24 de agosto de 2022

Feiras das colheitas - "pormaior cultural"


A Feira das Colheitas está de volta; após dois anos de interregno as festas de Arouca e principalmente dos Arouquenses estão aí para animar a vila de Arouca.  A feira das colheitas é hoje o principal evento cultural do concelho e a principal montra de tudo o que existe no concelho; da  gastronomia ao folclore, da produção agrícola à produção industrial. E por serem as festas do e para  todo o povo Arouquense existe um pequeno pormenor que me merece uma nota.

O grupo musical Xutos&Pontapés foi o eleito, após uma votação on line promovida pelo município, para animarem a noite de sábado . Não tenho memória d'os Xutos actuarem em Arouca pelo que é uma oportunidade única para muitos arouquenses.

É verdade também que os Xutos serão dos grupos portugueses com um cachet mais elevado no panorama musical português com valores  que oscilarem entre os 30 e os 40 mil euros por concerto (valor facilmente consultável no portal BASE de contratação pública para espetáculos semelhantes). 

Porque as Colheitas são as festas de Arouca, são as festas de TODOS os arouquenses e não um outro qualquer evento cultural estou em desacordo com o facto que se equacione cobrar bilhete

Existem muitos eventos culturais e  musicais ao longo de todo ano que se pautam pela gratuidade; muitos desses eventos poderiam ser facilmente justificáveis como podendo ter bilhete e um custo associado para o espectador mas a autarquia tem optado por o não o fazer. Porque o faz aqui?

O preço de 4 euros por bilhete ( apesar de um valor baixo) poderá  limitar o acesso ao espetáculo por parte de alguns Arouquenses, ou famílias de arouquenses. Certamente o valor que possam realizar em  bilheteira não cobrirá o valor do espetáculo ( 5000 pessoas que já é um número muito ambicioso daria uma receita de 20000 euros)!

Neste particular sou defensor que o espetáculo deveria ser completamente gratuito para todos . 

Certamente conseguirão ao longo do ano ou até mesmo no próprio evento cortando noutras rubricas  "compensar " este custo; 


curiosidade : A musica "a minha casinha", provavelmente a musica mais conhecida dos Xutos, é um original de Milu de 1943 e uma musica que fazia apologia ao estado novo.


A minha casinha  por Milu


13 de abril de 2022

Porque se designa "dos Fogaréus" a nossa procissão da Quarta-Feira Santa?

Foto: Avelino Vieira

Hoje, Quarta-Feira Santa ou Quarta-Feira de Trevas, como se sabe, é o dia que antecede a celebração da morte e ressurreição de Cristo.
Entre nós, já com longa tradição, de mais de quatro séculos, neste dia, realiza-se na vila de Arouca a Procissão do Senhor dos Passos que, há cerca de século e meio, passou a denominar-se Procissão dos Fogaréus. E, apesar da denominação não ser o mais importante, face à dimensão, simbolismo e importância da Procissão em causa, no entanto, o facto de se designar "dos Fogaréus" suscita alguma curiosidade e, não raras as vezes, se diz que esta denominação se ficou a dever às velas e luminárias que se acendem nas casas, nas imediações e no itinerário da Procissão. Ou seja, a razões locais, relacionadas com esta Procissão em concreto. Mas não.
Sem pretender desmerecer o empenho e dedicação de quem a organiza, ou beliscar quem convictamente defende essa tese (tanto mais que à luz d'hoje parece ter plena razão de ser), se essa fosse a justificação, dificilmente se compreenderia (a não ser por mera coincidência) que outras procissões congéneres, que se realizam nestes dias um pouco por todo o país e até pelo mundo cristão, tivessem a mesma designação. No Sardoal, por exemplo, realizam-se também as Procissões dos Fogaréus e do Enterro do Senhor, tal qual as que se realizam em Arouca e com uma história muito semelhante, quanto às suas características e componentes. Em Braga, para referir apenas mais um exemplo bem conhecido, a Procissão do Senhor «Ecce Homo», também é popularmente designada como Procissão dos Fogaréus.
Mas, sem mais delongas, a justificação para a designação "dos Fogaréus", com efeito, não se deve a qualquer particularidade local, muito menos de Arouca, mas ao que, com maior ou menor rigor, se pretende recriar e significar nesta noite das Trevas. Ficou a dever-se, precisamente, aos fogaréus com que, tradicionalmente, se abriam e ainda abrem muitas das procissões e vias-sacras que pretendem recriar os Passos da Paixão, em recriação das tochas empunhadas pelos militares romanos que naquela noite foram prender Jesus Cristo.
Esta justificação, no entanto, não diminui em nada a Procissão dos Fogaréus que nesta noite se realiza em Arouca, cujo interesse, significado e simbolismo radica em factos muito mais relevantes e singulares, que se podem observar e sentir, desde a capela da Misericórdia, que nesta noite se assume como Pretório, ao Calvário, cuja ambiência que ali se cria quase nos transporta, no tempo e espaço, ao Gólgota de Jerusalém, onde se deu o desfecho da tragédia que nos salvou! Uma Santa Páscoa!

16 de janeiro de 2022

100 ANOS DE TEATRO EM ROSSAS

Casa da Barroca

Há precisamente 100 Anos, no dia d’ontem, mas na tarde d’hoje, porque o dia 15 de Janeiro de 1922 foi a um domingo, deu-se a estreia do Teatro na freguesia de Rossas. É uma data importante e digna de ser assinalada, pois enraizou uma tradição que ainda hoje se mantém muito viva e fulgurante.

Os primeiros atores organizaram-se sob o nome “Grupo Dramático de Rossas” e a estreia deu-se numa simples loja, no lugar da Barroca (na imagem), onde se improvisou um palco para o efeito. Foi então que pisaram o palco pela primeira vez, sob orientação e apresentação de António de Almeida Brandão, de Telarda, Joaquim de Pinho Brandão, do Paço, António Vicente da Silva, da Póvoa, Manuel Vicente da Silva, dos Carreiros, Manuel de Pinho Brandão, da Portela, Joaquim Brandão, do Matinho, e Maria Rocha, da Portela, estes dois últimos a interpretar duas cançonetas.

O grupo, no entanto, era ainda integrado por Celeste Garrido Brandão, da Portela, António de Pinho Santos, do Boucinho, Manuel da Costa Pinho, do Vale, e Maria de Pinho Magalhães, do Paço.

Nas palavras de António de Almeida Brandão, «eram todos dotados de muito mérito na arte de representar, como já se disse; mas Joaquim de Pinho Brandão distinguia-se dos demais, pelo facto de saber música, estando apto a ensaiar os números musicados, que sempre era costume meter em todas as récitas, tanto mais que as senhoras eram excelentes cantoras».

A estreia foi abrilhantada pela também novel “Tuna de Rossas”, integrada por Manuel de Almeida Aguiar, da Costa, António da Costa Brandão, da Cavada, António Francisco Martins, da Barroca, Joaquim Ferreira de Vasconcelos, da Vinha, Joaquim de Pinho Brandão, do Souto, e José de Pinho, da Comenda, sob regência de Manuel Brandão Martins, da Barroca.

Foi tal o sucesso que, pouco depois, pelo Domingo Gordo de Entrudo, seguiram para Castelo de Paiva, em carro de cavalos e a patrocínio do senhor Dr. Adelino Gomes Moreira, da Casa da Póvoa, freguesia de Tropeço, que, entretanto, se encontrava a residir naquele concelho. No dia 4 de Março de 1922, foi o grupo convidado a tomar parte no espetáculo que se realizou na vila de Arouca, no qual participou já quase todo o elenco.

Parabéns a todos quantos mantêm viva essa bela e centenária tradição!

