15 de novembro de 2019

Na verdade, as pessoas vivem na Região Norte...

É mesmo de lamentar essa afirmação da ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, porque, para além de não ser verdadeira, faz com se comece a deduzir que esse novo ministério do novo Governo talvez não sirva para nada, a não ser para aumentar os cargos burocráticos parasitários situados em Lisboa e arredores, contribuindo, ainda mais, para o ultra-centralismo dessa cidade sulista que é, como sempre foi, uma péssima capital para o País como um todo, localizada na zona saloia da Estremadura portuguesa, com o seu carácter sub-urbano. E periférica, quer no contexto ibérico, quer no contexto europeu, para não referir no contexto global.
E essa afirmação da ministra e o seu sentido e significado não são verdadeiros, porque, na realidade e na verdade, as pessoas vivem na Região Norte, seguindo o sentido e significado da expressão da ministra. Os números estatísticos não mentem. São claros, factuais e quantitativos. A região NUTS II mais populosa de Portugal é a Região Norte, que tem cerca 3 690 610 habitantes. A Área Metropolitana de Lisboa (NUTS II) tem cerca de 2 812 678 habitantes. Portanto, a Região Norte tem mais cerca de 877 922 habitantes que a Área Metropolitana de Lisboa (NUTS II).
A Região Norte, que tem cerca de 3 690 610 habitantes, é a região (NUTS II) mais populosa do Estado português.
Gravura: ContraMapa 

Assim, seguindo o sentido e o significado dessa asserção da ministra, o correcto seria afirmar-se que as pessoas vivem na Região Norte. E não em Lisboa. Tal como os Arouquenses, que são Nortenhos, vivem na Região Norte e são pessoas autóctones da Região Norte, que é mesmo a região mais populosa do País.
Uma das diferenças estruturais das pessoas que habitam a populosa Região Norte em relação às pessoas que habitam a Área Metropolitana de Lisboa - NUTS II (também populosa, mas menos populosa que a Região Norte - NUTS II) é que, em termos estruturais, as da Região Norte são originárias do próprio território nortenho, enquanto que grande parte das pessoas que habitam a Área Metropolitana de Lisboa não são de lá ou são filhos, netos ou bisnetos de pessoas que não são de lá. Grande parte delas foram forçadas, por razões sócio-económicas, a emigrar para lá. Facto que está na origem da falta de coesão identitária da Área Metropolitana de Lisboa, constituída, em grande parte, por gente desenraízada, proveniente dos mais variados lugares.
A Região Norte de Portugal, para além de ser a região mais populosa do País e com gente enraízada, autóctone, tem (considerada a nível macro, numa abordagem geral, abstraindo algumas nuances identitárias específicas) muita coesão identitária, devido, em termos estruturais, à influência da Bacia e da Região Hidrográfica do rio Douro, que configura, de modo nuclear, a Região Norte (e quase a totalidade do território de Arouca localiza-se na Bacia e na Região Hidrográfica do rio Douro, sendo um concelho endógeno e autóctone da Região Norte, do Entre-Douro-e-Minho, do Douro Litoral e da Área Metropolitana do Porto, mas que, por um grande erro crasso, foi integrado, de modo completamente arbitrário e sem sentido, no distrito de Aveiro, em 1835). Para além dessa influência física e natural, este fenómeno também se pode explicar em termos etnológicos, já que as civilizações milenares que formaram as gentes da Região Norte têm uma idiossincrasia distinta das que formaram as gentes do Sul e do Centro de Portugal, formadas, essencialmente, por civilizações exógenas, invasoras do território português e muito mais recentes. A Região Norte, para me repetir em relação a textos anteriores publicados neste blogue, tem muitíssimo mais que ver com a Galiza do que com o Sul e o Centro de Portugal, em todos os seus elementos identitários: físicos, naturais, humanos e sociais. A Região Norte de Portugal e a Galiza são uma verdadeira nação identitária, com muita coesão identitária, endógena e idiossincrásica. Constituem, por essa razão, uma das euro-regiões melhor definidas e melhor delimitadas.
Mas, retomando o assunto inicial, para ser mais preciso, na realidade, ao contrário do que quer fazer crer a ministra, as pessoas vivem em todas as cinco regiões do Portugal continental e nas duas regiões do Portugal insular. As pessoas não vivem apenas em Lisboa. Se a Área Metropolitana de Lisboa tem cerca de 2 812 678 habitantes, não considerando, agora, as regiões autónomas dos Açores e da Madeira, o restante território de Portugal Continental (Região Norte, Região Centro, Alentejo e Algarve) tem cerca de 7 228 292 habitantes. Tem muitíssimo mais população que a Área Metropolitana de Lisboa. Definitivamente, em Portugal, as pessoas não vivem, mesmo nada, apenas em Lisboa...
Para se resolver esse GRANDE PROBLEMA do ultra-centralismo de Lisboa e arredores (onde muitos e muitos Portugueses, infelizmente, continuam a ser forçados a residir ou a deslocar-se por razões sócio-económicas e que ultra-parasita, sobretudo, a Região Norte, numa atitude autista, auto-referente e, injustificadamente, petulante) é necessário concretizar, portanto, impreterivelmente, uma das reformas mais necessárias e mais urgentes, consagradas pela Constituição da República Portuguesa, que, pelos vistos, este novo Governo, por paradoxo e de modo muito irresponsável, parece estar a esquecer (!!!!), que é o processo de Regionalização do território do Portugal continental nas cinco regiões identitárias e administrativas, para bem de todo o Portugal e de todos os Portugueses. Não apenas o processo de Descentralização... 
E o actual Governo de Portugal, que foi eleito por Portugueses de todas as localidades de Portugal, é um Governo para todo o Portugal e para todos os Portugueses e não apenas para os que vivem em Lisboa e arredores.