17 de outubro de 2021

Prof. Fernando Miranda (1936-2021)

Faleceu, na passada quinta-feira, 14 de Outubro de 2021 (da era comum), na sua residência de São Mamede de Infesta (Matosinhos), aos 85 anos de idade, o prof. Fernando Miranda. Um arouquense ilustre que muito diz a Arouca e aos Arouquenses, visto que, para além de outras inúmeras boas razões, é a personalidade estrutural que configurou o Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, que é o grupo de música tradicional de Arouca com maior relevância e uma das associações mais representativas do município. 
Fernando Alves de Almeida Miranda nasceu a 29 de Junho de 1936, no lugar do Bairro, freguesia de Moldes, concelho de Arouca. Era filho do Dr. Ângelo Pereira de Miranda (insigne médico transmontano radicado em Arouca) e de Aurora Alves de Almeida (do lugar do Bairro).
Depois dos estudos iniciais em Arouca, frequentou a Escola do Magistério Primário do Porto, onde se formou em professor primário, tendo, depois, leccionado na Escola Primária de Tropêço (Arouca) e na Escola Primária do Seixo (São Mamede de Infesta).
Casou-se com a colega de profissão, natural do município de Matosinhos, prof.ª Maria do Carmo da Silva de Almeida Miranda, com quem teve duas filhas (Maria do Carmo e Ângela Maria) e um filho (Ângelo Fernando), dos quais deixa ainda dois netos e duas netas. 
Viveu, de modo permanente, com a sua família próxima, entre a sua residência de São Mamede de Infesta (Matosinhos) e a sua casa natal e familiar do lugar do Bairro, na freguesia de Moldes (Arouca), que eram o seu território endógeno de afecto e de enraízamento.
Muito ligado à área da Música, tendo feito parte da Banda Musical de Arouca, contudo, o seu maior e mais notável contributo, em Arouca, relaciona-se com as danças e os corais tradicionais de Arouca: com apenas 18 anos, o prof. Miranda assumiu a direcção do então Rancho de Moldes em 1954, cerca de uma década após a sua fundação ocorrida na Feira das Colheitas, tendo exercido, até 1977, as funções de director artístico e de presidente da direcção do grupo. Ele está na origem, com o etnógrafo Albano Ferreira e com o maestro Vergílio Pereira, da estruturação etnomusicológica de qualidade do actual Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, que teve «os seus anos de ouro», precisamente, nas décadas de cinquenta e sessenta do século XX. Mesmo depois de ter saído da direcção do grupo em 1978, sempre esteve muito ligado, com a sua família próxima, às actividades do grupo, tendo sido, ao longo dos anos, presidente da Assembleia Geral, até à altura em que foi substituído, nessa tarefa, pela sua filha mais velha Maria do Carmo.
A sua ligação às instituições de Arouca não se limitou à 'Banda de Arouca' ou ao 'Rancho de Moldes', uma vez que também foi um dos fundadores e dinamizadores do Centro Cultural e Recreativo de Moldes, nas suas décadas iniciais.
O prof. Miranda também era poeta, escrevia poesia, que é uma faceta que lhe era menos conhecida.
Verdadeiro democrata e com forte sentido cívico, de justiça social e de liberdade, tendo herdado os valores políticos republicanos e democratas de seu pai, o prof. Miranda era militante do Partido Socialista desde o ano de 1974, tendo desempenhado diversos cargos políticos e partidários, com funções de dirigente local, distrital e nacional do PS: foi deputado, pelo Círculo Eleitoral do Porto, à Assembleia da República, na I Legislatura, resultante das eleições legislativas de 25 de abril de 1976. Em Matosinhos, desempenhou, pelo PS, durante dois mandatos, as funções de vice-presidente e de vereador do executivo municipal, entre 1982 e 1989, então presidido por Narciso Miranda. Também foi membro da Assembleia Municipal de Matosinhos e membro dos vários órgãos da Secção do PS de São Mamede de Infesta. Ocupou também um cargo de direcção do F.A.O.J. .

Pessoa de muito prestígio e muito respeitada, sobretudo em Arouca e em Matosinhos, bastante conhecido na área do Grande Porto, foi, nos últimos anos, homenageado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes e pelas estruturas locais do Partido Socialista de Matosinhos. 
Apesar da sua ligação e do seu reconhecimento em Matosinhos, o seu maior afecto prendia-se com a sua Arouca natal, em particular com o seu espaço natal e familiar do lugar do Bairro, em Moldes. Como seu verdadeiro amigo e vizinho em Moldes (eu convivi, durante anos, com o prof. Miranda e com a sua família próxima...), posso relatar que não havia, praticamente, nenhum fim-de-semana que o meu estimado amigo prof. Miranda não passasse, em Arouca, na sua casa do lugar do Bairro, com a família próxima. Era tal o afecto que ele tinha por Arouca e o interesse por tudo o que dizia respeito a Arouca e aos Arouquenses, com o anseio de que Arouca evoluísse sempre bem.
Este resumo, como é óbvio, não dá conta, totalmente, da excelência singular de um ser humano e de um arouquense a quem Arouca e os Arouquenses muito reconhecem, pelo que, entre outras inúmeras boas razões, mas sobretudo devido à acção que o prof. Miranda teve na estruturação e na dinamização do Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, transformando-o num grupo de prestígio nacional, faria todo o sentido que a Câmara Municipal de Arouca atribuísse, no futuro próximo, como homenagem mais que merecida, o nome do prof. Fernando Miranda (1936-2021) a uma rua da Vila de Arouca.

Em nome deste blogue «Defesa de Arouca» (e o prof. Miranda também chegou a escrever na «Defesa»), endereço, à família do prof. Fernando Miranda, as mais sentidas condolências.

Em termos pessoais, para mim, faleceu (apenas fisicamente) um verdadeiro amigo, um amigo de família e «um pai». Um ser humano e um arouquense de excelência ética e cívica que eu muito admirava e admiro, com quem muito convivi e de quem era muito amigo...Não tenho mais palavras para esta altura de consternação...