11 de dezembro de 2021

Arouca tem de estar, para sempre, na Área Metropolitana do Porto

A imprensa arouquense informa que a actual presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém, depois de um mandato como vice-presidente do Conselho Metropolitano do Porto (o órgão deliberativo da Área Metropolitana do Porto (AMP), que é, simultâneamente, área metropolitana e NUTS III), deixa de figurar na direcção, na sequência das eleições realizadas em Novembro, referindo que a autarca de Arouca não participou no momento da votação, «devido a um incidente na viatura que originou o atraso na chegada à reunião», conforme justificou em sessão de Câmara.
Esperemos, como é óbvio, que seja apenas um mero impasse institucional muito esporádico e que não se repita, porque, em termos estratégicos e de modo responsável, e já a pensar no muito longo prazo e nas futuras gerações sucessivas, para bem de todos os Arouquenses e para bem do território endógeno e sócio-económico de Arouca, as instituições de Arouca e os Arouquenses têm que, responsavelmente, se ligar, cada vez mais e de modo cada vez mais funcional, ao Porto e à Área Metropolitana do Porto e "esquecer", de vez, o distrito de Aveiro.
Visto que o município de Arouca, em todas as suas características e em quase todas as suas divisões administrativas, territoriais e identitárias, muito pouco ou quase nada tem que ver com Aveiro. Quase todas as divisões administrativas, territoriais e identitárias de Arouca emanaram e emanam do Porto e da Região Norte.
O município de Arouca, as instituições de Arouca e os Arouquenses devem sempre, como é óbvio, em termos muitíssimo prioritários, ligar-se às instituições do território da AMP e às instituições que emanam do Porto e do Norte.
Facto que a conclusão da segunda fase da variante, prevista para Novembro de 2022, vai mesmo tornar muito mais funcional.
A presença da autarca de Arouca como vice-presidente do Conselho Metropolitano do Porto, durante os últimos quatro anos, foi relevante e simbólica, até para as pessoas exógenas saberem mesmo bem onde Arouca pertence em termos endógenos, autóctones, identitários e sócio-económicos... 
Mas os mandatos têm um prazo e o outro vice-presidente do Conselho Metropolitano, que era o autarca de Santa Maria da Feira, também não está neste novo mandato. Manteve-se apenas o presidente: Eduardo Vítor Rodrigues, autarca de Vila Nova de Gaia, tendo, agora, como 'vices’, os autarcas de São João da Madeira e da Trofa.
A presidente da câmara de Arouca foi vice-presidente do Conselho Metropolitano da AMP, nos últimos quatro anos
foto: jornal Roda-Viva

Como já foi referido neste blogue: "O concelho de Arouca está muito bem enquadrado e inserido na nova NUTS III da Área Metropolitana do Porto (AMPorto). Muito bem mesmo. A cidade do Porto e espaço circundante (capital da Área Metropolitana do Porto (NUTS III) e da Região Norte de Portugal (NUTS II) ) sempre foram o espaço urbano principal de referência de Arouca e dos Arouquenses. É um facto óbvio, real e concreto, com validade ontológica. É um território onde moram milhares de Arouquenses e seus descendentes e sempre foi o local da sua «mobilidade espontânea e natural». Na parte noroeste, o concelho de Arouca dista, em linha recta, apenas cerca de 22Km da cidade do Porto. Com a conclusão da segunda fase da variante à EN326, a deslocação, da vila de Arouca ao centro da cidade do Porto, demorará cerca de 35 a 40 minutos, por essa nova estrada."
"Não se podem cometer mais erros históricos, irracionais e irresponsáveis, a partir das instituições, que podem ser irreversíveis e muitíssimo perniciosos, em relação ao presente e futuro rumo histórico de Arouca e dos Arouquenses. O "caminho" de Arouca e dos Arouquenses, em termos de enquadramento e de pertença territorial e institucional, é só um, à escala nacional: Porto, Área Metropolitana do Porto e Região Norte. E à escala europeia: Euro-região 'Galiza-Norte de Portugal'.
 Para bem de Arouca e dos Arouquenses. Para bem do seu enquadramento territorial, institucional e identitário."

Ler, por favor, esse texto, integralmente, onde o assunto é bem esclarecido, de modo responsável, aqui: 

11 de novembro de 2021

Prevê-se que a 2ª fase da variante à EN326 esteja concluída em Novembro de 2022

As 'Infraestruturas de Portugal' informam que " Está em curso a empreitada na EN326 – Santa Maria da Feira (A32/IC2)/Escariz, levada a cabo pelo consórcio Ferrovial/ACA Grupo, que estabelecerá a ligação entre a A32/IC2, inserida na Concessão Douro Litoral, no atual Nó de Pigeiros, e o troço já construído da EN326 entre Mansores e Arouca. Esta obra, com uma extensão aproximada de 7 km, permitirá uma ligação mais direta, rápida e segura de Arouca à A32, melhorando a mobilidade das populações residentes naquela região. Em termos de interligação com a rede rodoviária existente, foram previstas duas importantes ligações: - Ligação à rotunda do Nó com a A32 (Nó de Pigeiros), no início do traçado; - Rotunda de Escariz, que permite o acesso à Zona Empresarial de Escariz. A empreitada engloba a construção de cinco obras de arte especiais – quatro Viadutos e uma Ponte. O investimento é de 31,5 milhões de euros. Prevê-se que os trabalhos estejam finalizados em Novembro de 2022. "

Fotos: Infraestruturas de Portugal

10 de novembro de 2021

Manuel Valério Soares Figueiredo (1962-2021)

Foi com enorme surpresa e pesar que recebemos a notícia do falecimento de Manuel Valério. Natural da freguesia de Canelas, onde nasceu, viveu e desenvolveu a sua paixão pelo património natural e cultural local do seu torrão natal, em particular, mas também de todo o concelho de Arouca, em geral, onde integrou diversas associações e entidades, nomeadamente, ligadas ao património e cultura.

Colecionador e apaixonado pelos fósseis (trilobites) achados na Louseira de Canelas - indústria de que era proprietário - e que o levaram a empreender, a título particular, o Museu das Trilobites - Centro de Interpretação Geológica de Canelas, que consciencializou e incitou o Município à ambição maior de criar o Geoparque Arouca, Manuel Valério era também um apaixonado por fotografia, tendo empreendido uma recolha inestimável de fotografia antigas na sua freguesia e depois também em todo o concelho, com o propósito de contribuir para um futuro arquivo fotográfico de Arouca. Foi também colaborador da imprensa local, nomeadamente da Defesa de Arouca.

Entre outras distinções e reconhecimentos, pessoais e profissionais, em 2008 foi homenageado pelo Rotary Clube de Arouca, «pelo contributo significativo para a preservação dos fósseis trilobíticos na sua Louseira de Canelas». Em 2010 foi distinguido com a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro, «pelos esforços intensos e profícuos no estudo, preservação e divulgação dos achados fósseis (trilobites) da Louseira de Canelas».

É uma enorme perda para Arouca, pelo que fez e pelo que deixou por fazer.

Curvamo-nos perante a sua memória e endereçamos as mais sentidas condolências à família.

23 de outubro de 2021

As estórias da história do Festival da Castanha

O festival da castanha está de volta agora que a pandemia parece querer dar tréguas. A autarquia já anunciou que, ainda que não nos moldes habituais, irá realizar um conjunto de actividades para marcar o regresso deste evento âncora  cada vez com mais protagonismo na agenda cultural do concelho. Sendo esta a sua 10ª Edição ( ou a 9ª caso saltemos o ano de 2020 onde não decorreu) seria interessante recordar como tudo começou. 

