25 de abril de 2019

Cores da Defesa de Abril


Embora relativamente surpreendente, não era inédita a falta de papel de jornal. Mas, vista d'hoje, pareceu algo estratégica, tal como o havia parecido também nos conturbados anos da implantação da República. Alguns jornais tiveram de alargar a periodicidade e outros viram-se mesmo obrigados a suspender a sua publicação. O então único semanário de Arouca temeu uma das duas, mas lá se aguentou... Mas, mais do que a aparentemente estratégica falta de papel, salta à vista, como promissora de algo significativo, a cor do papel disponível. A Defesa de Abril de 1974 começou a chegar-nos originalmente colorida, para não dizer mesmo «folclórica».

Encontrar Abril de 74 nos vários volumes da Defesa não é difícil. É o papel mais colorido em que alguma vez se publicou. Na edição de 30 de Março, um jornal em papel branco, como todos os que o antecederam por quase 48 ininterruptos anos. Na edição de 6 de Abril, um jornal num surpreendente papel rosa. Na edição de 13 de Abril, um não menos surpreendente papel amarelo. Na edição de 20 de Abril, um ainda surpreendente papel verde. Na edição de 27 de Abril, um papel azul, ainda sem nada de explicito ou revolucionário.

Não. O azul de 27 de Abril não era já o da censura ou exame prévio... Pois chegou também azul a de 4 de Maio, com um «Viva Portugal!», dando conta de que «Já o trabalho de impressão do último número deste Jornal ia adiantado quando chegou ao nosso conhecimento o eclodir do golpe de Estado que viria a pôr termo ao anterior regime, estabelecendo uma nova ordem política no País.». A edição seguinte, surgiu já no papel de tradição, mas, daí por diante, com nova direcção e artigos mais explícitos, de emergentes e variadas "tonalidades"...