Desde a primeira vez que nos encontramos, que tivemos a
preocupação de remarcar o encontro e assim sendo e sem esquecer, de oito
em oito dias lá tínhamos o encontro do costume. Desde a primeira vez o que mais
me marcou e surpreendeu foi aquela frase que vi sempre repetida: ”Defensor dos
Interesses do Concelho”. A velha Defesa caiu me de surpresa debaixo de vista,
já algo gasta de várias leituras, meio abandonada na pequena mesa onde estava o
telefone, local da maior importância, onde se guardavam papéis para futura
leitura ou uma agenda para consultas urgentes, uma internet dos tempos de
então. Claro que a personagem mais importante era o telefone, mas logo a seguir
a Defesa. Jornal de poucas páginas, poucos grafismos, assim a modos como o
tempo da altura, seco e escorreito. O essencial do País, um olhar pela vida
desportiva, uma parte, pequena, que fazia adivinhar o sucesso das revistas cor
de rosa, com chegadas, partidas, um aniversário de vez em quando e até um êxito
nos estudos. Tudo simples e sem grandes floreados. Depois o mais importante,
Arouca, os seus problemas, os seus anseios sem muita variedade de opiniões numa
primeira fase, como se estivessem todos de acordo com o caminho a seguir, o
rumo era aquele e os timoneiros, os mais sábios, não admitiam grandes
discussões. Num País com 40% de analfabetos um jornal era para ser lido,
estudado, transmitido e contado como se de um livro com muitas histórias se
tratasse. As noticias eram lentas, algumas nem chegavam nunca, depois percebi
porquê, o mundo era muito grande e tudo andava muito devagar. A hora da leitura
era um tempo de silêncios, de respeitosos momentos de reflexão e terminava- se
com a convicção que estávamos finalmente alinhados com o resto do mundo, pois
ganhávamos o direito de ter opinião.
Depois era esperar mais 8 dias e o correio lá trazia um novo jornal a quem se encurtara
o nome e passara a ser a Defesa, o nosso jornal. E dentro daquelas páginas
sempre o tema, defensor. Que concelhos mais haveriam com um defensor tão
presente? Como em muitas coisas na vida só lhe sentimos verdadeiramente a falta
quando as perdemos e com a interrupção da Defesa ficou um vazio que nenhum
outro jornal conseguiu eliminar. Não se conseguem apagar anos e anos de convívio,
perto e longe, e continuar como se nada se tivesse passado. O tempo vai
distanciando essas leituras mas fica a certeza que o papel que desempenhou
nunca vai ser substituído, poderá sim ser complementado e continuamos a ter
esperança num regresso diferente mas sempre com a mesma finalidade, defender o
nosso Concelho. Há coisas que nunca deviam acabar, pelo menos não as deixemos
esquecer. Isso ocorre-nos sempre que consultamos as velhas páginas e nos
despedimos com um até breve. Viva a velha “Defesa”. Que o blog que agora lhe
ostenta o nome, percorra os mesmos caminhos e seja também com o máximo de
independência e pluralismo defensor dos interesses do nosso Concelho. Isso
basta e é o mais importante.
Os agradecimentos à Associação de Defesa do Património de Arouca pela cedência das Defesas para consultas e fotos.