Antes de 2011 ( sua primeira edição) já por várias vezes tinha pensado que existia um evento que marcava a transição de uma Arouca culturalmente rica e cheia de actividade  para uma espécie de hibernação cultural que durava até épocas do Natal. A feira das Colheitas o maior evento do concelho marcava esta transição. Frequentava à data alguns festivais de músicas do mundo e ligados às raízes tradicionais e culturais das  gentes ( Andanças, Byonrtimos, Trebilhadouro, etc....) que decorriam também invariavelmente no Verão. Posto isto e no rescaldo de umas colheitas falei com dois amigos, Joaquim Alves ( Quim Albano) músico bastante ligado a este tipo de eventos e o Nuno Costa ( Picasso) empresário do sector da restauração para nos juntarmos e organizarmos algo semelhante neste hiato temporal e cultural em Arouca, fora da agenda da maioria dos eventos nacionais e tendo como tema a castanha. Arouca era e é reconhecida pela terra da castanha e não tínha um único evento cultural/gastronómico que o assinalasse. E assim começou. Reunimos com a autarquia e apresentamos o nosso projecto. Desde de uma primeira reunião verificamos que seria necessário uma pareceria associativa para obtermos o apoio do município. Convidamos então umas das mais antigas associações do concelho e também ligada à música folclore: a Casa do Povo de Arouca. Convidamos alguns grupos musicais que por ligações de amizade "facilitaram" e aceitaram o nosso convite.  Os dois primeiros grupos actuarem no festival da Castanha foram: o grupo de musica popular da região de Coimbra Fonte na Pipa e o grupo de músicas do mundo da região do Douro Andarilhos. Da parte da autarquia conseguimos que autorizassem o uso do pátio interior do convento e montassem uma tenda, que na altura pedimos que fosse transparente, onde decorreria o festival. Com a casa do Povo organizamos alguns workshops de danças tradicionais e montamos um restaurante dentro da sala dos arcos que serviria de apoio ao mesmo e onde a castanha seria rainha. Arriscamos e decidimos que a entrada seria paga, ainda que de valor simbólico, algo que não era comum em Arouca. O objectivo era que o festival fosse sustentável por si e que as entradas suportassem o custo do mesmo. O festival foi um sucesso e exatamente aquilo que idealizamos. O segundo ano, 2012, repetimos a receita mas desta vez já com uma maior participação/suporte económico por parte da autarquia. O festival passou a ser de entrada de gratuita. 


I Festival da castanha

Em 2013 e na sua terceira edição os três ideólogos do festival "saem de cena" e deixam a Casa  Povo de Arouca e município de Arouca como organizadores do evento. O resto é história conhecida. 

Este ano está aí mais uma vez o festival da castanha um evento que partiu da sociedade e que o município aproveitou e transformou num dos marcos culturais anuais do concelho.

17 de outubro de 2021

Prof. Fernando Miranda (1936-2021)

Faleceu, na passada quinta-feira, 14 de Outubro de 2021 (da era comum), na sua residência de São Mamede de Infesta (Matosinhos), aos 85 anos de idade, o prof. Fernando Miranda. Um arouquense ilustre que muito diz a Arouca e aos Arouquenses, visto que, para além de outras inúmeras boas razões, é a personalidade estrutural que configurou o Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, que é o grupo de música tradicional de Arouca com maior relevância e uma das associações mais representativas do município. 
Fernando Alves de Almeida Miranda nasceu a 29 de Junho de 1936, no lugar do Bairro, freguesia de Moldes, concelho de Arouca. Era filho do Dr. Ângelo Pereira de Miranda (insigne médico transmontano radicado em Arouca) e de Aurora Alves de Almeida (do lugar do Bairro).
Depois dos estudos iniciais em Arouca, frequentou a Escola do Magistério Primário do Porto, onde se formou em professor primário, tendo, depois, leccionado na Escola Primária de Tropêço (Arouca) e na Escola Primária do Seixo (São Mamede de Infesta).
Casou-se com a colega de profissão, natural do município de Matosinhos, prof.ª Maria do Carmo da Silva de Almeida Miranda, com quem teve duas filhas (Maria do Carmo e Ângela Maria) e um filho (Ângelo Fernando), dos quais deixa ainda dois netos e duas netas. 
Viveu, de modo permanente, com a sua família próxima, entre a sua residência de São Mamede de Infesta (Matosinhos) e a sua casa natal e familiar do lugar do Bairro, na freguesia de Moldes (Arouca), que eram o seu território endógeno de afecto e de enraízamento.
Muito ligado à área da Música, tendo feito parte da Banda Musical de Arouca, contudo, o seu maior e mais notável contributo, em Arouca, relaciona-se com as danças e os corais tradicionais de Arouca: com apenas 18 anos, o prof. Miranda assumiu a direcção do então Rancho de Moldes em 1954, cerca de uma década após a sua fundação ocorrida na Feira das Colheitas, tendo exercido, até 1977, as funções de director artístico e de presidente da direcção do grupo. Ele está na origem, com o etnógrafo Albano Ferreira e com o maestro Vergílio Pereira, da estruturação etnomusicológica de qualidade do actual Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, que teve «os seus anos de ouro», precisamente, nas décadas de cinquenta e sessenta do século XX. Mesmo depois de ter saído da direcção do grupo em 1978, sempre esteve muito ligado, com a sua família próxima, às actividades do grupo, tendo sido, ao longo dos anos, presidente da Assembleia Geral, até à altura em que foi substituído, nessa tarefa, pela sua filha mais velha Maria do Carmo.
A sua ligação às instituições de Arouca não se limitou à 'Banda de Arouca' ou ao 'Rancho de Moldes', uma vez que também foi um dos fundadores e dinamizadores do Centro Cultural e Recreativo de Moldes, nas suas décadas iniciais.
O prof. Miranda também era poeta, escrevia poesia, que é uma faceta que lhe era menos conhecida.
Verdadeiro democrata e com forte sentido cívico, de justiça social e de liberdade, tendo herdado os valores políticos republicanos e democratas de seu pai, o prof. Miranda era militante do Partido Socialista desde o ano de 1974, tendo desempenhado diversos cargos políticos e partidários, com funções de dirigente local, distrital e nacional do PS: foi deputado, pelo Círculo Eleitoral do Porto, à Assembleia da República, na I Legislatura, resultante das eleições legislativas de 25 de abril de 1976. Em Matosinhos, desempenhou, pelo PS, durante dois mandatos, as funções de vice-presidente e de vereador do executivo municipal, entre 1982 e 1989, então presidido por Narciso Miranda. Também foi membro da Assembleia Municipal de Matosinhos e membro dos vários órgãos da Secção do PS de São Mamede de Infesta. Ocupou também um cargo de direcção do F.A.O.J. .

Pessoa de muito prestígio e muito respeitada, sobretudo em Arouca e em Matosinhos, bastante conhecido na área do Grande Porto, foi, nos últimos anos, homenageado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes e pelas estruturas locais do Partido Socialista de Matosinhos. 
Apesar da sua ligação e do seu reconhecimento em Matosinhos, o seu maior afecto prendia-se com a sua Arouca natal, em particular com o seu espaço natal e familiar do lugar do Bairro, em Moldes. Como seu verdadeiro amigo e vizinho em Moldes (eu convivi, durante anos, com o prof. Miranda e com a sua família próxima...), posso relatar que não havia, praticamente, nenhum fim-de-semana que o meu estimado amigo prof. Miranda não passasse, em Arouca, na sua casa do lugar do Bairro, com a família próxima. Era tal o afecto que ele tinha por Arouca e o interesse por tudo o que dizia respeito a Arouca e aos Arouquenses, com o anseio de que Arouca evoluísse sempre bem.
Este resumo, como é óbvio, não dá conta, totalmente, da excelência singular de um ser humano e de um arouquense a quem Arouca e os Arouquenses muito reconhecem, pelo que, entre outras inúmeras boas razões, mas sobretudo devido à acção que o prof. Miranda teve na estruturação e na dinamização do Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, transformando-o num grupo de prestígio nacional, faria todo o sentido que a Câmara Municipal de Arouca atribuísse, no futuro próximo, como homenagem mais que merecida, o nome do prof. Fernando Miranda (1936-2021) a uma rua da Vila de Arouca.

Em nome deste blogue «Defesa de Arouca» (e o prof. Miranda também chegou a escrever na «Defesa»), endereço, à família do prof. Fernando Miranda, as mais sentidas condolências.

