Confesso …tenho vivido dias de emoções estranhas, diferentes e mesmo
opostas. O início do ano lectivo está cada vez mais próximo e o conjunto de
actividades que o antecedeu foi mesmo muito interessante. Como sempre, a escola
sabe receber com simpatia e delicadeza os docentes que chegam de longe para
viver uma realidade diferente que os espera para novas e reinventadas estórias
de e para a educação.
Há uns dias que eu sabia! Conheço-te demasiado bem para não ser capaz de
antever que um dia destes, por razões que tu própria conheces e sentes, serias
capaz de dizer:
Basta, vou-me embora!
E tu fizeste-o!
Ao fim de alguns anos de extrema dedicação a uma
escola, a um agrupamento e a um conjunto de seres diversos e diversificados em
formas de pensar e estar na escola e na vida, porque não suportas a ingratidão,
porque não toleras a ausência de reconhecimento de um trabalho e de uma missão
ao qual te entregaste plenamente e que ultrapassou, em muito, os portões da
escola, tiveste a coragem de dizer: NÃO!.
Alguns de nós fomos completamente apanhados de surpresa…muitos serão
aqueles que vão agora ter a noção que não estavas agarrada a um cargo que
ocupavas por eleição e, sobretudo, devido a um currículo invejável que foste
construindo desde que trabalhavas num estabelecimento comercial da vila!
Quase a terminar o último ano lectivo foste, miseravelmente, enxovalhada
como não há memória de o ter sido algum dirigente de uma qualquer instituição
em Arouca. Esquecendo que, por detrás da directora, está a mulher e a mãe,
trataram-te com um desprezo inqualificável que te magoou mas que não te afastou
do caminho. E era, absolutamente, mentira aquilo que se propagava…
Eu que estive, desde o primeiro momento, em todo o processo contigo e com a
direcção, afirmo agora, pela primeira e última vez, porque não posso e não
quero calar mais tempo, esta que é a verdade irrefutável: nunca existiu
assédio, agressão ou violação sexual de qualquer aluno na escola. Há
brincadeiras de miúdos que são penalizadas, sem contudo revestirem esta
gravidade! Mas as mentiras repetiram-se vezes sem conta…para ver se te
destruíam, com propósitos mesquinhos de quem faz da maledicência uma forma de
vida.
Apesar de tudo, resististe estoicamente!
É que tu, Adília Cruz. nunca deixaste
que a escola fosse gerida de fora para dentro, nunca embarcaste em pressões, aberrações, petições de demissões ou mesmo
face-expulsões…
Dirigiste a minha escola como ninguém! Coordenaste uma escola que nos três
domínios contemplados pela avaliação externa tem, em todos eles, a avaliação de
Muito Bom; apoiaste sempre com muito orgulho os prémios nacionais e
internacionais conseguidos pela escola. Uma escola que, sem uma liderança forte
e empenhada como a tua, nunca se poderia afirmar pela “Identidade e Excelência”
como tu sempre preconizavas!
Tens uma capacidade de trabalho que muito admiro, desde passar noites sem
dormir a fazer todos os horários com uma pequena equipa, até à variedade de
formações e de reuniões em que participavas para que a escola estivesse sempre
informada, para que nada nem ninguém nos ultrapassasse do que de mais recente
se pensava em termos de educação.
Apostaste, com uma inegável veemência, nos cursos profissionais e conhecias ao pormenor cada turma procurando
adequar as equipas pedagógicas ao contexto de cada realidade. Exigias critérios
de avaliação rigorosos e monitorizavas, através das várias estruturas
intermédias, o trabalho de cada um de nós. Conheces-nos como ninguém e nunca
abandonaste qualquer aluno ou professor em momentos de dificuldade. Há uns
anos, um dos meus filhos rapazes foi internado no Hospital da Feira e tu não me
deixaste ir sozinha, estando ao meu lado até chegar um dos meus familiares. O
mesmo vi acontecer com outros colegas que viveram momentos muito complicados.
Se estivemos sempre de acordo? Não…nem pensar…
Eu até criticava essa mania de “querer tudo para ontem”, de estar sempre na
primeira linha da implementação das novidades pedagógicas…eu até te disse
algumas vezes que se o ministro, em Lisboa, pensava uma inovação curricular, tu
já a implementavas no mesmo dia.
Eras uma directora por missão…que muito
fizeste (e por certo vais continuar a fazer) por meninos que te abordavam ou
que tu desconfiavas que algo de grave se passava: interrompeste abusos
familiares, acabaste com violências, cuidaste de alunos com ímpetos suicidas,
arrancaste vítimas a predadores…Enfrentaste juízes, magistrados e tribunais em
defesa daqueles miúdos que ainda hoje te enchem o coração. Acolheste os meninos
de S. Tomé e Príncipe e acompanhaste todo o seu percurso pessoal, escolar e profissional
até aos dias de hoje! Mas isto nunca o divulgaste…fui-me apercebendo ao longo
dos 30 anos que sinto a Escola Secundaria de Arouca como minha!
Alguns, lamentavelmente, regozijam-se com a tua atitude e dizem que “Já
vais tarde!”, pois eu acrescento que não vais tarde nem cedo, vais no momento
que voluntária e conscientemente, decidiste que o deverias fazer porque, minha
amiga, tu nem sequer precisas de ser
directora para te afirmares como grande profissional que és e serão, agora, os alunos que terão à sua frente uma
excelente professora de Geografia cujo lema foi, é e será sempre “A ESCOLA NÃO
DESISTE DOS SEUS ALUNOS”!
Em meu nome pessoal e dos meus filhos que ajudaste a formar como cidadãos,
quero agradecer a pessoa que és e que, por certo, vais continuar a ser, em prol de
alunos de excelência e, sobretudo, de alguns meninos, menos favorecidos, que
sempre verão em ti um infinito, sereno e esperançado porto de abrigo…
Por tudo isto…
Muito Obrigada, Adília Cruz!
Rosa Sousa