4 de fevereiro de 2019

Memórias da Feira de S. Brás

Quanto tempo já passou! Ou não, porque o tempo passa depressa e fica-se com a sensação que ainda foi há pouco tempo.

Mas era assim: nos finais de Janeiro, começava a ouvir a minha mãe dizer: "Para a semana é a Feira do S. Brás. Vamos todos comer figos, regueifa branca e beber vinho branco".

E este anúncio, que nos anos sessenta fui ouvindo algumas vezes, deixava-me altamente contente, sei lá eu porquê. Afinal era só para se comer figos, regueifa branca e beber vinho. Mas este "só", visto hoje, passados tantos anos, era um "SÓ" com letra grande.

Ir à feira do S. Brás era uma alegria. Era uma festa. A "primeira feira do ano" como muitos lhe chamavam, durava dois dias. Tudo se comprava, tudo se vendia. Roupas, calçado, louças, produtos agrícolas, galos, galinhas...lembro-me da minha mãe ter comprado um porco nessa feira e depois levá-lo ao colo até ao curral. "Este reco-reco vai ser abençoado, porque foi comprado no dia do S. Brás e ele é o padroeiro das gargantas", dizia a minha mãe enquanto caminhava com o "reco-reco" ao colo...

A próxima feira, depois de S. Brás, seria a da Rainha Santa, para a qual faltavam três meses. Daí a importância de se fazer as "mercolas" necessárias, ou possíveis, para se governarem até lá.

Para mim, no entanto, o mais importante de tudo na Feira do S. Brás, era ir à "Loja do Somer" com os meus irmãos e os meus pais, comer os tais figos com a regueifa e beber o vinho branco. Naquele tempo as crianças bebiam vinho... eu e os meus irmão também bebíamos...não nos fez mal, nem ficamos a gostar demasiado dele. A "Loja do Somer" era um lugar bem porreiro. Entrava-se pelo lado da praça, atravessava-se o primeiro patamar, descia-se três ou quatro degraus e lá estavam umas mesas de madeira corrida com canecas cheias de vinho em cima delas. Partilhava-se essas mesas com quem já lá estivesse ou chegasse depois. E eis a festa!! Conversava-se com conhecidos e desconhecidos, comia-se e bebia-se e...até ao ano, se Deus quiser.

Foi nesta loja, que ainda existe na minha memória, tal como era nos tempos em que eu comia lá os figos, que mais tarde nasceu o Café União.

Quanto ao S. Brás!!! Oh! Que ele me desculpe! Naquele tempo eu não sabia nada a respeito dele, a não ser que era a primeira feira do ano à qual eu ia feliz. Agora, porém, também sei pouco! Que foi Bispo, mártir e santo católico, padroeiro das doenças de garganta à conta de ter tirado, depois de uma oração, um espinho da garganta de uma criança (a minha mãe tinha razão...lá isso ela sabia!). Capturado pelos romanos e decapitado no ano 316.

Hoje, o que vi na Igreja a comemorar o S. Brás, foi uma estátua pequenina, com o santo e uma criança. Ao lado, um cesto com velas e outro para colocar dinheiro. QUE S. BRÁS NOS DESCULPE A TODOS!!

Hoje também sei pouco e continuo a pedir-lhe desculpa.
"Maria"