Em termos pessoais, para mim, faleceu (apenas fisicamente) um verdadeiro amigo, um amigo de família e «um pai». Um ser humano e um arouquense de excelência ética e cívica que eu muito admirava e admiro, com quem muito convivi e de quem era muito amigo...Não tenho mais palavras para esta altura de consternação...

10 de outubro de 2021

Querido, Padre Vilar!


Todos nós que tivemos o privilégio de partilhar a nossa existência com ele, nos sentimos hoje empobrecidos pela sua partida. Todos nós que vivenciamos a sua alegria transbordante, abafamos, hoje, a nossa lágrima de tristeza pela notícia que chegou de modo inesperado… exactamente, porque há pessoas que sempre serão eternas, no nosso coração finitamente humano.

Todos nós que nos sentimos afortunados pela sua presença, num ou noutro momento da nossa vida, temos estórias deliciosas que hoje, mais do que nunca, nos envolvem a memória e nos toldam a emoção.

São precisamente duas dessas estórias que hoje venho partilhar convosco!

Se a vida é o tempo que medeia entre o nascimento e a morte, foi precisamente num momento de nascimento e de outro… de morte que o padre Vilar esteve mais ao meu lado... de forma generosa e comprometida com a excelência do humano.

1995 – Eu tinha (quase) 37 anos e estava grávida do terceiro filho. Na época, reinava um pouco a ideia de que, a partir dos trinta e cinco anos, as mulheres tinham grande possibilidade de ter um filho com problemas de mongolismo que poderia ser detectado com um exame - a amniocentese - que requeria, da minha parte, uma decisão nada fácil.
Um dia, na sala de professores, chamei-o a um canto e disse-lhe que tinha ali “um papel” para fazer o referido exame e o que é que ele achava. Ele, sem hesitar, olhou-me e disse:
- “Rosa a decisão é tua… mas tu tens naquela escola (referia-se ao ciclo preparatório) a tua filha Diana (então com 11 anos) e se ela tiver um acidente ao atravessar a estrada e ficar “deficiente”… tu não vais continuar com ela? Os filhos não se devolvem… Acrescentou que conhecera um casal jovem com um miúdo com essa “diferença” e que continuavam os três a ser muito felizes…
Olhei-o e compreendemo-nos num apertar de mãos que, sem lhe dizer, muito serenou a minha preocupação de mãe…
Chegada a casa, partilhei a conversa tida com o Padre Vilar com a minha filha Diana, que sabia há alguns dias, da minha preocupação e do desafio que seria para nós ter um menino “assim”. Ali, mesmo, na sua presença, sem destruir a preocupação, rasguei, definitivamente, o papel…
No dia do nascimento, e quando a minha filha viu o menino, virou-se para mim e disse:
- Oh, mãe, mais perfeitinho não podia ser…

*  *  *

2007 – São cerca de cinco horas de uma tarde soalheira, mas demasiadamente cinzenta. A minha filha Diana (com 22 anos) acabara de falecer… e o Padre Vilar entrava no quarto dela acompanhado de alguém da família que já não lembro o nome.
Atónito, olhou-me e disse:
- Porque é que não me disseste, eu não sabia de nada…
Alguém presente lhe explicou que tudo se passara num mês… que foi tudo demasiado rápido…
Olhei-o, de novo e pedi-lhe:
-Por favor, quero-o a rezar-lhe a missa do funeral… ela sempre gostou muito de si, desde que o conhecera como aluna!
A seguir, eu que num esforço pedagógico de muitos anos, sistematicamente, lanço questões desafiantes aos meus alunos - e, como que estivéssemos ali os três sozinhos - pedi-lhe um bocadinho de conforto numa das questões mais profunda e dolorosamente sentidas que alguma vez pensara colocar ao longo da minha vida:
- PORQUÊ, Padre Vilar?
- Olha, Rosa, Deus precisa lá dos bons…
Eu, que sempre, oscilei entre os domínios (segundo alguns, incompatíveis) da razão e da fé, senti naquelas palavras uma tamanha serenidade que ainda hoje estas me envolvem e continuam a contribuir para que seja uma mulher feliz.
Sim, porque só poderia ser essa a razão e mais nenhuma…

Por tudo isto, e pelos bons momentos que passamos juntos na escola onde recordo uma pessoa alegremente desconcertante e com um sentido de justiça muito apurado, o Padre Vilar, também em mim, deixou uma saudade estranhamente abraçada a uma quietude que permanece desde os muitos momentos de excelência que tão bem soube partilhar com todos nós.

Outono de sol!
Um dia cinzento de dor…O Padre Vilar, partiu para o céu…
PORQUÊ?
-“Porque Deus precisa lá dos bons…”

Até um dia, querido Padre Vilar!

Rosa Sousa

8 de outubro de 2021

Padre Américo Brandão Pereira Vilar (1938-2021)

Foi com pesada consternação que recebemos hoje a notícia de falecimento do Padre Américo Vilar (foto: André Teixeira). Natural da freguesia de Santa Eulália, onde nasceu em 04 de Junho de 1938, tendo sido ordenado sacerdote em 04 de Agosto de 1963, o Padre Américo Vilar, há algum tempo aos cuidados da Santa Casa da Misericórdia de Arouca, foi uma personalidade relevante e incontornável da sociedade Arouquense nos últimos largos anos.

Para além do múnus sacerdotal, a que se dedicou sempre com empenho, e também das funções de professor, que desempenhou sempre com dedicação, o Padre Américo Vilar, fazendo uso do lema "ninguém é Padre para si mesmo, mas para os outros", para além de um cidadão disponível e afetuoso, foi um empreendedor e interveniente ativo na vida social, associativa e institucional do concelho, tendo estado associado à fundação de várias associações e entidades relevantes, nas quais desempenhou diversos cargos e funções, bem como ao lançamento e edificação de várias e importantes obras, nomeadamente, de cariz religioso, humanitário e social.

Endereçamos as nossas condolências à família e curvamo-nos saudosa e respeitosamente perante a sua memória.

Paulo Teixeira

António Brandão de Pinho

2 de outubro de 2021

A vingança e defesa das gentes de Arouca

Na introdução ao meu trabalho "O Último Capitão de Ordenanças e Milícias de Arouca", refiro que: «a história das Invasões Napoleónicas e/ou das Lutas Liberais está mais do que estudada e sistematizada. E a transição do Antigo Regime para o Liberalismo também. No entanto, como se verificará, não estão estudados muitos dos factos e acontecimentos locais de Arouca nem evidenciados alguns dos seus protagonistas, que se relacionam com essa história. É verdade que sem relevância para a história nacional, mas com muita importância para a nossa história local.»

Um desses factos e acontecimentos, que não abordo na versão preliminar daquele estudo, mas que aqui conto por aditamento, é o que se retira de um assento de óbito lavrado nos livros da paróquia de São Bartolomeu de Arouca, que transcrevo integralmente: «Aos trinta do mês de Março do anno de mil oito centos e nove, prezo pelo povo, e depois confefsado e excommungado hum homem que unanimemente se dizia ser o Capitão mor José d'Oliveira Camossa da Terra da Feira, foi pelo mesmo povo afsafsinado por dizerem que era traidor à Pátria, e para que a todo o tempo constafse fiz este afsento. Foi enterrado no adro desta Igreja aos trinta e hum do mesmo. Era ut supra. O Pároco José Vicente Carneiro de Vasconcelos Nobre.»

Este inusitado e surpreendente acontecimento assume ainda maior relevo se o contextualizarmos e percebermos o que levou a população de Arouca a fazer justiça pelas próprias mãos, sob a grave acusação de traição à Pátria. O contexto é o das Invasões Napoleónicas, mais especificamente o da Segunda Invasão, liderada pelo marechal Soult, que virá a ocasionar o célebre desastre da Ponte das Barcas, que unia as margens do Porto e Vila Nova de Gaia, ocorrido em 29 de Março de 1809, levando à morte por cruel afogamento de mais de quatro mil pessoas, militares e civis. 

