1 de maio de 2019

Festa das Cruzes

«Na próxima sexta-feira, realiza-se no alto da Freita, na Capela da Senhora da Lage, a tradicional e afamada Festa das Cruzes, bem conhecida ao largo e ao longe. Se o tempo o permitir, muitos milhares de pessoas subirão à Serra para gozar deslumbrantes paisagens que é possível desfrutar não só durante o percurso como do próprio local da festa, que também tem grande número de apreciadores. A Festa das Cruzes é, pois, uma das mais notáveis deste concelho e circunvizinhas.»
Foto: Paróquia de S. Simão de Arões, Vale de Cambra
Este pequeno anúncio, a suceder outro idêntico relativo à Festa da Rainha Santa Mafalda, publicados na Defesa de Arouca, de 27 de Abril de 1974, dois dias após a Revolução, dá-nos conta daquela que foi também uma das principais e mais significativas romarias do concelho, hoje, infelizmente, mas como tantas outras, a perder o seu fulgor de outrora.

Tem lugar todos os anos e pelo menos desde o inicio do século passado, no dia 3 de Maio, lá no alto da Freita, na capela da Senhora da Lage, aonde, para o efeito, se deslocam em romaria as Cruzes e os povos das paróquias circunvizinhas, em especial, de Arouca, Vale de Cambra e São Pedro do Sul. Com excepção, - apesar de ser a mais vizinha das vizinhas -, da Cruz de Rossas. Pois diz a tradição popular que, se algum dia a Cruz de Processional de Rossas entrar na capela de Nossa Senhora da Lage, esta passa imediatamente a pertencer àquela paróquia e freguesia, sendo espoliada da alegada indevida posse exercida pela paróquia e freguesia de Urrô. Mas, isso são "cruzes d'outro calvário"!

Quando ali chegados, os grupos de romeiros de cada uma das paróquias concentram-se junto aos respectivos cruzeiros, esperando a vez de se integrarem com as respectivas Cruzes alçadas na procissão da manhã com destino à capela. Tradição que justifica o nome de Festa das Cruzes, tendo chegado já a ser integrada por 13 Cruzes Processionais.

Porém, esta festa de devoção popular também já não é o que era. Já não são milhares os que se avistam ao largo e ao longe, com trouxas e farnel, a subir a serra e a convergir para a pequena ermida da Lage, local afamado pelos seus bons ares, bem conhecidos dos nossos avós, quantos dos quais ali passaram temporadas (normalmente, nos dias antes ou depois de uma das três datas anuais de romaria, de modo a fazer ou cumprir a promessa) agarrados à esperança de se curarem das suas enfermidades, como várias vezes o fez e registou, entre outros, Manuel de Almeida Brandão, de Rossas.

«Prometi, se sarar de minhas enfermidades tuberculosa, cistite e arquites, de servir sozinho, um ano, de mordomo à Virgem Nossa Senhora do Campo e fazer-lhe uma festa na forma do costume aos anos anteriores. Prometi esta promessa em 15 de Setembro de 1920, tempo em que estava a ares na Senhora da Lagem, Serra da Freita, neste tempo estava muito mal já sem esperanças de melhorar e desenganado pelos médicos que morria.»

Mas esta festa, correntemente dita da Senhora da Lage, cujo dia se fixou a 3 de Maio, que, por curiosidade, já foi feriado nacional (comemorativo da Descoberta do Brasil), de 1912 a 1952, também se viu prejudicada com a alteração do feriado municipal para 2 de Maio, em 1956, e a criação do feriado nacional do 1.º de Maio, no pós 25 de Abril. Só por grande devoção, para fazer ou cumprir promessa, se consegue ir a uma festa após dois feriados. Mesmo depois do grande beneficio, que foi a estrada de Provisende à Senhora da Lage, aberta em 1986. Pelo que, atento também o facto de ser uma festa de devoção popular, fora do calendário da Igreja, nada se perdia em mudar a data para o fim-de-semana do, ou seguinte, ao 3 de Maio.

Em todo o caso, para quem puder, são muitos os motivos de interesse e curiosidade, que justificam a subida à serra da Freita neste dia, logo pela manhã, aí degustar um bom farnel a uma boa sombra, e assistir aos momentos da antiga e tradicional Festa das Cruzes.

Ah! Nada temam os de Rossas, porque só a Cruz é que não pode ir... ;)