um português rudimentar e nem sempre nos sentimos no «nosso» lugar e no entanto...

No entanto, voltamos todos os anos. Fazemos a nossa transumância. Somos ardentes defensores de algo que dominamos apenas parcialmente. De tanto querer matar a saudade, acabamos por fortalecê-la paradoxalmente.

Temos uma visão idealizada de Arouca. Uma visão distorcida pelo prisma das férias. Uma Arouca do lazer. É uma característica comum a muitos dos "abecs" de Portugal.
A minha experiência de "abec" arouquense faz-me dizer que temos, no entanto, um suplemento de alma. Quantas vezes vi outros abecs defender o seu pedaço de terra e ser rapidamente desamparados face ao orgulho dos "abecs" arouquenses. Pois é…

Temos a sensação de sermos de um lugar de onde, mais do que em qualquer outro lugar, exala uma energia particular. Um cantinho pequeno do mundo mas com muito caráter. Um lugar onde o orgulho de dizer de onde somos permanece sempre forte. Somos todos um pouco chauvinistas

É ai que foram forjadas as nossas mais belas memórias, Sejamos de França, da Suíça ou de outro lugar, corremos teimosamente atràs do tempo perdido. Atrás da nossa «Madeleine de Proust». A procura daqueles raros momentos que escapam ao espaço-tempo. Momentos em que comungamos com as nossas raízes. É um fenómeno profundamente poderoso. Uma segunda respiração. Aproveitar momentos que somente durarão breves instantes mas que indelevelmente ficarão em nós.

1/12° a matar a saudade e 11/12° a manter viva essa mesma saudade. Em busca do tempo perdido.