Nesse dia, para sempre recordado como de perpetuo luto e horror, encontrava-se na cidade do Porto, entre muitos outros militares e civis, inclusive de Arouca, José de Oliveira Camossa, comandando as milícias e ordenanças de Oliveira de Azeméis, quando, inesperadamente, ali entraram as forças comandadas pelo marechal Soult, desencadeando o alvoroço que, para além doutras atrocidades, viria a provocar aquela tragédia. Facto a que não foi alheia a retirada atabalhoada e cobarde de muitas milícias e ordenanças, entre as quais as comandadas por Camossa, que se retirou pela margem esquerda do rio, deixando que os seus homens fugissem em debandada para suas casas.

Camossa só terá olhado para trás já na descida da Farrapa para o vale de Arouca, para onde fugiu e chegou no dia seguinte, com o fito de se alojar em casa de um individuo que reputava seu amigo, mas que, percebendo o sucedido, logo o denunciou como traidor ao povo revoltado e solidário com os seus filhos e conterrâneos ainda por parte incerta, quem sabe a sucumbir nas águas do Douro, pelo que foi imediata e impiedosamente assassinado.

João de Oliveira Camossa, para além de capitão-mor de Oliveira de Azeméis, que em seu favor se separou da capitania-mor da Feira, era Fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo, e avô materno de Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha, natural da Casa da Terça, de Mansores, que veio a ser, entre outros cargos, presidente da Câmara e Administrador do Concelho de Arouca durante vários anos, agraciado com título de Visconde de Albergaria de Souto Redondo pelo rei D. Carlos I.

*  *  *

As milícias e ordenanças de Arouca ter-se-ão esforçado e demorado um pouco mais, mas não sem sofrer as consequências desse esforço. Com efeito, ficaram acometidos de consideráveis incapacidades os próprios capitão-mor Manuel José de Almeida Ferraz Bravo e sargento-mor José de Bessa Brandão, a tal ponto de, para se estabelecer a rápida defesa de Arouca, sempre cobiçada pelas riquezas do seu Mosteiro, mas agora também exposta a represálias, logo a 5 de Abril se tivesse ordenado a António Gomes do Vale Quaresma, capitão de uma das companhias locais, que daí em diante lhe fosse tudo responsável, visto que os lideres atuais, pelas suas moléstias, não se encontravam mais em estado de bem servir.

Poucos dias depois, ordena-se também ao capitão da companhia de Malta, Manuel Joaquim de Sousa Brandão, que, com oito homens de espingardas ou dez com um cabo, sigam para a ponte de Telhe e aí coloquem uma barreira que possa abrir e fechar sempre que necessário, com a promessa de serem rendidos de vinte e quatro em vinte quatro horas.

A 19 de Abril, o brigadeiro inglês Robert Wilson é encarregado de comandar a vanguarda do exército português e, nomeadamente, vigiar os caminhos que passam por Arouca em direção ao Porto e Entre-os-Rios, dispondo de três batalhões de caçadores, com duas companhias do regimento britânico, formando tudo uma brigada ligeira. As suas avançadas colocaram-se na Farrapa, ponto vantajosamente situado na cumeada divisória entre as águas do Douro e do Vouga, a meia distância entre Arouca e Oliveira de Azeméis, e donde era fácil comunicar pela sua esquerda com as tropas do coronel Trant, que vigiava a linha do Vouga.

No dia 28 de Abril, Wilson encarrega o major Luís Paulino Pinto da França «...da defesa da vila de Arouca e sua linha, de reconhecer e proteger todos os caminhos e avenidas para a dita vila e desta e das estradas de Lamego para o Porto, e pela vizinhança da margem do Douro e, finalmente, de fazer o que for conveniente para o bem do serviço e operações militares deste exército, para o que as ordenanças, autoridades militares e civis lhe prestarão os devidos e requeridos serviços. De todas as suas operações deve a dita vila esperar a sua segurança, que eu apoiarei e socorrerei com a competente tropa quando seja necessário e recomendo àqueles povos que, com fidelidade ao seu Soberano e amor à sua independência resistam, como honrados portugueses ao jugo de um tirano e ao ultraje da sua religião.»

Por sua vez, estando já as forças inimigas muito próximas dos limites do concelho e devidamente posicionadas, a certa altura Soult manda avançar um contingente sobre Arouca, quiçá para vingar alguma morte de que lhes chegara notícia ou para, muito simplesmente, saquear o Mosteiro e obter não só objetos de valor mas também víveres para os seus homens e animais. Porém, o major Pinto da França aguardava-os já nas gargantas e trincheiras da Farrapa, onde os enfrentou com grande coragem, obrigando-os a retroceder para trás da defesa organizada desde os pendores de Rossas até à ponte do Carvalhal, onde as tropas francesas, durante nove dias, tentaram a incursão em Arouca, mas sem nunca conseguirem avançar, até que, por fim, desmoralizadas, acabaram por desistir.

A Segunda Invasão Napoleónica teve o seu fim após a Segunda Batalha do Porto, travada a 12 de Maio de 1809, que ditou a retirada das tropas francesas do Norte de Portugal.

22 de agosto de 2021

Casa Grande dos Brandão-Malafaia

Embora pareça provocador, o título, como se saberá, é fiel à génese da Casa. No entanto, trata-se, como é evidente, para quem conhece, da hoje simplesmente denominada Casa Grande ou Casa dos Malafaias, sita na antiga Rua d'Arca, atual Rua Dr. Figueiredo Sobrinho, no centro histórico da vila de Arouca.

Porém, sendo possível balizar, com precisão, a curta presença desta linhagem de Malafaias em Arouca e, especificamente, nesta Casa, o mesmo já não acontece com a presença dos nossos Brandões na rua d'Arca e, particularmente, na parte mais antiga daquela; a qual, antes de ter passado aos Malafaias - que depois a ampliaram para Sul e lhe adossaram a capela a Norte -, lhes pertenceu.

Com efeito, é com o casamento de Diogo Malafaia Mascarenhas (avô do erroneamente referido "Alferes Diogo Malafaia"), da freguesia de Várzea, com Antónia de Pinho Brandão, filha de Marquesa de Pinho e Roque Brandão, da freguesia de Rossas, moradores na rua d'Arca, que aqueles "estabelecem" o hífen entre Brandão e Malafaia (simbolizado no passadiço alpendrado entre as duas partes desse singular edifício), que aqueles passam a titular o imóvel entre os seus bens.

Podia ter sido efetivamente assim e a casa ter andado por algumas gerações em apelidos mais consentâneos com aquele matrimónio, o qual, de resto, como se vê, trouxe avultado e estratégico dote aos Malafaias. Mas, o falecimento da mãe à nascença do primeiro e único filho, não tendo feito com que se revertesse o dote, fez com que se perdesse o apelido, tanto mais quando este veio a ser criado pela madrasta.

A verdade é que: se por um lado, não fazia muito tempo que os Malafaia Mascarenhas haviam chegado a Arouca (não à vila, onde entram mais tarde, mas a Várzea, onde começaram por estanciar); por outro, os nossos Brandões já há muito ali tinham domicilio, nas artérias ao coração da vila, onde receberam e acomodaram aqueles nobres conimbricenses.

Entraram esses pela comenda da Ordem de Cristo de São Salvador de Várzea (quiçá por angariação dos parentes abades que cá haviam chegado primeiro) no começo da centúria de seiscentos, para em breve capitanearem o concelho a beneplácito da Abadessa do Mosteiro. Consentimento que, contudo, depressa evidenciaria os antagonismos que o muro da Cerca visava conter, mas que as ingerências mútuas, comprometendo a autoridade de uns e outros, insistiam em fender.

Domingos, o filho de Diogo e Antónia, foi também casar a Rossas, com a prima materna da Quinta de Terçoso, onde para o efeito se terá erigido a capela, contemporânea do púlpito do Calvário, e não tardou, também o governo do concelho entrou na linhagem destes, pelos cunhados Tavares Teixeira e pelos sobrinhos Vasconcelos e Cirne. Entre uns e outros governou o delfim "Alferes" Diogo Malafaia, cujo falecimento e inumação na Misericórdia, encerrou cerca de um século de protagonismo Malafaia por estas terras, que deixaram para se estabelecerem em São Pedro do Sul.

Porém, tendo-se revertido o hífen dos apelidos, a que sucumbiu o nosso, por força do efémero matrimónio, não se desfez o passadiço entre as duas partes da Casa, patrocinado pelo dote matrimonial. E ali permanece ainda hoje para, mais do que ser visto, ser lido. Com muito mais significado histórico até (para nós) que o próprio brasão, que é ali meramente circunstancial e daquele desvia a atenção.

21 de agosto de 2021

A mancha florestal de Arouca - 72% Eucalipto

Arouca é, ainda hoje, um território maioritariamente agrícola e florestal. A enorme mancha verde que se espalha por todo o concelho pode ser vista e verificada subindo a qualquer um dos montes e serras do concelho ou percorrendo as estradas e caminhos rurais que serpenteiam todas as encostas e vales. 

O último grande incêndio de Arouca ocorreu nos anos de 2016 e 2017, em que no somatório dos dois anos cerca de 70 % da área de floresta e mato do concelho se perdeu. De lá para cá o que de diferente se fez? Que politicas florestais se implementaram? Que espécies autóctones se promoveram e plantaram? Que controlo se fez da monocultura desenfreada do eucalipto? 

O parque florestal municipal, já por mim apresentado, aqui e noutros locais, quando sairá do papel? Passaram 5 anos desde 2016. Temos uma mancha florestal com uma idade de corte das árvores e matos muito semelhante pois todos arderam faz 5 anos. De que estamos à espera? De mais 5 anos para voltarmos a zero? 


Deixo um número em forma de questão para possamos refletir: num concelho que se pretende exemplar num turismo de natureza e práticas ambientais de vanguarda termos cerca de 72% da mancha florestal coberta por eucalipto. Será um bom exemplo e o caminho a seguir?

15 de agosto de 2021

O Chafariz da Praça, nos encontros e desencontros da sua própria história

Por esta altura, há precisamente 120 anos, estava concluído e a brotar linfa cristalina o Chafariz da Praça. As obras de estabelecimento haviam arrancado em janeiro desse ano, de 1901, e, com este, ficava também concluído o arranjo da praça central da vila, que não havia muito tempo servia de adro e cemitério da antiquíssima matriz de São Bartolomeu e da seiscentista capela da Misericórdia, mas que d'agora em diante constituiria o mais pitoresco postal de Arouca.


Por essa altura, a vila estendia-se por pouco mais do que o casario em redor das praças de baixo e de cima e duas ou três ruas apertadas e de curta extensão. Os poderes, religioso, administrativo e judicial, estavam ali concentrados, paredes meias com pequenas vendas, tabernas, pensões e serviços, pelo que a nova praça prometia ser o palco para os encontros e desencontros da vida local.

Não havia luz, saneamento nem abastecimento de água potável, sendo então este o mais essencial dos referidos serviços. Como o foi, de resto, até há não muitos anos. E por isso, o estabelecimento de bicas, fontanários ou chafarizes públicos de água bebível era considerado uma obra muito importante. Pelo que a proposta de estabelecer um chafariz no centro da renovada praça logo recolheu o agrado e empenho das autoridades municipais.

A proposta ficou certamente a dever-se a António Teixeira Brandão de Vasconcelos, tanto mais que sabia com que manancial de água se haveria de abastecer o fontanário. Com efeito, dele terá tomado conhecimento aquando da execução do Inventário de Extinção do Mosteiro, que foi da sua responsabilidade, enquanto vice-presidente da Câmara, no exercício de 1874/1875.

Porém, por volta de 1890-1892, precisamente durante a sua segunda presidência da Câmara, procuradas as águas do desejado manancial, ter-se-á percebido que a Junta de Paróquia, para além doutras habilidades, havia feito um desvio das mesmas, sem dar qualquer satisfação à Repartição da Fazenda ou à Administração do Concelho, o que desencadeou um diferendo que culminou em várias participações e queixas por parte daquelas entidades.

Paralelamente, logo a Câmara requereu a cedência das referidas águas e, nomeadamente, do manancial que abastecia o extinto Mosteiro, mas os factos acima relatados e a morosidade dos respetivos processos acabou por dificultar a cedência. Passados meia-dúzia de anos, estando já Brandão de Vasconcelos há muito afastado destas lides e a persentir os seus últimos dias, ainda não se havia concretizado. Faleceu em 1897 sem ver um chafariz a jorrar água no centro da "sua" Praça.

A cedência da almejada água só viria a concretizar-se, depois de mais alguma insistência, durante a presidência de José Gomes de Figueiredo Sobrinho, em 1899, justificando-se assim o estabelecimento do respetivo Chafariz, que começou a ser composto logo nos primeiros dias de 1901, ficando concluído e a brotar a ansiada linfa poucos meses depois.

Em Junho de 1940, correspondendo a um pedido da Representação Municipal da Acção Católica, a Câmara Municipal deliberou remover o Chafariz do centro da Praça para aí ser erigido um Cruzeiro da Independência ou dos Centenários. Porém, volvido um mês sem que viesse a autorização, por parte da Direção Geral dos Monumentos Nacionais, para mudança do Chafariz para junto da escadaria do antigo edifício dos Paços do Concelho (onde em 1989 veio a ser reimplantado o Pelourinho), a Câmara deliberou indicar àquela Representação a colocação do Cruzeiro da Independência no Largo de Santa Mafalda.

O Cruzeiro da Independência foi então erigido no Largo de Santa Mafalda, onde esteve até há cerca de dez anos, altura em que foi removido, para, até à data, não mais se levantar. Por mera coincidência, na mesma altura, e no mesmo âmbito da Regeneração Urbana do Centro Histórico então realizada, o Chafariz acabou por também ser mudado, mas apenas para o canto da Praça, estando agora no local onde outrora se encontrava o Pelourinho, que está agora onde em 1940 esteve para ser colocado o Chafariz.

10 de agosto de 2021

Terá sido o Memorial de Santo António uma obra dos Cavaleiros Hospitalários?

É uma hipótese que nunca vi colocada, nomeadamente, por algum dos vários autores que escreveram sobre este Memorial, sobre o conjunto de memoriais (de Ermida e Sobrado e até mesmo o de Alpendurada) que a este associam num eventual percurso do cortejo fúnebre da Rainha Santa Mafalda, ou sobre o local e circunstâncias do seu falecimento; mas, a possibilidade de, pelo menos o dito Memorial de Santo António do Burgo (sito na freguesia de Santa Eulália), ter sido uma obra dos Cavaleiros Hospitalários, pode não ser descabida.

Com efeito, pode até estar ali devidamente patenteada essa possibilidade, mas a que nunca se terá prestado a devida atenção, com exceção - que eu conheça - ainda que por mera hipótese, do arqueólogo Manuel António Silva, já na década de oitenta (e eu apenas no passado fim-de-semana). Pois é, sem grande margem para dúvidas, uma cruz hospitalária ou de Malta (de oito pontas) que fecha o arco de volta perfeita simples do Memorial de Santo António do Burgo, a qual sobressai, em chefe, e se distingue perfeitamente da restante decoração, predominantemente geométrica e vegetalista, que emoldura a arquivolta daquele monumento.


Pese embora a possibilidade deste Memorial ser uma obra dos Cavaleiros Hospitalários nunca tenha sido colocada, a verdade é que, a haver uma relação deste com o cortejo fúnebre de Dona Mafalda Sanches, como é de tradição, assume bastante mais sustentação, entre as várias teses de explicação formal ou simbólica sobre o local e circunstâncias da sua morte, a possibilidade de ter falecido em Rio Tinto, quando regressava precisamente do também seu Mosteiro de Bouças, então compreendido em terras detidas pelos Hospitalários.

Em todo o caso, a tratar-se, como parece de forma muito notória, de uma cruz hospitalária ou de Malta, independentemente da atribuição que se possa fazer ao cortejo fúnebre de Dona Mafalda, é evidente, - se não mais -, a atribuição da edificação deste Memorial aos Cavaleiros Hospitalários, que nesta proximidade detinham a Comenda de Rossas desde os alvores da nacionalidade, com propriedades e direitos, para além doutras, na freguesia do Burgo (a que Dona Mafalda havia atribuído Foral em 1229), onde, de resto, aqueles estabeleceram o seu lagar de Azeite, no lugar do Pisão, ao fundo das lavouras de Alhavaite.


As boas relações de Dona Mafalda Sanches com os Cavaleiros da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém (mais tarde ditos também de Rodes e de Malta), são conhecidas, nomeadamente, aquando da proteção e abrigo que estes lhe prestaram por ocasião do diferendo que teve com seu sobrinho e futuro Rei D. Afonso III. Por cá, ficaram célebres as capitulações de pazes feitas em Rossas, em 1234, a que assistiu o bispo do Porto D. Pedro Salvadores, entre a própria Dona Mafalda e os Cavaleiros da Ordem do Hospital, em virtude de uma briga entre criados daquela e certos cavaleiros desta.

Relações que bem se deduzem, ainda por certas e mútuas doações de bens e objetos, como seja a queixada com três dentes atribuída a São Brás, na altura uma das mais significativas e veneradas relíquias introduzidas em Portugal pelos Freires do Hospital, doada por estes a Dona Mafalda; ou a deixa testamentária destinada por esta em favor daqueles. 

O que tudo terá contribuído para que, em 1309, se outorgasse uma Carta de Confraternidade entre o Mosteiro de Arouca e a Ordem do Hospital, então sediada no Mosteiro de Leça do Balio e pode muito bem ter(-se) justificado (n)o patrocínio e/ou edificação do Memorial de Santo António ou Arco da Rainha Santa. Na certeza, porém, de que não se tratou de uma obra de iniciativa popular, das monjas de Arouca ou de qualquer outro Mosteiro.

30 de julho de 2021

45 Anos de Poder Local Democrático

Com as eleições de 26 de Setembro próximo cumprem-se 45 Anos de Poder Local Democrático e 13 idas às urnas para eleição dos respetivos órgãos autárquicos. A foto acima, de um conhecido edifício municipal - sede dos Paços do Concelho entre 1864 e 1933 -, tirada por Adílio Ferreira da Silva e colecionada em "Contributos para o Futuro Arquivo de Arouca", reportar-se-á precisamente à propaganda para as primeiras eleições autárquicas realizadas após o 25 de Abril de 1974, que tiveram lugar em 12 de Dezembro de 1976.

Em Arouca, concorreram a esse primeiro sufrágio quatro forças políticas: o Partido Social Democrata (PPD/PSD), o Partido Socialista (PS), o Centro Democrático Social (CDS) e a Frente Eleitoral Povo Unido (FEPU), de que saiu largamente vencedor o Partido Social Democrata, que elegeu o Presidente da Câmara e três Vereadores, assegurou a eleição da Mesa da Assembleia Municipal, ao eleger 12 deputados diretos, e venceu em 12 Juntas de Freguesia.

A tendência vitoriosa do PSD no concelho de Arouca saiu ainda mais reforçada nas eleições seguintes, de 1979, 1982, 1985 e 1989. Os principais protagonistas deste feito, dada a maior relevância sempre atribuída ao candidato à Câmara, foram Zeferino Duarte Brandão e Joaquim Brandão de Almeida, ambos naturais da freguesia de Várzea, que também presidiram à Assembleia Municipal por vários mandatos, depois dos três primeiros mandatos liderados por Maria Salomé Valente Martingo Serdoura.

Com as eleições de 1993 deu-se uma mudança de ciclo na Câmara Municipal, protagonizada pelo Partido Socialista e, nomeadamente, por José Armando de Pinho Oliveira, até então sempre candidato e eleito deputado à Assembleia Municipal por partidos e coligações mais à esquerda, designadamente, pela FEPU, APU e MDP/CDE-PRD. Nesse primeiro mandato socialista a Assembleia Municipal ainda se manteve social-democrata, mas nas eleições seguintes foi também conquistada pelo PS, cuja lista foi encabeçada por Carlos Alberto Gomes Ferreira. De 1993 para 1997, o PSD perdeu também mais de metade das freguesias.

Desde então, a tendência vitoriosa do PS para a Câmara Municipal consolidou-se e reforçou-se com a eleição e reeleição sucessiva de José Armando de Pinho Oliveira e José Artur Neves, que lideraram o município entre 1994 e 2017, ano em que foi eleita, também pelas listas do PS, Maria Margarida de Sousa Correia Belém, que já integrava o executivo municipal desde 2010.

Nestas próximas eleições, ao que tudo indica, apresentar-se-ão a sufrágio quatro forças políticas: o PS, a coligação PSD/CDS/PPM/IL, a CDU (PCP/PEV) e o ERGUE-TE, cujas listas à Câmara Municipal serão encabeçadas, respetivamente, por Margarida Belém, Vítor Carvalho, Lara Pinho e Anselmo Filipe Oliveira, os quais têm agora o palanque e a palavra, a oportunidade de perspetivarem o futuro e de contribuírem para o desenvolvimento do nosso concelho, e honrar 45 Anos de Poder Local Democrático. Que seja uma campanha construtiva, esclarecedora e mobilizadora!

20 de julho de 2021

Gentil Moreira de Sousa (1929-2021)


Foi com profunda tristeza que recebi na noite passada a noticia de falecimento do meu amigo senhor Gentil Moreira de Sousa, um arouquense que se fez ilustre no outro lado do Atlântico, mais precisamente em Niterói, no Rio de Janeiro, onde foi um empresário de sucesso, reconhecido e agraciado com vários títulos e condecorações pelos Estados do Brasil e Portugal.

Traçar o perfil, fazer a história biográfica e estudar os ancestrais de Gentil Moreira de Sousa é não só um prazer como uma honra. Com efeito, este inveterado arouquense, - que o refere sempre com orgulho -, ambicionando melhores condições do que aquelas que a sua terra natal de então perspetivava oferecer-lhe - dar continuidade ao comércio e indústria de roupas de seu pai -, fez-se ao mundo, mais propriamente às terras outrora descobertas por Álvares Cabral, para onde emigrou na década de cinquenta do século passado, mais especificamente no dia 11 de Maio de 1951, como escrevi no perfil biográfico e genealógico que, a seu pedido, elaborei em 2017.

Escritor e poeta, com quatro livros publicados, músico e empresário luso-brasileiro, Gentil Moreira de Sousa, era filho de Adriano Teixeira de Sousa, alfaiate, músico e maestro da Banda Musical do Burgo, e Helena Moreira de Sousa, moradores no lugar e freguesia do Burgo, onde nasceu em 20 de Junho de 1929, sendo o mais velho de sete irmãos. Casou em Niterói com Clarice Pinto Quaresma, natural de São João da Boa Vista, concelho de Tábua, onde nasceu em 2 de Agosto de 1927, de que teve dois filhos e três netos.

O negócio que mais o notabilizou em Niterói foi a Confeitaria Beira Mar, fundada há mais de quatro décadas, contando hoje com cerca de 300 trabalhadores, cuja marca e logotipo ostenta o brasão heráldico do município de Arouca.

Neste doloroso momento de despedida de Gentil Moreira de Sousa, Axel Grael, Prefeito de Niterói, homenageou o legado de Gentil deixado naquela cidade, referido que «Ele será sempre lembrado com muito carinho por nossa cidade».

Gentil Moreira de Sousa foi ainda uma boa referência para muitos familiares, amigos e compatriotas, em geral, que também emigraram para o Brasil, e sempre contaram com a sua boa-vontade e generosidade para singrar naquele país.

Que descanse em paz!

Os meus sentimentos à família e amigos!

19 de julho de 2021

A Pensar Alto! Coisas menores... ou maiores. A Pista.

Começou há dias a circular nos estabelecimentos do Burgo e nas mãos de muitos moradores, um abaixo assinado a enviar à Exma. Presidente da Câmara para alertar para um enorme problema à entrada da Vila e a pedir uma solução que tarda apesar de anteriores alertas. Com a devida autorização dos que tomaram a iniciativa e como morador apresento a minha concordância para a urgência em resolver um problema que a todos afeta. Bastaria elevar um pouco as passadeiras, só isso. Coisa menor que até parece grande...

Abaixo assinado

À Exma. Sra. Pres. da Câmara municipal de Arouca

Nós, abaixo assinados, moradores e frequentadores da estrada nacional 224, atual Av. 25 de Abril, no troço compreendido entre o Cimo do Burgo e a partilha com Santa Eulália, pretendemos desta forma alertar mais uma vez para o sentimento de abandono com que nos defrontamos diariamente ao constatar as situações anómalas de circulação nesse pequeno troço que põe em causa a segurança de todos os munícipes que por cá circulam.

A nossa segurança, dos nossos amigos, dos nossos familiares, de todos os que são obrigados a circular, seja a pé ou nas viaturas, está constantemente em causa pelo incumprimento de muitos que não cumprem minimamente as regras de trânsito circulando a altas velocidades sem respeito pelas próprias vidas e principalmente a dos outros.

Apesar da sua curta extensão, é um percurso com imensos perigos para quem lá circula, para quem tem de percorrer os estreitos passeios, para quem é obrigado a diminuir a marcha ou entrar na via por lá ter habitação, para quem pretende utilizar os serviços da meia dúzia de estabelecimentos comerciais existentes, para todos os utilizadores. Sabemos que existem meia dúzia de passadeiras devidamente assinaladas, existem mais de uma dúzia de rampas de acesso ás residências e estabelecimentos, existem algumas placas, poucas, limitadoras, mas tudo é insuficiente e tudo permite os maiores desmandos aos motoristas pouco cumpridores que por lá demonstram as potências dos veículos e o arrojo de circular a velocidades desaconselhadas a auto-estradas, quanto mais a uma estrada que se vê já como avenida urbana.

Atravessar qualquer uma das passadeiras é um exercício que faz subir a adrenalina tal o perigo de vida que se corre. As autoridades a quem cabe a fiscalização de tais desmandos não podem estar sempre presentes o que facilita a sensação de impunidade. Solicitamos por isso a sua intervenção para a resolução desta situação. Só lhe pedimos como autoridade, que nos permita ter segurança e o mínimo de tranquilidade pois nós como munícipes deste Concelho tão falado pelas iniciativas de sucesso, lhe agradeceremos entusiasticamente. Atravessar uma rua não pode colocar a vida em risco, circular num passeio não deve colocar a vida em risco, entrar nos acessos das residências ou dirigir se a uma casa comercial, não deve colocar a vida em risco. Sabemos que está de acordo e dirigimo-nos a si com fundadas expectativas na resolução deste problema, seja com lombas redutoras, semáforos limitadores, mais e melhor sinalização, aumento de fiscalização, e tudo o mais que normalize esta perigosa situação na entrada da nossa Vila.

Certos que nos lerá com toda a atenção, agradecemos lhe antecipadamente a resolução urgente desta situação. Com cumprimentos, os moradores, e utilizadores que sentem permanentemente as suas vidas em perigo…

Assinaturas:

4 de julho de 2021

Figueiredo Sobrinho e Simões Júnior: dois homens, dois apelidos e duas alcunhas

Escrevo este pequeno apontamento a propósito do ilustre Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões e a sua especial afeição pela nossa terra, como se evidenciará na entrevista na "Primeira Pessoa", conduzida por Fátima Campos Ferreira, a ir para o ar esta segunda-feira, pelas 21h00, na RTP1, e que valerá a pena ver, tanto mais que é feita a partir de Arouca.

Apesar de já muito se ter dito e escrito sobre este reputadíssimo e influente “médico”, professor, investigador e, também, sobre a sua ligação a Arouca - o que muito nos orgulha -, nem sempre resulta clara, do ponto de vista biográfico e genealógico, essa ligação, uma vez que, de facto, Sobrinho Simões, ao contrário do pai, do avô e toda a ascendência da avó paterna, não é natural de Arouca nem de Arouca são originários os seus distintos apelidos.

No entanto, apesar de não ser natural de Arouca nem de Arouca serem originários os seus apelidos, foi nesta vila que os mesmos se aprimoraram e hoje melhor o distinguem: Sobrinho, pelo bisavô José Gomes de Figueiredo Sobrinho, com ascendência em Covelo de Paivó (então pertencente a São Pedro do Sul), onde nasceu em 21 de Julho de 1861, e Simões, pelo avô Manuel Rodrigues de Simões Júnior, com ascendência paterna em Anadia, que nasceu em 11 de Setembro de 1891, em Arouca, onde um e outro se ligaram, para além da amizade, pelo casamento deste com uma filha daquele, em 1 de Setembro de 1916.

Dá-se ainda a coincidência e curiosidade de ambos se terem alcunhado para se distinguirem da homonomia de nomes, com o tio, padrinho, padre e autarca, no caso de José Gomes de Figueiredo "Sobrinho", e com o pai, médico, no caso de Manuel Rodrigues Simões "Júnior". Contudo, apesar de assim se terem afirmado e notabilizado, e assim terem sido imortalizados nomeadamente na toponímia arouquense, ao contrário de "Sobrinho", "Júnior", como melhor se compreende, não passou às gerações seguintes como apelido.

Figueiredo Sobrinho e Simões Júnior (na imagem), para além de dois homens, dois apelidos e duas alcunhas, eram qualificadíssimos (por unanimidade e 19 valores) nas respetivas áreas de formação - Direito e Medicina -, e são duas personalidades relevantes e incontornáveis da história e cultura de Arouca, não só pelo exercício profissional a que se dedicaram e pelas causas em que se empenharam, mas também pelos cargos e funções que exerceram e pelos princípios pelos quais se pautaram. Faleceram em 13 de Junho de 1938 e 17 de Abril de 1972, respetivamente.

Do casamento de Manuel Rodrigues Simões Júnior, do Agualva, com Maria Luísa de Figueiredo Sobrinho, da então rua D'Arca, nasceu, em 31 de Março de 1918, o professor e investigador Manuel Sobrinho Rodrigues Simões, que se licenciou e doutorou com 18 valores e, por sua vez, contraiu matrimónio com Maria Alexandrina Martins Coimbra, natural do Bombarral, os quais se estabeleceram na cidade do Porto, onde tiveram, entre outros, o médico, professor e investigador Manuel Alberto Coimbra Sobrinho Simões, nascido pela Senhora da Mó de 1947, o qual não se ficou ao pai nem ao avô e se licenciou e doutorou com 19 valores.

Maria Luísa de Figueiredo Sobrinho, era filha de José Gomes de Figueiredo Sobrinho e Eulália de Sousa Brito, da rua D'Arca, tendo nascido na Praça em 21 de Setembro de 1895; esta, filha de António Soares de Sousa e Ana Emília de Sousa Brito, de Pousada, Santa Eulália, onde nasceu em 26 de Dezembro de 1859, estes com ascendência, gerada e criada no vale de Arouca, tratada e conhecida até, pelo menos, meados do século XVII.